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sábado, 30 de outubro de 2010

Sr. e Srª. Pecado


Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si” (Gl.5.16,17)

O dia do casamento é tenso. Os noivos se arruam durante o dia quase todo. E, em chegando o momento, o nervosismo toma conta do corpo desde o fio de cabelo, amassado com muito gel, até o dedão do pé, amarrotado no calçado que entrou à força. A música é tocada indicando a hora de entrar no salão e enfrentar o longo tapete vermelho. O amor, que um tem pelo outro, recompensa todo esforço gasto, em energia e dinheiro, naquele dia. Finalmente, o pastor chama os noivos para o juramento solene, promessas que deverão durar a vida toda. O noivo promete “dedicar-lhe amor, honrá-la e cuidar dela, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na prosperidade e na adversidade e ser-lhe fiel em tudo, nunca abandoná-la, enquanto Deus for servido conservar ambos com vida”. Em seguida, a noiva também promete, “diante de Deus, amá-lo, honrá-lo, cuidar dele e ser-lhe submissa na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na prosperidade e na adversidade, ser-lhe fiel em tudo e nunca abandoná-lo, enquanto Deus for servido conservar ambos com vida” (Manual do Culto, 1999). A vida do novo casal se inicia.

Os primeiros dias, da vida de casado, são tranquilos, mas o tempo revela as arestas a serem aparadas. O casal precisa mais que amor para continuar a jornada cristã juntos, como família. Ambos conhecem a Bíblia, ouviram diversas mensagens sobre o relacionamento conjugal, são fiéis nos compromissos com a igreja, e, mesmo assim, começam a enfrentar dificuldades no relacionamento. De quem é a culpa pelas discussões entre o casal? A quem eles devem culpar pelos problemas que enfrentam no relacionamento?

Para o filme: “Sr. & Sra Smith”, lançado em 2005, os inimigos estão do lado de fora da família. Eles querem destruir o lar, voltando os membros da família uns contra os outros. Por isso, os cônjuges, e filhos, devem se unir para resistir às ameaças inimigas que vem do mundo, fortalecendo os laços familiares através da confiança mútua. Para o filme: “Dormindo com o Inimigo”, lançado em 1991, os inimigos, da felicidade pessoal, podem morar dentro de casa. Ele pode ser o marido ou esposa, ou mesmo os filhos, caso qualquer um deles esteja “impedindo” a pessoa de ser feliz, segundo sua concepção pessoal de felicidade. Nesta busca por acusar alguém, síndrome de Adão (Gn.3.12,13), o homem tem encontrado inimigos e culpados em todas as partes. Por se considerar justo demais aos seus próprio olhos (Lc.18.9-14), até mesmo Deus tem sido acusado pelos problemas do ser humano. Em sua cegueira espiritual, o homem não tem percebido que o maior inimigo do relacionamento familiar chama-se: natureza pecaminosa, a agente de todo pecado.

A Palavra de Deus cumpre três papeis importantes: 1) Revelar a natureza pecaminosa do homem; 2) Revelar a necessidade de um salvador, apontando para Cristo; 3) Santificar o pecador arrependido. Neste momento, desejamos tratar apenas o primeiro papel da Bíblia: Revelar a natureza pecaminosa do homem. A Palavra do Senhor dará um diagnóstico perfeito do coração do casal e ainda apresentará solução para o problema do homem pecador: “andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si” (Gl.5.16,17).

Quanto mais meditamos na Palavra de Deus, mais somos confrontados com os pecados que há em nós. A Bíblia é um poderoso bisturi que separa o certo do errado: “porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb.4.12). A Escritura lança luz sobre nosso coração revelando os pecados ocultos, as inclinações para o mal, os sentimentos pecaminosos. Sua dedicação na obra do Senhor pode esconder, também, a vaidade, desejo de aparecer, de se exaltar, vontade de mostrar superioridade sobre os demais. A crítica feita ao irmão pode ser mais que um comentário construtivo. O coração poderá estar ocultando inveja, arrogância, menosprezo pelo outro, maledicências, e etc. Muitas boas ações, aparentemente inocentes e proveitosas podem estar acompanhadas de pecados no coração. Não é em vão que o profeta Jeremias diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr.17.9). Você conhece bem o seu coração?

Seu coração é inclinado para o pecado, e o de seu cônjuge também. Esta verdade, revelada na Palavra de Deus, traz duas implicações dignas de reflexão: 1) vocês precisam ter paciência um com o outro; e 2) vocês precisam lutar contra a própria carne.

É necessário andar no Espírito para não satisfazer a vontade da carne. A conversão é mudança de mente e coração, entrega voluntária da própria vida àquele que derramou seu sangue para resgatar a vida do pecador. Vocês já sabem disso, e iniciaram uma jornada com Cristo afirmando diariamente: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl.2.20).
Nessa jornada a luta contra o pecado é grande e como Paulo você luta contra a própria carne (I Co.9.27), buscando subjugar suas paixões carnais (Hb.12.4): “porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo” (Rm.7.18). Não é diferente com o seu cônjuge. Ele, ou ela, também luta contra a natureza pecaminosa, ou deveria estar lutando, e por isso precisa da sua paciência. É necessário “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef.6.11). Por isso, ore constantemente por ela, ou ele, rogando a misericórdia do Senhor sobre a vida do cônjuge, a fim de conceder-lhe vitória sobre as batalhas diárias contra a natureza pecaminosa. A luta do cristão “não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef.6.12). Seu cônjuge precisa mais de sua ajuda, que de suas críticas ou julgamentos impiedosos. Tome cuidado para não orar como o fariseu da parábola de Jesus: “O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano” (Lc.18.11). Lembre-se que ele não foi justificado para casa (Lc.18.14). Edifique seu cônjuge com a Palavra de Deus, interceda por ele, ou ela, fortaleça-0(a) se dispondo a caminhar a vida cristã ao seu lado. Seu cônjuge tem enfrentado lutas terríveis contra a carne e precisa de você para aliviar seu coração com palavras de vida: A Palavra de Deus.

Mas, nesse companheirismo cristão, levando “as cargas uns dos outros” (Gl.6.2), não esqueça de lutar contra a sua própria natureza carnal. Seu coração é tão pecador quanto o de seu cônjuge e precisa do mesmo remédio: A Palavra de Deus. Não sejas forte ou justo aos seus próprios olhos. Ouça Deus dizer: “minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (II Co.12.9). Revele ao cônjuge sua necessidade de ajuda, de oração contínua em seu favor. Queira ser edificado pela Palavra pregada, também, pelo seu cônjuge. Vocês são feitos da mesma substância: pó (Gn.3.19). Vocês possuem o mesmo coração enganoso. Vocês precisam da mesma graça redentora e poder transformador. Ao reconhecer sua inclinação para o pecado e necessidade de ajuda, você estará disposto a admitir que possa ter errado tanto quanto seu cônjuge é passível de erros. Desta forma, os dois andarão juntos sempre “humildemente com o Senhor vosso Deus” (Mq.6.8).

Ao reconhecer que tanto você quanto seu cônjuge são pecadores, vocês se dispuseram a ter mais paciência um com o outro e a se ajudarem na luta contra o pecado. Quando seu cônjuge pecar dirás: - você é um(a) pecador(a), precisa da graça de Deus e por isso estou disposto a orar por você. E, enquanto oras e pregas para ele(a), você luta contra sua própria natureza para que estando em pé tenha cuidado para não cair (I Co.10.12).

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Amor que vem de Deus


E do amor que tendes para com todos os santos” (Cl.1.4)

Após a primeira guerra mundial, terminada oficialmente em 11 de novembro de 1918, o mundo destruído entrou num período de depressão. A guerra não deixara vitoriosos. O mundo inteiro precisava ser restaurado a começar pelos corações dilacerados, marcados pela violência e certeza da morte. A paz não estava definida e o fim da guerra parecia mais um intervalo entre o primeiro e o segundo tempo de um jogo de futebol. Após vinte anos de trégua militar, o mundo entra novamente em conflito, agora muito mais destrutivo por causa da tecnologia vigente. Com o fim da segunda guerra mundial em 1945, o homem não acreditava mais na esperança de um mundo melhor, nem muito menos na vida eterna. Seu coração estava em trevas. Um século antes o mundo havia declarado a morte de Deus (Friedrich Nietzsche – 1844 a 1900) ignorando completamente sua existência necessária para o homem moderno. A primeira e a segunda guerra mundial revelaram a miséria do coração humano e sua plena necessidade do cuidado do Criador. Infelizmente, as guerras não levaram o homem a perceber sua incapacidade de produzir paz, alegria e amor ao mundo.
“Homem primata, capitalismo selvagem”, canta um grupo de Música MPB chamado Titãs, na década de 80. Eles cantam a insatisfação de um país saindo da ditadura militar. Sua letra pessimista retrata a incredulidade e falta de qualquer esperança no coração do homem moderno que se diz realista. A ditadura acabou, mas os problemas permaneceram. O grupo acusa Deus pelos sofrimentos do mundo e grita sua independência na condução da própria vida, ainda que desacreditada. Há completo descrédito na vida humana. Consideram os homens como animais irracionais que se devoram sem qualquer motivo, numa selva de concreto. A música foi lançada em 1986, mas seu espírito retrata a depressão e vazio do coração do homem, 24 anos depois.
As cidades crescerem em número e tamanho e com elas o individualismo se proliferou. Os arranha-céus das megalópoles revelam a “selva de pedra” em que vivemos, com sua cor cinza e retas precisas. Ao findar do dia, o homem moderno entra em sua, “cada vez menor”, gruta moderna e sua mente é esvaziada pela “caixa mágica” chamada televisão. Após poucas horas de sono, tendo se iniciado outro dia, o moderno homem “livre” volta para seus afazeres sincronizados e manipulados por outros maiores do que ele. Seu coração, intoxicado com o absinto do ar metropolitano, murcha qual rosa em terra seca e se acomoda com a necessidade de lutar por sua própria sobrevivência. Não há fé, não há esperança, não há amor.
A Escritura revela que o amor é o resumo dos mandamentos divinos. Questionado sobre o principal mandamento da Lei, Jesus responde: “Amarás o Senhor, te Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mt.22.37). Este é o primeiro e maior mandamento da lei. Deus é o único Senhor dos céus e da terra e por isso deve ser amado por todas as criaturas que Ele fez para a Sua glória. Seu amor é o modelo perfeito para ser copiado pelo homem. Paulo diz que “Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm.5.8). O amor abnegado de Cristo, o Filho de Deus é o perfeito modelo do quanto o homem deve amar a Deus. Ao conclamar o mundo a amar a Deus, a Palavra revela que primeiro “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo.3.16). Deus deve ser amado pelo que Ele é e tem feito em Sua criação. Tudo fora criado “muito bom” (Gn.1.31) para ser amado e amar àquele que criou.
A resposta de Jesus ao interprete da lei, não finda com o amor supremo a Deus. Jesus prossegue em sua resposta: “O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt.22.39-40). Amar o próximo é também um dever prescrito na Palavra de Deus. O modelo de amor ao próximo também procede de Deus “porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus” (Mt.5.45; Lc.6.35). O desafio do homem é: “amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo” (Lc.6.27,28,35). Segundo Cristo, todos os mandamentos podem ser resumidos no amor a Deus e no amor ao próximo. Ao obedecer os mandamentos de Deus o homem o faz em demonstração de amor ao Senhor. Ao amar a Deus o homem se inclina para ouvir e obedecer os mandamentos do Senhor.
Vê-se, então, que o amor não é um mero sentimento embutido no coração do pecador. O amor é expressão da virtude divina comunicada ao homem graciosamente. Por meio do amor se comunica a paciência necessária para tolerar as fraquezas do outro. Pelo amor a benignidade toma a forma de bondosas ações em favor do oprimido (I Co.13.4). No entanto, o coração do homem pecador está cheio de ódio. Ao se aproximar do outro, o pecador transpira interesses próprios, sejam sexuais ou avarentos, “não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm.3.12).
Em meio a um mundo vivendo a indiferença, interesses levianos e ódio, Jesus dá aos discípulos um novo mandamento: “que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo.13.34). Este mandamento, além de benéfico para o relacionamento entre os cristãos, ao ser praticado é testemunho de que Cristo está no meio de seu povo, pois “nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo.13.35).
Esta era uma das marcas que caracterizava uma genuína conversão. Paulo observava a “operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts.1.3). Os Colossenses estavam produzindo frutos do amor recebido de Cristo. Eles estavam se dedicando ao máximo para amar uns aos outros, como Cristo os havia amado na cruz do calvário, não somene no coração, como também em expressões vivas de um amor prático e real. O amor deles estava sendo demonstrado em árduo trabalho para produzir frutos. Sua abnegação se revelava em enfrentar as dificuldades, abrindo mão de si mesmos para abençoar os irmãos em todas as suas necessidades.
Além disso, os Colossenses estavam “contando com a simpatia de todo o povo” (At.2.47), à semelhança dos dias iniciais da igreja, quando o Espírito Santo lhes foi dado em abundância para pregaram e testemunharem o evangelho da graça de Deus. O “amor de Deus” “derramado em seus corações pelo Espírito Santo” (Rm.5.5), estava produzindo frutos para Deus, revelando a graça comum de Deus para com toda a criação e o amor especial de Deus para com o Seu povo. Isto ocorria à medida que eles amavam os inimigos, tratavam bem os odiosos, bendiziam os maldizentes, oravam pelos perseguidores (Lc.6.27,28,35). Cristo havia sido paciente perante seus inimigos ensinando seus discípulos a que “não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens” (Rm.12.17). Os Colossenses não poderiam fazer uso das mesmas armas que o mundo usava contra eles. Deus deu armas diferentes à igreja para vencer o inimigo: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm.12.21). A cada mau trato recebido do mundo, a igreja respondia com o amor de Deus em seu coração.
O mundo não conhece o amor, pois, como profetizara Jesus: “por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mt.24.12). Onde se espera, então, extrair novamente o amor? Do coração e mãos daqueles que conhecem o amor de Deus. Você, que se converteu ao Senhor Jesus, experimentando assim de Seu amor, deve mostrar ao mundo o amor de Deus. O mundo não conhece a Cristo, nem muito menos a Deus, mas através do testemunho da igreja, Cristo é anunciado aos pecadores e através de Cristo o pecador se achega a Deus.
O amor é demonstrado em pequenos ou grandes gestos diários: ceder a vez ao outro, atender ao pedido de ajuda, parar o carro para o pedestre passar e etc. Mas a maior demonstração de amor ao mundo é o anuncio insistente do evangelho da graça de Deus, como Paulo disse: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1 Co.9.22).
E além do amor comum ao mundo, você cristão tem uma dívida de amor para com seu irmão em Cristo (Rm.13.8). Deves amá-lo à semelhança do amor de Jesus por nós. Como disse Paulo: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm.12.10). Esse amor se expressará na tolerância com as fraquezas do irmão; nas constantes orações em favor uns dos outros; na dádiva graciosa de seu tempo, energia, conhecimento e serviço para beneficiar o irmão em Cristo. Lembre-se que estamos nos preparando para a vida eterna onde o amor de Deus permeará toda a criação e habitará abundantemente em nosso coração para todo o sempre.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Um Casal de Pecadores


Pois todos pecaram e precisam da glória de Deus” (Rm.3.23)

Para os apaixonados, o relacionamento conjugal é como a realização de um conto de fadas. O amor está no ar, tudo são flores e a vida parece um mar de rosas. O moço é o príncipe encantado, com ou sem o cavalo branco. A donzela é a mais bela princesa já vista neste mundo encantador. Esta bela fábula dura algum tempo até que o príncipe acorda ao lado de sua bela donzela toda descabelada e com o rosto desarrumado. A princesa detecta em pouco tempo que o amor de sua vida não sabe levantar a tampa do vaso e ainda deixa o banheiro molhado após tomar o banho. Com o passar do tempo o casal percebe os inúmeros defeitos que cada um possui, mas que num "passe de mágica", somente após o casamento, eles foram revelados. O príncipe cai do cavalo e a princesa cria rugas. O que houve com este jovem casal? O amor acabou? Será que não foram feitos um para o outro? Não, estes não são os reais problemas deste jovem casal. O fato é que eles não haviam atentado para o que a Palavra de Deus diz sobre quem eles realmente são.
A primeira verdade Bíblica, nessa série de cartas pastorais, que vocês precisam saber é: VOCÊS SÃO PECADORES!
A Palavra de Deus cumpre três papeis fundamentais na vida do homem pecador:

1) A Bíblia revela a natureza pecaminosa do homem, confrontando seus pecados e incapacidade de fazer a vontade de Deus:
o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou. Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom. Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno.” (Rm.7.11-13);

2) A Escritura mostra ao pecador a necessidade de um salvador e aponta para o único salvador desse homem: o Senhor Jesus:
De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé.” (Gl.3.24);

3) A Palavra de Deus é o instrumento de Cristo para santificar o homem pecador que se arrependeu de seus pecados:
Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (Jo.17.17)

Vê-se, então, a importância indispensável de se ler e meditar na Palavra de Deus. Somente ela poderá revela ao jovem casal a realidade sobre seus corações. Cada qual conhecerá a si mesmo e ao outro, através deste potente microscópio que é a Sagrada Escritura. Ela desvenda os segredos do coração humano, sua essência e inclinação para o pecado. Os mínimos detalhes acerca da vida humana são conhecidos pela Bíblia.
Você é um pecador! E não somente você, mas seu cônjuge também. Além de vocês, seus filhos são pequenos pecadores, potencialmente capazes de praticar todo mal e o farão à medida que aprenderem a se comunicar e interagir. Eles não são anjinhos sem asas. São pecadores que mentirão, desobedecerão, serão egoístas, ofenderão o próximo, e cometerão diversos tipos de pecado.
Mas, o que esta verdade representa para o relacionamento conjugal e familiar? Conhecer a própria natureza pecaminosa, e obviamente a do cônjuge também, deve conduzi-los a buscar a graça do Senhor Jesus. Sua família é composta de pecadores e seus pecados farão mal à família. O que fazer? Buscar a graça do Senhor Jesus! Reconhecer a necessidade que vocês têm de receber a graça de Deus, ou seja, serem ajudados pelo Senhor mesmo que vocês não mereçam. Vocês não precisam de terapeutas, mas de Cristo. Vocês não precisam de remédio, mas da Palavra de Deus. Vocês não precisam de férias, mas de oração constante ao Senhor Jesus.
Vocês precisam muito mais que conselhos éticos e morais. Sem a graça de Deus esses conselhos serão como um avião ultramoderno entregue nas mãos de um índio. Ele não vai para lugar nenhum. Vocês precisam da graça de Deus capacitando vocês a viverem os valores do Reino dos céus. Sem o poder de Deus, libertador e santificador, vocês lutarão arduamente para acertar e com pouco tempo se frustrarão sem resultados satisfatórios. Vocês precisam de Cristo. Jesus morreu na cruz para levar sobre si as maldições da lei, o castigo que o pecador merece. Cristo concede sua justiça para todo o que atende ao seu chamado: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” (Mt.11.28).
Após pecarem contra o Senhor, Adão e Eva receberam castigos. Uma vida de lutas e problemas estava diante deles numa criação que “a um só tempo, geme e suporta angústias até agora” (Rm.8.22). À Eva Deus disse que “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos”. Ela não fora fiel em seu papel de ajudadora idônea, e como castigo seria subjugada e “o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará”. Para Adão Deus disse que “maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn.3.16-19). Este é o mundo em que nossas famílias vivem. Um mundo que “jaz do maligno” (I Jo.5.19).
Através da obra de Cristo, uma nova vida surge. Jesus veio “para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo.10.10). Em Cristo “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm.8.28). Em Cristo vocês estarão em “paz com Deus” (Rm.5.1). Em Cristo vocês estarão livres “do império das trevas” (Cl.1.13), “libertados do pecado, transformados em servos de Deus” (Rm.6.22). Através de Jesus os pecadores se tornam em “vasos de misericórdia” (Rm.9.23), “criados em Cristo Jesus para boas obras” (Ef.2.10).
Como servos de Deus, tendo reconhecido a natureza pecaminosa e buscado a justiça de Jesus, vocês construirão uma família abençoada. O marido reconhecerá que peca e buscará aperfeiçoar sua vida através da Palavra de Deus. Ele dirá a cada manhã: “Bendito és tu, SENHOR; ensina-me os teus preceitos” (Sl.119.12). O marido deixará de olhar para os erros da esposa e filhos e reconhecerá a necessidade de ser “padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza” (I Tm.4.12) diante de seu pequeno rebanho, que é sua família, no propósito de agradar ao Senhor Jesus. A esposa “no interior de tua casa, será como a videira frutífera” (Sl.128.3). Seu valor estará no “interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus” (I Pe.3.4). E, no fim do dia, sua família a elogiará dizendo: “Muitas mulheres procedem virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas” (Pv.31.29).
O que mudou neste lar? Agora eles dizem: “não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl.2.20). O propósito desta família não é simplesmente ser feliz, mas glorifica o Deus que a salvou. Neste propósito de engrandecer a Deus, apresentando a vida como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm.12.1) a família está sendo transformada pelo poder de Deus e desfrutando de uma melhor qualidade de vida. Ao reconhecerem o coração pecador, recebem a graça de Deus e o poder transformador da Palavra do Senhor. Nova vida surgi em seus corações, vivendo para Jesus, e, assim, uma nova família estará sendo edificada sobre a rocha (Mt.7.24-27), que é Cristo. Ao glorificar a Deus, este jovem casal também se beneficiará de uma vida santa e irrepreensível, amável, verdadeira e feliz.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O precioso dom da Fé


desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus” (Cl.1.4)

Desde o século XIV, o humanismo tem retirado Deus do centro de todo o universo e substituído pelo próprio homem. Este passou a ser a centro do mundo, enquanto descobria, contraditoriamente, que o planeta Terra era apenas uma grão de poeira na imensidão do universo. A cultura pagã antiga foi resgatada e o homem tornou-se a “medida de todas as coisas”, expressão do sofista Protágoras (487 – 420 a.C.), ressuscitada pelo humanismo e retratada na obra de Leonardo da Vinci, chamada: o Homem Vitruviano, desenhada na década de 1490 d.C.. Após dois séculos de rebelião, aparece um novo movimento no século XVII: o racionalismo. Com a subversão do homem, colocando-se no centro do universo, logo sua razão é considerada capaz de compreender todas as coisas. O homem põe sua “fé na capacidade da mente humana para entender” a realidade.
Contudo, crer em Cristo não é um desafio exclusivo para a nossa geração. A fé é um necessidade para toda e qualquer geração. A incredulidade é uma característica natural do homem pecador que “se não vir em suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acredita” (Jo.20.25). Podemos recorrer à história humana, a fim de ratificar tal afirmação, afinal o “homem moderno só acredita naquilo que pode ser comprovado”, um pressuposto científico completamente anticristão, que nega a existência de Deus pela impossibilidade de prová-la metodologicamente. Nosso pressuposto é de que a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17.17) e a ela recorremos para conhecer a verdade sobre a história humana.
A incredulidade precede a queda. Antes da desobediência, Adão e Eva duvidaram da ordem divina, sendo incrédulos com respeito à Palavra de Deus, caindo na cilada da serpente (Gn.3.1-5). O homem não creu no primeiro mandamento de Deus: “da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn.2.17). Por duvidar da Palavra de Deus, Adão e Eva desobedeceram, recebendo punição divina, presente até hoje na criação que “a um só tempo, geme e suporta angústias até agora” (Rm.8.22). Mais adiante, nos dias de Noé, “anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos” (Mt.24.38-39). O mundo desprezou o chamado ao arrependimento, pregado durante cem anos por Noé e sua família (II Pe.2.5), enquanto construíam um barco de tamanhos monumentais para serem salvos do castigo de Deus.
Faltar-nos-ia tempo e espaço para falar da incredulidade de Israel, demonstrada geração após geração em todos os livros da Escritura. As gerações dos filhos de Israel “fizeram o seu coração duro como diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o SENHOR dos Exércitos enviara pelo seu Espírito, mediante os profetas” (Zc.7.12). Nem mesmo a geração dos dias de Jesus, demonstrou disposição de coração para crer, “porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados” (Mt.13.15). Embora Jesus tenha realizado diversos sinais e milagres que confirmavam as profecias do Antigo Testamento e apontavam para a Sua Messianidade, os Judeus se mantiveram endurecidos de coração. Até os discípulos duvidaram de Cristo tendo que ser exortados quando “apareceu Jesus aos onze, [...] e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado” (Mc.16.14).
Cônscio da incredulidade natural do homem pecador, pois “não há quem entenda, não há quem busque a Deus, não há temor de Deus diante de seus olhos” (Rm.3.11,18), Paulo dava graças ao Senhor pela fé dos Colossenses. A plena disposição deles em crer na “palavra da cruz, loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (I Co.1.18), provinha da graça do Senhor. Somente Deus poderia torná-los sensíveis ao evangelho da graça para receberem perdão e salvação de Cristo. Eles haviam nascido “da água e do Espírito” (Jo.3.5) e recebido “coração novo” e “espírito novo” (Ez.18.31). Deus tirara “o coração de pedra” trocando-o por um “coração de carne” (Ez.36.26). Agora, cheios da fé proveniente da presença do Espírito de Deus, os Colossenses eram capazes de “andar nos estatutos de Deus, guardando os juízos do Senhor e observando Seus preceitos” (Ez.36.27).
Fé cristã é crer na Palavra de Deus. Fé é crer em Deus, em Seus poderosos feitos do passado e em Suas promessas para o futuro. A fé cristã não é “salto no escuro”, nem o “mover do sobrenatural”. Ainda que “fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hb.11.1), o que se espera está revelado nas Escrituras, o fatos aguardados foram prometidos por Deus em Sua Palavra. Fé cristã é crer no Deus revelado nas Escrituras, confiar em Sua Palavra, obedecendo a seus mandamentos, e aguardar firmemente as promessas deixadas por Ele na Sagrada Escritura, “buscando as coisas do alto” (Cl.3.1)
Crer em Deus é um milagre: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef.2.1). Por esta razão, Paulo ficava bastante feliz quando ouvia falar da fé de uma determinada comunidade. Significava que Deus havia sido gracioso com aqueles pecadores, dando-lhes a oportunidade de serem salvos da ira vindoura (I Ts.1.10). Ao receberem o gracioso dom da fé, as dúvidas do coração eram dissipadas, as incertezas da mente eram substituídas pela verdade. A vida ganhava sentido, servir ao Senhor da glória, e o destino final do homem se descortinava diante de seus olhos: a gloriosa vida eterna concedida gratuitamente para os que humildemente andassem com Deus.
O resultado da fé é uma vida frutífera, íntegra, que Paulo chama de “operosidade da vossa fé” (I Ts.1.3). Os Colossenses deveriam viver “de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra” (Cl.1.10). O pecador recebe o dom da fé para “desenvolver [...] a salvação com temor e tremor” (Fp.2.12). Mas, como Paulo sabia que os Colossenses realmente haviam recebido o dom da fé? O apóstolo recebeu informações de Epafras de que os Colossenses estavam produzindo frutos de justiça decorrentes de uma genuína fé em Cristo Jesus. Eles haviam aprendido que eram “feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef.2.10). Desde então, estavam dedicando a vida ao Senhor de suas almas.
O desespero humano, crescente nestes últimos séculos, é decorrente das incertezas humanas. A incapacidade da mente humana de assegurar o futuro do homem e dar respostas satisfatórias para a realidade, sobre a vida e a morte, trouxe desespero para a humanidade sem mais nenhuma razão para existir. O pecador precisa da fé para existir. Ao desprezar Deus, o homem renegou a existência de vida após a morte. O homem colocou-se como obra do acaso, vagando na imensidão do universo. Sua realidade passou a ser apenas material e presente. Para o homem moderno, a única razão da vida é explorá-la ao máximo lutando pela sobrevivência de sua existência curta e sem rumo. Sem Deus, a morte para o mundo é um fatalismo, o fim da existência. Tal pensamento tem levado os homens à loucura. Ao desprezar o Criador, o homem negou sua própria existência.
Damos graças ao Senhor por conceder à muitos pecadores o dom da fé para que conheçam a Deus e se arrependam de seus pecados. Assim como Paulo se alegrava na fé dos Colossenses, há muito “júbilo no céu por um pecador que se arrepende” (Lc.15.7). No entanto, lembre-se que a fé não é improdutiva, não volta de “mãos vazias” para Deus. O pecador crente é conduzido pelo Espírito e pela Palavra de Deus para produzir frutos de justiça, certo que “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp.2.13). A Fé é um precioso dom com o propósito de glorificar a Deus.

sábado, 2 de outubro de 2010

O Pior dos Pecadores

Fiel é esta palavra e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores, dos quais eu sou o pior” (I Tm.1.)

Certo dia, ao elogiar um irmão em Cristo, fui surpreendido por uma série de auto-afirmações, na exposição de seu histórico “brilhante”. Minhas breves palavras, visando motivá-lo, no exercício de suas atribuições, custaram-me mais alguns minutos, num monólogo retórico que mais parecia vitrine de uma butique. Esta não foi a única vez em que recebi o castigo de longos minutos ouvindo um discurso de auto-apresentação narcisista. Tenho notado a crescente necessidade que as pessoas tem sentido da auto-afirmação. Elas querem apenas uma oportunidade para apresentar o “curriculum vitae” recheado de títulos e experiências prodigiosas. Qual a razão que estas pessoas têm de se auto-afirmar?
Provavelmente o fenômeno crescente da auto-afirmação tem sido desencadeado pela desvalorização do ser humano, numa contraditória geração humanista. O homem se vulgarizou, desprovendo-se de valores morais e éticos absolutos. E quanto menos valor o homem recebe mais materialista o mundo se torna. Você vale o que tem e não o que é: “um ignorante rico é melhor que um sábio pobre”. E a “corrida do ouro” é disputada na busca diária pelo poder, prazer e bens, a fim de concederem algum sentido à vida desses pobres mortais. Dentre estas aquisições necessárias para que o homem possua algum valor, estão os títulos “vendidos” por inúmeras faculdades. Com os títulos, os cidadãos terão a oportunidade de se auto-afirmar uns para os outros, confirmando a nova filosofia do mundo: “eu tenho logo existo”.
Em 1 Timóteo 1.15, o apóstolo Paulo afirma que: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores, dos quais eu sou o pior”. Um dos maiores missionários do Cristianismo considerou-se o “o pior dos pecadores”. Paulo teve uma vida bem sucedida antes de sua conversão. Foi “circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.” (Fp.3.5-6). Tinha o privilégio de ser cidadão romano desde o nascimento (At.22.28), o que representa a influência política e econômica que sua família tinha no mundo judaico-romano em que vivia.
Alguns anos depois de conhecer a Cristo, na estrada de Damasco (At.9.3), onde recebera o chamado para servir o Senhor Jesus, com a própria vida (At.9.15,16), Paulo considera seu “curriculum vitae” como “perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo” (Fp.3.8). O que para o mundo era glória e honra, “proferindo palavras jactanciosas de vaidade” (II Pe.2.18), para o apóstolo não passava da vaidade da natureza pecaminosa que deveria ser mortificada (Rm.8.13). Ele havia aprendido a estar “contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez” (Fp.4.11,12). A razão de sua vida era o exercício do ministério da pregação da Palavra, para glorificar a Deus. Ele afirma que: “em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus.” (At.20.24). Sua alegria e esforço se concentravam em anunciar o Reino de Deus com fidelidade e quanto às necessidades da vida, “tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes.” (I Tm.6.8)
O apóstolo escreve para seu filho na fé, Timóteo, um pastor jovem, ensinando-o as “sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e ensino segundo a piedade” (I Tm.6.3). Ao contrário de “certas pessoas” (I Tm.1.3) que estavam se ocupando com “fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé” (I Tm.1.4), o apóstolo se preocupa em ensinar a Timóteo uma vida piedosa que “para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser” (I Tm.4.8). O início de uma vida piedosa é o reconhecimento da graça e misericórdia de Deus, derramadas sobre a vida do insignificante pecador. Por meio da Graça e Misericórdia de Deus, Paulo havia sido “fortalecido”, ou seja, capacitado para a obra do Senhor. Por isso, ele dá graças ao Senhor por tão grande compaixão em capacitá-lo para servir a Cristo “designando-o para o ministério” (I Tm.1.12)
A graça e misericórdia do Senhor tornam-se mais notórias quando a vida do pecador é ressaltada. Paulo se expõe para Timóteo lembrando-o de que antes de ser um apóstolo de Cristo, por meio do poder do Espírito Santo (At.1.8), ele fora um desprezível pecador “blasfemo, e perseguidor, e insolente” (I Tm.1.13). Paulo expõe sua vida com o propósito de apontar para o poder transformador de Deus. Tudo quanto, aquele bem sucedido apóstolo era, provinha tão somente da graça e misericórdia de Cristo que transformara seu coração. O “pior dos pecadores” foi transformado, pelo poder da Palavra de Deus, num amável servo de Cristo. O ódio que possuía dos cristãos foi substituído por um imenso amor pela igreja, disposto a dar a vida pelos irmãos. O legalismo de um coração sem misericórdia foi substituído pela graça de Deus, no desejo de que todo pecador encontrasse a salvação em Cristo. Que transformação maravilhosa! Que demonstração de graça e poder derramados na vida de um pecador! Paulo se expõe para que Timóteo olhe tão somente para Cristo e pregue a mensagem da cruz para que pecadores fossem igualmente transformados por Deus.
Tudo o que deveria importar para a vida de Timóteo deveria ser a nova vida que Cristo lhe trouxe. Timóteo não deveria precisar de auto-afirmação, como Paulo também não fazia uso. Além disso, a plena certeza de sua natureza caída manteria Timóteo alerta quanto às tentações. Mesmo perdoados e transformados pelo poder da Palavra de Deus, eles continuavam sendo pecadores. Era preciso mortificar a carne, pois “a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si” (Gl.5.17). Caso Timóteo se considerasse não tão pecador, estaria vulnerável a cair em tentação, sem perceber as astúcias da carne, do mundo e do diabo. Reconhecer a própria natureza, com suas fraquezas seria a melhor forma de fugir das tentações, buscando constantemente o livramento divino.
Todo crente deve sentir-se o “pior dos pecadores” ao se deparar com a santidade de Deus. O sentimento de miséria, fraqueza, inutilidade, incapacidade e pecado fazem com que seu coração não encontre ninguém pior que ele mesmo. Não se engane! Você é um horrível pecador capaz de cometer os piores pecados, inclinado para os mais vergonhosos sentimentos e pensamentos. A conversão é o reconhecimento dessa triste realidade no afã de ser perdoado e restaurado à imagem e semelhança de Deus, em Cristo Jesus.
Mostre ao mundo o que a graça e poder transformador de Deus podem fazer na vida de um pecador arrependido. Mostre o que Cristo fez na tua vida ao tirar você das trevas tornando-o filho de Deus, pois conforme afirma Paulo: “por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna” (I Tm.1.16). Na busca por viver a vontade de Deus sua vida será exposta: passado e presente e muitas pessoas ao seu redor verão a graça de Deus em te perdoar e transformar, santificando-o a cada dia para uma vida santa e irrepreensível (Ef.1.4). Por isso, “quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (I Co.10.31). Tudo em sua vida tem como objetivo apontar Cristo para os pecadores, para que Deus seja honrado e os pecadores alcancem a salvação. Eles verão que até mesmo o “pior dos pecadores” pode receber o perdão de Deus e em Cristo alcançar a salvação.