Qual o propósito de Jesus
em curar um cego de nascença que encontrou no caminho, conforme registra o
capítulo nove do evangelho de João? Teria sido a sua compaixão pelas pessoas
doentes ou há mais que sentimentos neste sinal que Cristo operou? Qual a
relação entre o discurso de Jesus sobre a luz do mundo e o milagre que Ele
operara naquele cego? Qual a ligação entre os termos traduzidos por “ver” e a
fé? Haveria alguma relação teológica entre o diálogo de Jesus com Nicodemos, no
capítulo 3, e o diálogo de Cristo com o ex-cego no capítulo 9, versículos 35 a 38?
Certa vez, tendo ouvido
notícias sobre Jesus, o profeta João Batista enviou dois de seus discípulos
para perguntarem a Cristo: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar
outro?” (Lc.7.19//Mt.11.3). Antes de responder aos discípulos de João Batista,
“naquela mesma hora, curou Jesus muitos de moléstias, e flagelos, e de espíritos
malignos; e deu vista a muitos cegos” (Lc.7.21). Diversas pessoas foram curadas
de diferentes doenças e vários cegos tiveram a vista recuperada, mas nenhuma
palavra foi dita. O gesto de Jesus era suficiente para confirmar o cumprimento
da profecia anunciada pelo profeta Isaías: “Então, se abrirão os olhos dos
cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervos,
e a língua dos mudos cantará; pois águas arrebentarão no deserto, e ribeiros,
no ermo.” (Is.35.5-6). Assim, os discípulos de João Batista entenderiam que a
resposta de Jesus era: Sim, Eu Sou o Messias prometido e as minhas obras
testificam de mim. Os milagres que Jesus realizava eram mais que expressões de
sua misericórdia, eram sinais que apontavam para a chegada do Reino de Deus e
para a vinda do Messias, que era aquele que estava no meio da multidão,
“tabernaculando” (Jo.1.14), ou seja, habitando entre o povo de Israel.
Contudo, no evangelho de João
os discursos e diálogos tomam conta da maior parte do livro, trazendo luz sobre
os poucos sinais registrados (sete apenas), a fim de que sejam compreendidos. Há
seis referências a curas de diferentes cegos nos evangelhos sinóticos (Mt.9.27;
12.22; 15.30; 21.14; Mc.8.22; Mc.10.46//Mt.20.30), mas apenas uma no evangelho
de João (Jo.9.1), contudo essa única referência está adornada de discussões que
dão significado ao gesto de Cristo. Em João, conhecemos que os milagres eram
sinais que visavam apontar para a Messianidade de Jesus, a fim de que as
pessoas cressem nEle: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos
outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram
registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais vida em seu nome.” (Jo.20.30-31). Cada um dos sete sinais,
dentre os muitos que Jesus realizou, registrados no evangelho de João, é rodeado
com discursos que trazem beleza à manifestação da glória de Deus por meio dos
milagres. A série tem início com a transformação da água em vinho (Jo.2.1-12),
apontando para o advento do Reino de Deus em abundante alegria, conforme
anunciado pelo profeta (Am.9.13-15) e termina com o fantástico sinal da
Ressurreição de Lázaro, anunciando que Cristo é o doador da Vida, conforme as
Palavras de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que
morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente.”
(Jo.11.1-46).
O único registro, no
evangelho de João, da cura de um cego, ocorre na terceira ida de Cristo para a
Judéia, por ocasião da festa dos Tabernáculos (Jo.7.2,8,10). E, diferente dos
evangelhos sinóticos, em torno desse milagre há uma série de diálogos
relacionados que interagem intimamente com o sinal manifesto, trazendo clareza
para que se compreenda o propósito para o qual se realizou tamanha maravilha
diante das multidões. Todavia, o prodígio operado por Jesus naquele cego de nascença
também trará limpidez à mensagem que Cristo intenciona deixar para seus
discípulos, de forma que há uma interação entre discurso-sinal, um lançando luz
sobre o outro na construção do objetivo do texto. A conclusão de toda esta
interação é o texto que aqui será analisado:
Ouvindo Jesus que
o tinham expulsado, encontrando-o, lhe perguntou: Crês tu no Filho de Deus? 36 Ele respondeu e disse: Quem é,
Senhor, para que eu nele creia? 37
E Jesus lhe disse: Já o tens visto, e é o que fala contigo. 38 Então, afirmou ele: Creio,
Senhor; e o adorou. 39
Prosseguiu Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem
vejam, e os que vêem se tornem cegos. 40
Alguns dentre os fariseus que estavam perto dele perguntaram-lhe: Acaso, também
nós somos cegos? 41
Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque
agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado.[1]
(Jo.9.35-41)
JESUS: A LUZ DO MUNDO AOS PECADORES
Os capítulos sete e oito
são uma preparação para o sinal que Jesus realizará, curando o cego de
nascença. Após a festa dos Tabernáculos (Jo.7.2,37), nas redondezas de
Jerusalém, Jesus discursa para as multidões outra vez, agora dizendo: “Eu sou a
luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz
da vida.” (Jo.8.12). Vinte e três vezes aparece o termo luz [fôs],
quase um terço de todas as ocorrências em que ele é usado no Novo Testamento (Setenta
e três vezes no texto Crítico. Setenta vezes no texto Majoritário). Ainda que se
encontre paralelo nas filosofias seculares quanto ao uso do termo para se
referir ao conhecimento, deve-se lembrar que o contexto literário de todos os
autores do Novo Testamento, bem como de Jesus, é primariamente o Antigo
Testamento, citado, interpretado e usado como fundamento para a confirmação de
fatos escatológicos e para o ensino das doutrinas. A razão pela qual os judeus
deveriam crer na mensagem de Jesus, e posteriormente na mensagem dos apóstolos,
não era por ser uma novidade atraente que satisfazia aos anseios da multidão,
mas por ser coerente com toda a revelação do Antigo Testamento, razão esta porque
tanto Jesus fundamentava sua mensagem nas Escrituras do Antigo Testamento
(Lc.24.27; Jo.5.39), quanto os apóstolos pregavam a partir delas (At.2.14-36). Portanto,
a luz à qual Cristo faz referência, e é citada diversas vezes no evangelho
segundo João, não tem origem em conceito filosófico greco-romano, mas em muitas
referências bíblicas tipológicas ou proféticas onde a luz [Or] é anunciada, desde a criação do universo (Gn.1.3-5//Jo.1.1-5), passando pela
história de Israel iluminada pela coluna de fogo e por seus profetas que predisseram a Luz
do Messias vindouro , até seu cumprimento nos dias do Novo Testamento: “O povo
que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da
morte, resplandeceu-lhes a luz.” (Is.9.2//Mt.4.14-16). Conforme Davidson:
Os escritores do
Velho Testamento falavam muitas vezes de luz, metaforicamente, e possivelmente
Jesus tinha isto em mente na ocasião. O Messias seria "luz dos
gentios". A metáfora abrange as duas idéias de iluminação e testemunho.
Jesus Cristo é a luz do mundo, banindo as características maléficas das trevas
e testemunhando da revelação final de Deus aos homens.[2]
Era um mundo sem energia
elétrica, beneficiado apenas por tochas e fogueiras que iluminavam a noite e
brilhavam nas festas dando beleza estética enquanto guiavam as multidões pelos caminhos.
A luz do sol acordava a vida na cidade e no campo, chamando as pessoas a
aproveitarem o dia que possibilitava a dinâmica da vida, o trabalho cotidiano:
“É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a
noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” (Jo.9.4). Assim, a luz desempenha
papel fundamental em oposição às trevas; a luz possibilitava o funcionamento e
desenvolvimento da vida cósmica, pessoal e social. Contudo, mesmo com esses
detalhes reais, Jesus faz uso de um episódio que acontecera naqueles dias
diante de todos os judeus que foram à festa dos Tabernáculos. Ele se aproveita
de um evento local judaico, repetido anualmente e conhecido por todos, para
ilustrar a verdade sobre seu ser e propósito. Na festa dos Tabernáculos, a mais
alegre das festas judaicas, um grande número de luzes era aceso, trazendo
beleza à celebração e marcando com singularidade aquele momento memorável do
povo de Israel que celebrava o cuidado de Deus que havia se manifestado numa
coluna de nuvem e numa coluna de fogo no meio de seu povo durante a caminhada
no deserto, após a saída da terra do Egito. Esse fenômeno adornado de beleza
era conhecido de todo judeu que compreenderia muito bem a alusão à glória e
propósito de Jesus, em chamar a si mesmo de “luz”, chamando-os a vislumbrar na
mente a imagem das resplandecentes luzes acesas na festa dos Tabernáculos.
Bergant aponta o importante papel da luz e da água entre os judeus:
Dois aspectos
característicos dessa cerimônia de duas semanas em setembro-outubro
influenciaram o texto. Diariamente, era trazida água da piscina de Siloé para o
Templo, onde era derramada sobre o altar enquanto eram recitadas orações pela
importantíssima chuva de inverno. E as luzes no pátio das mulheres brilhavam
tão fortes que a cidade ficava iluminada por elas. A água e a luz desempenham
papel de destaque nesses dois capítulos.[3]
As multidões haviam ouvido
o testemunho de João Batista, apontando para Cristo, conforme o propósito de
seu ministério: “Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da
luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. Ele não era a luz, mas
veio para que testificasse da luz, a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao
mundo, ilumina a todo homem.” (Jo.1.7-9). Aquela geração passou três anos
presenciando tudo o que Jesus realizava. Milhares receberam ensinamentos,
curas, restauração social, ressurreição de mortos, mudança de vida, mas ao
final muitos dos que presenciaram tudo isso, estavam entre aqueles que pediram
para que Pôncio Pilatos crucificasse a Cristo (Lc.23.18-21). Eles queriam
desfrutar apenas dos milagres que Jesus realizava, pois era a única coisa que
seus olhos conseguiam ver. O coração do povo não estava preparado para ver a
luz, a despeito de seu grande fulgor; não estavam prontos para irem a sua
direção para ter nela a vida eterna. Enquanto Jesus apontava para o Pai,
sendo-lhes a Luz do conhecimento de Deus, revelando em seus ensinos e obras a
glória do Pai, a multidão que vivia nas trevas da ignorância, como animais
queriam saciar apenas seus apetites e necessidades mais instintivos, pois não tinham
ouvidos para ouvir e, por isso, não ouviam, nem tinham olhos para ver e,
portanto, não compreendiam o que Deus estava fazendo em seus dias.
Porém, Cristo insiste entre
o povo anunciando: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas;
pelo contrário, terá a luz da vida.” (Jo.8.12). Finalmente, após quatro
milênios de espera, estava entre os homens a verdadeira luz que possibilita a
plenitude da vida. Jesus chega iluminando a geração do primeiro século da era
cristã, revelando as trevas em que viviam as multidões, enquanto dava
testemunho da Verdade, guiando os pecadores até ao Pai. As luzes acesas na
festa faziam referência à coluna de fogo que iluminava e guiava Israel durante
a caminhada no deserto, representando a presença de Deus no meio de Seu povo:
“Ao entardecer, quatro grandes candelabros dourados eram acesos para simbolizar
a coluna de fogo com que Deus guiou o seu povo pelo deserto à noite (Ex.13.21).
”[4]
Comparando esta singular e encantadora manifestação da graça de Deus na vida de
Israel, Jesus estava querendo dizer: Eu sou a luz que guia o mundo pelo caminho
do Senhor até a terra prometida.
Mas, como seguir a Cristo
se eles não enxergavam a luz? E como é possível que alguém não veja a luz, que
como o sol, ilumina o mundo? Somente a cegueira de nascença explica a
incapacidade de ver o fulgor da luz de Cristo. As trevas na qual vivia o povo
não era o estado social, econômico ou político medíocre de Israel. A Lei de
Moisés praticada todos os dias, no que diz respeito à repetição contínua dos
sacrifícios ordenados aos sacerdotes, não curava a cegueira deles. As trevas da
multidão era a cegueira do coração que não conseguia enxergar a glória de Deus
diante de seus olhos.
O
USO DOS TERMOS GREGOS
Três termos são utilizados
para falar acerca da capacidade de se perceber as coisas por meio da visão: Roráo, Blépo e Theáomai[5]. Destes, o que mais se destaca em uso
peculiar é Theáomai. No
evangelho de João as poucas vezes em que Theáomai aparece (Jo.1.14, 32, 38; 4.35; 6.5; 11.45)[6]
transmitem a idéia de um olhar para algo, ou momento glorioso: a glória do
Filho de Deus, a descida do Espírito Santo, a busca dos discípulos por conhecer
a Cristo, a grande seara, uma grande multidão que veria um maravilhoso sinal
realizado por Jesus, o espetacular milagre da ressurreição de Lázaro. No
evangelho de João, Theáomai indica mais que um olhar comum, o verbo faz referência à percepção do sujeito
em ver a glória do momento ou personagem. Muitos olharam para Cristo, mas
poucos viram sua glória; multidões cercavam João Batista para serem batizadas,
mas apenas o profeta viu a manifestação da glória de Deus na presença das três
pessoas da Trindade num só lugar, momento este no qual o Espírito Santo é visto
em forma de pomba; os discípulos também olharam para as multidões, mas só Jesus
viu nelas uma grande seara; e, na ressurreição de Lázaro, não foram todos os
judeus que viram com um olhar de fé o grandioso sinal que Jesus realizara ao
ressuscitar seu amigo no quarto dia de sua morte. Desta forma, Theáomai, em todo o evangelho de João, é mais
que um simples olhar, é o vislumbre da manifestação da glória de Deus e de Seu
Reino.
Vê-se, então, que a fé
está intimamente relacionada com o verbo ver conforme sua forma Theáomai. Sem a fé, as multidões não
conseguiam ver a manifestação da glória de Deus que estava diante de seus
olhos. Por falta de fé, os ouvintes, inclusive os discípulos de Cristo, não
conseguiam compreender muitos dos ensinos de Jesus. A ausência de fé também é
notória na cegueira dos líderes religiosos, chamados de mestres da Lei, que nem
conseguiam compreender muitos dos ensinos de Cristo, como ocorre no diálogo
entre Jesus e Nicodemos (Jo.3) nem conseguiam ver em Cristo, por meio dos
muitos sinais que fazia, o cumprimento da Lei tão estudada por eles (Jo.2.18;
6.30). Nicodemos não conseguia ver a chegada do Reino de Deus, trazido pelo
Messias, nas manifestações que Jesus realizava perante todos. No estudo do
termo Theáomai é
possível ver que fé e percepção visual do Reino de Deus estão intimamente
relacionados no olhar a manifestação da glória de Deus.
Já os dois outros termos, Roráo e Blépo, dizem respeito ao verbo ver de um modo geral, ainda que no evangelho de João
ganhem um valor especial quando relacionado com a fé. Coenen comenta os
significados possíveis para esses verbos:
Em João, o verbo “ver” assume um
significado especial. Gosta muito de usar horaõ
para aquilo que o Filho “pré-existente” viu quando estava com o Pai
(Jo.3.11,32; 6.46; 8.38) [...] João emprega os verbos de “ver” num sentido tríplice.
(i) São usados em conexão com a “percepção de coisas e acontecimentos
terrestres acessíveis a todos os homens (Jo.1.38,47; 9.8 de coisas, pessoas,
etc.). (ii) Denotam a “percepção de coisas e eventos sobrenaturais” que somente certos homens
conseguem. Logo, João Batista vê o Espírito descendo em forma de pomba (Jo.1.32); este ver, mesmo
assim, ainda é físico. (iii) João também pensa do “ver como sendo a percepção
de um evento de revelação. Esta, porém, não é nenhuma visão interior e mística,
e muito menos uma visão platônica das formas, mas, sim, um ato espiritual de
ver, a vista da fé. Os discípulos vêem a glória do Filho (1.14), que também
lhes é revelada nos Seus sinais (2.11; Milagres)[7].
Em João, ver recebe
significado especial e “há uma ênfase forte na literatura joanina sobre o
testemunho ocular”[8]. Enquanto Roráo aparece
oitenta e duas vezes no evangelho de João, Blépo é encontrado apenas 17 vezes, quase
um quinto das ocorrências de Roráo.
Em João, capítulo nove, Roráo abre o cenário com Jesus vendo o homem cego de nascença:
Caminhando Jesus, viu [roráo] um homem cego de nascença. 2E
os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que
nascesse cego? 3Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas
foi para que se manifestem nele as obras de Deus. (Jo. 9.1-3) [destaque meu]
Jesus vê aquele homem cego
com clareza, diferente dos discípulos que querem compreender a razão pela qual
ele nasceu cego. Jesus o vê e compreende perfeitamente e não parcialmente ou
incorretamente, como os discípulos olharam (Jo.9.1-2). Ao final do capítulo, no
ultimo cenário do texto, no diálogo entre Jesus e o ex-cego outra vez o
evangelista João faz uso de roráo,
não mais para Jesus e sim para o ex-cego, quando Jesus se dirige para Ele
dizendo: “Já o tens visto [roráo], e é o que fala contigo” (Jo.9.37). João cria um paralelo entre o olhar de Jesus
e o olhar do homem que era cego, mas que após ser curado possui uma nova forma
de “ver” o mundo. Assim, o evangelista João transmite a idéia de que ao final, o
ex-cego podia ver a Jesus da mesma forma como Jesus o podia ver no início. Este
ver era mais que simples visão contemplativa do mundo físico. O ex-cego
demonstra um olhar pleno, completo, um olhar sobre a natureza do outro,
reconhecendo-o como ele é. O ex-cego podia ver a Verdade sobre Cristo, pois
seus olhos haviam sido abertos. Por isso, após a afirmação de Jesus acerca de
si mesmo, o ex-cego professa sua fé em Cristo e o adora.
Mas, este olhar relacionado
ao entendimento espiritual, fé, não acontece repentinamente. Momentos antes do
último encontro de Cristo com o ex-cego, este é examinado pela segunda vez
pelos mestres da Lei. Neste exame, eles insistem em saber o que havia
acontecido com ele e recebem a seguinte resposta:
Respondeu-lhes o homem: Nisto é de
estranhar que vós não saibais donde ele é, e, contudo, me abriu os olhos. 31Sabemos
que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus e
pratica a sua vontade, a este atende. 32Desde que há mundo, jamais se
ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. 33Se
este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito. (Jo.9.30-33)
O apóstolo João expõe as
sábias respostas do ex-cego diante da ignorância dos mestres da Lei. O texto
revela quão ridícula era a situação da liderança religiosa dos judeus que perante
um homem comum, cego de nascença, demonstra completa falta de sabedoria. Enquanto
os mestres da Lei não conseguiam ver, por meio dos sinais realizados por
Cristo, que Jesus era o Messias prometido, um homem que passou a vida sem poder
contemplar a beleza da criação de Deus, pois havia sido cego de nascença, após
seu encontro com Jesus demonstra compreensão espiritual, fazendo correta
observação sobre a singularidade e importância do que Jesus realizara na vida
dele.
Outro fenômeno
interessante é que mais da metade das ocorrências de Blépo, no evangelho segundo João, aparecem exatamente neste capítulo de João, nove
vezes ao todo (Jo.9.7, 15, 19, 21, 25, 39 [3x], 41), sendo que no diálogo final,
Jesus faz uso deste verbo quatro vezes. Ao repetir o termo Blépo,
João destacou o verbo roráo,
usado apenas duas vezes conforme analisado mais acima. Os termos se equivalem
em significado em todo o capítulo, sendo aplicados tanto à visão quanto em sua relação
com a fé. Contudo, a disposição deles no capítulo nove cumpre um propósito
literário singular que prende a atenção do leitor para o objetivo do autor: mostrar
a nova vida que Jesus dera ao cego, fazendo-o não somente ver a criação ao
redor, mas, sobretudo, a glória de Deus e seu Reino.
A cegueira à qual Jesus se refere em seu
diálogo final com o ex-cego e os fariseus não diz respeito à capacidade de ver
o mundo ao redor por meio de um dos sentidos humanos chamado visão, mas à
capacidade de compreender as Escrituras e ver a vida com os olhos da fé. Esta
capacidade seria alcançada por meio de milagre divino, semelhante ao que Jesus
operou na vida daquele homem que fora cego desde seu nascimento. Assim, também,
Jesus não cegaria as pessoas, mas revelaria a cegueira espiritual delas ao
lançar luz sobre a vida delas, manifestando sua glória sem ser reconhecido por
estas pessoas. Sendo assim, mesmo sem serem escravos, os judeus precisavam ser
libertos; mesmo sem serem surdos, eles precisavam ter os ouvidos abertos; e,
mesmo sem serem cegos, os judeus precisavam ter os olhos abertos para ver a
glória do Filho de Deus que estava entre eles.
OLHOS
ABERTOS PARA VER O REINO DE DEUS
Ao encontrarem o cego de
nascença no caminho, os discípulos perguntam para Jesus: “Mestre, quem pecou,
este ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo.9.2). Em sua resposta, Cristo
revela aos discípulos que a cegueira daquele homem não era fruto de pecados
passados, mas havia um propósito bastante específico na cura que Ele
manifestaria na vida daquele cego, pois a vida daquele homem seria um
instrumento para glorificar o Senhor: “Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus
pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.” (Jo.9.3). Assim,
como no ultimo sinal registrado no evangelho de João (Jo.11.1-46), Cristo
espera até ao quarto dia para ressuscitar Lázaro e essa espera não foi por
acaso e sim proposital, para manifestar sua glória perante aqueles que estavam
presentes, principalmente diante de seus discípulos (Jo.11.4,6,14-15). Também a
vida daquele cego de nascença era um instrumento para manifestar a glória de
Deus. O texto não traz a informação da idade daquele cego, mas indica sua
maioridade, pois os pais afirmam para as autoridades que ele tinha idade
suficiente para falar “de si mesmo” (Jo.9.21). O longo tempo esperado por ele
seria sobreposto pelo sinal que Cristo realizaria, e não só mudaria a vida
inteira do cego mendigo, como também seria registrado para testemunho a todas
as gerações futuras. Calvino vê a manifestação da severidade e graça de Deus na
vida daquele homem:
Ele não diz um único trabalho, mas usa
o plural, trabalhos, pois, pelo período em que ele esteve cego, estava evidente
nele uma prova da severidade de Deus, a partir do qual os outros podiam aprender
a temer e se humilhar. Foi depois seguido pelo benefício de sua cura e
libertação, no qual a bondade surpreendente de Deus foi exibida notavelmente.
Então Cristo intenta, por estas palavras, excitar seus discípulos a expectativa
de um milagre, mas ao mesmo tempo lembra-os de uma maneira geral, que isso deve
ser abundantemente exibido no teatro do mundo, como verdadeira e legítima causa,
quando Deus glorifica o nome dele. (tradução própria)[9]
É interessante notar os
detalhes que constroem o enredo, pois estes apontam para o clímax que ocorre no
dialogo entre Jesus e o ex-cego (Jo.9.35-41). Diferente de outros cegos, como
Bartimeu (Mc.10.46-52), que foram ao encontro de Jesus com auxílio de algumas
pessoas para serem curados por Ele, o cego de nascença não buscou a Cristo a
fim de ser curado. O texto diz que Jesus o viu no caminho. Ele e seus
discípulos provavelmente se aproximaram do cego enquanto eles conversavam sobre
a procedência da cegueira dele e após o diálogo, Jesus realiza o milagre sem
que o cego dissesse uma só palavra. Jesus o vê, se aproxima e realiza o
milagre. Depois disso, Cristo desaparece no meio da multidão, tendo ordenado ao
cego que fosse lavar os olhos no tanque de Siloé. O milagre realizado na vida
daquele homem seria uma demonstração da real situação em que se encontra aquela
geração e sem o “nascer de novo” ela jamais conseguiria ver a presença do Reino
de Deus (Jo.3.3).
Tendo sido curado, uma
série de cenas se desenvolve: Primeiro as pessoas que conheciam o cego “que
estava assentado pedindo esmolas” (Jo.9.8) o reconhecem e ficam admiradas por
ele estar vendo. Outros, no entanto, consideram que seria outra pessoa parecida
com aquele cego, e, enquanto isso, o próprio homem testemunha que fora curado,
dizendo que “o homem chamado Jesus fez lodo, untou-me os olhos e disse-me: Vai
ao tanque de Siloé e lava-te. Então, fui, lavei-me e estou vendo” (Jo.9.11). Os
judeus não conseguem ver o significado do notório milagre realizado na vida
daquele homem. O testemunho do ex-cego chega aos ouvidos dos fariseus. Estes,
então, ficam bravos, pois tanto Jesus curou num dia de sábado, ou seja, realizou
trabalho no dia de descanso, quanto instigou uma suposta quebra da lei,
ordenando que o ex-cego fosse se lavar no tanque de Siloé. O texto diz que levaram
o que fora cego para a presença dos fariseus. Não se sabe se por chamado dos
próprios fariseus ou se por denúncia de outros judeus ao saberem do acontecido.
O fato é que tendo chegado à presença dos fariseus o cego é interrogado duas
vezes. Não satisfeitos, os fariseus mandam chamar os pais dele e os interrogam
uma vez. Contudo, o interrogatório ainda não havia satisfeito os fariseus que
chamaram outra vez o que fora cego para o questionarem pela terceira vez. No
entanto, o interrogatório em nada deu e os fariseus expulsam o ex-cego,
revoltados após ridícula situação na qual são ensinados por um mendigo ex-cego
que demonstra mais discernimento do que os mestres da Lei. Mesmo após os
diversos testemunhos dados pelo que fora cego, nada se resolve entre os mestres
da Lei, afinal não conseguiam compreender nada acerca do que estava
acontecendo. Conforme Bergant:
Há seis cenas logicamente consecutivas;
diálogo magnífico; personagens que são sucessivamente, misericordiosos,
confusos, fortes, valentões, fracos e egoístas. Desempenhando o papel principal
– a ponto de roubar a cena de Jesus – está a figura fascinante do cego,
corajoso e inteligente, revidando com sucesso cada golpe atirado em sua
direção. E a peça se encerra com uma bela fala (v.41) que dá a substância da
história toda.[10]
Somente após expulsarem o
ex-cego, tendo o ambiente se acalmado, Jesus vai em direção àquele homem. Como
a coluna de nuvem durante o dia e a coluna de fogo durante a noite, celebradas
na festa dos Tabernáculos, Jesus vai ao encontro daquele que fora cego para
dirigi-lo pelo caminho que deveria andar. Os líderes religiosos o deixaram
vagando sem respostas nem direção, mas Jesus o receberá para dar-lhe vida em
abundância. Calvino comenta a passagem:
Se ele tivesse sido autorizado a
permanecer na sinagoga, ele teria estado em perigo de tornar-se gradualmente
alienado de Cristo, e mergulhado na mesma destruição dos homens ímpios. Agora
Cristo o encontra quando ele já não está mais no templo, mas vagando aqui e
ali; recebe e o abraça, quando ele é expulso pelos sacerdotes; o levanta do
chão, e oferece-lhe a vida, quando ele recebeu a sentença de morte.[11]
Enquanto a liderança
religiosa dos judeus, que segundo a Lei deveria cuidar do povo como um pastor
cuida das ovelhas (Ez.34.1-6; Jr.3.15), lança fora aquele pobre homem carente
de cuidados físicos, sociais e espirituais, Jesus o acolhe lhe perguntando:
“Crês tu no Filho de Deus?” (Jo.9.35). Jesus, a luz do mundo estava ali para
dar ao que fora cego uma direção certa rumo à “terra prometida”, protegendo-o
de seus inimigos enquanto o aquecia. Os líderes nada acrescentaram na vida do
ex-cego. Não tinham resposta nem direção certa. Contudo, Jesus com mansidão
podia guiá-lo, podia tirar suas dúvidas, podia dar-lhe salvação. Sem nenhum
enigma, Jesus se revela como Filho de Deus ao que fora cego: “Crês tu no Filho
de Deus?” (Jo.9.35). Sua pergunta é objetiva, como quem sabe qual resposta
obteria. Aquele homem já estava apto para compreender e crer. Seu testemunho
havia sido firme a despeito das dúvidas que surgiram entre a multidão que
estava em parte confusa, em parte perplexa com o que acontecera com ele. Além
disso, mesmo pressionado, suas respostas revelaram boa compreensão perante os
líderes que o desprezaram ao final. Fica evidente aqui que a cura da cegueira
de nascença dele era também um sinal que fazia alusão à nova vida que Deus
podia dar sobrenaturalmente ao homem pecador, espiritualmente cego de nascença.
Diante da pergunta de
Jesus, o ex-cego questiona: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia?”
(Jo.9.36). Ele queria ver quem o havia curado, afinal não poderia ser um homem
qualquer, pois ele sabia que “desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém
tenha aberto os olhos a um cego de nascença” (Jo.9.32). Ao ser questionado pela
segunda vez pelos fariseus, o ex-cego havia afirmado que aquele que o curara
deveria ser um profeta (Jo.9.17). Sua visão acerca de Jesus até então era
especulativa, pois ainda que tivesse seus olhos abertos não havia tido até
aquele momento a oportunidade de ver a Cristo. Sua capacidade de discernir as
coisas estava funcionando corretamente, e isto é possível de ser percebido nos
diálogos entre o ex-cego e os fariseus, mas faltava-lhe ainda a autorevelação
de Jesus. Por isso, somente quando Jesus revela a verdadeira natureza daquele
que o curara é que o que fora cego pode conhecer a Cristo como ele de fato era.
Por meio de um drama real,
Jesus demonstra para seus discípulos a carência espiritual da multidão judia e
o processo que levaria o povo a obter a vida eterna. Os discípulos estavam
sendo preparados para o grandioso ministério que deveriam exercer após a
ascensão de Jesus. Neste drama, os discípulos vêem a discrepância entre a
dureza de coração daqueles que eram conhecedores da Lei e o discernimento no
coração de um simples homem tocado por Deus. Para vergonha dos fariseus doutos
na Lei de Moisés, aquele homem simples, por meio do testemunho de um único
sinal manifesto graciosamente na vida dele, creu que Jesus era o Filho de Deus,
expressão esta que levaria os judeus a acusarem Jesus de blasfêmia em diálogo
posterior (Jo.10.36).
A
CEGUEIRA ESPIRITUAL DOS RELIGIOSOS DE ISRAEL
O sinal de Jesus realizado
num cego de nascença, em dia de sábado, perturbou bastante os líderes
religiosos da Sinagoga (Jo.9.22). Estes interrogaram o ex-cego e os pais dele, num
total de quatro interrogatórios (Jo.9.15,17,19,24). Mesmo assim, não ficaram satisfeitos
com as respostas, pois queriam tanto acusar Jesus de ferir a Lei de Moisés
quanto convencer as pessoas que Jesus não passava de um enganador.
Contudo, aquele era um
momento singular na história da humanidade. O mundo nunca testemunhou tantos
sinais realizados em tão pouco tempo, três anos apenas, que segundo o apóstolo
João, houve “muitas outras coisas que Jesus fez” diante das multidões,
principalmente da Galiléia, mas também da Judéia e Samaria, Decápolis, Tiro e
Sidom (Mt.15.21-28; Mt.19.1-2; Mc.7.31-37; Jo.2.11; 21.25) e que não foram
registradas em seu evangelho, pois “se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que
nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos.” (Jo.21.25). Contudo, os mestres da
lei não conseguiram ver que o Messias havia chegado nem as multidões
conseguiram perceber que o Reino de Deus estava no meio delas.
Antes da cura do cego de
nascença, outros cinco sinais são registrados por João em seu evangelho (Jo.2.1-12;
4.46-54; 5.1-18; 6.1-15; 6.16-21). Além desses, muitos outros milagres foram
realizados diante das multidões (Jo.20.30) dentre os quais vários estão
registrados nos evangelhos sinóticos. Contudo, nem os líderes nem o povo judeu,
exceto um pequeno número de seguidores que acompanharam Cristo em seu ministério
(At.1.21-23), haviam crido em
Jesus. O que lhes faltava? Não foram suficientes os muitos
sinais realizados por Cristo? Qual sinal seria necessário para que as multidões
e seus líderes cressem em Jesus, o Filho de Deus, Salvador do mundo? Alguma
coisa estava faltando, algo há muito profetizado insistentemente pelo profeta
Ezequiel:
“Dar-lhes-ei um só coração, espírito
novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei
coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos,
e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.” (Ez.11.19-20).
No entanto, aquela geração
não compreendia que sua vida religiosa escondia no íntimo uma vida escrava,
surda e cega (Jo.8.36, 43; 9.39-41), incapaz de viver livremente para Deus,
ouvir a Palavra com entendimento e ver a glória de Deus, a fim de adorá-lo em
Espírito e Verdade (Jo.4.23-24). Em diálogo tenso entre Jesus e os judeus no
capítulo oito, Jesus afirma a incapacidade deles de compreenderem os ensinos de
Cristo. Por esta razão, não apenas não criam como também queriam matá-lo: “Qual a razão por
que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a
minha palavra” (Jo. 8.43).
No capítulo 3 de João, na
conversa entre Jesus e Nicodemos, mestre da lei, este demonstra as dificuldades
que possuía em compreender o projeto redentor. Ele consegue ver as maravilhas
que Jesus faz e até as associa à intimidade de Cristo com Deus: “Rabi, sabemos
que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais
que tu fazes, se Deus não estiver com ele.” (Jo.3.2); mas Nicodemos não
consegue ver quem é Jesus. Ele acompanhava de perto o ministério de Cristo, mas
precisava que seus olhos fossem abertos para realmente ver quem era Jesus e o
que havia vindo fazer. Mesmo com tantas obras realizadas por Cristo, jamais
vistas em outro período da história humana; mesmo com a excelência e autoridade
dos ensinos de Jesus e a perfeição da vida santa diante de todos, os mestres da
Lei não conseguem interpretar com clareza quem é Jesus. O Reino de Deus havia
chegado e a glória desse reino estava sendo manifesta em cada sinal operado por
Jesus: “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus,
certamente é chegado o reino de Deus sobre vós.” (Mt.12.28). Mas, quem estava apto para perceber isto? Nicodemos
representa bem a realidade do povo judeu como um todo. Apesar de ser mestre da
Lei, ele não compreende a essência desta Lei, pois disse Jesus: “Em verdade, em
verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de
Deus” (Jo.3.3).
CONCLUSÃO
O capítulo nove de João é
um drama real que representa a realidade espiritual do povo de Israel, lançando
luz sobre a dureza de coração dos líderes do povo enquanto revela a graça e
misericórdia de Deus na vida de um homem marginalizado. Os versículos finais do
capítulo nove são o clímax do enredo e trazem tanto salvação quando condenação
sob a mesma luz, a luz de Cristo, que brilhando entre a geração revela tanto
graça aos que tem os olhos abertos para segui-la quanto aponta a dureza de
coração daqueles que desprezam a luz do Senhor Jesus.
REFERENCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ALEXANDER,
David. Manuel Bíblico SBB. São
Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008.
BERGANT, Dianne & KARRIS, Robert J.,
Comentário Bíblico, São Paulo,
Editora Loyola, 2001 V. 3.
BIBLEWORKS 9. Version 9.0.005f.1
(SH), LLC, 2011
CALVIN, John. Commentary
on the Gospel according to John. Albany :
Books For The Ages, Version 1.0, 1998, Pág. 289-352.
CARSON, D. A. & MOO, Douglas J. & MORRIS, Leon . Introdução
ao Novo Testamento.
São Paulo: Editora Vida Nova, 1997.
COENEN, Lothar &
COLIN Brown. Dicionário Internacional de
Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, Vol. 2, pág.
2591-2598
DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia. São Paulo:
Vida Nova, 1997.
GOMES, Paulo Sérgio
& OLIVETTI, Odayr. Novo Testamento
Interlinear Analítico: Texto Majoritário com Aparato Crítico. São Paulo:
Editora Cultura Cristã, 2008
GUNDRY, Robert
H. Panorama do Novo Testamento. São
Paulo: Editora Vida Nova, 2ª Ed. 1999.
HALE, Broadus
David. Introdução ao estudo do Novo
Testamento. São Paulo: Editora Hagnos, 2001.
HÖRSTER, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo Testamento.
Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1996
JEREMIAS, J. Teologia do Novo Testamento. São Paulo:
Editora Hagnos, 2008.
JR, Albert A.
Bell. Explorando o Mundo do Novo
Testamento. Belo Horizonte: Editora Atos, 2001.
LADD, George
Eldon. Teologia do Novo Testamento.
São Paulo: Editora Hagnos, 2003.
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida Nova, 2003
NESTLE-ALAND. Novum Testamentum Graece. Deutsche
Bibelgesellschaft, 27ª Ed
PACKER, J. I. & TENNEY, Merril C. & JR.,
William White. O Mundo do Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2002.
______________,
Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos.
São Paulo: Editora Vida, 2001.
SHEDD, Russell P., O Novo Comentário da Bíblia, São Paulo, Ed. Vida Nova, 1997
TENNEY, Merril
C. O Novo Testamento: Sua Origem e
Análise. São Paulo: Editora Vida Nova, 3ª Ed. 1998.
THIELMAN,
Frank. Teologia do Novo Testamento.
São Paulo: Shedd Publicações, 2007.
WOLTERS, Albert M. A Criação Restaurada: Base Bíblica para
uma Cosmovisão Reformada. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006, 98 p.
[1] Aqui será adotado o texto conforme
utilizado por NESTLE-ALAND. Novum Testamentum Graece. Deutsche
Bibelgesellschaft, 27ª Edição, com exceção de uma variante conforme explicação
abaixo. No Novum Testamentum Graece o aparato crítico aponta para treze
variantes, na perícope escolhida, sendo que oito delas não somente são apoiadas
por manuscritos de valor determinante para os estudiosos a favor do texto
Críticos, mas também encontram apoio nos manuscritos Majoritários, abarcando,
assim, a maioria dos manuscritos principais. Das outras cinco variantes que
divergem do texto Majoritário, a mais relevante diz respeito à substituição do
termo anthrópu (do homem) por Theú (de Deus). Muda, portanto, a forma como Jesus se refere a si mesmo: de "Filho do homem" para "Filho de Deus". A expressão Filho do
homem aparece, além da ocorrência em João 9.35, outras doze vezes tanto no
texto Crítico quanto no texto Majoritário. A expressão Filho de Deus aparece
nove vezes tanto no texto Crítico quanto no texto Majoritário, e há ocorrência de
ambas as expressões próximo ao texto (Jo.8.28; Jo.10.36), tornando, assim, um
pouco mais difícil desvendar o caso por meio de análise interna. Todavia, há
dois argumentos internos a favor do texto Majoritário: 1) o menor número de
ocorrências da expressão Filho de Deus no evangelho segundo João, tornando esta
variante mais difícil de ser repetida e, assim, mais provável de ter sido
utilizada pelo texto original; 2) a expressão Filho de Deus se relaciona melhor
com a atitude do ex-cego de adorar a Cristo; 3) enquanto o termo Filho do homem
não aparece relacionado ao verbo crer, a expressão Filho de Deus quase que
sempre está relacionada à fé que personagens deveriam depositar em Cristo. O termo filho do
homem é usado com freqüência no Antigo Testamento referindo-se ao homem, filho
de Adão. Muitas dessas ocorrências se dirigiam ao profeta, o que dificultaria
para o ex-cego uma rápida associação do termo com a divindade de Cristo
(Jo.12.34). Após estas considerações, decide-se escolher a variante "Filho de Deus". Conforme foi dito no início, o texto escolhido para uso neste
trabalho será aquele encontrado no Novum Testamentum Graece de Nestlé-Aland,
27ª Edição com exceção da variante supracitada.
[2] DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1997.
[3] BERGANT, Dianne & KARRIS, Robert
J., Comentário Bíblico, São Paulo,
Editora Loyola, 2001 V. 3, p.118
[4] ALEXANDER, David. Manuel Bíblico SBB. São Paulo:
Sociedade Bíblica do Brasil, 2008, p.632
[5] O termo roráo aparece no evangelho segundo João
oitenta e duas vezes, conforme texto Crítico, e sessenta e nove vezes, segundo o
texto Majoritário. Blépo é encontrado dezessete vezes no evangelho de João tanto no texto Crítico quanto
no texto Majoritário. E Theáomai é pouco usado, aparecendo apenas vinte e duas vezes em todo o Novo Testamento,
das quais apenas quinze se encontram nos quatro evangelhos e somente seis no
evangelho segundo João, conforme o texto Crítico. Já no texto Majoritário o
termo Theáomai aparece sete vezes no evangelho de João, dezesseis vezes nos quatro evangelhos
e vinte e quatro em todo o Novo Testamento.
[6] Referências encontradas conforme
busca no texto Crítico de NESTLE-ALAND. Novum Testamentum Graece. Deutsche
Bibelgesellschaft, 27ª Edição
[7] COENEN, Lothar & COLIN Brown. Dicionário Internacional de Teologia do
Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, Vol. 2, p. 2596
[8] COENEN, Lothar & COLIN Brown. Dicionário Internacional de Teologia do
Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, Vol. 2, p.2596
[9] CALVIN, John. Commentary on the Gospel according to John.
Albany : Books
For The Ages, Version 1.0, 1998, p.328
[10] BERGANT, Dianne & KARRIS, Robert
J., Comentário Bíblico, São Paulo,
Editora Loyola, 2001 V. 3, p.122
[11] CALVIN, John. Commentary on the Gospel according to John. Albany : Books For The
Ages, Version 1.0, 1998, p.347
Nenhum comentário:
Postar um comentário