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sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Volta, igreja, ao seu Senhor!

 


Era uma reunião de presbitério. Em seu culto de abertura um dos conciliares subiu ao púlpito para pregar. O tema do sermão foi a oração, e o pregador foi enfático na necessidade de orar antes de tomar decisões. Portanto, os ouvintes deveriam orar antes de tomar decisões. O culto foi encerrado, chegando o momento da apresentação de documentos. Então, o próprio pregador apresentou um documento gigantesco de um teor muito sério que afetaria não somente o presbitério como também toda a denominação, ou seja, a igreja nacional. Quando chegou o momento de votar a favor ou contra a aprovação do documento, eu me levantei para fazer a seguinte consideração: “Irmãos, o documento é muito sério e de implicações abrangentes demais. Sugiro que dediquemos alguns dias de oração a respeito do assunto e, depois, façamos uma nova reunião para votar a favor ou contra a aprovação do documento.” Para minha surpresa, o pregador e autor do documento me contrapôs, dizendo que não seria preciso dedicar tal tempo a oração pelo assunto, então insistiu na aprovação imediata do documento, convencendo todos os conciliares a votarem a favor do documento sem orar antes de tomar uma tão importante decisão. Quanta hipocrisia!

 

A política eclesiástica tornou-se um bezerro de ouro da igreja visível. Se pastores e presbíteros vissem alguém precisando de ajuda, eles passariam de largo e confeccionam uma ata bonita para mostrar como são bons conciliares. Eles amam os primeiros lugares nos cultos, se vestem vistosamente, gostam de ser chamados de mestres, assumem cargos eclesiásticos importantes, investem pesado na própria imagem e falam bonito perante públicos. O amor próprio é muito grande. Por isso, o esforço de pastores e presbíteros para prejudicar alguém é muito maior do que a dedicação para ajudar quando veem algum problema. Então, armam ciladas, fingem amizade, espionam secretamente, praticam a maledicência, julgam injustamente, procedem com mentiras e praticam males diversos. E, com frequência burlam as leis com o intuito de se beneficiarem ou com o propósito de prejudicar o próximo. Contudo, nem mesmo uma só vez colocam em prática o que Deus ordenou: apascentar ovelhas de Jesus com graça, misericórdia, dedicação e amor (Ez.34; Jo.10; 1Pe.5). Então, pergunto: Qual dos reformadores ensinou isso?

 

Nossa família está disposta a se sacrificar para combater a corrupção da igreja brasileira. Sabemos que tais problemas vão além de denominações reformadas. Mas, falamos melhor daquilo que conhecemos. Sabemos que o sistema é grande demais para nós, e que as pessoas corruptas estão dispostas a nos fazer todo mal para não sermos bem-sucedidos na luta contra a corrupção delas, mesmo que nosso único propósito seja purificar a igreja visível dessa vida mundana. Assim como homens do passado, e suas famílias, se sacrificaram para lutar contra toda injustiça dentro da igreja, também estamos dispostos a fazer o necessário para que a igreja de Cristo seja purificada dessa tão vasta e vil corrupção, porque ser reformado é, também, ser zeloso pelo bem-estar da igreja que pertence unicamente a Jesus (Ef.5). Estamos dispostos a dar a vida pela pureza da igreja, não a matar pessoas como os fariseus faziam (Jo.10). Assim como John Wycliffe (1320-1384), Jan Hus (1369-1415), Martinho Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-1564), John Bunyan (1628-1688), Charles Spurgeon (1834-1892) pagaram o preço de ser instrumentos divinos de seu tempo, e nos deixaram um legado que hoje está sendo desonrado por aqueles que dizem levantar sua bandeira.

 

Ser uma igreja reformada não é um mero slogan de uma denominação. Ser uma igreja reformada não se resume a conhecer os cinco pontos do calvinismo. Ser uma igreja reformada não é adotar determinado sistema de governo eclesiástico. A errônea visão do que é ser realmente reformado tem produzido uma geração juvenil imatura capaz de perseguir e matar pessoas em nome da fé, como fizeram os fariseus dos dias de Jesus e dos apóstolos. Desse modo, o presente e o futuro da igreja estão sendo ameaçados, pois denominações religiosas não são sinônimo de verdadeira igreja, assim como a nação de Israel não era sinônimo de verdadeiro povo de Deus. Ser uma igreja reformada é zelar por toda a sã doutrina e prática, a começar pelo Ser do Deus Trino, único Senhor de tudo e todos, inclusive da igreja, de modo a guardar e propagar os divinos santos valores eternos (Gl.5.22-23) que glorificam o Criador e Salvador (Mq.6.8), a partir do amor que é maior de todos os mandamentos (Dt.6.5; Mt.22.36-40; 1Jo.4). Ser uma igreja reformada é cultivar a justiça, a verdade e a benignidade; é buscar a humildade, a simplicidade e a piedade; é agir como Cristo agiu quando esteve entre os homens, atraindo pecadores à graça divina; é apascentar vidas pela Palavra de Deus em total dependência do operar poderoso e eficaz do Espírito Santo.

 

Enquanto ser reformado for mero sinônimo de brigar contra pentecostais ou ter atas bonitas que valorizam a superestrutura político eclesiástica, denominações que se dizem reformadas viverão uma mera hipocrisia. O número de pastores divorciados cresce a cada ano, de modo a haver quem esteja no quarto casamento; mas, isso não parece importante. Jovens se comportam com petulância e falsa piedade, destruindo vidas e famílias em nome de erudição imatura. Igrejas locais se transformam em clubes de pecadores, preocupadas com programações sociais enquanto vivem a falsidade em suas relações internas. Líderes buscam poder e fama investindo na própria imagem, mas não lutam contra a corrupção da igreja para não perderem seus prestígios eclesiásticos. Pastores e presbíteros dedicam tempo e esforço demasiado na confecção de atas e documentos, mas são incapazes de fazer uma visita pastoral pessoal aos colegas de um mesmo presbitério, como se isso não fosse importante. Assim, a administração política das denominações se tornou mais importante do que o pastoreio das ovelhas de Jesus; e o status de pastores, presbíteros, diáconos e cantores se tornou mais importante do que a glória de Cristo, a pureza das famílias e a piedade da vida cristã.

 

Então, qual o nosso propósito? Trazer o cristianismo de volta à pureza de Cristo. Não um cristianismo saudosista que comemora a páscoa, a reforma e o natal. Queremos trazer o cristianismo de volta à verdadeira fé que Cristo lhe deu, confiando na suficiência da justiça de Cristo, na soberania do governo divino e na realidade do novo nascimento operado pelo Espírito Santo. Queremos trazer o cristianismo de volta para a pureza das relações fraternas, de modo que as famílias não finjam o amor, mas amem de fato e de verdade, segundo a Palavra de Deus, movidas pelo Espírito do Senhor. Queremos trazer o cristianismo de volta à verdade, honestidade, justiça e integridade, de modo que nenhum pastor ou presbítero proceda como se fosse melhor que os outros nem tente se tornar o dono da igreja ou do presbitério. Queremos trazer o cristianismo de volta ao propósito de salvar vidas, livrando-o da falsa religiosidade que se satisfaz com a condenação alheia. Queremos trazer a igreja de volta para a piedade bíblica, não para uma falsa modéstia de quem se orgulha de si mesmo e menospreza os outros; Queremos trazer a igreja “de volta para Jesus”, pois ela já está tempo demais nas mãos de pecadores cheios de orgulho, ambição e interesses próprios. Por isso, a igreja tem se tornado, novamente, em um covil de salteadores, abandonando o propósito de Deus para sua vida: ser sal da terra e luz do mundo (Mt.5.13-16). Enquanto nos for possível, lutaremos para trazer a igreja de volta para Jesus e estamos dispostos ao sacrifício, certos de que somente a Palavra de Deus e o operar do Espírito Santo podem realizar tal obra, trazendo uma nova reforma para o cristianismo.

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