A profissionalização do ministério da pregação é uma prática
antiga. Falsos profetas do Antigo Testamento profetizavam por dinheiro
(Ez.34.2-3; Mt.23.14) e diversos profetas itinerantes mal-intencionados tentaram
se aproveitar das igrejas nos dias do Novo Testamento (Gl.4.17). Esse problema
tem estado presente no decorrer dos séculos da era cristã, também, pois nem
sempre a igreja consegue distinguir o verdadeiro chamado pastoral das meras
aparências.
Por ser um trabalho que exige dedicação completa, a
Escritura ordena às igrejas que sustentem seus pastores, reconhecendo tanto a
dignidade do exercício pastoral quanto a importância de que se dediquem “na
oração e no ministério da Palavra” (At.6.4). Conforme Paulo, sustentar o pastor
é uma ordenança divina: “Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do
próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu
sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do
evangelho” (1Co.9.13-14). Caso o ministro negligencie a necessidade de
dedicar-se ao estudo da Escritura e cuidar das ovelhas por meio do amplo ensino
da Palavra de Deus, a igreja sofrerá os danos de ter sido mal cuidada.
O problema em questão é a ideia de que há pastores que
possuem mais de uma “vocação”, ou seja, que exercem outra função, um exercício
profissional. Esses pastores são chamados, popularmente, de bivocacionados (bi
= dois) e justificam essa prática a partir de uma particular interpretação de alguns
textos do Novo Testamento. Nosso propósito é demonstrar que o fundamento para
tal entendimento não está correto e que, conforme a Escritura, o chamado
pastoral deve ser desenvolvido por dedicação exclusiva, considerando como
exceção a real necessidade de provisão em situações emergenciais com o único
propósito de levantar sustento quando este falta à manutenção da família do
pastor. Esta exceção não pode ser chamada de segunda vocação, pois o chamado ao
ministério exige dedicação completa daquele que Deus separou para a proclamação
da Santa Palavra.
Sobre o termo
Arrisco-me a dizer que todas as pessoas possuem mais de uma
“vocação”. Digo isso, considerando que o sentido mais básico do termo “vocação”
é a “aptidão natural para alguma atividade”. Decorre desse entendimento, a
ideia de “vocação” como profissão. Portanto, posso dizer que todas as pessoas
possuem mais de uma aptidão natural, seja qual for a área ou amplitude. Nesse
sentido, o termo bivocacionado (ou multivocacionado) deve ser aplicado a todos
os cristãos, não especificamente a “pastores que exercem o pastoreio e uma
profissão ao mesmo tempo”. Todavia, o termo torna-se completamente inadequado
quando assume o significado de profissão, pois o ministério pastoral exige
dedicação completa do ministro.
Moisés foi pastor de ovelhas (Ex.3.1), mas o Senhor decidiu
fazê-lo líder em Israel; Davi, também, foi pastor (1Sm.16.11) e Deus o tornou
rei de seu povo; Amós era boieiro (Am.7.14) e foi chamado para propagar a
Palavra de Deus; Pedro, André, Tiago e João eram pescadores (Mt.4.18; Mc.1.16;
Lc.5.10) e foram chamados para pregar a Escritura; Mateus era contador
(Lc.5.27) e, também, foi chamado para anunciar o Evangelho; Paulo sabia fazer
tendas (At.18.3) e foi chamado por Jesus para anunciar a Palavra aos confins da
terra; Jesus foi carpinteiro (Mc.6.3), mas desde que iniciou seu ministério,
dedicou-se exclusivamente à missão de ensinar o Evangelho do Reino de Deus pela
Judéia, Samaria e Galiléia. E mesmo sem conhecer detalhes da vida de muitos
outros personagens da Escritura, chamados para pregar a Palavra de Deus, podemos
dizer que os mais variados homens que Deus chamou, também, possuíam outras
aptidões.
Portanto, não há de se discutir aqui se pastores possuem
diversas aptidões, pois, provavelmente, todos terão muitas habilidades, algumas
até mesmo desconhecidas para eles. A problemática em análise refere-se ao
exercício ou não de suas habilidades, por meio do engajamento profissional,
dividindo, assim, tempo e esforço com o ministério pastoral. Deveria o pastor
manter uma profissão paralelamente ao pastoreio mesmo quando não há
necessidade, tendo em vista o que disse a Escritura: “Tendo sustento e com que
nos vestir, estejamos contentes.” (1Tm.6.8)? Ao dedicar-se a uma profissão,
desnecessariamente, em paralelo ao ministério, o pastor não estaria
negligenciado o chamado do Senhor e prejudicando o bom andamento da obra de
Deus?
Toda capacidade diligentemente empregada
Deus é o autor de nossas capacidades. Dele vem a
inteligência e o conhecimento, a sabedoria e aptidões diversas. Todavia, tais
capacidades não estão presentes apenas nos cristãos (Gn.4.17-24) nem muito
menos podem ser usadas apenas para fins proveitosos, ainda que esta seja a
vontade revelada pelo Senhor (1Co.12.7). Portanto, não somente o trigo, mas,
também, o joio deve usar a vida integral, incluindo, evidentemente, as
capacidades para desenvolver os mandatos originais revelados pelo Senhor para
Adão quando este ainda estava no jardim do Éden. Esses mandatos fazem parte do
propósito divino para o homem, criado à imagem de Deus: “Façamos o homem à
nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do
mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e
sobre todos os répteis que rastejam pela terra” e “Tomou, pois, o SENHOR Deus
ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar”
(Gn.1.26; 2.15).
A Escritura, portanto, revela que a vontade do Senhor para o
homem é que este trabalhe na criação usando todas as aptidões que Deus lhe
concedeu. Sendo este o propósito de Deus, a Escritura reprova aqueles que não
aplicam seus talentos trabalhando na criação:
Vai ter com a formiga, ó
preguiçoso (Pv.6.6)
Ó preguiçoso, até quando
ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? (Pv.6.9)
O preguiçoso não lavra por
causa do inverno, pelo que, na sega, procura e nada encontra. (Pv.20.4)
O preguiçoso morre desejando,
porque as suas mãos recusam trabalhar. (Pv.21.25)
Diz o preguiçoso: Um leão
está lá fora; serei morto no meio das ruas. (Pv.22.13)
Diz o preguiçoso: Um leão
está no caminho; um leão está nas ruas. (Pv.26.13)
Como a porta se revolve nos
seus gonzos, assim, o preguiçoso, no seu leito. (Pv.26.14)
O preguiçoso mete a mão no
prato e não quer ter o trabalho de a levar à boca. (Pv.26.15)
Atende ao bom andamento da
sua casa e não come o pão da preguiça. (Pv.31.27)
Mas o que recebera um,
saindo, abriu uma cova e escondeu o dinheiro do seu senhor. [...]
Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde
não semeei e ajunto onde não espalhei? Cumpria, portanto, que entregasses o meu
dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu.
(Mt.25.18,26-27)
Não sejais vagarosos no
cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor (Rm.12.11)
Mas, onde investir todo nosso esforço? Onde estivermos
trabalhando ou naquilo para o qual o Senhor nos chamar. Não é atoa que temos
aptidões diferentes. Deus concede aos homens talentos diferentes para que
exerçam seus variados papéis na família, sociedade e criação, contribuindo para
a manutenção e bem-estar do mundo criado por Deus. A mesma diversidade de
papéis presente na igreja (Rm.12.6-8; 1 Co.12.11,28; Ef.4.11) é vista na
sociedade, e podemos dizer que provém do Senhor.
Diversos personagens da Escritura demonstraram dedicação à
obra que lhes fora confiada. A sabedoria que o Senhor dera para José foi
aplicada a seu trabalho (Gn.41.38). Aqueles que Deus escolheu para trabalharem
no Tabernáculo, capacitados pelo Senhor para desempenharem seu papel (Ex.28.3;
31.3; 35.31), dedicaram todo esforço para realizar a obra que lhes fora
confiada. E para o exercício do ministério pastoral, Deus também enchia seus
escolhidos com aptidão necessária, a fim de que cuidassem do povo do Senhor com
fidelidade e excelência (Nm.27.18; Dt.34.9; 1Sm.16.13; Mq.3.8; Lc.1.15; 4.1;
At.4.8; 6.5; 9.17; 11.24; 13.9), sem negligenciar o chamado divino.
Para que o exercício profissional possa ser bem aproveitado
e desenvolvido, faz-se necessário que o trabalhador dedique-se com esmero,
labutando com diligência enquanto procura qualificar-se para que aperfeiçoe
suas competências. Dividir tempo e esforço com outros trabalhos não somente
será demasiadamente cansativo como também prejudicará o bom andamento da obra e
retardará o desenvolvimento daquele que deve crescer em conhecimento e
habilidade para que desenvolva cada vez melhor seu trabalho, para a glória do
Senhor.
Em seguida, gostaríamos de observar a dedicação exclusiva de
diversos personagens chamados por Deus para cumprir uma missão específica. A
partir do momento em que Deus os chamou, a vida teve um novo rumo, sendo-lhes
necessário deixar os antigos afazeres para trás, a fim de cumprirem com
diligência a missão para a qual foram convocados. Para que mantivessem os olhos
bem focados sobre o papel que deveriam desempenhar, o tempo e o esforço eram
administrados sem desperdício.
Os patriarcas deixaram tudo
A necessidade de deixar tudo para obedecer ao chamado do
Senhor não é algo novo. Durante a história redentora, Deus chamou diversos
homens para cumprirem uma missão, ordenando-lhes que deixassem tudo para trás,
a fim de que vivessem uma nova etapa da vida guiada completamente pelo Senhor.
Eles tiveram que deixar família, terra e afazeres para começarem uma nova
jornada. E para que cumprissem bem a missão, deveriam manter o foco sobre o
chamado do Senhor.
O primeiro da relação de homens de Deus é Noé (Gn.6.13-14). Ele
não faz parte da lista de patriarcas, mas, considerando a magnitude de seu
chamado e a relação com os patriarcas, deve ser mencionado aqui. Noé teve uma
vida normal, justa e íntegra, em meio a uma geração pervertida. Como a maioria
das pessoas, ele casou, trabalhava e teve filhos. Mas, aos quinhentos anos de
idade, sua vida tomou novo rumo, pois Deus lhe confiou uma tarefa muito
importante que exigiria grande dedicação: construir uma arca de salvação.
Noé, então, foi fiel no exercício de sua missão, “consoante
a tudo o que Deus lhe ordenara” (Gn.6.20). O texto Sagrado não nos revela como
foi o dia a dia de Noé, mas transmite a ideia de que sua dedicação ao trabalho
que lhe fora confiado fez com que ele fosse bem sucedido em tudo. Após, ter
concluído sua missão, Deus reafirma sua aliança feita com Adão para que Noé
prosseguisse sua vida na presença do Senhor (Gn.9.1-7). Noé, então, volta a
suas atividades exercidas antes do Dilúvio e planta uma vinha (Gn.9.20). É
evidente que Noé não deixou de ter seu sustento, pois precisava comer durante o
tempo em que trabalhou na arca, mas seu foco estava sobre a missão a ele
confiada.
Depois de Noé, o Senhor chama Abrão, de entre seus
familiares, a uma nova vida em um novo lugar (Gn.12.1-5). Abrão teve que deixar
tudo para trás, a fim de percorrer uma nova jornada. E para que fosse bem
sucedido em sua missão, deveria colocar o coração sobre o chamado do Senhor,
pois caso dividisse seu coração com a saudade do que ficou para trás, Abrão poria
em risco a missão que lhe fora confiada (Gn.24.5-7). O trabalho de Abrão
consistia em manter-se próximo da terra de Canaã, crendo que Deus cumpriria sua
promessa dando-lhe a terra e a descendência prometidas. Ele não deveria pensar
em outra terra nem deveria perder o propósito de ter um filho, o filho da
promessa.
Seguindo os passos do pai, Isaque viveu como peregrino, pois
a terra prometida lhe havia sido dada por herança e a missão de Abraão fora
passada para o filho. Conforme a Escritura, a vida dos patriarcas girou em
torno da promessa que aguardavam, por isso mantiveram-se atentos a terra e à
descendência. O plano de vida deles estava firmado sobre o chamado do Senhor, originalmente,
feito a Abraão, e por meio das bênçãos proféticas dos patriarcas a missão que
lhes fora confiada era repassada para o descendente.
Jacó é o terceiro dessa linhagem de patriarcas peregrinos,
herdeiros da promessa divina. Sua jornada foi diferente, pois, durante certo
tempo, Jacó esteve longe da terra prometida e seus passos percorreram caminhos
diferentes daquele proposto pelo Senhor. Diferente de Abraão e Isaque, Jacó
teve duas esposas e duas concubinas que lhe deram à luz 12 filhos. Portanto, Jacó
aderiu a práticas pagãs ao ser enganado por Labão (Gn.29.26) e sofreu as
consequências disso (Gn.47.9). Porém, a Escritura nos revela que este patriarca
manteve seus olhos fitos nas promessas divinas, desde o início (Gn.25.29-34),
razão pela qual voltou para a terra de Canaã (Gn.35.1-15).
Conforme a Escritura nos revela, a vida dos patriarcas girou
em torno do chamado de Deus. A dedicação deles revela-se na obediência e
persistência, pois mesmo diante das mais diversas intempéries, sempre
retornavam para o alvo: a promessa divina. A dedicação deles foi importante,
pois demonstrava confiança nas promessas de Deus. Por essa razão, o Senhor
imputou-lhes sua justiça mediante a fé que eles exerceram ao seguir os passos
que lhes fora traçado por Deus.
A tribo de Levi deixou tudo
Mais de quatrocentos anos se passam e Deus chama outro homem
para servi-lo: Moisés (Ex.3-4). Apesar da distância temporal entre os
patriarcas e Moisés, o caráter do chamado de Deus se mantem semelhante:
separação completa para uma missão divina. Moisés sabia o peso de tal chamado e
tentou livrar-se dele diversas vezes em seu diálogo com Deus, mas a vontade de
Deus permaneceu imutável e Moisés teve que obedecer ao Senhor (Ex.3.11;
4.1,10,13).
Após ter fugido da presença de faraó, Moisés constitui
família na terra de Midiã, casando com Zípora. Ele possuía trabalho, esposa,
filhos e casa, vivendo uma vida normal como um homem normal. Todavia, sua vida
mudaria completamente por causa do chamado de Deus. O Senhor o tira de sua
terra, da parentela de sua esposa, de seus afazeres cotidianos e o envia para o
Egito, a fim de cumprir uma missão específica que exigiria toda sua dedicação
(Ex.3.10). E mesmo que seu propósito inicial fosse tirar o povo da terra do
Egito, o chamado de Moisés iria muito além do êxodo, pois seu papel era
conduzir o povo de Deus até a terra prometida (Ex.3.8).
Moisés era da tribo de Levi e foi o primeiro a cumprir o
papel sacerdotal, intercedendo pelo povo, falando a Palavra de Deus ao povo e
sacrificando pelo povo. Junto a Moisés, toda a tribo de Levi foi designada a
missão de servir exclusivamente a Deus, dedicando-se ao culto. Por essa razão,
a tribo de Levi seria sustentada pelos dízimos da nação, a fim de que pudesse
dedicar-se exclusivamente a obra ordenada por Deus (Nm.18.21; Dt.10.9; 18.1;
Js.13.14,33). É importante salientar nesse momento que o pastor não é um
levita, nem mesmo o grupo de cânticos pode ser chamado assim. Todavia, nosso
propósito aqui é demonstrar que o chamado de Deus separa pessoas para fins
específicos exigindo dedicação completa àquilo para o qual foram designadas.
O fato de Deus destinar a tribo de Levi ao ministério
cúltico não significa que aqueles homens não tivessem outras aptidões. É muito
provável que eles soubessem plantar, pastorear, esculpir, escrever, tocar,
costurar, cozinhar, trabalhar com metais e madeiras etc. Todavia, Deus os havia
designado a uma missão específica e eles deveriam dedicar-se a ela; e, por
melhor que fossem em outras aptidões, a fidelidade deles seria demonstrada na
obediência e dedicação ao exercício daquilo que lhes fora confiado.
Não era difícil entender a necessidade de se dedicar
completamente ao ministério designado por Deus aos Levitas. Todo trabalho exige
dedicação e a divisão de tempo e esforço com outras ocupações sempre
prejudicará o bom andamento de qualquer profissão. Deus sempre quer o melhor de
nós quer na profissão quer no ministério de pregação e pastoreio da igreja.
Para isso, é necessário que o trabalhador dedique-se diligentemente em sua
função, com o propósito de apresentar sempre o melhor para Deus e para o
próximo (Mt.25.21,23).
Davi deixou tudo
Depois da morte de Moisés, Deus chamou Josué para dar
continuidade à obra. Após Josué, diversas pessoas exerceram os papéis de juízes
ou sacerdotes. O início do livro de Samuel nos conta como Ana consagrou seu
filho Samuel para servir ao Senhor por todos seus dias, de forma que o
pequenino tornou-se profeta e juiz, no meio de Israel, por chamado divino. A
vida de Samuel foi dedicada exclusivamente a pastorear a nação de Israel,
guiando o povo por meio da Palavra de Deus. Aproximadamente mil anos após o
chamado de Abraão, nos dias do profeta Samuel, Deus escolheu para si um jovem
pastor de ovelhas com o propósito de fazê-lo rei de seu povo Israel (1Sm.16.13).
Mais um homem seria separado de sua vida cotidiana para dedicar-se àquilo para
o qual o Senhor o designara.
Davi possuía afazeres familiares antes de ser chamado pelo
Senhor como as demais pessoas de seus dias. Mas, após ser ungido por Samuel
para que fosse rei sobre Israel, sua vida tomou novo rumo, incluindo um difícil
e longo período de preparação (aproximadamente 15 anos) no qual precisou fugir
de Saul. Davi deixa tudo para trás, a fim de caminhar rumo ao propósito do
Senhor para sua vida, como disse profeta Natã: “Agora, pois, assim dirás ao meu
servo Davi: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Tomei-te da malhada, de detrás
das ovelhas, para que fosses príncipe sobre o meu povo, sobre Israel” (2Sm.7.8;
1Cr.17.7).
Seu novo papel exigia preparação específica e dedicação
exclusiva, razão pela qual foi duramente preparado. Davi não volta mais para
seus antigos afazeres. Após subir ao trono, Davi assume os papéis reais, pois
fora chamado para “pastorear” o povo de Deus. Ele administra a nação, lidera as
batalhas e organiza o culto de Israel. Para isso, Davi precisou dedicar-se
diligentemente, pois como rei deveria garantir o bom andamento da política,
economia, vida social e religiosa do povo de Deus. E por colocar seu coração na
obra para a qual Deus o havia chamado, Davi cumpriu bem seu chamado e foi
aprovado por Deus, tornando-se modelo de rei para todas as gerações seguintes.
Os profetas deixaram tudo
Os profetas foram homens das mais variadas classes sociais e
desempenharam diversas funções na sociedade, antes de serem chamados para o
ministério profético. Alguns deles foram consagrados ao Senhor desde pequenos,
como Samuel (1Sm.1-3). Eles foram importantes instrumentos para a revelação da
Escritura Sagrada e para a condução do povo de Deus nos caminhos do Senhor.
Todavia, Deus não nos revelou a vida deles, deixando-nos sem informações sobre
o passado e o dia a dia dos profetas do Senhor. Veio até nós aquilo que era
importante: a Revelação da história da redenção.
Amós e Ezequiel são os únicos profetas com identificação
profissional anterior ao chamado para o ministério profético:
“Respondeu Amós e disse a Amazias:
Eu não sou profeta, nem discípulo de profeta, mas boieiro e colhedor de
sicômoros. Mas o SENHOR me tirou de após o gado e o SENHOR me disse: Vai e
profetiza ao meu povo de Israel” (Am.7.14-15).
“veio expressamente a
palavra do SENHOR a Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus,
junto ao rio Quebar, e ali esteve sobre ele a mão do SENHOR” (Ez.1.3).
A Escritura não revela se houve alguma profissão anterior ao
chamado com respeito aos demais profetas, quer escritores ou não escritores. Também,
não somos informados com respeito a forma como todos eram sustentados. Tendo em
vista a lei mosaica que concedia direito, aos pobres, de comerem daquilo que
caia ao chão nas lavouras, os profetas poderiam fazer uso de tais alimentos
para a subsistência (Lv.19.10; Rt.2.2). Elias e Elizeu recebiam ofertas do povo
e eram sustentados por famílias que os acolhiam (1Rs.17.13; 2Rs.4.8), o que
provavelmente acontecia com a maioria dos profetas. Deus, ainda, sustentou
profetas de forma milagrosa (1Rs.19.5-8) enquanto outros tiveram dietas
naturais encontradas no campo (Mt.3.4). Em tudo isso, podemos observar a
dedicação exclusiva dos homens chamados para o ministério profético. O sustento
era providenciado pelo Senhor, a fim de que pudessem ter os olhos fitos sobre a
missão para a qual foram chamados.
Não devemos, no entanto, esquecer que nem todos os
escritores da Palavra de Deus exerceram, realmente, o ministério profético
integral. Daniel não foi profeta semelhante aos demais, pois sua vida não foi
dedicada ao ministério profético. Todavia, Deus o usou para revelar sua vontade
a seu povo numa terra estranha (Dn.7-8). Daniel exerceu funções administrativas
na Babilônia (Dn.6.1-3), não o papel profético, mas possuía o dom de
interpretar sonhos a semelhança de José (Dn.2). O mesmo aconteceu com Esdras
que, mesmo sem ser profeta, foi instrumento para revelar a Palavra de Deus
(Ed.7.10,25; Ne.8.9) em seus dias. Esses, e outros, personagens não foram
chamados para o ministério profético, mas aquilo para o qual foram designados
fizeram-no muito bem, glorificando a Deus com excelência.
Jesus deixa tudo
Os Evangelhos quase não revelam informações sobre a vida de
Jesus antes de seu ministério. Dentre os sinóticos, Lucas é o Evangelho que
narra mais eventos relacionados à vida de Cristo antes de seu batismo, mas não
fala sobre qualquer exercício profissional de Cristo anterior a ele. Todavia,
conforme Marcos, Jesus era carpinteiro (Mc.6.3), o que significa que ele
exercia essa profissão antes de chegar o tempo de dedicar-se ao ministério da
pregação da Palavra (Mc.1.38). Em Mateus, Jesus aparece apenas como filho de
carpinteiro (Mt.13.55). Era comum que os filhos exercessem a mesma profissão
que os pais, tendo em vista que a escola técnica da época era a família. Sendo
o primogênito, seria bastante normal que Jesus tivesse assumido o sustento
familiar após a morte de José (esposo de Maria), dando continuidade ao
empreendimento da família, a carpintaria. Tendo chegado aos trinta anos, os
demais irmãos de Jesus já estavam em condições de sustentar a família sem a
presença de Jesus, então, Cristo dá início ao seu ministério (Lc.3.23).
Mas, como Jesus seria sustentado se parasse de trabalhar?
Lucas nos revela que Deus providenciou sustento para o ministério de Cristo e
seus discípulos. Diversas pessoas que creram em Jesus passaram a investir no
ministério dEle, sustentando-o por meio de ofertas, “as quais lhe prestavam
assistência com os seus bens” (Lc.8.3). Portanto, Cristo não dividiu seu tempo
entre a carpintaria e o ministério da pregação da Palavra de Deus. Ele
dedicou-se exclusivamente ao ministério que Deus lhe confiou, exercendo-o com
fidelidade e excelência.
Além de ter experimentado o sustento providencial de Deus
por meio da instrumentalidade de diversas pessoas, Jesus ensinou aos discípulos
que deveriam esperar em Deus por todo sustento: “Não vos provereis de ouro, nem
de prata, nem de cobre nos vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de
duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão; porque digno é o trabalhador do
seu alimento” (Mt.10.9-10) e “permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do
que eles tiverem; porque digno é o trabalhador do seu salário” (Lc.10.7). Era
necessário que os apóstolos escolhidos por Ele se dedicassem exclusivamente ao
ministério da pregação e, para isso, Deus proveria tudo que fosse necessário.
Jesus, então, lhes ensinou (e ordenou) como deveriam proceder no exercício do
ministério da pregação.
Este ensino, também, foi repassado pelos apóstolos, de forma
que Paulo relembrou a fonte bíblica dele tanto à igreja de Coríntios quanto
para o jovem pastor Timóteo: “Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi,
quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário” (1Tm.5.18//Dt.25.4,15//Mt.10.10;
Lc.10.7) e:
Quem jamais vai à guerra à
sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem
apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho? Porventura, falo
isto como homem ou não o diz também a lei? Porque na lei de Moisés está
escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que
Deus se preocupa? Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós
que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o
trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida. Se nós vos
semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?
(1Co.9.7-11//Dt.25.4)
Ou seja, desde o Antigo Testamento, aqueles que viviam para
a pregação da Escritura tinham o direito dado por Deus de serem sustentados, a
fim de poderem se dedicar exclusivamente à obra do Senhor. Por isso, toda a tribo
de Levi recebia sustento da nação de Israel e os profetas eram providos por
diversas famílias do povo. Deus revelou, bem cedo, que o ministério da pregação
deveria receber total atenção e ser valorizado pelo povo do Senhor, a fim de
que a Palavra de Deus fosse, sempre, pregada com fidelidade e excelência por
tantos quantos o Senhor chamasse.
Por isso, Jesus não somente deixou tudo para exercer com
fidelidade e excelência o ministério da pregação da Palavra de Deus como,
também, o ensinou aos apóstolos para que exercessem o ministério apostólico de
forma semelhante. O ensino de Cristo não foi encerrado nos apóstolos. Estes
entenderam que o sustento daquele que foi chamado para o ministério da pregação
da Palavra de Deus aplica-se, também, aos pastores, razão pela qual ensinaram as
igrejas sobre a importância de sustentarem seus ministros.
Os apóstolos deixaram tudo
Ensinados pelo Senhor, durante três anos, os discípulos de
Jesus seguiram os passos do mestre, deixando tudo para trás, a fim de se
dedicarem exclusivamente “à oração e ao ministério da Palavra” (At.6.4). Jesus
chamou homens comuns tirando-os de suas ocupações para exercerem o ministério
apostólico (Mt.10.2-4). Todos os apóstolos tinham, provavelmente, uma ocupação,
ainda que os Evangelhos não nos contem sobre a profissão de alguns. Porém, o
chamado de Deus os tirou delas, a fim de que pudesse se dedicar àquilo para o
qual Jesus os havia chamado.
Pelo menos quatro dos apóstolos eram pescadores, pois Pedro,
Tiago e João eram sócios (Lc.5.10) e André pescava junto com o irmão (Mt.4.18).
Outro apóstolo com indicação de profissão anterior ao ministério é Mateus
chamado, também, de Levi. Ele deixou um lucrativo trabalho para ser apóstolo de
Cristo. Mateus era cobrador de impostos, mas preferiu ser ministro de Cristo:
Disse Jesus a Simão: Não temas; doravante serás
pescador de homens. E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram (Lc.5.10-11).
Passadas estas coisas,
saindo, viu um publicano, chamado Levi,
assentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e, deixando tudo, o seguiu (Lc.5.27-28).
Em Atos 6, Lucas informa ao leitor como se deu o surgimento
da diaconia no meio da igreja. O mais interessante do texto, no entanto, é a
razão pela qual os apóstolos entenderam que seria necessário criar outro ofício
no meio da igreja:
Então, os doze convocaram a comunidade
dos discípulos e disseram: Não é
razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas,
irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e
de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra
(At.6.2-4).
Conforme o texto, os apóstolos estavam suprindo a
necessidade de distribuir os alimentos para os mais pobres. E por mais que
tentassem organizar a distribuição, os apóstolo não estavam conseguindo dar
conta de duas tarefas ao mesmo tempo: Pregar-orar e cuidar dos necessitados.
Essa dupla tarefa criou duplo problema, pois nem os pobres estavam sendo
assistidos adequadamente nem a pregação estava recebendo a atenção devida.
Então, os apóstolos têm a ideia de criar um cargo específico para cuidado dos
pobres: o diaconato.
Portanto, o objetivo dos diáconos era duplo: realizar o
papel de cuidar dos necessitados e possibilitar a dedicação exclusiva dos
apóstolos ao ministério da pregação e oração. Devemos observar, então, que os
apóstolos estavam conscientes da necessidade de se dedicarem ao ministério a
eles confiados, para que o cumprissem com fidelidade e excelência. Eles
precisavam de tempo e disposição para trabalhar exclusivamente na pregação da
Escritura e oração pela igreja.
Mas, nem sempre foi possível aos apóstolos dedicar-se
exclusivamente. Aos coríntios, Paulo disse: “e nos afadigamos, trabalhando com
as nossas próprias mãos” (1Co.4.12) e: “ou somente eu e Barnabé não temos direito
de deixar de trabalhar?” (1Co.9.6). O apóstolo reclama duas vezes à igreja por
estar tendo que dividir seu tempo e esforço com o trabalho e o ministério, pois
havia irmãos na igreja que não valorizavam seu trabalho. Paulo deveria estar se
dedicando à pregação da Palavra de Deus, mas não estava recebendo o sustento
devido para que pudesse fazer a obra com tranquilidade. Porém, apesar do
apóstolo reclamar a medíocre atitude dos coríntios, ele prefere não receber
nada daquela igreja, a fim de não dar razão a ninguém para o acusarem de
trabalhar por dinheiro, “porque melhor me fora morrer, antes que alguém me
anule esta glória” (1Co.9.15).
O mesmo, no entanto, não aconteceu com respeito a outras
igrejas, como à que se encontrava em Filipos:
Todavia, fizestes bem, associando-vos
na minha tribulação. E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do
evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no
tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para
Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas
necessidades. Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é
o fruto que aumente o vosso crédito. Recebi tudo e tenho abundância; estou
suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte
como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus (Fp.4.14-18).
A igreja de Filipos ofertava, espontaneamente, ao apóstolo
Paulo, ajudando-o a dedicar-se exclusivamente à pregação da Palavra. Diante disso,
o apóstolo recebe, com muita gratidão, as doações e as utiliza para que pudesse
dedicar-se mais ao ministério da pregação. Observe-se, então, que Paulo não
recusa as ofertas nem fala da glória de sustentar a si mesmo. Portanto, a forma
como Paulo trata as duas igrejas (de Corinto e de Filipos) é bastante
diferente, porque as circunstâncias eram diferentes. A questão é que, mesmo
consciente de que o ministro tinha direito ao sustento (1Co.9.6-14), em certas
ocasiões o apóstolo considerava melhor não esperar recebê-lo, a fim de não
atrapalhar a pregação da Escritura, por causa de maus falatórios a respeito de
seu ministério apostólico. Mas, as circunstancialidades não anulavam o ensino
divino e Paulo dá ordens expressão aos Coríntios, com respeito ao sustento
pastoral: “Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam
do evangelho” (1Co.9.14).
Outro texto que merece nossa atenção é Atos 18.1-5:
Depois disto, deixando Paulo
Atenas, partiu para Corinto. Lá, encontrou certo judeu chamado Áquila, natural
do Ponto, recentemente chegado da Itália, com Priscila, sua mulher, em vista de
ter Cláudio decretado que todos os judeus se retirassem de Roma. Paulo
aproximou-se deles. E, posto que eram do mesmo ofício, passou a morar com eles
e ali trabalhava, pois a profissão deles
era fazer tendas. E todos os sábados discorria na sinagoga, persuadindo
tanto judeus como gregos. Quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia, Paulo pressionado/impulsionado [para a Palavra (NA) / pelo Espírito (BYZ)], testemunhando aos judeus que o
Cristo é Jesus (At.18.1-5).
Desse texto surgiu a ideia de que há pastores “fazedores de
tendas”. Portanto, é importante esclarecê-lo. É interessante observar que o
texto se passa na cidade de Corinto, exatamente onde ocorreria, mais tarde,
alguns problemas com respeito a visão sobre o sustento pastoral. Paulo havia
viajado de Atenas para Corinto, aproximadamente 80 quilômetros, e começaria uma
nova igreja naquela cidade. Com poucos recursos, Paulo precisava atender a uma
necessidade urgente: sustento. Por essa razão, ele, aproveitando a acolhida de
Áquila e Priscila, põe em prática sua antiga profissão. Paulo trabalhava
durante a semana e se dedicava, no sábado, a pregar na sinagoga da cidade. Mas,
até quando Paulo dividiria o tempo entre o trabalho e a pregação da Palavra de
Deus?
O trabalho de “fazer tendas” durou pouco tempo, pois “quando
Silas e Timóteo desceram da Macedônia”, Paulo passou a se dedicar mais à
pregação da Palavra. Há uma variante textual no versículo 5: alguns manuscritos
(adotados por Nestle Aland) dizem que Paulo foi impulsionado/pressionado
para/pela Palavra enquanto outros manuscritos (Bizantinos) dizem que Paulo foi
impulsionado/pressionado pelo/no Espírito. Mesmo com a diferença, que levou os
tradutores da Versão Revista e Atualizada a traduzirem: “Paulo se entregou
totalmente à Palavra”, ambos os textos apontam para um fator comum, importante
para nós aqui: o apóstolo foi incomodado a pregar mais a Palavra de Deus, sem
dividir seu tempo com o trabalho. Com a chegada de Silas e Timóteo, trazendo
mantimentos e dinheiro, o apóstolo pode abrir mão do trabalho para dedicar-se
àquilo para o qual havia sido chamado: pregar o Evangelho, poder de Deus para a
salvação de todo o que crê.
Portanto, o exercício profissional de Paulo era temporário e
circunstancial, visando, apenas, a viabilização da pregação da Palavra de Deus
diante de necessidades. Desta forma, o texto de Atos 18.1-5, não deveria ser
utilizado para justificar a divisão de tempo e esforço entre uma profissão e o
ministério da pregação. Indo mais além, Paulo diz para Timóteo que “devem ser
considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem
bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1Tm.5.17).
Ou seja, conforme o apóstolo quanto mais dedicado for o pastor ao estudo,
ensino e pregação da Escritura Sagrada mais digno torna-se de um bom salário.
Desta forma, Paulo não ensinou nem a abstinência nem o voto de pobreza nem o
autossustento do ministro, mas o justo pagamento do salário àquele que fora
chamado para dedicar-se exclusivamente ao fiel e excelente exercício da
pregação da Escritura Sagrada.
Os pastores deveriam se esmerar no ofício
No decurso da história redentora, muitas pessoas foram
chamadas para desempenharem importantes papéis no meio do povo de Deus. No
entanto, nem todas foram fiéis no exercício de suas funções. Alguns se
dedicaram mais que outros; houve quem fosse infiel no cumprimento de sua
missão; pessoas receberam reprimenda do Senhor enquanto outras foram elogiadas
pela fiel obediência e diligência na obra de Deus. Conforme o apóstolo Paulo,
as histórias reveladas a nós pelo Antigo Testamento são exemplos para nós, “a
fim de que não cobicemos as coisas más” (1Co.10.6). Desta forma, os pastores de
hoje deveriam estar atentos aos erros e acertos do passado, para que procurem
exercer fielmente o ministério na presença do Senhor.
Imagine-se um dono de empresa com diversos funcionários. De
seu escritório, no alto da empresa, você consegue visualizar todos os
trabalhadores, a fim de observar o procedimento de cada um durante as horas de
trabalho. Lá embaixo, você vê um funcionário realizando duas funções ao mesmo
tempo, correndo de um lado para o outro para dar conta de tudo. Outros dois empregados
conversam em meio ao serviço, atrasando um pouco aquilo que deveriam estar
fazendo. Mais adiante, você observa que um grupo de trabalhadores realiza seu
papel de forma coordenada e diligente, tornando bastante produtivo o trabalho
em série. Diante dessa visão panorâmica, a quem você promoverá e qual deles
talvez seja demitido? O que você faria com respeito ao funcionário que ocupa
mais de uma função ao mesmo tempo? É natural e justo que o dono faça aquilo que
é melhor para sua empresa, afinal todos os funcionários foram contratados para
cumprir uma missão definida na ocasião da contratação.
De forma semelhante, Deus deu, a cada um, papel definido, a
fim de ser cumprido com fidelidade e excelência. Assim como toda profissão
exige um bom profissional, também, o pastoreio necessita de bons pastores. Um
mau médico poderá por em risco a vida de pessoas; um mau advogado poderá levar
um inocente a perder uma causa na justiça; um mau eletricista poderá causar um
incêndio numa casa. Assim, maus profissionais causam prejuízo para aqueles a
quem prestam serviço. De forma semelhante, maus pastores, desconhecedores da
Escritura, preguiçosos e maus pregadores podem dar muitos prejuízos para a obra
do Senhor (e eu já vi muitos assim). Em vez de serem bênçãos, conduzindo as ovelhas
em Cristo e para Cristo, podem tornar-se pedras de tropeço ao ensinarem falsas
doutrinas, conduzindo pessoas ao engano.
Portanto, se você tem certeza de que o Senhor o chamou para
o ministério pastoral, dedique-se ao máximo para ser um diligente conhecedor da
Escritura Sagrada, a fim de pregá-la com fidelidade e excelência. Confie na
provisão divina, pois aquele que chama o homem para realizar sua obra, também
ordena que seus servos sejam sustentados para que possam dedicar-se totalmente
ao estudo, ensino e pregação da Palavra de Deus. Isso não significa que Deus o
fará prosperar, mas que Ele o sustentará com tudo o que for necessário à vida
(Mt.6.25-34). Então, dedique-se, fazendo seu melhor, não para envaidecimento
próprio, mas para que Deus seja glorificado em sua vida.
Excelente texto. Obrigado. 😉👍🙌
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