Você tem um coração ensinável?
Ou, é apenas mais um cabeça dura?
Já pensou nisso?
Se você não é capaz nem mesmo de refletir sobre isso, eis a prova de que você é mais um cabeça dura.
Sou pastor há quase 16 anos e já conheci muitas pessoas que não têm um coração ensinável, difíceis de serem conduzidas pelo bom caminho de Cristo Jesus, porque tudo o que elas ouvem é a voz de sua própria cabeça. Não importa quão erradas elas estejam e quão certo seja aquilo que se quer ensinar para elas. Uma pessoa cabeça dura só ouve a si mesma. Mas, o que seria um coração ensinável? Jesus disse:
“Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt.18.3)
Ser como uma criança é ter um coração humilde e ensinável, capaz de aprender com os outros, mesmo que lhe pareçam inferiores. Os pequeninos, mencionados por Jesus, também são pecadores, mas os pais conseguem conduzi-los pelo caminho que devem andar (Dt.6.7; Ef.6.4), porque eles têm um coração ensinável, como diz Provérbios: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Pv.22.6).
Mas, à medida que uma pessoa vai crescendo (a depender de sua educação) ela tende a se enrijecer, tornando-se mais difícil ensiná-la. Podemos ver isso desde a fase juvenil que, apesar de ainda estar na condição de filho sob a tutela dos pais, costuma gabar-se de uma autonomia e independência tal que rejeita o ensino alheio. Quando chega na fase adulta, o coração está tão duro que até uma pessoa mais velha e mais experiente (teoria e prática) encontrará dificuldade para ensinar o coração endurecido.
Ter um coração capaz de ouvir e aprender é uma característica necessária para ser cristão, pois somente um coração ensinável é capaz de passar pelo necessário processo de santificação (Hb.12.14). Ter um coração ensinável é ser capaz de ouvir o Espírito de Deus falar por meio da Escritura Sagrada anunciada pela boca de outros cristãos, quer sejam pastores quer não: “Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração” (Hb.3.7-8).
Portanto, as igrejas locais deveriam ser constituídas por pessoas capazes de serem ensinadas através da Verdade que é a Palavra de Deus, desde o congregado até o pastor. Caso contrário, como essas pessoas amadurecerão na fé, aperfeiçoarão o amor e solidificarão a esperança no Senhor Jesus (1Ts.1.3)? Os cristãos precisam ser como filhos que Deus conduz por meio de sua Palavra “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef.4.13); até que do céu venha a nova Jerusalém, o novo céu e nova terra (Ap.21.1).
A dificuldade de aprender com outras pessoas torna o mútuo ensino muito difícil dentro da igreja local. Por exemplo: Se um irmão visse outro cristão cometer algum erro e, então, se dirigisse ao faltoso com o propósito de admoestá-lo na Palavra de Deus, quais seriam as chances daquele cristão admoestado aceitar a correção sem ficar com raiva do irmão que tentou ajuda-lo? Essa é uma das razões porque muitos crentes nas igrejas locais têm grandes dificuldades de colocar em prática o seguinte ensino bíblico: “exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado” (Hb.3.13).
Um coração ensinável possui uma consciência de suas limitações, fraquezas e defeitos, portanto não pode ser orgulhoso (deve ser humilde). Por essa razão, alguém com coração ensinável sempre está pronto a refletir a possibilidade de que tenha cometido algum erro, pois sabe que isso faz parte de sua natureza pecadora. Portanto, quando pessoas o corrigem, sua reação não será autodefensiva nem endurecida, porque, ainda que possa estar certo, sabe da possibilidade de estar errado e, por isso, reflete. Um coração assim, torna todo diálogo mais agradável e toda correção mais produtiva.
As relações fraternas dentro do corpo de Cristo devem ser abençoadoras, não somente no partilhar alegrias, mas, também, na luta contra os pecados. Os cristãos precisam aprender, desde cedo, a serem instrumentos para a edificação do próximo por meio do ensino da Verdade. Isso significará que todos deverão estar dispostos tanto a ensinar a Palavra de Deus quanto a aprender a Escritura. Como seria abençoador ver crianças, adolescentes, jovens e adultos (homens e mulheres) exortando uns aos outros no temor do Senhor. A igreja seria fortalecida em suas relações e amadurecida em seu comportamento.
Os benefícios de se ter um coração ensinável são muitos, pois alcançam tanto a própria pessoa quanto aqueles que estão ao redor dela, sendo uma bênção para as relações pessoais em todas as esferas sociais: família, trabalho, vizinhança, organizações etc. E, de todos os ajuntamentos humanos, nenhum deles exige tanto a existência de corações ensináveis quanto a igreja de Jesus, afinal: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo.13.35). Obviamente, no final de tudo isso, é Deus quem é glorificado por aquele que tem um coração ensinável, pois a bênção de sua vida decorre de seu constante aprendizado da Palavra de Deus, proferida por muitas pessoas que são instrumentos do Senhor.
Quando os corações são ensináveis, o aprendizado e as correções fluem com maior naturalidade e as relações se tornam mais transparentes e sinceras. A vida familiar torna-se mais leve e mais agradável para todos. A vida eclesiástica se torna mais aprazível para cada cristão e mais edificante para toda a igreja. Tudo isso, porque o coração de cada um está disposto a aprender e a ser corrigido, facilitando o trabalho de todo aquele que se dispõe a ensinar e a exortar.
Precisamos resgatar no cristianismo a beleza e a importância de relações fraternas transparentes, sinceras e edificantes. E para isso, precisamos de corações ensináveis dentro do corpo de Cristo. Tenho visto que, em grande medida, os relacionamentos cristãos são superficiais e costumam ser abalados quando surge a necessidade de se tratar pecados, pois os corações não estão preparados para serem confrontados pela Verdade, a fim de serem aperfeiçoados. Então, duas possibilidades costumam ser cogitadas diante dos defeitos alheios: 1) fingir que não se percebe os defeitos do outro e continuar sorrindo aparentemente; 2) cortar as relações por não suportar conviver com os defeitos do outro. Ou seja, dificilmente exortar os irmãos faltosos é considerada como a opção certa a ser posta em prática.
Você tem um coração ensinável? As pessoas encontram em você um coração acessível, capaz de aprender e ser corrigido? Sua família (esposo ou esposa, pais ou filhos) consegue lhe ensinar alguma coisa? Você aceita correções e ensinamentos? A relação fraterna contigo é aprazível e edificante? Esperamos muito que você consiga refletir em tudo o que fora dito aqui. Isso já será um bom começo para que seu coração se mostre ensinável.
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