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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Deus basta!

Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.” (Is.14.13-14//Gn.3.5)

Dizem que o melhor tempero da comida é a fome. E, de fato, quando há fome, tudo fica mais gostoso. Alguém no deserto escaldante, morrendo de sede, trocaria ouro e diamantes por um copo d’água, a fim de recobrar o ânimo que está desfalecendo. Portanto, a mente e o coração sabem dar prioridade para aquilo que mais lhes interessa quer comida quer bebida, seja amor seja paz. Quando algo nos cativa, gastamos muito tempo dedicando-nos a isso. Sentimo-nos realizados quando fazemos aquilo que gostamos. Encontramos um estado de completude quando estamos com quem amamos. Por essa razão, esquecemo-nos de comer; deixamos de dormir; desapercebemo-nos do mundo ao nosso redor.

Porém, assim como o homem busca ansiosamente aquilo que seu coração ama ou precisa, também repudia ou ignora aquilo que não lhe é do interesse. Uma pessoa bem alimentada será capaz de desdenhar e rejeitar o “manjar dos deuses”. E quando o coração não ama, dificilmente dá valor ao outro. Enquanto um apaixonado sente as horas passarem rapidamente ao lado da pessoa amada, aquele que se aborrece das companhias tem a sensação de que o tempo não passa, pois desejaria estar em qualquer outro lugar, menos ali. 

E todas as pessoas tanto amam quanto se aborrecem de algo. O que diferencia uma pessoa de outra não é a presença ou a ausência do amor e da indiferença, mas quem e o que escolhem amar ou aborrecer-se. Uns amam o cônjuge, outros amam o dinheiro; alguns se aborrecem do trabalho, outros se aborrecem de pessoas. E assim, amor e ódio (ou amor e indiferença) sempre estarão presentes na vida do ser humano, fazendo-o priorizar algumas coisas em detrimento de outras e, também, dedicar atenção especial para alguns enquanto se aborrece de outros. Portanto, todo homem escolhe amar ou aborrecer, dedicar seu tempo ou poupá-lo, se esforçar por algo ou ser indiferente a alguma coisa. Toda pessoa tem prioridades em sua vida, de forma a ser capaz de dedicar-se até quando não é possível, pois as prioridades mexem com o coração, mais do que com a razão. 

Portanto, a primeira aplicação fundamental aqui é: quem você escolheu amar e ao que você decidiu aborrecer? Eclesiastes diz que “há tempo de amar e tempo de aborrecer” (Ec.3.8). Enquanto Deuteronômio nos ordena a amar o Criador, dizendo: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt.6.5), o livro de provérbios nos ensina a aborrecer o mal: “O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço” (Pv.8.13). Aqueles a quem você escolheu amar e a quem você decidiu aborrecer serão alvos de sua dedicação ou de seu desprezo, e isso implicará nas suas escolhas do dia a dia.

Ou seja, devemos observar que suas prioridades mostram a inclinação de seu coração. Você não precisa dizer a quem ama nem justificar o que é mais importante para você. A forma como você lida com cada pessoa e cada coisa nos dirá onde está seu coração, “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt.6.21). O amor e o ódio/indiferença são escolhas que fazemos, com ou sem razão. Essas escolhas podem revelar qual caminho escolhemos para nossas vidas, pois sempre estaremos diante do bem e do mal para escolher o que amar e o que aborrecer. E cada escolha produzirá seu respectivo fruto, quer bom quer ruim. Algumas pessoas escolhem amar a Deus acima de tudo, mais que a si mesmo. Outras pessoas escolhem amar a si mesmas mais do que ao próprio Deus.

Deus criou o homem e a mulher para um relacionamento Pai-filhos. O primeiro contato de Adão foi com o Deus Criador que lhe soprou o fôlego de vida (Gn.2.7). Deus trouxe à luz Adão e este o amaria de todo seu coração, alma e força (Dt.6.5). O Senhor seria o primeiro na vida de Adão, com o qual deveria manter sua relação mais profunda. Ele lhes bastaria, capaz de preencher tanto o coração, trazendo-lhes plena satisfação, quanto todas as necessidades da vida, guardando-os e alimentando-os. Eles não precisariam de coisa alguma fora do Criador, pois em Deus o homem e a mulher tinham tudo.

Adão e Eva tinham vida plena no Éden. Além de desfrutarem de um jardim fabuloso, plantado pelo Senhor, eles tinham plena comunhão com Deus, dentro de um gracioso relacionamento adornado com puro amor. O encontro com o Senhor quando este se manifestava para Adão e Eva, no jardim do Éden, era a maior prioridade deles e o mais precioso dos momentos. Ali, Adão e Eva experimentavam o amor encarnado, o Filho de Deus, mesmo que não lhes tivesse sido, ainda, revelado que a plenitude desse amor seria manifesta em tempos distante, na cruz do Calvário (Rm.5.8). 

O homem e a mulher haviam sido abençoados com toda sorte de bênçãos da criação. Adão tinha uma esposa maravilhosa que lhe era submissa até o dia em que a serpente apareceu para convencê-la do contrário. Eva tinha um homem para guia-la na Palavra de Deus e trabalhar por ela, a fim de proporcionar-lhe delícias naquele Jardim paradisíaco. Enquanto os dois obedecessem a Palavra divina seriam felizes no jardim do Éden. O que eles precisavam mais? Uma família cercada pelo Senhor não sentiria falta de nada mais.

De repente, o que era suficiente para Adão e Eva pareceu-lhes pouco diante de seus olhos. A serpente conseguiu iludi-los de tal forma que o que tinham já não lhes bastava, e, então, desejaram ser como Deus (Gn.3.1-7//Is.14.13-14). A cobiça os tornou vazios; e, sentindo-se infelizes pelo desejo de ser e ter mais, desobedeceram ao Criador. Eles trocaram o amor a Deus pelo amor a si mesmos e, consequentemente, desprezaram todas as bênçãos divinas. Adão e Eva foram indiferentes à suficiência de Deus e isso custou-lhes a perda de tudo o que eles tinham em Deus, pois abandonaram a fonte de todo bem. 

Amor e indiferença estavam presentes no Jardim do Éden. Enquanto eles amavam a Deus de todo o coração, de toda a alma e de toda a força, o conhecimento do mal lhes era indiferente. Amar a Deus bastava para o coração de Adão e Eva e ver o amor de Deus manifesto em suas obras era suficiente para o coração deles. Também, estava certo em seus corações que deveriam ser indiferentes ao conhecimento do mal. Mas, Satanás se aproximou do jardim para levar desordem e caos. Confusão, dúvida e cobiça inverteram as prioridades no coração de Adão e Eva. Eles já não sabiam mais o que amar e o que desprezar, e, assim, deram ouvidos àquele que é mentiroso desde o princípio (Jo.8.44) desacreditando as fiéis e verdadeiras palavras do Santo Deus. 

Dizer que Deus basta significa que tudo que precisamos encontraremos nEle. Não devemos confundir com a ideia de que não precisamos de nada por conhecermos a Deus, pois mesmo no sexto dia da criação, quando o homem estava no jardim do Éden, antes da queda, ele sentiu a falta de uma companheira, alguém semelhante a ele para dividir a vida, e, Deus mesmo, deu uma esposa para Adão. Deus basta, porque Ele é a fonte de tudo. Precisaremos comer e a comida virá das bondosas mãos do Senhor (Sl.145.15). Precisaremos ser amados por alguém e a bênção de ter um cônjuge que nos ame provém da graça de Deus (Pv.18.22; 19.14). Tudo vem do Senhor e, por isso, devemos sempre dar graças a Deus por tudo (1Ts.5.18).

A suficiência de Deus nos conduz a buscar tudo em Deus. Oramos pelo pão de cada dia, pelo trabalho e por todos os bens que precisamos. Pedimos a Deus que nos abençoe com amigos de verdade. E, é dele que esperamos o casamento abençoado. Rogamos ao Senhor por filhos e lhe entregamos às mãos a vida de cada um. A certeza de que tudo vem do Senhor nos conduz a uma vida de oração e nos ajuda a esperar pacientemente o agir de Deus a nosso favor. 

Assim, Deus deve bastar em todo e qualquer assunto da vida, sobretudo com respeito à salvação, pois nEle, e somente nEle, encontra-se a esperança de eterno amor, paz e vida abundante. Deus basta na política, certo de que Ele permanece para sempre reinando absoluto sobre toda a criação. Ele deve bastar no trabalho, pois dEle vem a saúde, a força, a capacidade e as portas que se abrem, de modo que nEle encontra-se toda a estabilidade que precisamos na vida financeira. Deus basta na família, pois dEle provém tudo o que precisamos dentro de um lar, desde seu estabelecimento.

Mas, quando Deus não basta, o coração do homem procura satisfazer suas necessidades por outros meios, segundo suas próprias forças. E, infelizmente, o imediatismo costuma tomar esse viés autônomo. A substituição do Criador pelas coisas criadas, faz o homem buscar nelas a razão e o propósito de sua vida, tornando-as sem significado. Então, a solidão toma conta do ser, pois sem o Criador não resta nada mais para sustentar o coração do pecador. O mundo aproveita-se da infelicidade existencial para vender sonhos e promessas de satisfação que se desfazem com o pôr do sol e desaparecem na aurora. 

Deus lhe basta? Dizer que Deus basta é afirmar que tudo em sua vida vem dEle, depende dEle e visa a glória dEle. Mas, para que Deus seja seu deleite e sua felicidade esteja depositada no Senhor, é preciso que Cristo seja seu restaurador. Jesus morreu em nosso lugar a fim de abrir caminho para uma nova vida de plena comunhão com aquele que nos criou para si mesmo. Em Cristo, o homem se satisfaz com Deus e diz: “a Tua graça é melhor do que a vida” (Sl.63.3). Assim, o amor finalmente é dedicado àquele que deve recebe-lo em sua plenitude. E o desprezo/indiferença/ódio encontram seu lugar contra todo mal.

Quando Deus basta ao homem, o mais simples momento lhe é suficiente, pois encontrou em Deus plena satisfação na vida. O pouco, concedido graciosamente pelo Senhor, torna-se a medida certa para o presente enquanto vive despreocupado com o futuro, pois sabe que sua vida está guardada nas mãos daquele que o adorna com terno amor todos os dias. E nos dias de mais profunda angústia, o coração aflito encontra consolo na certeza de que Deus é bom e ouve a oração daquele que o busca em sua aflição. Seu coração atribulado encontra paz na certeza de que as promessas divinas são fiéis e verdadeiras, e afirmam que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm.8.28).

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