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terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Amor que vem de Deus


E do amor que tendes para com todos os santos” (Cl.1.4)

Após a primeira guerra mundial, terminada oficialmente em 11 de novembro de 1918, o mundo destruído entrou num período de depressão. A guerra não deixara vitoriosos. O mundo inteiro precisava ser restaurado a começar pelos corações dilacerados, marcados pela violência e certeza da morte. A paz não estava definida e o fim da guerra parecia mais um intervalo entre o primeiro e o segundo tempo de um jogo de futebol. Após vinte anos de trégua militar, o mundo entra novamente em conflito, agora muito mais destrutivo por causa da tecnologia vigente. Com o fim da segunda guerra mundial em 1945, o homem não acreditava mais na esperança de um mundo melhor, nem muito menos na vida eterna. Seu coração estava em trevas. Um século antes o mundo havia declarado a morte de Deus (Friedrich Nietzsche – 1844 a 1900) ignorando completamente sua existência necessária para o homem moderno. A primeira e a segunda guerra mundial revelaram a miséria do coração humano e sua plena necessidade do cuidado do Criador. Infelizmente, as guerras não levaram o homem a perceber sua incapacidade de produzir paz, alegria e amor ao mundo.
“Homem primata, capitalismo selvagem”, canta um grupo de Música MPB chamado Titãs, na década de 80. Eles cantam a insatisfação de um país saindo da ditadura militar. Sua letra pessimista retrata a incredulidade e falta de qualquer esperança no coração do homem moderno que se diz realista. A ditadura acabou, mas os problemas permaneceram. O grupo acusa Deus pelos sofrimentos do mundo e grita sua independência na condução da própria vida, ainda que desacreditada. Há completo descrédito na vida humana. Consideram os homens como animais irracionais que se devoram sem qualquer motivo, numa selva de concreto. A música foi lançada em 1986, mas seu espírito retrata a depressão e vazio do coração do homem, 24 anos depois.
As cidades crescerem em número e tamanho e com elas o individualismo se proliferou. Os arranha-céus das megalópoles revelam a “selva de pedra” em que vivemos, com sua cor cinza e retas precisas. Ao findar do dia, o homem moderno entra em sua, “cada vez menor”, gruta moderna e sua mente é esvaziada pela “caixa mágica” chamada televisão. Após poucas horas de sono, tendo se iniciado outro dia, o moderno homem “livre” volta para seus afazeres sincronizados e manipulados por outros maiores do que ele. Seu coração, intoxicado com o absinto do ar metropolitano, murcha qual rosa em terra seca e se acomoda com a necessidade de lutar por sua própria sobrevivência. Não há fé, não há esperança, não há amor.
A Escritura revela que o amor é o resumo dos mandamentos divinos. Questionado sobre o principal mandamento da Lei, Jesus responde: “Amarás o Senhor, te Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mt.22.37). Este é o primeiro e maior mandamento da lei. Deus é o único Senhor dos céus e da terra e por isso deve ser amado por todas as criaturas que Ele fez para a Sua glória. Seu amor é o modelo perfeito para ser copiado pelo homem. Paulo diz que “Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm.5.8). O amor abnegado de Cristo, o Filho de Deus é o perfeito modelo do quanto o homem deve amar a Deus. Ao conclamar o mundo a amar a Deus, a Palavra revela que primeiro “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo.3.16). Deus deve ser amado pelo que Ele é e tem feito em Sua criação. Tudo fora criado “muito bom” (Gn.1.31) para ser amado e amar àquele que criou.
A resposta de Jesus ao interprete da lei, não finda com o amor supremo a Deus. Jesus prossegue em sua resposta: “O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt.22.39-40). Amar o próximo é também um dever prescrito na Palavra de Deus. O modelo de amor ao próximo também procede de Deus “porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus” (Mt.5.45; Lc.6.35). O desafio do homem é: “amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo” (Lc.6.27,28,35). Segundo Cristo, todos os mandamentos podem ser resumidos no amor a Deus e no amor ao próximo. Ao obedecer os mandamentos de Deus o homem o faz em demonstração de amor ao Senhor. Ao amar a Deus o homem se inclina para ouvir e obedecer os mandamentos do Senhor.
Vê-se, então, que o amor não é um mero sentimento embutido no coração do pecador. O amor é expressão da virtude divina comunicada ao homem graciosamente. Por meio do amor se comunica a paciência necessária para tolerar as fraquezas do outro. Pelo amor a benignidade toma a forma de bondosas ações em favor do oprimido (I Co.13.4). No entanto, o coração do homem pecador está cheio de ódio. Ao se aproximar do outro, o pecador transpira interesses próprios, sejam sexuais ou avarentos, “não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm.3.12).
Em meio a um mundo vivendo a indiferença, interesses levianos e ódio, Jesus dá aos discípulos um novo mandamento: “que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo.13.34). Este mandamento, além de benéfico para o relacionamento entre os cristãos, ao ser praticado é testemunho de que Cristo está no meio de seu povo, pois “nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo.13.35).
Esta era uma das marcas que caracterizava uma genuína conversão. Paulo observava a “operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts.1.3). Os Colossenses estavam produzindo frutos do amor recebido de Cristo. Eles estavam se dedicando ao máximo para amar uns aos outros, como Cristo os havia amado na cruz do calvário, não somene no coração, como também em expressões vivas de um amor prático e real. O amor deles estava sendo demonstrado em árduo trabalho para produzir frutos. Sua abnegação se revelava em enfrentar as dificuldades, abrindo mão de si mesmos para abençoar os irmãos em todas as suas necessidades.
Além disso, os Colossenses estavam “contando com a simpatia de todo o povo” (At.2.47), à semelhança dos dias iniciais da igreja, quando o Espírito Santo lhes foi dado em abundância para pregaram e testemunharem o evangelho da graça de Deus. O “amor de Deus” “derramado em seus corações pelo Espírito Santo” (Rm.5.5), estava produzindo frutos para Deus, revelando a graça comum de Deus para com toda a criação e o amor especial de Deus para com o Seu povo. Isto ocorria à medida que eles amavam os inimigos, tratavam bem os odiosos, bendiziam os maldizentes, oravam pelos perseguidores (Lc.6.27,28,35). Cristo havia sido paciente perante seus inimigos ensinando seus discípulos a que “não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens” (Rm.12.17). Os Colossenses não poderiam fazer uso das mesmas armas que o mundo usava contra eles. Deus deu armas diferentes à igreja para vencer o inimigo: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm.12.21). A cada mau trato recebido do mundo, a igreja respondia com o amor de Deus em seu coração.
O mundo não conhece o amor, pois, como profetizara Jesus: “por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mt.24.12). Onde se espera, então, extrair novamente o amor? Do coração e mãos daqueles que conhecem o amor de Deus. Você, que se converteu ao Senhor Jesus, experimentando assim de Seu amor, deve mostrar ao mundo o amor de Deus. O mundo não conhece a Cristo, nem muito menos a Deus, mas através do testemunho da igreja, Cristo é anunciado aos pecadores e através de Cristo o pecador se achega a Deus.
O amor é demonstrado em pequenos ou grandes gestos diários: ceder a vez ao outro, atender ao pedido de ajuda, parar o carro para o pedestre passar e etc. Mas a maior demonstração de amor ao mundo é o anuncio insistente do evangelho da graça de Deus, como Paulo disse: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1 Co.9.22).
E além do amor comum ao mundo, você cristão tem uma dívida de amor para com seu irmão em Cristo (Rm.13.8). Deves amá-lo à semelhança do amor de Jesus por nós. Como disse Paulo: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm.12.10). Esse amor se expressará na tolerância com as fraquezas do irmão; nas constantes orações em favor uns dos outros; na dádiva graciosa de seu tempo, energia, conhecimento e serviço para beneficiar o irmão em Cristo. Lembre-se que estamos nos preparando para a vida eterna onde o amor de Deus permeará toda a criação e habitará abundantemente em nosso coração para todo o sempre.

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