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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Pastoreio bíblico - Pastor bivocacionado?

A profissionalização do ministério da pregação é uma prática antiga. Falsos profetas do Antigo Testamento profetizavam por dinheiro (Ez.34.2-3; Mt.23.14) e diversos profetas itinerantes mal-intencionados tentaram se aproveitar das igrejas nos dias do Novo Testamento (Gl.4.17). Esse problema tem estado presente no decorrer dos séculos da era cristã, também, pois nem sempre a igreja consegue distinguir o verdadeiro chamado pastoral das meras aparências.

Por ser um trabalho que exige dedicação completa, a Escritura ordena às igrejas que sustentem seus pastores, reconhecendo tanto a dignidade do exercício pastoral quanto a importância de que se dediquem “na oração e no ministério da Palavra” (At.6.4). Conforme Paulo, sustentar o pastor é uma ordenança divina: “Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho” (1Co.9.13-14). Caso o ministro negligencie a necessidade de dedicar-se ao estudo da Escritura e cuidar das ovelhas por meio do amplo ensino da Palavra de Deus, a igreja sofrerá os danos de ter sido mal cuidada.

O problema em questão é a ideia de que há pastores que possuem mais de uma “vocação”, ou seja, que exercem outra função, um exercício profissional. Esses pastores são chamados, popularmente, de bivocacionados (bi = dois) e justificam essa prática a partir de uma particular interpretação de alguns textos do Novo Testamento. Nosso propósito é demonstrar que o fundamento para tal entendimento não está correto e que, conforme a Escritura, o chamado pastoral deve ser desenvolvido por dedicação exclusiva, considerando como exceção a real necessidade de provisão em situações emergenciais com o único propósito de levantar sustento quando este falta à manutenção da família do pastor. Esta exceção não pode ser chamada de segunda vocação, pois o chamado ao ministério exige dedicação completa daquele que Deus separou para a proclamação da Santa Palavra.


Sobre o termo

Arrisco-me a dizer que todas as pessoas possuem mais de uma “vocação”. Digo isso, considerando que o sentido mais básico do termo “vocação” é a “aptidão natural para alguma atividade”. Decorre desse entendimento, a ideia de “vocação” como profissão. Portanto, posso dizer que todas as pessoas possuem mais de uma aptidão natural, seja qual for a área ou amplitude. Nesse sentido, o termo bivocacionado (ou multivocacionado) deve ser aplicado a todos os cristãos, não especificamente a “pastores que exercem o pastoreio e uma profissão ao mesmo tempo”. Todavia, o termo torna-se completamente inadequado quando assume o significado de profissão, pois o ministério pastoral exige dedicação completa do ministro.

Moisés foi pastor de ovelhas (Ex.3.1), mas o Senhor decidiu fazê-lo líder em Israel; Davi, também, foi pastor (1Sm.16.11) e Deus o tornou rei de seu povo; Amós era boieiro (Am.7.14) e foi chamado para propagar a Palavra de Deus; Pedro, André, Tiago e João eram pescadores (Mt.4.18; Mc.1.16; Lc.5.10) e foram chamados para pregar a Escritura; Mateus era contador (Lc.5.27) e, também, foi chamado para anunciar o Evangelho; Paulo sabia fazer tendas (At.18.3) e foi chamado por Jesus para anunciar a Palavra aos confins da terra; Jesus foi carpinteiro (Mc.6.3), mas desde que iniciou seu ministério, dedicou-se exclusivamente à missão de ensinar o Evangelho do Reino de Deus pela Judéia, Samaria e Galiléia. E mesmo sem conhecer detalhes da vida de muitos outros personagens da Escritura, chamados para pregar a Palavra de Deus, podemos dizer que os mais variados homens que Deus chamou, também, possuíam outras aptidões.

Portanto, não há de se discutir aqui se pastores possuem diversas aptidões, pois, provavelmente, todos terão muitas habilidades, algumas até mesmo desconhecidas para eles. A problemática em análise refere-se ao exercício ou não de suas habilidades, por meio do engajamento profissional, dividindo, assim, tempo e esforço com o ministério pastoral. Deveria o pastor manter uma profissão paralelamente ao pastoreio mesmo quando não há necessidade, tendo em vista o que disse a Escritura: “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes.” (1Tm.6.8)? Ao dedicar-se a uma profissão, desnecessariamente, em paralelo ao ministério, o pastor não estaria negligenciado o chamado do Senhor e prejudicando o bom andamento da obra de Deus?


Toda capacidade diligentemente empregada

Deus é o autor de nossas capacidades. Dele vem a inteligência e o conhecimento, a sabedoria e aptidões diversas. Todavia, tais capacidades não estão presentes apenas nos cristãos (Gn.4.17-24) nem muito menos podem ser usadas apenas para fins proveitosos, ainda que esta seja a vontade revelada pelo Senhor (1Co.12.7). Portanto, não somente o trigo, mas, também, o joio deve usar a vida integral, incluindo, evidentemente, as capacidades para desenvolver os mandatos originais revelados pelo Senhor para Adão quando este ainda estava no jardim do Éden. Esses mandatos fazem parte do propósito divino para o homem, criado à imagem de Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” e “Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gn.1.26; 2.15).

A Escritura, portanto, revela que a vontade do Senhor para o homem é que este trabalhe na criação usando todas as aptidões que Deus lhe concedeu. Sendo este o propósito de Deus, a Escritura reprova aqueles que não aplicam seus talentos trabalhando na criação:

Vai ter com a formiga, ó preguiçoso (Pv.6.6)
Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? (Pv.6.9)
O preguiçoso não lavra por causa do inverno, pelo que, na sega, procura e nada encontra. (Pv.20.4)
O preguiçoso morre desejando, porque as suas mãos recusam trabalhar. (Pv.21.25)
Diz o preguiçoso: Um leão está lá fora; serei morto no meio das ruas. (Pv.22.13)
Diz o preguiçoso: Um leão está no caminho; um leão está nas ruas. (Pv.26.13)
Como a porta se revolve nos seus gonzos, assim, o preguiçoso, no seu leito. (Pv.26.14)
O preguiçoso mete a mão no prato e não quer ter o trabalho de a levar à boca. (Pv.26.15)
Atende ao bom andamento da sua casa e não come o pão da preguiça. (Pv.31.27)
Mas o que recebera um, saindo, abriu uma cova e escondeu o dinheiro do seu senhor. [...] Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu. (Mt.25.18,26-27)
Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor (Rm.12.11)

Mas, onde investir todo nosso esforço? Onde estivermos trabalhando ou naquilo para o qual o Senhor nos chamar. Não é atoa que temos aptidões diferentes. Deus concede aos homens talentos diferentes para que exerçam seus variados papéis na família, sociedade e criação, contribuindo para a manutenção e bem-estar do mundo criado por Deus. A mesma diversidade de papéis presente na igreja (Rm.12.6-8; 1 Co.12.11,28; Ef.4.11) é vista na sociedade, e podemos dizer que provém do Senhor.

Diversos personagens da Escritura demonstraram dedicação à obra que lhes fora confiada. A sabedoria que o Senhor dera para José foi aplicada a seu trabalho (Gn.41.38). Aqueles que Deus escolheu para trabalharem no Tabernáculo, capacitados pelo Senhor para desempenharem seu papel (Ex.28.3; 31.3; 35.31), dedicaram todo esforço para realizar a obra que lhes fora confiada. E para o exercício do ministério pastoral, Deus também enchia seus escolhidos com aptidão necessária, a fim de que cuidassem do povo do Senhor com fidelidade e excelência (Nm.27.18; Dt.34.9; 1Sm.16.13; Mq.3.8; Lc.1.15; 4.1; At.4.8; 6.5; 9.17; 11.24; 13.9), sem negligenciar o chamado divino.

Para que o exercício profissional possa ser bem aproveitado e desenvolvido, faz-se necessário que o trabalhador dedique-se com esmero, labutando com diligência enquanto procura qualificar-se para que aperfeiçoe suas competências. Dividir tempo e esforço com outros trabalhos não somente será demasiadamente cansativo como também prejudicará o bom andamento da obra e retardará o desenvolvimento daquele que deve crescer em conhecimento e habilidade para que desenvolva cada vez melhor seu trabalho, para a glória do Senhor.

Em seguida, gostaríamos de observar a dedicação exclusiva de diversos personagens chamados por Deus para cumprir uma missão específica. A partir do momento em que Deus os chamou, a vida teve um novo rumo, sendo-lhes necessário deixar os antigos afazeres para trás, a fim de cumprirem com diligência a missão para a qual foram convocados. Para que mantivessem os olhos bem focados sobre o papel que deveriam desempenhar, o tempo e o esforço eram administrados sem desperdício.


Os patriarcas deixaram tudo

A necessidade de deixar tudo para obedecer ao chamado do Senhor não é algo novo. Durante a história redentora, Deus chamou diversos homens para cumprirem uma missão, ordenando-lhes que deixassem tudo para trás, a fim de que vivessem uma nova etapa da vida guiada completamente pelo Senhor. Eles tiveram que deixar família, terra e afazeres para começarem uma nova jornada. E para que cumprissem bem a missão, deveriam manter o foco sobre o chamado do Senhor.

O primeiro da relação de homens de Deus é Noé (Gn.6.13-14). Ele não faz parte da lista de patriarcas, mas, considerando a magnitude de seu chamado e a relação com os patriarcas, deve ser mencionado aqui. Noé teve uma vida normal, justa e íntegra, em meio a uma geração pervertida. Como a maioria das pessoas, ele casou, trabalhava e teve filhos. Mas, aos quinhentos anos de idade, sua vida tomou novo rumo, pois Deus lhe confiou uma tarefa muito importante que exigiria grande dedicação: construir uma arca de salvação.

Noé, então, foi fiel no exercício de sua missão, “consoante a tudo o que Deus lhe ordenara” (Gn.6.20). O texto Sagrado não nos revela como foi o dia a dia de Noé, mas transmite a ideia de que sua dedicação ao trabalho que lhe fora confiado fez com que ele fosse bem sucedido em tudo. Após, ter concluído sua missão, Deus reafirma sua aliança feita com Adão para que Noé prosseguisse sua vida na presença do Senhor (Gn.9.1-7). Noé, então, volta a suas atividades exercidas antes do Dilúvio e planta uma vinha (Gn.9.20). É evidente que Noé não deixou de ter seu sustento, pois precisava comer durante o tempo em que trabalhou na arca, mas seu foco estava sobre a missão a ele confiada.

Depois de Noé, o Senhor chama Abrão, de entre seus familiares, a uma nova vida em um novo lugar (Gn.12.1-5). Abrão teve que deixar tudo para trás, a fim de percorrer uma nova jornada. E para que fosse bem sucedido em sua missão, deveria colocar o coração sobre o chamado do Senhor, pois caso dividisse seu coração com a saudade do que ficou para trás, Abrão poria em risco a missão que lhe fora confiada (Gn.24.5-7). O trabalho de Abrão consistia em manter-se próximo da terra de Canaã, crendo que Deus cumpriria sua promessa dando-lhe a terra e a descendência prometidas. Ele não deveria pensar em outra terra nem deveria perder o propósito de ter um filho, o filho da promessa.

Seguindo os passos do pai, Isaque viveu como peregrino, pois a terra prometida lhe havia sido dada por herança e a missão de Abraão fora passada para o filho. Conforme a Escritura, a vida dos patriarcas girou em torno da promessa que aguardavam, por isso mantiveram-se atentos a terra e à descendência. O plano de vida deles estava firmado sobre o chamado do Senhor, originalmente, feito a Abraão, e por meio das bênçãos proféticas dos patriarcas a missão que lhes fora confiada era repassada para o descendente.

Jacó é o terceiro dessa linhagem de patriarcas peregrinos, herdeiros da promessa divina. Sua jornada foi diferente, pois, durante certo tempo, Jacó esteve longe da terra prometida e seus passos percorreram caminhos diferentes daquele proposto pelo Senhor. Diferente de Abraão e Isaque, Jacó teve duas esposas e duas concubinas que lhe deram à luz 12 filhos. Portanto, Jacó aderiu a práticas pagãs ao ser enganado por Labão (Gn.29.26) e sofreu as consequências disso (Gn.47.9). Porém, a Escritura nos revela que este patriarca manteve seus olhos fitos nas promessas divinas, desde o início (Gn.25.29-34), razão pela qual voltou para a terra de Canaã (Gn.35.1-15).

Conforme a Escritura nos revela, a vida dos patriarcas girou em torno do chamado de Deus. A dedicação deles revela-se na obediência e persistência, pois mesmo diante das mais diversas intempéries, sempre retornavam para o alvo: a promessa divina. A dedicação deles foi importante, pois demonstrava confiança nas promessas de Deus. Por essa razão, o Senhor imputou-lhes sua justiça mediante a fé que eles exerceram ao seguir os passos que lhes fora traçado por Deus.


A tribo de Levi deixou tudo

Mais de quatrocentos anos se passam e Deus chama outro homem para servi-lo: Moisés (Ex.3-4). Apesar da distância temporal entre os patriarcas e Moisés, o caráter do chamado de Deus se mantem semelhante: separação completa para uma missão divina. Moisés sabia o peso de tal chamado e tentou livrar-se dele diversas vezes em seu diálogo com Deus, mas a vontade de Deus permaneceu imutável e Moisés teve que obedecer ao Senhor (Ex.3.11; 4.1,10,13).

Após ter fugido da presença de faraó, Moisés constitui família na terra de Midiã, casando com Zípora. Ele possuía trabalho, esposa, filhos e casa, vivendo uma vida normal como um homem normal. Todavia, sua vida mudaria completamente por causa do chamado de Deus. O Senhor o tira de sua terra, da parentela de sua esposa, de seus afazeres cotidianos e o envia para o Egito, a fim de cumprir uma missão específica que exigiria toda sua dedicação (Ex.3.10). E mesmo que seu propósito inicial fosse tirar o povo da terra do Egito, o chamado de Moisés iria muito além do êxodo, pois seu papel era conduzir o povo de Deus até a terra prometida (Ex.3.8).

Moisés era da tribo de Levi e foi o primeiro a cumprir o papel sacerdotal, intercedendo pelo povo, falando a Palavra de Deus ao povo e sacrificando pelo povo. Junto a Moisés, toda a tribo de Levi foi designada a missão de servir exclusivamente a Deus, dedicando-se ao culto. Por essa razão, a tribo de Levi seria sustentada pelos dízimos da nação, a fim de que pudesse dedicar-se exclusivamente a obra ordenada por Deus (Nm.18.21; Dt.10.9; 18.1; Js.13.14,33). É importante salientar nesse momento que o pastor não é um levita, nem mesmo o grupo de cânticos pode ser chamado assim. Todavia, nosso propósito aqui é demonstrar que o chamado de Deus separa pessoas para fins específicos exigindo dedicação completa àquilo para o qual foram designadas.

O fato de Deus destinar a tribo de Levi ao ministério cúltico não significa que aqueles homens não tivessem outras aptidões. É muito provável que eles soubessem plantar, pastorear, esculpir, escrever, tocar, costurar, cozinhar, trabalhar com metais e madeiras etc. Todavia, Deus os havia designado a uma missão específica e eles deveriam dedicar-se a ela; e, por melhor que fossem em outras aptidões, a fidelidade deles seria demonstrada na obediência e dedicação ao exercício daquilo que lhes fora confiado.

Não era difícil entender a necessidade de se dedicar completamente ao ministério designado por Deus aos Levitas. Todo trabalho exige dedicação e a divisão de tempo e esforço com outras ocupações sempre prejudicará o bom andamento de qualquer profissão. Deus sempre quer o melhor de nós quer na profissão quer no ministério de pregação e pastoreio da igreja. Para isso, é necessário que o trabalhador dedique-se diligentemente em sua função, com o propósito de apresentar sempre o melhor para Deus e para o próximo (Mt.25.21,23).


Davi deixou tudo

Depois da morte de Moisés, Deus chamou Josué para dar continuidade à obra. Após Josué, diversas pessoas exerceram os papéis de juízes ou sacerdotes. O início do livro de Samuel nos conta como Ana consagrou seu filho Samuel para servir ao Senhor por todos seus dias, de forma que o pequenino tornou-se profeta e juiz, no meio de Israel, por chamado divino. A vida de Samuel foi dedicada exclusivamente a pastorear a nação de Israel, guiando o povo por meio da Palavra de Deus. Aproximadamente mil anos após o chamado de Abraão, nos dias do profeta Samuel, Deus escolheu para si um jovem pastor de ovelhas com o propósito de fazê-lo rei de seu povo Israel (1Sm.16.13). Mais um homem seria separado de sua vida cotidiana para dedicar-se àquilo para o qual o Senhor o designara.

Davi possuía afazeres familiares antes de ser chamado pelo Senhor como as demais pessoas de seus dias. Mas, após ser ungido por Samuel para que fosse rei sobre Israel, sua vida tomou novo rumo, incluindo um difícil e longo período de preparação (aproximadamente 15 anos) no qual precisou fugir de Saul. Davi deixa tudo para trás, a fim de caminhar rumo ao propósito do Senhor para sua vida, como disse profeta Natã: “Agora, pois, assim dirás ao meu servo Davi: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Tomei-te da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses príncipe sobre o meu povo, sobre Israel” (2Sm.7.8; 1Cr.17.7).

Seu novo papel exigia preparação específica e dedicação exclusiva, razão pela qual foi duramente preparado. Davi não volta mais para seus antigos afazeres. Após subir ao trono, Davi assume os papéis reais, pois fora chamado para “pastorear” o povo de Deus. Ele administra a nação, lidera as batalhas e organiza o culto de Israel. Para isso, Davi precisou dedicar-se diligentemente, pois como rei deveria garantir o bom andamento da política, economia, vida social e religiosa do povo de Deus. E por colocar seu coração na obra para a qual Deus o havia chamado, Davi cumpriu bem seu chamado e foi aprovado por Deus, tornando-se modelo de rei para todas as gerações seguintes.


Os profetas deixaram tudo

Os profetas foram homens das mais variadas classes sociais e desempenharam diversas funções na sociedade, antes de serem chamados para o ministério profético. Alguns deles foram consagrados ao Senhor desde pequenos, como Samuel (1Sm.1-3). Eles foram importantes instrumentos para a revelação da Escritura Sagrada e para a condução do povo de Deus nos caminhos do Senhor. Todavia, Deus não nos revelou a vida deles, deixando-nos sem informações sobre o passado e o dia a dia dos profetas do Senhor. Veio até nós aquilo que era importante: a Revelação da história da redenção.

Amós e Ezequiel são os únicos profetas com identificação profissional anterior ao chamado para o ministério profético:

“Respondeu Amós e disse a Amazias: Eu não sou profeta, nem discípulo de profeta, mas boieiro e colhedor de sicômoros. Mas o SENHOR me tirou de após o gado e o SENHOR me disse: Vai e profetiza ao meu povo de Israel” (Am.7.14-15).
“veio expressamente a palavra do SENHOR a Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus, junto ao rio Quebar, e ali esteve sobre ele a mão do SENHOR” (Ez.1.3).

A Escritura não revela se houve alguma profissão anterior ao chamado com respeito aos demais profetas, quer escritores ou não escritores. Também, não somos informados com respeito a forma como todos eram sustentados. Tendo em vista a lei mosaica que concedia direito, aos pobres, de comerem daquilo que caia ao chão nas lavouras, os profetas poderiam fazer uso de tais alimentos para a subsistência (Lv.19.10; Rt.2.2). Elias e Elizeu recebiam ofertas do povo e eram sustentados por famílias que os acolhiam (1Rs.17.13; 2Rs.4.8), o que provavelmente acontecia com a maioria dos profetas. Deus, ainda, sustentou profetas de forma milagrosa (1Rs.19.5-8) enquanto outros tiveram dietas naturais encontradas no campo (Mt.3.4). Em tudo isso, podemos observar a dedicação exclusiva dos homens chamados para o ministério profético. O sustento era providenciado pelo Senhor, a fim de que pudessem ter os olhos fitos sobre a missão para a qual foram chamados.

Não devemos, no entanto, esquecer que nem todos os escritores da Palavra de Deus exerceram, realmente, o ministério profético integral. Daniel não foi profeta semelhante aos demais, pois sua vida não foi dedicada ao ministério profético. Todavia, Deus o usou para revelar sua vontade a seu povo numa terra estranha (Dn.7-8). Daniel exerceu funções administrativas na Babilônia (Dn.6.1-3), não o papel profético, mas possuía o dom de interpretar sonhos a semelhança de José (Dn.2). O mesmo aconteceu com Esdras que, mesmo sem ser profeta, foi instrumento para revelar a Palavra de Deus (Ed.7.10,25; Ne.8.9) em seus dias. Esses, e outros, personagens não foram chamados para o ministério profético, mas aquilo para o qual foram designados fizeram-no muito bem, glorificando a Deus com excelência.


Jesus deixa tudo

Os Evangelhos quase não revelam informações sobre a vida de Jesus antes de seu ministério. Dentre os sinóticos, Lucas é o Evangelho que narra mais eventos relacionados à vida de Cristo antes de seu batismo, mas não fala sobre qualquer exercício profissional de Cristo anterior a ele. Todavia, conforme Marcos, Jesus era carpinteiro (Mc.6.3), o que significa que ele exercia essa profissão antes de chegar o tempo de dedicar-se ao ministério da pregação da Palavra (Mc.1.38). Em Mateus, Jesus aparece apenas como filho de carpinteiro (Mt.13.55). Era comum que os filhos exercessem a mesma profissão que os pais, tendo em vista que a escola técnica da época era a família. Sendo o primogênito, seria bastante normal que Jesus tivesse assumido o sustento familiar após a morte de José (esposo de Maria), dando continuidade ao empreendimento da família, a carpintaria. Tendo chegado aos trinta anos, os demais irmãos de Jesus já estavam em condições de sustentar a família sem a presença de Jesus, então, Cristo dá início ao seu ministério (Lc.3.23).

Mas, como Jesus seria sustentado se parasse de trabalhar? Lucas nos revela que Deus providenciou sustento para o ministério de Cristo e seus discípulos. Diversas pessoas que creram em Jesus passaram a investir no ministério dEle, sustentando-o por meio de ofertas, “as quais lhe prestavam assistência com os seus bens” (Lc.8.3). Portanto, Cristo não dividiu seu tempo entre a carpintaria e o ministério da pregação da Palavra de Deus. Ele dedicou-se exclusivamente ao ministério que Deus lhe confiou, exercendo-o com fidelidade e excelência.

Além de ter experimentado o sustento providencial de Deus por meio da instrumentalidade de diversas pessoas, Jesus ensinou aos discípulos que deveriam esperar em Deus por todo sustento: “Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre nos vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento” (Mt.10.9-10) e “permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem; porque digno é o trabalhador do seu salário” (Lc.10.7). Era necessário que os apóstolos escolhidos por Ele se dedicassem exclusivamente ao ministério da pregação e, para isso, Deus proveria tudo que fosse necessário. Jesus, então, lhes ensinou (e ordenou) como deveriam proceder no exercício do ministério da pregação.

Este ensino, também, foi repassado pelos apóstolos, de forma que Paulo relembrou a fonte bíblica dele tanto à igreja de Coríntios quanto para o jovem pastor Timóteo: “Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário” (1Tm.5.18//Dt.25.4,15//Mt.10.10; Lc.10.7) e:

Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho? Porventura, falo isto como homem ou não o diz também a lei? Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida. Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? (1Co.9.7-11//Dt.25.4)

Ou seja, desde o Antigo Testamento, aqueles que viviam para a pregação da Escritura tinham o direito dado por Deus de serem sustentados, a fim de poderem se dedicar exclusivamente à obra do Senhor. Por isso, toda a tribo de Levi recebia sustento da nação de Israel e os profetas eram providos por diversas famílias do povo. Deus revelou, bem cedo, que o ministério da pregação deveria receber total atenção e ser valorizado pelo povo do Senhor, a fim de que a Palavra de Deus fosse, sempre, pregada com fidelidade e excelência por tantos quantos o Senhor chamasse.

Por isso, Jesus não somente deixou tudo para exercer com fidelidade e excelência o ministério da pregação da Palavra de Deus como, também, o ensinou aos apóstolos para que exercessem o ministério apostólico de forma semelhante. O ensino de Cristo não foi encerrado nos apóstolos. Estes entenderam que o sustento daquele que foi chamado para o ministério da pregação da Palavra de Deus aplica-se, também, aos pastores, razão pela qual ensinaram as igrejas sobre a importância de sustentarem seus ministros.


Os apóstolos deixaram tudo

Ensinados pelo Senhor, durante três anos, os discípulos de Jesus seguiram os passos do mestre, deixando tudo para trás, a fim de se dedicarem exclusivamente “à oração e ao ministério da Palavra” (At.6.4). Jesus chamou homens comuns tirando-os de suas ocupações para exercerem o ministério apostólico (Mt.10.2-4). Todos os apóstolos tinham, provavelmente, uma ocupação, ainda que os Evangelhos não nos contem sobre a profissão de alguns. Porém, o chamado de Deus os tirou delas, a fim de que pudesse se dedicar àquilo para o qual Jesus os havia chamado.

Pelo menos quatro dos apóstolos eram pescadores, pois Pedro, Tiago e João eram sócios (Lc.5.10) e André pescava junto com o irmão (Mt.4.18). Outro apóstolo com indicação de profissão anterior ao ministério é Mateus chamado, também, de Levi. Ele deixou um lucrativo trabalho para ser apóstolo de Cristo. Mateus era cobrador de impostos, mas preferiu ser ministro de Cristo:

Disse Jesus a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens. E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram (Lc.5.10-11).

Passadas estas coisas, saindo, viu um publicano, chamado Levi, assentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e, deixando tudo, o seguiu (Lc.5.27-28).

Em Atos 6, Lucas informa ao leitor como se deu o surgimento da diaconia no meio da igreja. O mais interessante do texto, no entanto, é a razão pela qual os apóstolos entenderam que seria necessário criar outro ofício no meio da igreja:

Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra (At.6.2-4).

Conforme o texto, os apóstolos estavam suprindo a necessidade de distribuir os alimentos para os mais pobres. E por mais que tentassem organizar a distribuição, os apóstolo não estavam conseguindo dar conta de duas tarefas ao mesmo tempo: Pregar-orar e cuidar dos necessitados. Essa dupla tarefa criou duplo problema, pois nem os pobres estavam sendo assistidos adequadamente nem a pregação estava recebendo a atenção devida. Então, os apóstolos têm a ideia de criar um cargo específico para cuidado dos pobres: o diaconato.

Portanto, o objetivo dos diáconos era duplo: realizar o papel de cuidar dos necessitados e possibilitar a dedicação exclusiva dos apóstolos ao ministério da pregação e oração. Devemos observar, então, que os apóstolos estavam conscientes da necessidade de se dedicarem ao ministério a eles confiados, para que o cumprissem com fidelidade e excelência. Eles precisavam de tempo e disposição para trabalhar exclusivamente na pregação da Escritura e oração pela igreja.

Mas, nem sempre foi possível aos apóstolos dedicar-se exclusivamente. Aos coríntios, Paulo disse: “e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos” (1Co.4.12) e: “ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?” (1Co.9.6). O apóstolo reclama duas vezes à igreja por estar tendo que dividir seu tempo e esforço com o trabalho e o ministério, pois havia irmãos na igreja que não valorizavam seu trabalho. Paulo deveria estar se dedicando à pregação da Palavra de Deus, mas não estava recebendo o sustento devido para que pudesse fazer a obra com tranquilidade. Porém, apesar do apóstolo reclamar a medíocre atitude dos coríntios, ele prefere não receber nada daquela igreja, a fim de não dar razão a ninguém para o acusarem de trabalhar por dinheiro, “porque melhor me fora morrer, antes que alguém me anule esta glória” (1Co.9.15).

O mesmo, no entanto, não aconteceu com respeito a outras igrejas, como à que se encontrava em Filipos:

Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação. E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades. Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito. Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus (Fp.4.14-18).

A igreja de Filipos ofertava, espontaneamente, ao apóstolo Paulo, ajudando-o a dedicar-se exclusivamente à pregação da Palavra. Diante disso, o apóstolo recebe, com muita gratidão, as doações e as utiliza para que pudesse dedicar-se mais ao ministério da pregação. Observe-se, então, que Paulo não recusa as ofertas nem fala da glória de sustentar a si mesmo. Portanto, a forma como Paulo trata as duas igrejas (de Corinto e de Filipos) é bastante diferente, porque as circunstâncias eram diferentes. A questão é que, mesmo consciente de que o ministro tinha direito ao sustento (1Co.9.6-14), em certas ocasiões o apóstolo considerava melhor não esperar recebê-lo, a fim de não atrapalhar a pregação da Escritura, por causa de maus falatórios a respeito de seu ministério apostólico. Mas, as circunstancialidades não anulavam o ensino divino e Paulo dá ordens expressão aos Coríntios, com respeito ao sustento pastoral: “Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho” (1Co.9.14).

Outro texto que merece nossa atenção é Atos 18.1-5:

Depois disto, deixando Paulo Atenas, partiu para Corinto. Lá, encontrou certo judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente chegado da Itália, com Priscila, sua mulher, em vista de ter Cláudio decretado que todos os judeus se retirassem de Roma. Paulo aproximou-se deles. E, posto que eram do mesmo ofício, passou a morar com eles e ali trabalhava, pois a profissão deles era fazer tendas. E todos os sábados discorria na sinagoga, persuadindo tanto judeus como gregos. Quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia, Paulo pressionado/impulsionado [para a Palavra (NA) / pelo Espírito (BYZ)], testemunhando aos judeus que o Cristo é Jesus (At.18.1-5).

Desse texto surgiu a ideia de que há pastores “fazedores de tendas”. Portanto, é importante esclarecê-lo. É interessante observar que o texto se passa na cidade de Corinto, exatamente onde ocorreria, mais tarde, alguns problemas com respeito a visão sobre o sustento pastoral. Paulo havia viajado de Atenas para Corinto, aproximadamente 80 quilômetros, e começaria uma nova igreja naquela cidade. Com poucos recursos, Paulo precisava atender a uma necessidade urgente: sustento. Por essa razão, ele, aproveitando a acolhida de Áquila e Priscila, põe em prática sua antiga profissão. Paulo trabalhava durante a semana e se dedicava, no sábado, a pregar na sinagoga da cidade. Mas, até quando Paulo dividiria o tempo entre o trabalho e a pregação da Palavra de Deus?

O trabalho de “fazer tendas” durou pouco tempo, pois “quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia”, Paulo passou a se dedicar mais à pregação da Palavra. Há uma variante textual no versículo 5: alguns manuscritos (adotados por Nestle Aland) dizem que Paulo foi impulsionado/pressionado para/pela Palavra enquanto outros manuscritos (Bizantinos) dizem que Paulo foi impulsionado/pressionado pelo/no Espírito. Mesmo com a diferença, que levou os tradutores da Versão Revista e Atualizada a traduzirem: “Paulo se entregou totalmente à Palavra”, ambos os textos apontam para um fator comum, importante para nós aqui: o apóstolo foi incomodado a pregar mais a Palavra de Deus, sem dividir seu tempo com o trabalho. Com a chegada de Silas e Timóteo, trazendo mantimentos e dinheiro, o apóstolo pode abrir mão do trabalho para dedicar-se àquilo para o qual havia sido chamado: pregar o Evangelho, poder de Deus para a salvação de todo o que crê.

Portanto, o exercício profissional de Paulo era temporário e circunstancial, visando, apenas, a viabilização da pregação da Palavra de Deus diante de necessidades. Desta forma, o texto de Atos 18.1-5, não deveria ser utilizado para justificar a divisão de tempo e esforço entre uma profissão e o ministério da pregação. Indo mais além, Paulo diz para Timóteo que “devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1Tm.5.17). Ou seja, conforme o apóstolo quanto mais dedicado for o pastor ao estudo, ensino e pregação da Escritura Sagrada mais digno torna-se de um bom salário. Desta forma, Paulo não ensinou nem a abstinência nem o voto de pobreza nem o autossustento do ministro, mas o justo pagamento do salário àquele que fora chamado para dedicar-se exclusivamente ao fiel e excelente exercício da pregação da Escritura Sagrada.


Os pastores deveriam se esmerar no ofício

No decurso da história redentora, muitas pessoas foram chamadas para desempenharem importantes papéis no meio do povo de Deus. No entanto, nem todas foram fiéis no exercício de suas funções. Alguns se dedicaram mais que outros; houve quem fosse infiel no cumprimento de sua missão; pessoas receberam reprimenda do Senhor enquanto outras foram elogiadas pela fiel obediência e diligência na obra de Deus. Conforme o apóstolo Paulo, as histórias reveladas a nós pelo Antigo Testamento são exemplos para nós, “a fim de que não cobicemos as coisas más” (1Co.10.6). Desta forma, os pastores de hoje deveriam estar atentos aos erros e acertos do passado, para que procurem exercer fielmente o ministério na presença do Senhor.

Imagine-se um dono de empresa com diversos funcionários. De seu escritório, no alto da empresa, você consegue visualizar todos os trabalhadores, a fim de observar o procedimento de cada um durante as horas de trabalho. Lá embaixo, você vê um funcionário realizando duas funções ao mesmo tempo, correndo de um lado para o outro para dar conta de tudo. Outros dois empregados conversam em meio ao serviço, atrasando um pouco aquilo que deveriam estar fazendo. Mais adiante, você observa que um grupo de trabalhadores realiza seu papel de forma coordenada e diligente, tornando bastante produtivo o trabalho em série. Diante dessa visão panorâmica, a quem você promoverá e qual deles talvez seja demitido? O que você faria com respeito ao funcionário que ocupa mais de uma função ao mesmo tempo? É natural e justo que o dono faça aquilo que é melhor para sua empresa, afinal todos os funcionários foram contratados para cumprir uma missão definida na ocasião da contratação.

De forma semelhante, Deus deu, a cada um, papel definido, a fim de ser cumprido com fidelidade e excelência. Assim como toda profissão exige um bom profissional, também, o pastoreio necessita de bons pastores. Um mau médico poderá por em risco a vida de pessoas; um mau advogado poderá levar um inocente a perder uma causa na justiça; um mau eletricista poderá causar um incêndio numa casa. Assim, maus profissionais causam prejuízo para aqueles a quem prestam serviço. De forma semelhante, maus pastores, desconhecedores da Escritura, preguiçosos e maus pregadores podem dar muitos prejuízos para a obra do Senhor (e eu já vi muitos assim). Em vez de serem bênçãos, conduzindo as ovelhas em Cristo e para Cristo, podem tornar-se pedras de tropeço ao ensinarem falsas doutrinas, conduzindo pessoas ao engano.

Portanto, se você tem certeza de que o Senhor o chamou para o ministério pastoral, dedique-se ao máximo para ser um diligente conhecedor da Escritura Sagrada, a fim de pregá-la com fidelidade e excelência. Confie na provisão divina, pois aquele que chama o homem para realizar sua obra, também ordena que seus servos sejam sustentados para que possam dedicar-se totalmente ao estudo, ensino e pregação da Palavra de Deus. Isso não significa que Deus o fará prosperar, mas que Ele o sustentará com tudo o que for necessário à vida (Mt.6.25-34). Então, dedique-se, fazendo seu melhor, não para envaidecimento próprio, mas para que Deus seja glorificado em sua vida.


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