“Conjuro-te,
perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua
manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer
não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.” (2Tm.4.1-2)
Cabeça erguida, voz firme e plena convicção nas palavras.
Assim, o mensageiro do Senhor proclama a Palavra de Deus ao povo. Essa postura
não provém de qualquer vaidade relacionada a uma alta autoestima nem de algum
orgulho por causa de sua função no corpo de Cristo (pelo menos não deveria),
mas deriva-se de sua consciência acerca da origem e autoridade da Palavra que
veicula ao povo de Deus: a Escritura Sagrada.
O pregador, porta-voz da mensagem divina, não pode expor a
Escritura como se ele mesmo não acreditasse nela. Lembro-me de ter ouvido
alguns pregadores os quais pregavam com tamanha insegurança que transmitiam a
impressão de que nem eles acreditavam naquilo que expunham. Eles não pregavam
com autoridade, pois não demonstravam ter profundo e íntimo conhecimento da
Palavra de Deus, de modo que davam a entender que não acreditavam de todo o
coração na autoridade da Escritura, naquilo que eles anunciavam. Nem mesmo o
profeta Jonas, que não desejava pregar para Nínive, proferiu a Palavra de Deus
com insegurança ou incerteza, pois o profeta sabia muito bem que a Palavra do
Senhor era poderosa para salvar aquelas vidas (Jn.4.2).
A necessidade de uma postura convicta do pregador torna-se
maior diante de contextos caóticos em que as pessoas (incluindo diversos “cristãos”)
não querem ouvir a Verdade. O Evangelho, poder de Deus para a salvação, deve
ser transmitido em oratória convicta para que até os incrédulos sejam persuadidos
a crerem. Tal convicção não será a garantia de que os pecadores crerão na
Escritura, mas servirá tanto para encantar os ouvintes (Mt.7.28-29) quanto para
aumentar a culpa dos descrentes diante de Deus, por não se deixarem convencer
pela Palavra de Deus pregada com fidelidade e firmeza.
Portanto, já deve ter ficado claro que “a voz profética do
pastor” não diz respeito à novas revelações dadas por Deus, mas à fidelidade e
convicção com as quais o pastor deve pregar a Palavra de Deus que se encontra
em suas mãos, mente e coração. Para isso, o pastor deverá andar humildemente
com Deus e mergulhar constantemente nas profundezas da Escritura Sagrada, a fim
de falar com todo seu coração e razão, como alguém que está profundamente
envolvido com a Verdade revelada por Deus a sua igreja.
Mesmo não sendo um mensageiro de novas revelações, o pastor
possui diversas semelhanças com os profetas. As principais características dos
profetas bíblicos eram: andar com Deus e ter uma palavra da parte de Deus. Outros
elementos presentes em alguns profetas não podem ser considerados padrão, pois
nem todos os profetas previram o futuro; nem todos tiveram visões; nem todos
escreveram a revelação divina; nem todos tiveram dons extraordinários. Todavia,
todos os profetas andaram com Deus e tinham uma palavra divina para as pessoas,
mesmo que fosse a pregação da Escritura já revelada anteriormente por Deus, a
semelhança de João Batista (Jo.1.22-23). E o coração dessa mensagem era a obra
redentora que seria realizada por Cristo Jesus.
Análise do termo “profeta” (navi’)
Em Gênesis 20.7, aparece pela primeira vez o termo profeta (navi’)
no texto hebraico: “Agora, pois, restitui a mulher a seu marido, pois ele é
profeta e intercederá por ti, e viverás; se, porém, não lhe restituíres, sabe
que certamente morrerás, tu e tudo o que é teu”. Abraão é chamado de profeta,
mesmo não tendo escrito uma só palavra da Escritura Sagrada nem proferido algo
sobre o futuro nem mostrado qualquer dom extraordinário. Seu ministério
profético é relacionado a sua comunhão com Deus de forma que a intercessão de
Abraão seria ouvida e atendida pelo Senhor. Além disso, Abraão tinha
conhecimento da palavra divina ainda em forma oral, pois Deus lhe revelara o
dia de Cristo (Jo.8.56). O Senhor confiara a Abraão sua santa promessa à
semelhança da igreja de nossos dias, pois a Escritura Sagrada é a Palavra de
Deus dirigida a nós. Tendo tal conhecimento, Abraão conduziu todo seu clã
segundo a Palavra de Deus (ainda em forma oral), tornando-se, assim, um porta-voz
do Senhor, um pastor das ovelhas que Deus lhe havia confiado. Esse elemento
profético tornou-se comum a todo o povo de Deus por meio de Jesus Cristo
(Jo.15.7; 1Pe.2.9; 1Jo.5.14-15; Ef.4.11-16; 2Tm.4.1-2).
Muito mais do que Abraão, o pastor deve andar com Deus,
conversar com Deus e falar sobre Deus para as pessoas. Sua vida é instrumento
divino para dar exemplo de como deve ser a comunhão do cristão com o Senhor e como se deve transmitir com fidelidade a Palavra de Deus, a fim de que a igreja cresça no
conhecimento do Senhor. Obviamente, essas marcas cristãs básicas devem estar
presentes não apenas na vida do pastor, mas, também, em todos os cristãos, pois
fazem parte da nova vida proporcionada pelo Espírito do Senhor naqueles que
nasceram da Palavra e do Espírito de Deus. E se essas marcas devem estar
presentes na vida de todo cristão, muito mais devem ser notórias na vida do
pastor do rebanho de Jesus, pois a igreja sempre precisará de exemplos e
mestres tanto para lhe mostrar como viver quanto para lhe ensinar tudo que
Deus nos revelou em sua Palavra.
A segunda ocorrência do termo profeta (navi’) aparece em
Êxodo 7.1: “Então, disse o SENHOR a Moisés: Vê que te constituí como Deus sobre
Faraó, e Arão, teu irmão, será teu profeta.”. Esse texto é muito importante
para a compreensão do termo, pois concede-nos, de forma prática, o conceito do
que vem a ser um profeta. Conforme Êxodo 7.1, o profeta é um porta-voz de Deus
que transmite para terceiros a mensagem recebida. Deus cria uma analogia para explicar
a relação que estava estabelecendo entre Moisés e Arão. Segundo a analogia,
Moisés seria semelhante a Deus, pois sua palavra seria verdadeira e
autoritativa, de forma que Faraó deveria obedecê-la sob a pena de ser castigado
por rebeldia contra Deus. Mas, Moisés, que havia dito não saber falar bem
(Ex.4.10-17), não falaria diretamente a Faraó. Ele teria um porta-voz que
levaria a Faraó a mensagem de Moisés, de modo que Arão seria o profeta de
Moisés. Portanto, conforme o texto, ser profeta é ser porta-voz de Deus,
transmitindo sua Palavra para outras pessoas.
Surge, então, uma pergunta: Já que o conceito de profeta é
ser porta-voz da Palavra de Deus, não seria o pregador da Escritura um profeta,
tendo em vista que a Escritura é a Palavra de Deus? Quando não havia Palavra de
Deus escrita, o Senhor se instrumentalizou de homens como porta-vozes de sua
Palavra. Com o passar do tempo, já havendo muitos livros físicos da Escritura
Sagrada, os novos porta-vozes (profetas) não apenas trazem nova revelação divina
para Israel, mas, também, pregam a Lei do Senhor anteriormente dada ao povo por
meio de Moisés: “Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi
em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos” (Ml.4.4).
Dessa forma, os profetas clássicos fazem diversas
referências aos Escritos Sagrados, principalmente o Pentateuco, exortando o
povo a voltar-se para a Lei do Senhor, a fim de não ser punido por seus pecados
(Is.1.10; 2.3; 5.24; 8.16,20; 24.5; 30.9; 42.4,21,24; 51.4, 7; Jr.2.8; 6.19;
8.8; 9.12; 16.11; 18.18; 26.4; 31.33; 32.23; 44.10,23; Lm.2.9; Ez.7.26; 22.26;
43.11; 44.5,24; Dn.9.10,13; Os.4.6; 8.1, 12; Am.2.4; Mq.4.2; Hc.1.4; Sf.3.4;
Ag.2.11; Zc.7.12; Ml.2.6-9; 4.4). Os salmistas foram profetas que proclamaram a
Palavra de Deus por meio da poesia hebraica e fizeram variadas referências à
Lei do Senhor (Sl.1.2; 19.7; 37.31; 40.8; 78.1, 5, 10; 89.30; 94.12; 105.45;
119.1,18,29,34,44,51,53,55,61, 70,72,77,85,92,97,109,113,126,136,142,150,153,163,165,174).
E até os livros históricos narram os acontecimentos, interpretando-os de acordo
com a Lei do Senhor (Js.1.7-8; 8.31-34; 22.5; 23.6; 24.26; 2 Sm.7.19; 1 Rs.2.3;
2 Rs.10.31; 14.6; 17.13,34,37; 21.8; 22.8,11; 23.24-25; 1 Cr.16.40; 22.12; 2
Cr.6.16; 12.1; 14.4; 15.3; 17.9; 19.10; 23.18; 25.4; 30.16; 31.3-4,21; 33.8;
34.14-19; 35.26; Ed.3.2; 7.6,10; 10.3; Ne.8.1-18; 9.3,13,14,26,29,34;
10.28,29,34,36; 12.44; 13.3).
Em chegando o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas cidades,
todo o povo se ajuntou como um só homem, na praça, diante da Porta das Águas; e
disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o Livro da Lei de Moisés, que o
SENHOR tinha prescrito a Israel. 2
Esdras, o sacerdote, trouxe a Lei perante a congregação, tanto de homens como
de mulheres e de todos os que eram capazes de entender o que ouviam. Era o
primeiro dia do sétimo mês. 3
E leu no livro, diante da praça, que está fronteira à Porta das Águas, desde a
alva até ao meio-dia, perante homens e mulheres e os que podiam entender; e
todo o povo tinha os ouvidos atentos ao Livro da Lei. 4 Esdras, o escriba, estava num
púlpito de madeira, que fizeram para aquele fim; estavam em pé junto a ele, à
sua direita, Matitias, Sema, Anaías, Urias, Hilquias e Maaséias; e à sua
esquerda, Pedaías, Misael, Malquias, Hasum, Hasbadana, Zacarias e Mesulão. 5 Esdras abriu o livro à vista de
todo o povo, porque estava acima dele; abrindo-o ele, todo o povo se pôs em
pé. 6 Esdras bendisse ao
SENHOR, o grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém! Amém! E, levantando as
mãos; inclinaram-se e adoraram o SENHOR, com o rosto em terra. (Ne.8.1-6)
O profeta era porta-voz de Deus quer levando nova
revelação ao povo do Senhor quer pregando a Palavra de Deus já revelada, a fim
de que o povo do Senhor vivesse pela esperança nas promessas do Senhor, andando
de acordo com sua vontade. O foco, então, não se encontra na nova revelação,
mas na Palavra de Deus. O papel do profeta não era trazer nova revelação, mas
ser um mensageiro da Palavra do Senhor quer oral quer escrita, seja antiga seja
nova. Por isso, mesmo sendo tão diferentes e tendo marcas tão distintas, todos
os profetas podem ser igualmente designados assim (navi’), pois anunciaram a
Palavra de Deus com fidelidade. João Batista, o último profeta da antiga
aliança não escreveu livro, não profetizou o futuro, não realizou feitos
extraordinários, mas foi dito dele que “ninguém apareceu maior do que João
Batista” (Mt.11.11), pois antecedeu Cristo, preparando o coração do povo por
meio da fiel pregação da Escritura Sagrada (Lc.3.1-20).
O pastor deve, então, cumprir o coração da obra profética:
anunciar a Palavra do Senhor com fidelidade (Rm.1.16; Ef.4.11-12; 1Tm.3.2;
2Tm.2.15; Tt.1.9). A Palavra de Deus já nos foi completamente revelada e está
totalmente escrita (Hb.1.1-2). Portanto, ela precisa, apenas, de porta-vozes que
a proclamem para todos, ensinando-a para a igreja que deve guardá-la e
proclamá-la também, como “coluna e baluarte da Verdade” (1Tm.3.15). Todas as
vezes que o pastor prega a Escritura Sagrada com fidelidade, ele cumpre seu
papel profético como porta-voz de Deus, tornando Cristo conhecido para o mundo
enquanto amadurece a igreja por meio do bom ensino da Verdade.
Fica evidente, ainda, que a igreja tem um caráter profético,
pois todos os cristãos devem anunciar a Palavra de Deus ao mundo como
porta-vozes do Senhor (At.8.4). Então, o que torna singular o papel profético
do pastor? A liderança pastoral foi instituída por Deus para se dedicar ao
estudo da Escritura, a fim de que seja instrumento para amadurecimento da
igreja de Jesus (At.20.28-31; Ef.4.11-13; Cl.17) por meio do fiel e excelente
ensino da Palavra divina. Ou seja, assim como todas as pessoas sabem alguma
coisa sobre a saúde (medicina popular), mas precisam de um especialista para
tratá-las com profundidade (médico), também a igreja deve conhecer a Palavra de
Deus, mas sempre precisará de um especialista para ajudá-la a conhecer mais
profundamente a Escritura e cuidar com precisão das enfermidades que aparecem
nas igrejas locais (até que Jesus volte).
Profeta e pastor não são o mesmo ofício, pois possuem
peculiaridades. Mas, o pastor exerce um papel profético ao ser porta-voz da
Palavra de Deus. De forma semelhante, podemos ver semelhanças entre os demais
ministérios designados por Deus, ainda que cada um possua, também,
singularidades. Interessante observarmos que mesmo diferentes, todos acabam por
cumprir um papel comum: aperfeiçoar os santos para que façam a obra do Senhor
corretamente, edificando a igreja por meio da genuína fé, o “pleno conhecimento
do Filho de Deus”. Nesse propósito, portanto, todos os ministérios citados por
Paulo em Efésios 4.11, possuem um caráter profético, pois todos devem ser
porta-vozes da Palavra de Deus, poder de Deus para salvação e edificação.
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas e outros para pastores e mestres,
12 com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho
do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, 13 até que todos cheguemos à
unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, 14 para que não mais sejamos como
meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de
doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro
(Ef.4.11-14)
“Assim diz o Senhor”, hoje
Quando os profetas do Antigo Testamento falavam: “Assim diz
o Senhor!” (Ex.4.22; Js.7.13; Jz.6.8; 1Sm.2.27; 1Rs.11.31; 1Cr.17.4; Is.7.7;
Jr.2.2; Ez.2.4; Am.1.3; Ob.1.1; Mq.2.3; Na.1.12; Ag.1.5; Zc.1.3) eles estavam
anunciando com plena convicção a Palavra de Deus ao povo. Portanto, o primeiro
propósito da expressão é tornar clara a origem da mensagem. Em segundo lugar,
ainda relacionada à origem, a expressão indica que o profeta proclamava uma
palavra autoritativa que deveria ser crida e obedecida por todos os ouvintes,
pois sua autoridade estava relacionada à fonte da mensagem como um mensageiro
que transmitia a palavra de um Soberano.
Tendo em vista que o pastor não traz novas revelações para a
igreja, não podemos fazer uso do termo com esse propósito.
A tentativa de imitar os profetas do Antigo Testamento sob o pretexto de trazer
novas revelações tem gerado tantos problemas para o cristianismo quanto é o
número de “profetadas” de falsos profetas em nossos dias. As Testemunhas de
Jeová e o Adventismo decorreram de falsas profecias surgidas no século XIX; o
pentecostalismo já criou tantas seitas cristãs que já não é mais possível contá-las;
e o neopentecostalismo tem envergonhado a cristandade com suas falsas promessas
de prosperidade e teatros de milagres e exorcismos. Isso tudo nos faz lembrar
as palavras do Senhor Jesus: “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor,
Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não
expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes
direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a
iniquidade.” (Mt.7.22-23)
Todavia, o pastor deve proclamar a Palavra de Deus em todo
tempo, “quer seja oportuno quer não” (2Tm.4.2) e todas as vezes que o fizer com
fidelidade estará dizendo: “assim diz o Senhor”. Esta expressão aparece no Novo
Testamento algumas vezes em citações do Antigo Testamento (At.7.49; 15.17;
Rm.12.19; 14.11; 1Co.14.21; 2Co.6.17,18; Hb.8.8-10; 10.16; Ap.1.8). Ou seja, em
diversos momentos que os autores bíblicos estavam citando a Escritura faziam
referência a autoridade do texto mencionado por meio da expressão: “assim diz o
Senhor”, atraindo especial atenção dos ouvintes/leitores para a mensagem
veiculada.
Contudo, uma outra expressão ganha o lugar da fórmula
profética nas páginas do Novo Testamento, aparecendo 67 vezes: “está escrito” (gégraptai), afora as variações na conjugação do verbo. O Termo grego foi usado pelos
tradutores da Septuaginta, aparecendo nos livros sagrados apenas 22 vezes para
fazer referência tanto à Lei de Moisés quanto a outros livros (Js.8.30; 2 Sm.1.18;
1 Rs.8.53 (LXX); 11.41; 21.11; 22.39; 2 Rs.8.23; 14.6; 23.21; 2 Cr.23.18; 25.4;
32.32; 33.19; 35.12,25; Ed.5.7; Ne.10.34,36; Et.10.2; Sl.40.7; Is.65.6).
Portanto, enquanto no Antigo Testamento é maior o aparecimento da fórmula
“assim diz o Senhor”, no Novo Testamento é mais comum a expressão “está
escrito”, pois seus autores estavam revelando o Evangelho com os olhos em toda
a Escritura veterotestamentária já revelada.
Mesmo diferentes, as duas fórmulas se equivalem em
propósito: apontar para a origem e autoridade da mensagem. Uma curiosidade
interessante a ser observada é a semelhança de aspecto temporal entre as
expressões, pois ambos se encontram no aspecto perfeito (A.T. Hebraico e N.T.
Grego). Isso ocorre porque tanto a mensagem veiculada pelos profetas quanto
citada pelos autores neotestamentários estava completa não importando sua
aplicação presente ou futura. De forma semelhante, o pregador das gerações
seguintes é chamado para proclamar a Palavra final do Senhor que não muda nem
cai em desuso, aplicando-a a cada nova circunstância vivenciada pelo povo de
Deus.
Quase
a metade das referências bíblicas do Novo Testamento com a expressão “está
escrito” encontra-se nas cartas de Paulo. O apóstolo mostrou a autoridade de
seu Evangelho relacionando-o com o Antigo Testamento (Gl.3), demonstrando assim
que Cristo era o cumprimento de tudo que estava escrito nos livros dos profetas
veterotestamentários. Portanto, mesmo que seu Evangelho fosse Revelação direta
de Cristo (1Co.11.23; Gl.1.16-17) procurou mostrar que estava em pleno acordo
com a Escritura Sagrada, autoridade última para judeus e cristãos de seus dias.
Ao expor com fidelidade a Escritura Sagrada, o pregador
veicula o poder de Deus para a salvação (Rm.1.16). Portanto, deve anunciá-la
com tal convicção (“assim diz o Senhor” / “está escrito”) que demonstre estar
plenamente convencido da sublimidade da mensagem, não com dúvida, medo,
vergonha ou insegurança, mas com a firmeza de um embaixador carregando uma
mensagem repleta de autoridade. A pregação não é um seminário escolar que está
debaixo de avaliação; o sermão não é uma peça teatral que visa agradar a um
público. O pregador tem a Verdade diante de si e deve proclamá-la com firmeza,
a fim de satisfazer a vontade daquele que o designou porta-voz da Revelação
Escrita, a Palavra de Deus.
Os cinco pontos da mensagem profética
Via de regra, a mensagem profética no Antigo Testamento
possuía cinco pontos que nem sempre aparecem em uma mesma ordem. A organização
da mensagem profética não atenderá aos requisitos da homilia ocidental, de
forma que precisaremos ter cuidado ao procurar tais elementos no texto. O
leitor precisa deixar o texto falar, a fim de não forçar a presença de um ou
outro ponto. Também não devemos esperar proporcionalidade, ou seja, os pontos
não terão tamanhos proporcionais como se esperaria de um sermão, em nossos
dias. A mentalidade profética é diferente da nossa e as preocupações literárias
também. Todavia, após a leitura de cada um dos dezessete livros dos profetas
clássicos (maiores e menores), encontraremos em alguma medida os seguintes
tópicos:
1) Denúncia dos pecados do povo
transgressor – contexto
2) Chamado ao arrependimento e
mudança - convite
3) Advertência aos rebeldes sobre o
juízo divino – exortação
4) Proclamação do perdão para os
arrependidos – conforto
5) Anúncio da graciosa salvação do
Senhor - Cristocentrismo
1) Denúncia dos
pecados do povo transgressor – os profetas foram homens de uma
circunstância comum: os pecados de seus destinatários. Sempre que o povo de
Israel (ou até mesmo algum outro povo ao redor deste) mergulhava numa vida de
pecado, Deus suscitava um profeta para lhe anunciar a Palavra do Senhor.
Interessante observarmos que dificilmente aparecem profetas em dias bons quando
os servos de Deus estão obedecendo (raros, também, foram esses dias). Poucos profetas
proclamaram coisas boas ao povo em dias de aparente tranquilidade, como Natã e
Isaías. O profeta Natã anunciou a Davi a Palavra do Senhor sobre o desejo do
rei de construir uma casa para Deus (2Sm.7). Naqueles dias, tudo estava bem e o
profeta preanunciou a Davi que seu filho seria o construtor do Templo para a
arca da aliança. O profeta Isaías teve o ministério mais longo dentre os
profetas e viu dias bons e maus. Ele profetizou a vitória de Jerusalém sobre o
rei da Assíria (2Rs.18) nos dias do rei Ezequias que “fez o que era reto
perante o Senhor, segundo tudo o que fizera Davi seu pai” (2Rs.18.3). Ainda
assim, devemos lembrar que a maior parte do ministério de Isaías foi destinada
a apontar os pecados tanto de Israel e Judá quanto de outras nações (Is.1; 3;
5; 7; 9.8-10.34; 13-34). A profetiza Hulda anunciou palavras boas para Josias
por causa da disposição humilde deste para servir ao Senhor (2Rs.22.18-20), mas
aqueles dias não eram bons, pois Israel pecava muito contra Deus
(2Rs.22.13//23.1-20). Dessa forma, mesmo havendo uns poucos contextos
positivos, o ponto de partida dos profetas era a transgressão de um povo,
principalmente o povo de Deus.
Antes, então, de chamar o povo ao arrependimento e anunciar
juízo e perdão, a depender da reação dos ouvintes, o profeta deveria
conscientizar a nação (ou nações) de seus muitos pecados, que atraíam sobre si
a terrível ira divina. O profeta não podia ter receio de ofender o povo ao
revelar seus pecados, pois o povo estava ofendendo profundamente a Deus. Por
conseguinte, a mensagem profética era a resposta divina aos ultrajes sofridos
pelo Senhor dos Exércitos, pois o povo não demonstrava preocupação em afrontar
a glória de Deus. Por isso, a mensagem profética era direta e objetiva,
autoritativa e fiel, destinada a todos os transgressores. Por meio dela, Deus
revelava seus “pensamentos” e “sentimentos” sobre o povo e o confrontava
declarando-lhe o futuro juízo caso não se arrependesse de seus pecados nem
mudasse seu comportamento diante do Senhor. Dessa forma, Deus revelava-se
Senhor de tudo e todos perante o qual todos deveriam prestar contas de suas
vidas.
Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o SENHOR é
quem fala: Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim.
O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas
Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. Ai desta nação pecaminosa,
povo carregado de iniquidade, raça de malignos, filhos corruptores; abandonaram
o SENHOR, blasfemaram do Santo de Israel, voltaram para trás. (Isaías 1.2-4)
Esse primeiro tópico da mensagem profética permanece
necessário por todas as gerações, pois sempre haverá rebeldes no meio do povo
de Deus e joio no meio do trigo (Mt.13.24-30). O pastor, portanto, deve dar
continuidade à mensagem profética denunciando os pecados de cada geração, a fim
de conscientizar a igreja da indispensabilidade de uma vida santa e os
pecadores da necessidade de urgente arrependimento e mudança de vida, pois a
ira divina virá sobre todos os impuros, idólatras, adúlteros, efeminados,
sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores (1Co.6.9-10).
Para isso, o pastor não trará novas revelações, pois a
Palavra de Deus já nos foi dada, mas proclamará com autoridade a mensagem
profética já revelada, anunciando com fidelidade as queixas do Senhor para cada
geração. Ao fazer isso, o profeta põe o povo face a face com Deus pedindo
contas de todos os ouvintes, assim como pediu contas das gerações passadas que
ouviram a mensagem dos profetas bíblicos. Portanto, as gerações deverão ouvir a
fiel pregação da Escritura Sagrada com o mesmo temor e tremor que as gerações
anteriores deveriam ter ouvido as palavras dos profetas enviados por Deus. Isso
ocorre porque a autoridade da pregação não se encontra no profeta ou pastor,
mas na Palavra divina, quer tenha sido dada como nova revelação (Antigo e Novo
Testamento) quer seja a proclamação da Palavra já revelada (pregação da
Escritura Sagrada).
Anunciar esse importante tópico da mensagem profética para
os pecadores nunca será fácil nem bem recepcionado, mesmo que seja pela igreja
local. As pessoas não gostam de ouvir que estão erradas nem que precisam mudar.
O pecado tornou o ser humano indisposto com Deus, preferindo viver conforme seu
bel-prazer sem ser incomodado. Por essa razão, é tão difícil corrigir as
pessoas, até mesmo filhos. O autor de Hebreus nos diz que ninguém gosta de ser
disciplinado (Hb.12.11), contudo Deus corrige seus filhos mesmo sem que eles
queiram, pois a correção é o caminho para a santificação do indivíduo.
Temos visto que muitos pastores têm receio de corrigir a
igreja ou mesmo de pregar sobre pecado, a fim de confrontar os pecadores. Em
geral, isso ocorre por causa do sustento pastoral que provém da igreja local,
normalmente. O pastor, então, sente-se preso à necessidade de não contrariar as
pessoas, a fim de não ser prejudicado, pois muitos “cristãos” confrontados pela
Palavra de Deus se vingam dos pastores, deixando de dizimar ou procurando
tirá-lo da igreja local. Essa triste realidade só confirma a necessidade de os
pastores cumprirem com fidelidade o papel de porta-vozes da Palavra de Deus, pregando
com zelo e sem medo contra todo pecado, atraindo as pessoas a Cristo ao mostrar
a miséria em que se encontra a alma delas.
Portanto, se faz necessária uma plena confiança na provisão
divina. Aquele que chama o pastor sabe os desafios que ele passará e já
providenciou palavras de conforto para que o pastor possa pregar a Escritura
com fidelidade e sem medo, “porque Ele tem cuidado de vós” (1Pe.5.7). Davi
cantou que “os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém aos que
buscam o SENHOR bem nenhum lhes faltará” (Sl.34.10). Devemos lembrar que a
fidelidade dos profetas lhes custou caro muitas vezes, pois o povo os
perseguiu, maltratou e até matou. O pastor, então, deve estar pronto para pagar
o preço de ser porta-voz da Palavra de Deus, para que cumpra bem sua missão.
2) Chamado ao
arrependimento e mudança – Após confrontar o povo, revelando-lhe seus
pecados, mostrando a miséria tanto de seus atos quanto pensamentos, Deus o convocava
ao arrependimento e mudança de vida. O Senhor não desejava destruir o homem,
pois não tem prazer na morte do pecador (Ez.18.23,32; 33.11), mas traria seu
juízo certo e terrível sobre os rebeldes caso não se arrependessem, pois sua
santidade estava sendo ferida. A única forma de se livrar do juízo iminente
seria apropriando-se do chamado ao arrependimento e mudança de rumo, a fim de
receber as misericórdias do Senhor.
A revelação dos pecados do povo e o chamado ao
arrependimento estavam intimamente ligados, e eram pronunciados de forma clara
e sem rodeios (Is.1.2-15; Ml.1.1-14). Para que houvesse confissão sincera era
necessário que houvesse plena consciência de pecado, razão para os profetas não
deixarem dúvidas sobre as queixas de Deus. Portanto, as acusações pronunciadas
contra o povo pretendiam despertar uma reação necessária e verdadeira: a
confissão. Os réus estavam sendo acusados pelo santo e justo juiz de toda a
terra, todavia a severidade do Senhor é contrabalançada por seu misericordioso
chamado ao arrependimento e mudança de vida. Ou seja, mesmo sendo culpados por
seus pecados, o povo teria a oportunidade de receber o perdão divino caso
aceitasse o chamado divino.
Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR: Convertei-vos
a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto.
Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR,
vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e
grande em benignidade, e se arrepende do mal. Quem sabe se não se voltará, e se
arrependerá, e deixará após si uma bênção, uma oferta de manjares e libação
para o SENHOR, vosso Deus? Tocai a trombeta em Sião, promulgai um santo jejum,
proclamai uma assembléia solene. Congregai o povo, santificai a congregação,
ajuntai os anciãos, reuni os filhinhos e os que mamam; saia o noivo da sua
recâmara, e a noiva, do seu aposento. Chorem os sacerdotes, ministros do
SENHOR, entre o pórtico e o altar, e orem: Poupa o teu povo, ó SENHOR, e não
entregues a tua herança ao opróbrio, para que as nações façam escárnio dele.
Por que hão de dizer entre os povos: Onde está o seu Deus? (Jl.2.12-17)
O povo estava correndo o risco de ser destruído, porque a
ira do Senhor se acendeu contra a nação, tendo em vista seus muitos pecados. Portanto,
o chamado ao arrependimento também precisava ser claro, objetivo e urgente. Por
meio desse chamado, Deus revela-se extremamente misericordioso, pronto para
perdoar todo aquele que o buscar com sinceridade, confessando arrependido os
muito pecados cometidos (At.2.37), rasgando o coração consciente dos pecados e
do merecido castigo divino (Jl.2.13). Como disse o profeta Jeremias: “As
misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim” (Lm.3.22).
Diferente do que estamos acostumados em nossos dias, o
chamado ao arrependimento não tinha floreios (Mt.3.2). Deus não implorava para
o povo voltar-se para Ele como se precisasse das pessoas em alguma medida
(Sl.50.12). A mensagem profética exalta a soberania do juiz de toda a terra
(Gn.18.25; Sl.94.2; Is.33.22; Jr.11.20) diante do qual todos devem prestar
contas de sua vida. Portanto, por mais gracioso e misericordioso que fosse o
chamado ao arrependimento, não pretendia massagear o ego dos pecadores como se houvesse
qualquer interesse em prendê-los dentro de uma “denominação”. O chamado ao
arrependimento e mudança era uma oportunidade concedida por Deus para que os
pecadores não fossem destruídos pela ira divina, de forma que exaltava a graça
divina enquanto mostrava a miserável condição humana perante a glória do
Senhor.
O chamado ao arrependimento mudou muito nas últimas décadas.
A preocupação com o número de pessoas dentro das denominações faz com que
muitos pastores andem “pisando em ovos” com medo de desagradar seus “clientes”.
Por isso, em vez de proclamarem a Palavra de Deus com fidelidade, muitos têm
massageado o ego do público com mensagens de autoajuda. Todavia, pessoas dentro
de uma denominação não é sinônimo de ovelhas no Reino dos céus. Portanto, o
pastor deve chamar os pecadores ao arrependimento de forma clara e objetiva
para que a igreja visível seja a mais parecida possível com a igreja invisível.
Ou seja, a preocupação pastoral deve estar no chamado e cuidado com as
verdadeiras ovelhas, não com os bodes. E a melhor forma de separar uns dos
outros é pregando fielmente a Palavra de Deus, pois ela sempre será
desagradável àqueles que não foram tocados pelo Espírito do Senhor.
3) Advertência aos
rebeldes sobre o juízo divino – Esse terceiro tópico pode ser amplamente
encontrado nos livros dos profetas, somando uma porção significativa dos textos
proféticos (Is.1.28-30; 2.10-22; 3.1-41; 7.17-25 etc.).
Mas os transgressores e os pecadores serão juntamente
destruídos; e os que deixarem o SENHOR perecerão. Porque vos envergonhareis dos
carvalhos que cobiçastes e sereis confundidos por causa dos jardins que
escolhestes. Porque sereis como o carvalho, cujas folhas murcham, e como a
floresta que não tem água. O forte se tornará em estopa, e a sua obra, em faísca;
ambos arderão juntamente, e não haverá quem os apague. (Is.1.28-31)
O terceiro tópico da mensagem dos profetas é fundamental,
pois lança luz sobre o chamado ao arrependimento. Os ouvintes poderiam
perguntar: Por que devo me preocupar com as acusações? Por que devo me
arrepender de meus pecados? Ao anunciar o juízo divino sobre os ímpios e
rebeldes, os profetas oferecem a razão para que o povo responda favoravelmente
ao chamado do Senhor, pois, caso não se arrependessem de seus pecados, todos os
males proferidos viriam sobre eles. Portanto, da mesma forma como os pecados do
povo eram reais, também o castigo vindouro sobre os ímpios e rebeldes seria
real e ninguém conseguiria fugir da ira divina.
Essa associação entre pecado e castigo é a razão porque
pessoas passando por momentos difíceis na vida (doença, desemprego, problemas
familiares etc.) costumam procurar uma igreja e se dispõe com mais facilidade a
ouvir o evangelho. Desde os mais antigos, em diversas culturas, é comum se fazer
uma associação entre sofrimento e pecado. O objetivo do livro de Jó é responder
à indagação: Todo sofrimento está relacionado ao castigo de Deus por causa de
pecados? E mesmo que o livro de Jó nos mostre que nem todo sofrimento deve ser
entendido como castigo divino, as gerações futuras continuam relacionando-os.
Todavia, mesmo que sofrimento nem sempre seja proveniente de
um castigo divino, não podemos descartar o ensino que Deus castiga os rebeldes
e trará juízo sobre todos os pecadores que não se arrependeram de seus pecados.
Em Hebreus 12, o autor nos revela que Deus castiga seu povo durante a vida para
que seja corrigido e aperfeiçoado, a fim de que o povo de Deus não viva de
forma semelhante ao mundo pagão. Porém, os ímpios não são corrigidos, pois Deus
lhes reservou o juízo vindouro, razão porque muitos pecadores que desprezam a
Deus têm uma vida próspera e saudável até à morte (Sl.73).
Por conseguinte, o foco da advertência quanto ao castigo
divino sobre os rebeldes não se encontra em pequenos castigos nessa vida. Podemos
entender que as manifestações do juízo divino que ocorreram na história
(dilúvio – Gn.6-9; destruição de Sodoma – Gn.19; pragas sobre o Egito –
Ex.7-14; expulsão dos cananeus – Gn.15.16; queda de impérios – Dn.2.26-46;
cativeiro de Judá – Jr.15.1-4 etc.) foram postas para exemplo e advertência
acerca do juízo vindouro (2Pe.3.5-7). No último dia, Deus visitará a terra para
pedir contas a todos os homens e aquele que não tiver recebido o perdão divino
por ocasião de um sincero arrependimento (e justificação pelo sangue de Cristo)
será destinado ao castigo divino, “lançado no inferno, onde não lhes morre o
verme, nem o fogo se apaga” (Mc.9.47-48).
As pessoas precisam saber o fim que as aguarda caso não se
arrependam de seus pecados e confessem Cristo como Senhor e Salvador. Mesmo que
saibamos que muitos dos ouvintes não se importarão com a advertência, Deus quer
que avisemos ao mundo com respeito ao dia do juízo do Senhor. Não é uma
mensagem fácil a ser transmitida, principalmente para um público incrédulo.
Todavia, essa mensagem faz parte do Evangelho e pode ser encontrada na primeira
pregação do apóstolo Pedro, no dia de Pentecostes (At.2.36,40), pois pretende
despertar os pecadores para a necessidade de buscarem um refúgio seguro, a fim
de se livrarem da ira divina, e esse refúgio é Cristo, o único que pode abrigar
os pecadores livrando-os do juízo de Deus.
4) Proclamação do
perdão para os arrependidos – Mas, o que acontecerá com aqueles que se
arrependerem? Não há uma mensagem de esperança para os que reconhecerem seus
pecados? Os profetas anunciavam que sempre haveria esperança para os
verdadeiramente arrependidos, pois “perto está o SENHOR de todos os que o
invocam, de todos os que o invocam em verdade” (Sl.145.18). A mensagem
profética não apenas veiculava a ira divina, mas sua misericórdia também, de
forma que os arrependidos tivessem esperança. Após consagrar o Templo do
Senhor, Deus visitou Salomão por meio de sonho e lhe disse: “se o meu povo, que
se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos
seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e
sararei a sua terra” (2Cr.7.14). O Senhor revela sua disposição para aceitar a
confissão de pecados e perdoar o povo arrependido, restaurando sua sorte. Assim,
os profetas confortavam aqueles dentre o povo que se dispunham a reconhecer
seus pecados e mudar de vida.
Todavia, nem sempre Deus deixou de derramar seu castigo
sobre povos, mesmo havendo pessoas arrependidas no meio deles. O profeta
Jeremias chorou a certeza da queda de Jerusalém, mesmo havendo uns poucos
justos no meio da nação. Podemos dizer que o número de justos não foi
suficiente para que Deus poupasse a cidade de Jerusalém (capital do reino) da
queda (comparar com Gn.18.22-33). Então, Deus prometeu que os fiéis seriam poupados da morte e levados
para outro reino (Babilônia) onde deveriam reconstruir a vida, pois o Senhor
estaria com eles (Jr.27.17; 29.4-7). Portanto, mesmo diante de um iminente
castigo, com vista à purificação da nação, os arrependidos recebiam palavras de
esperança, pois o Senhor estava disposto a perdoar os pecadores quebrantados
pela Palavra profética e salvar os que se achegavam humildemente à presença de
Deus.
A misericórdia do Senhor permeia toda a Escritura Sagrada
que não omite informações sobre os erros de inúmeros homens e mulheres, dentre
os quais havia reis, profetas e sacerdotes. Dessa forma, Deus revela-se
poderoso para usar pessoas mesmo diante de suas muitas limitações e ainda
manifesta a grandeza de suas misericórdias dispensadas cotidianamente sobre
todos os que se achegavam humildemente diante DELE. Portanto, a proclamação do
perdão divino tanto trazia alento para o coração dos pecadores arrependidos
quanto revelava a muita bondade do Senhor exaltando sua misericórdia, para que
em todas as gerações pessoas pudessem ter esperança de salvação, mesmo que se
sentissem as piores pecadoras do mundo, conforme nos diz o apóstolo Paulo:
Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo
Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.
Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o
principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse
eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna. Assim, ao Rei
eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos
séculos. Amém! (1Tm.1.15-17)
Não é possível dissociar da pregação da Palavra do Senhor a
advertência com respeito a santa ira divina que virá sobre todos os pecadores
que não se arrependeram de seus pecados (nem creram na redenção oferecida por
Cristo). Também não deve ser excluída a promessa do perdão divino concedido
graciosamente a todo que se entregar humildemente para receber socorro em tempo
oportuno. A mensagem profética, portanto, veicula juízo e salvação; santa ira e
graciosa misericórdia; justa condenação e imerecido perdão. Por essa razão,
sentimentos tão opostos marcavam as reações contra a palavra profética, pois
enquanto uns creram outros mataram os mensageiros que Deus enviou a pregar sua
Palavra. Não devemos esperar reações diferentes de nossas gerações, como disse
Jesus: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu
senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram
a minha palavra, também guardarão a vossa” (Jo.15.20). Por conseguinte, o fiel
pregador da Palavra de Deus deve estar pronto para momentos bons e tempos maus,
também.
5) Anúncio da graciosa
salvação do Senhor – Como ápice da mensagem profética, encontramos o
anúncio do Dia de Cristo. Os profetas não poderiam encerrar a pregação sem
anunciar a graciosa salvação do Senhor a ser consumada no Dia da redenção do
nosso Deus. Nenhuma dádiva de perdão faria sentido sem que o Senhor preanunciasse
a concretização da promessa redentora feita a Adão e Eva: “Porei inimizade
entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn.3.15). A história redentora
estava em andamento e os profetas faziam parte dela, tanto aguardando quanto
proclamando o Dia de Cristo.
Todos os demais pontos da mensagem profética dependiam do
cumprimento da promessa redentora. Por isso, Cristo aparecerá em alguma medida
entre as linhas dos textos proféticos seja por meio de tipologias (Ez.34.23-24)
seja por intermédio de figuras (Is.9.1-7), quer utilizando-se de metáforas
(Ml.4.5-6) quer através das experiências do profeta (Oséias), conforme Jesus mostrou
aos discípulos que “estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús”
(Lc.24.13), “começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas,
expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc.24.27).
Ainda que os profetas anunciassem a Palavra do Senhor de
acordo com as circunstâncias, enviados por Deus para o meio de problemas reais,
devemos entender que a circunstancialidade da mensagem profética serviu de
contexto histórico para a proclamação do cerne da Palavra profética: o Dia da
salvação do Senhor. Cristo é o centro da mensagem, afinal sem Jesus não haveria
história, pregação, esperança nem vida eterna. A história humana somente é
possível, porque Cristo tomou sobre si a ira divina que poderia ter sido
derramada sobre Adão e Eva, após a queda deles. Sem Ele não haveria razão para
que os profetas pregassem aos pecadores chamando-os ao arrependimento,
prometendo-lhes salvação. Sem Jesus não haveria esperança messiânica nem muito
menos vida eterna, pois não haveria justificação e, consequentemente, nenhum
profeta poderia chamar o povo ao arrependimento e mudança de vida. Portanto,
Cristo é a razão da mensagem profética e o propósito dela também. Razão pela
qual o coração dos livros proféticos é o Dia de Cristo, dia de salvação e,
também, condenação.
No entanto, o Dia de Cristo não é mencionado de forma
sistemática e clara, como estamos acostumados a fazer em nossos dias. Os
autores do Novo Testamento comprovam isso ao aplicarem a Cristo textos que
jamais entenderíamos como profecias messiânicas (Os.11.1//Mt.2.15;
Gn.12.7//Gl.3.16). Isso é possível por causa de um recurso comum aos livros
sagrados: tipologia. A tipologia na literatura judaico-cristã é o uso de
elementos históricos (personagens, lugares, ações etc), a fim de apontar para
alguém ou algo posterior (e superior) a partir da relação de semelhança. Assim,
o êxodo de Israel é um tipo da libertação do império das trevas; a páscoa é um
tipo do sacrifício de Cristo; a disposição de Abraão para sacrificar seu filho
unigênito, Isaque, é um tipo da entrega do Filho unigênito de Deus; diversos
personagens como Moisés, Josué, Davi são tipos de Cristo; o Templo de Salomão é
tipo da igreja edificada sobre a Pedra angular que é Jesus; Israel, povo
escolhido por Deus para ser instrumento de salvação, é tipo do Messias etc.
E continuou o SENHOR a falar com Acaz, dizendo: 11 Pede ao SENHOR, teu Deus, um
sinal, quer seja embaixo, nas profundezas, ou em cima, nas alturas. 12 Acaz, porém, disse: Não o pedirei,
nem tentarei ao SENHOR. 13
Então, disse o profeta: Ouvi, agora, ó casa de Davi: acaso, não vos basta
fatigardes os homens, mas ainda fatigais também ao meu Deus? 14 Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá
e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel. 15 Ele comerá manteiga e mel
quando souber desprezar o mal e escolher o bem.
16 Na verdade, antes que este menino saiba desprezar o mal e
escolher o bem, será desamparada a terra ante cujos dois reis tu tremes de
medo. (Is.7.10-16 – destaque nosso)
O texto de Isaías 7.10-16 (acima) serve de exemplo para o
que estamos tratando. Observemos que o profeta fala ao rei Acaz dentro de um
contexto real, ou seja, a circunstancialidade forma o cenário em que a Palavra
de Deus é transmitida, mas não limita o propósito dela. A necessidade de salvação
local servirá de tipo para a universal necessidade de redenção. Por isso, o
versículo 14 vai além do contexto histórico e preanuncia o nascimento do Filho
de Deus, Cristo, conforme nos revela o evangelho segundo Mateus: “Eis que a
virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel
(que quer dizer: Deus conosco)” (Mt.1.23). Isso ocorre a fim de mostrar que
todos os problemas de Israel (e do ser humano em geral) somente poderiam ser
solucionados por meio do cumprimento da promessa redentora. Isso é comprovado
pelo fato de que nem mesmo a maior intervenção do Senhor para salvar e conduzir
seu povo no decurso da história foi suficiente para tornar os homens justos aos
olhos do Senhor e santifica-los para uma vida santa e agradável a Deus, razão
pela qual nos dias de Cristo, Israel estava vivendo uma vida religiosa medíocre
outra vez.
O mesmo fenômeno ocorrerá nos demais profetas em maior ou
menor medida. Portanto, é fundamental que o pregador da Palavra de Deus faça de
Cristo o centro da exposição da Escritura para que a igreja entenda ser Cristo
o coração da Escritura Sagrada, o cerne da mensagem profética. Sem Cristo, a
pregação da Palavra de Deus torna-se uma simples mensagem moralista, bonita por
fora, mas vazia por dentro, tendo em vista que o evangelho é o poder de Deus
para a salvação daquele que crê. E por evangelho devemos entender a obra
redentora de Jesus, pela qual fomos justificados e somos santificados através
do constante operar do Espírito e da Palavra do Senhor.
Entendemos que esses cinco pontos acima, encontrados nos
profetas clássicos, deveriam nortear a pregação de todas as gerações, pois
abordam os elementos básicos que precisam ser proclamados ao pecador, a fim de
que o pecador arrependido seja salvo por meio de sua fé em Cristo, e o ímpio
rebelde adequadamente advertido sobre o dia do juízo vindouro. O ápice da
mensagem profética é o dia da salvação, ou seja, a chegada do Messias
prometido, redentor de seu povo. Dessa forma, as mensagens proféticas eram
cristocêntricas, pois tanto o juízo divino quanto a salvação do Senhor
ocorreriam no grande Dia, o Dia de Cristo (Is.40-66; Jl.2.28-3.21; Am.9.11-12;
Mq.4.1).
Portanto, o coração da mensagem profética não se encontra na
revelação de algo novo, mas no propósito de apontar a salvação divina para o
homem: Cristo. Tendo em vista que a Escritura estava em andamento, os profetas
traziam novas Revelações sobre os tópicos que mencionamos acima. Todavia, uma
vez que a Revelação estivesse completa, a mensagem profética continuaria
cumprindo sua missão, apontando à salvação divina já revelada pelo Senhor,
conforme ocorre nos dias do Novo Testamento por meio das pregações dos apóstolos
(At.2.14-36; 3.11-26; 4.8-12; 7.1-53; 8.26-40; 9.22; 10.36-43; 13.16-41, 47;
17.22-31)
A responsabilidade de pregar fielmente a Palavra de Deus
Para finalizar o capítulo, precisamos falar ainda da grande
responsabilidade que pesava sobre os profetas. Deus chamava homens para cumprir
uma missão e essa missão era proclamar a Palavra de Deus com fidelidade.
Conforme já dissemos, o coração da proclamação profética não era algo novo, mas
a Palavra divina, mesmo aquela que já havia sido revelada anteriormente (a Lei
de Moisés, por exemplo), como ocorre com a pregação da Escritura Sagrada após
a conclusão do Novo Testamento. E mesmo que nem todos os profetas tenham se
colocado à disposição para fazer a obra do Senhor voluntariamente, à semelhança
de Isaías (Is.6.1-8), pesava sobre todos a responsabilidade de anunciarem a
Palavra de Deus com fidelidade.
O livro do profeta Ezequiel possui dois textos que lançam luz
sobre a responsabilidade do profeta perante Deus e o povo. Nesses textos, o
profeta é comparado com a atalaia, ou seja, com um vigia que guardava a cidade
ficando sobre a torre para observar possíveis ameaças externas contra a cidade
(2Rs.9.17):
Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; da minha boca
ouvirás a palavra e os avisarás da minha parte.
18 Quando eu disser ao perverso: Certamente, morrerás, e tu
não o avisares e nada disseres para o advertir do seu mau caminho, para lhe
salvar a vida, esse perverso morrerá na sua iniquidade, mas o seu sangue da tua
mão o requererei. 19 Mas, se
avisares o perverso, e ele não se converter da sua maldade e do seu caminho
perverso, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu salvaste a tua alma. 20 Também quando o justo se
desviar da sua justiça e fizer maldade, e eu puser diante dele um tropeço, ele
morrerá; visto que não o avisaste, no seu pecado morrerá, e suas justiças que
praticara não serão lembradas, mas o seu sangue da tua mão o requererei. 21 No entanto, se tu avisares o
justo, para que não peque, e ele não pecar, certamente, viverá, porque foi
avisado; e tu salvaste a tua alma. (Ez.3.17-21)
Filho do homem, fala aos filhos de teu povo e dize-lhes: Quando eu fizer
vir a espada sobre a terra, e o povo da terra tomar um homem dos seus limites,
e o constituir por seu atalaia; 3
e, vendo ele que a espada vem sobre a terra, tocar a trombeta e avisar o
povo; 4 se aquele que ouvir o
som da trombeta não se der por avisado, e vier a espada e o abater, o seu
sangue será sobre a sua cabeça. 5
Ele ouviu o som da trombeta e não se deu por avisado; o seu sangue será sobre
ele; mas o que se dá por avisado salvará a sua vida. 6 Mas, se o atalaia vir que vem a
espada e não tocar a trombeta, e não for avisado o povo; se a espada vier e
abater uma vida dentre eles, este foi abatido na sua iniquidade, mas o seu
sangue demandarei do atalaia. 7
A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel;
tu, pois, ouvirás a palavra da minha boca e lhe darás aviso da minha
parte. 8 Se eu disser ao
perverso: Ó perverso, certamente, morrerás; e tu não falares, para avisar o
perverso do seu caminho, morrerá esse perverso na sua iniquidade, mas o seu
sangue eu o demandarei de ti. 9
Mas, se falares ao perverso, para o avisar do seu caminho, para que dele se
converta, e ele não se converter do seu caminho, morrerá ele na sua iniquidade,
mas tu livraste a tua alma. (Ez.33.2-9)
Na analogia da atalaia há três personagens principais: 1) o perverso
/ a terra; 2) a atalaia; 3) a ameaça. O perverso representa todo os rebeldes e
desobedientes de entre o povo de Deus, ou de outros povos como ocorreu no livro
do profeta Jonas. Interessante observarmos que o perverso, mesmo vivendo em sua
perversidade, aparece como alguém que tem a oportunidade de se arrepender e se
converter de seus maus caminhos. Diante disso, é realçada a imensa
longanimidade de Deus e sua muito misericórdia que não somente demora para
trazer sua ira sobre o perverso como, ainda, se dispõe a perdoar todo aquele
que se arrepender de todo seu coração.
No outro lado, aparece no horizonte, como um grande e
poderoso exército inimigo, a ira divina. A ira de Deus se aproxima para
destruir o perverso como ocorreu nos dias do dilúvio (Gn.6) em que Deus
exterminou da terra todo ser vivente. Em diversos livros proféticos, os
profetas anunciam a aproximação de um exército inimigo, instrumento de Deus
para castigar seu povo (Jr.21.4; Jl.2.1-11; Hc.1.5-11). Deus usaria um povo
ímpio para castigar seu povo e os profetas deveriam alertar a nação sobre a
iminente ameaça, a fim de que houvesse tempo para os perversos se arrependerem
de seus pecados e se converterem de seus maus caminhos, para que Deus não
destruísse a terra.
Estando na torre de vigia, a fim de livrar a cidade dos
perigos, a atalaia deveria avisar em alto e bom som a presença, ainda distante,
das ameaças. Nesses textos os pecadores eram como cidades vigiadas por atalaias
e a ira de Deus era a ameaça iminente que destruiria os pecadores por causa de
seus pecados. Portanto, quando a atalaia soubesse que a ira de Deus estava
sobrevindo aos pecadores e não alertasse em alto e bom som para que soubessem,
a fim de se livrarem da ira divina por meio do arrependimento, então ela (a
atalaia) pagaria com sua vida, pois a ira de Deus alcançaria os pecadores,
matando-a juntamente com eles.
Nos dias de Cristo, encontramos duas atalaias fiéis que
alertaram os judeus sobre a ira divina que sobreviria ao povo: João Batista e
Jesus Cristo. Ambos conclamaram o povo ao arrependimento (Mt.3.2; 4.17; Mc.1.15),
advertindo-os sobre o juízo divino (Mt.3.7-12; Mt.21-25). Eles viram o medíocre
estado espiritual em que se encontravam os judeus (Mt.9.36) e os alertaram em
alto e bom som, atraindo muitos ouvintes de coração quebrantado ao arrependimento
enquanto provocaram o ódio dos endurecidos de coração, por terem revelados seus
pecados (Mt.14.5; 26.4; Mc.6.19; Jo.5.18; 7.1; 11.53). O mesmo pode ser dito
dos apóstolos de Jesus, conforme nos revela o livro de Atos dos apóstolos, pois
exerceram o ministério a eles confiado, como verdadeiras atalaias (At.2.38; 3.19).
A responsabilidade dos profetas permanece sobre aqueles que
Deus chama para anunciar sua Palavra. O pregador da Palavra de Deus tem a
responsabilidade de avisar sobre o dia da ira divina que sobrevirá a todos os
pecadores sem Cristo. Não é sem razão que o livro de Apocalipse traz a figura
de duas testemunhas profetizando contra as nações, mesmo em dias posteriores ao
fechamento da Escritura Sagrada (Ap.11.3-14). Em todas as gerações, os
pregadores encontrarão um povo perverso e desobediente que atrai sobre si a ira
divina, diariamente. Portanto, em todas as gerações os pastores deverão cumprir
fielmente o papel da atalaia, alertando os pecadores por meio do chamado ao
arrependimento e fé em nosso Senhor e Salvador Jesus. E, tendo em vista que a
responsabilidade confiada ao profeta e pastor envolve trazer à luz os pecados dos
pecadores, a atalaia sempre será desagradável para sua geração que prefere
seguir seu caminho rumo à destruição a ter que reconhecer seus pecados e mudar
o rumo da vida, para receber o perdão divino.
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