“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor” (João 15.1)
Você já se sentiu sozinho alguma vez, como se tudo na vida dependesse somente de seus esforços? Você já teve que “se virar sozinho” para se defender, se sustentar e se cuidar? Esse sentimento torna-se cada vez mais comum entre as pessoas. Essa é uma das fortes razões para o aumento de depressivos e suicidas. A ausência de relacionamentos sólidos nos quais as pessoas sintam-se seguras criou gerações emocionalmente frágeis. Contraditoriamente, quanto mais crescem as cidades, mais sozinhas as pessoas se sentem. Casais vivem diariamente ameaças de divórcio, produzindo insegurança e instabilidade nos filhos. As relações são superficiais e passageiras, impossibilitando a construção de laços de confiança nos quais haja um verdadeiro cuidado mútuo. Esse é o mundo da Idade Moderna, um mundo solitário e egoísta, individualista e materialista. (Sugerimos que assistam o seguinte vídeo sobre a exposição de João 15: https://youtu.be/DhsT-NdV0Gk ).
Mas, nem sempre foi assim. Vejamos um paralelo entre a visão bíblica (também histórica) e a Idade Moderna individualista:
Tornou-se comum a seguinte frase: “CADA UM VAI DAR CONTAS A DEUS, POIS A FÉ É INDIVIDUAL”. O individualismo da Idade Moderna afetou a vida teórica e prática da igreja e mostrou-se um terreno propenso para o comunismo e, também, para o consumismo. O Individualismo afetou a forma como os cristãos se relacionam com a igreja e com Deus, pois mudou a forma como eles interpretam a Palavra do Senhor. A ênfase na individualidade da salvação é responsável, também, pelo movimento dos “desigrejados”, ou seja, responsável pelo êxodo de pessoas que afirmam crer em Deus, mas não desejam viver dentro do cristianismo.
Os Anabatistas, propulsores da reforma radical, romperam com a vida corpórea da igreja realçando a individualidade da fé. Desse modo, considerando apenas o caráter individual, os filhos de cristãos anabatistas deixaram de ser batizados na infância, por causa da incapacidade de professarem publicamente a fé. Ainda que, contraditoriamente, afirmem a salvação de crianças que morrem na infância, independentemente da incapacidade de professarem essa mesma fé em Cristo Jesus. A vida cristã perdeu o caráter familiar, corpóreo, para seguir um rumo solitário, alimentado pelo individualismo da Idade Moderna, esquecendo-se do que disse o apóstolo Paulo: “Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos” (1Co.7.14). Não é por acaso que o número de denominações se multiplica ano após ano.
Essa atitude reacionária contra o Catolicismo Romano daqueles dias mostrou-se muito mais preocupada em romper com os adversários do que proporcionar para os cristãos uma vida realmente respaldada na Palavra do Senhor, ignorando as inúmeras vezes em que famílias inteiras (até nações inteiras) foram salvas pela fé de um só homem. Noé salvou toda sua família por meio da arca da salvação, por ser ele um homem que andava com Deus (Gn.6.8-10). Até mesmo Cam, que posteriormente se mostrou um homem mau (Gn.9.20-29), desfrutou da salvação por meio da arca que simbolizava o verdadeiro redentor: Cristo. Deus chamou líderes de famílias para salvar não apenas a si mesmos, mas também a família inteira deles. Assim foi com Abraão, pelo qual todas as famílias da terra seriam abençoadas (Gn.12.1-3); Isaque que herdou as promessas de seu pai; e Jacó pelo qual toda a grande família foi salva e conduzida a viver as bênçãos divinas:
Disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de Esaú, teu irmão. 2 Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes; 3 levantemo-nos e subamos a Betel. Farei ali um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia e me acompanhou no caminho por onde andei. (Gn.35.1-3)
Os anabatistas ignoraram ainda que as alianças unilaterais que Deus fez com alguns personagens visavam alcançar não apenas aquele que recebia a promessa em forma de aliança como também todo um grande povo. Assim foi com a aliança feita com Adão antes e depois da queda (Gn.2.15-17; 3.15), razão para todos sermos herdeiros tanto das responsabilidades com a criação e a sociedade quanto dos sofrimentos decorrentes da desobediência, além da promessa redentora. De modo semelhante, a aliança de Deus com a criação, a respeito do dilúvio, fora firmada por meio de um só homem: Noé (Gn.9.1-19). O mesmo ocorre com a aliança feita com Abraão, apontando para a vinda de Cristo (Gn.15.12-18); e a aliança referente ao prometido filho de Davi (2Sm..7.1-17) que visava alcançar não apenas o próprio Davi, mas, também, todos os que vivessem pela fé. Podemos ver o caráter corpóreo das alianças em Êxodo, quando Deus socorre os israelitas por amor à aliança feita com os patriarcas (Ex.2.23-25; 6.1-5):
Decorridos muitos dias, morreu o rei do Egito; os filhos de Israel gemiam sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a Deus. 24 Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó. 25 E viu Deus os filhos de Israel e atentou para a sua condição. (Ex.2.23-25)
Disse o SENHOR a Moisés: Agora, verás o que hei de fazer a Faraó; pois, por mão poderosa, os deixará ir e, por mão poderosa, os lançará fora da sua terra. 2 Falou mais Deus a Moisés e lhe disse: Eu sou o SENHOR. 3 Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como Deus Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, O SENHOR, não lhes fui conhecido. 4 Também estabeleci a minha aliança com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra em que habitaram como peregrinos. 5 Ainda ouvi os gemidos dos filhos de Israel, os quais os egípcios escravizam, e me lembrei da minha aliança. (Ex.6.1-5)
Nosso foco, nesse momento, é o texto de João 15, onde Jesus afirma ser a Videira verdadeira. Mas, para entendermos essa figura é necessário que compreendamos o caráter corpóreo da igreja de Deus. Ou seja, é fundamental entendermos que Deus não trabalha apenas com indivíduos, mas, principalmente, com famílias/povo, pois, desde o princípio, seu propósito foi constituir um povo para si, a fim de se relacionar com ele eternamente. Vejamos alguns textos que apontam para o caráter corpóreo da igreja:
Antigo Testamento
Gênesis 1:28 E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.
Gênesis 2:18 Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.
Gênesis 5:1 Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez
Gênesis 5:28-29 Lameque viveu cento e oitenta e dois anos e gerou um filho; 29 pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou.
Gênesis 12:1-3 Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; 2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! 3 Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.
Gênesis 45:5-7 Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós. 7 Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento.
Gênesis 49:10 O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos.
Novo Testamento – Todas as figuras da igreja apontam para seu caráter corpóreo
Efésios 4:3-6 3 esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; 4 há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; 5 há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.
Efésios 2:12-19 12 naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. 13 Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. 14 Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, 15 aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, 16 e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. 17 E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; 18 porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. 19 Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus,
1 Coríntios 3:16-17 Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? 17 Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado
1 Pedro 2:5 também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo
1 Pedro 2:9-10 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; 10 vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.
Hebreus 11:24-25 Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, 25 preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado;
João 15:1-5 Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. 3 Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado; 4 permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. 5 Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
É nesse contexto familiar/corpóreo que compreenderemos João 15 (a Videira verdadeira), Hebreus 6.4-8 (os iluminados) e outros textos que mostram apóstatas desfrutando as bênçãos espirituais durante o tempo em que se encontravam no meio da igreja visível de Deus (sugerimos a leitura de: http://voxscripturae.blogspot.com/2016/06/eles-nunca-foram-salvos.html ). Pelo fato de Deus trabalhar com família/povo, as bênçãos espirituais recaem sobre o ambiente familiar/corpóreo, assim como uma pessoa hospedada na casa de uma determinada família desfruta daquilo que é posto na mesa. Como disse Labão a Jacó: “Labão lhe respondeu: Ache eu mercê diante de ti; fica comigo. Tenho experimentado que o SENHOR me abençoou por amor de ti” (Gn.30.27).
É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, 5 e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, 6 e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. 7 Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; 8 mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada. (Hb.6.4-8)
Um dos melhores exemplos da realidade corpórea da igreja, na qual as bênçãos são derramadas, pode ser visto em Judas Iscariotes, um dos doze discípulos, escolhido com o propósito de ser o traidor: “Replicou-lhes Jesus: Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo. Referia-se ele a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era quem estava para traí-lo, sendo um dos doze.” (Jo.6.70-71). Judas participou, durante três anos, de todas as bênçãos que Cristo concedeu aos discípulos: o ensino da Palavra de Deus, cuidado/milagres/proteção, o compartilhar do poder divino:
Chamou Jesus os doze e passou a enviá-los de dois a dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos imundos. 8 Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, exceto um bordão; nem pão, nem alforje, nem dinheiro; 9 que fossem calçados de sandálias e não usassem duas túnicas. 10 E recomendou-lhes: Quando entrardes nalguma casa, permanecei aí até vos retirardes do lugar. 11 Se nalgum lugar não vos receberem nem vos ouvirem, ao sairdes dali, sacudi o pó dos pés, em testemunho contra eles. 12 Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse; 13 expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo. 30 Voltaram os apóstolos à presença de Jesus e lhe relataram tudo quanto haviam feito e ensinado. (Mc.6.7-13,30)
Judas era como um hóspede na família de Deus e por estar no meio da igreja visível de Cristo também desfrutou das bênçãos divinas que foram servidas à mesa do povo do Senhor. O mesmo ocorre com nossos filhos por nascerem no meio da igreja visível do Senhor Jesus. Enquanto eles estiverem no meio da igreja visível serão acolhidos por Deus como felizes hóspedes da casa do Pai, a igreja do Senhor. E todo aquele que faz parte da igreja visível de Deus deve receber o sinal que o identifica como tal: o batismo (Mt.28.19-20). O batismo não é um sinal miraculoso que tem poder para salvar aquele que o recebe, caso fosse assim, todo batizado deveria ser salvo independentemente de sua fé. O batismo é um sinal visível que testemunha ao mundo a participação na igreja visível de Deus, pois todos os membros do cristianismo devem ser batizados. Por isso, ninguém é batizado equivocadamente, mesmo quando, no futuro, essa pessoa mostra que nunca amou a Cristo como deveria.
Em João 15, Jesus disse: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.” Por que Jesus é a videira Verdadeira? Essas palavras de Jesus são uma referência ao texto de Isaías 5.1-7, no qual Israel é comparado a uma vinha, plantada por Deus, que deveria ter dado bons frutos, tendo em visto o grande cuidado do Senhor com sua vinha. Contudo, no decurso dos anos, Israel só produziu maus frutos e, por isso, seria cortado da presença do Senhor.
Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu amado a respeito da sua vinha. O meu amado teve uma vinha num outeiro fertilíssimo. 2 Sachou-a, limpou-a das pedras e a plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre e também abriu um lagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. 3 Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. 4 Que mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas? 5 Agora, pois, vos farei saber o que pretendo fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que a vinha sirva de pasto; derribarei o seu muro, para que seja pisada; 6 torná-la-ei em deserto. Não será podada, nem sachada, mas crescerão nela espinheiros e abrolhos; às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela. 7 Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do SENHOR; este desejou que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor. (Is.5.1-7)
Em Mateus 21.33-41, Jesus menciona a parábola de Isaías 5.1-7. Podemos dizer que o cumprimento dessa parábola se deu em 70 d.C. quando Roma sitiou Jerusalém e a queimou, espalhando os judeus por todo o mundo. Esse foi o maior cativeiro de todos os tempos, a grande tribulação que Jesus anunciou em Mateus 24.15-21, tendo durado 1878 anos, do ano 70 d.C. até maio de 1948 (Sugerimos a leitura do texto: http://voxscripturae.blogspot.com/2020/04/a-grande-tribulacao-e-volta-de-jesus.html ). Israel foi plantado por Deus, mas não produziu frutos que glorificassem a Deus, pois não era a Videira verdadeira. No livro de João, o evangelista diz que Jesus é a luz verdadeira (Jo.1.9) e o verdadeiro pão do céu (Jo.6.32). Ele ainda diz que os verdadeiros adoradores são aqueles que adoram o Pai em Espírito e em Verdade (Jo.4.23-24), o que só pode ocorrer em Cristo (Jo.15). Também em Hebreus 8.2 e 9.24, o autor compara o antigo tabernáculo terreno de Israel ao tabernáculo celestial, afirmando que Cristo entrou no verdadeiro tabernáculo, no santo dos santos celestial. De modo semelhante, a verdadeira Videira não era Israel, mas Cristo para o qual todas as promessas de Deus apontavam (Gl.3.16), desde o princípio (Gn.3.15).
O grande erro do dispensacionalismo é não compreender que todas as promessas de Deus realmente apontam para Cristo, o herdeiro do trono celestial, o Senhor e Salvador de seu povo, o filho do Deus bendito (Hb.1). Por isso, Mateus afirma que o cumprimento da palavra profética de Oséias 11 se cumpre em Jesus, pois Israel foi posto por figura de Cristo. Por essa razão, os verdadeiros filhos de Deus não são os israelitas filhos de Abraão segundo a carne, mas todo aquele que se encontra em Cristo, o legítimo herdeiro de todas as promessas de Deus (Gl.3.6-22). Quando cristãos olham para Israel, em vez de olharem para Cristo, substituem a substância pela sombra, o espiritual pelo carnal, o permanente pelo temporário, o Filho unigênito do Pai pelos filhos segundo a carne, o eterno pelo passageiro, o verdadeiro Ungido pelas unções transitórias, a Videira verdadeira pela vinha brava. Então, trocam a glória eterna do Filho de Deus pela desvanecente glória de Israel (2Co.3).
Atentai noutra parábola. Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois, se ausentou do país. 34 Ao tempo da colheita, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe tocavam. 35 E os lavradores, agarrando os servos, espancaram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram. 36 Enviou ainda outros servos em maior número; e trataram-nos da mesma sorte. 37 E, por último, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: A meu filho respeitarão. 38 Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança. 39 E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram. 40 Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? 41 Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos. (Mt.21.33-41)
Para compreendermos a figura da Videira e seus ramos, precisaremos continuar comparando Cristo com Israel:
Em João 15, aparece a distinção entre a igreja visível e a igreja invisível. Ou seja, entre aqueles que parecem ser parte do povo de Deus e aqueles que realmente são parte do povo de Deus. Por essa razão, em João 15.2, todos os ramos estão em Jesus: Aqueles que dão fruto são limpos para dar mais frutos e aqueles que não dão fruto são cortados, lançados fora. E os apóstolos permaneceram com Jesus, diferente de outros antigos discípulos que foram embora (Jo.6.60,66). Também, os apóstolos permaneceram com Jesus, diferente de Judas que foi embora (Jo.13.27,30). Por isso, os apóstolos deram muitos frutos, conforme registra o livro de Atos dos apóstolos. De modo semelhante, aqueles que permanecerem em Cristo darão muito frutos enquanto que aqueles que não permanecem em Cristo, não darão frutos. Em Atos dos Apóstolos 2.42-47, os cristãos que perseveram na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações deram muitos frutos. Mas, aqueles que não deram frutos foram cortados à semelhança de Ananias e Safira (At.5.1-11). Nesse mesmo sentido, Paulo fala em sua carta aos Romanos 11.17-24 sobre os judeus incrédulos e os gentios crentes. Portanto, ainda que seja necessário estar na igreja visível, não basta fazer parte aparente da Videira (Cristo); não basta ser batizado; não basta ser membro da igreja. É preciso dar frutos para Cristo, mostrando assim um verdadeiro relacionamento com Deus. Paulo louvou a Deus pela vida dos tessalonicenses, porque eles davam frutos: fé, amor e esperança (1Ts.1.2-4). Jesus afirma que Deus nos chama com propósito de que venhamos a dar muitos frutos (Jo.15.8). E esses frutos começam com o amor que devemos ter uns para com os outros, como nos diz Paulo em Gálatas 5.22: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”. O Fruto do Espírito começa com o amor, o mesmo amor que Jesus demonstrou pelos seus discípulos (Jo.13.34-35). O amor que Deus quer que vivenciemos no meio de sua igreja, pela qual seu Filho morreu e ressuscitou.
Esse amor demonstra fortemente que o propósito de Deus é trabalhar com família/povo, não só indivíduo. O mandamento de Cristo para que amemos como Ele nos amou (Jo.13.34-35) só é possível dentro de relações sólidas. Esse amor resume os mandamentos de Deus (Rm.13.8-10) e aponta para o caráter corpóreo da igreja de Jesus (Fp.1.27). O amor fala que temos obrigação de nos relacionar, de estar dentro da igreja e viver com a igreja. Portanto, o individualismo é completamente contrário ao propósito divino para sua igreja e não expressa o verdadeiro caráter da igreja do Senhor Jesus. O individualismo priva as crianças do batismo, motiva cristãos a viverem como desigrejados e divide a igreja do Senhor Jesus. Contudo, as figuras que retratam a igreja de Jesus nos conduzem para seu caráter corpóreo, de modo que cada pessoa que se encontra dentro da igreja visível é conduzida a se ver como parte de um todo: órgão de um Corpo, pedra de um Templo, ramo de uma Videira, membro de uma Família, cidadão de uma nação; desde a criança mais tenra até o ancião mais idoso do povo de Deus.
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