“porque
nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora
não tem havido e nem haverá jamais” (Mt.24.21)
A expectativa da volta de Jesus é algo muito importante para
o cristianismo. Contudo, nem todos os textos do Novo Testamento são igualmente
claros principalmente quando se trata da doutrina das últimas coisas
(escatologia). Os Evangelhos sinóticos nos revelam uma importante fala
escatológica de Cristo (Mt.24-25; Mc.13; Lc.21) entendida de formas diferentes
pelos estudiosos. Essas perícopes estão envoltas de muitos debates e diversas
interpretações. Desejamos oferecer uma leitura historicista desses textos, apontando
para alguns elementos que parecem-nos aproximar a queda de Jerusalém de nossos
dias; e o fim da era judaica, da volta de Cristo. Transcrevemos, abaixo (em forma
de tabela para facilitar a análise comparativa), os trechos dos sinóticos que
desejamos analisar:
Mateus 24.15-36
|
Marcos 13.14-32
|
Lucas 21.20-36
|
15 Quando,
pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no
lugar santo (quem lê entenda), 16
então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes; 17 quem estiver sobre o eirado
não desça a tirar de casa alguma coisa;
18 e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a
sua capa. 19 Ai das que
estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! 20 Orai para que a vossa fuga
não se dê no inverno, nem no sábado; 21
porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do
mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais. 22 Não tivessem aqueles dias
sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais
dias serão abreviados. 23
Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não
acrediteis; 24 porque
surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios
para enganar, se possível, os próprios eleitos. 25 Vede que vo-lo tenho
predito. 26 Portanto, se
vos disserem: Eis que ele está no deserto!, não saiais. Ou: Ei-lo no interior
da casa!, não acrediteis. 27
Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente,
assim há de ser a vinda do Filho do Homem.
28 Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres. 29 Logo em seguida à
tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua
claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão
abalados. 30 Então,
aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se
lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e
muita glória. 31 E ele
enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os
seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus. 32 Aprendei, pois, a parábola da
figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que
está próximo o verão. 33
Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo,
às portas. 34 Em verdade
vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. 35 Passará o céu e a terra,
porém as minhas palavras não passarão.
36 Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os
anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai.
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14 Quando,
pois, virdes o abominável da desolação situado onde não deve estar (quem lê
entenda), então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes; 15 quem estiver em cima, no
eirado, não desça nem entre para tirar da sua casa alguma coisa; 16 e o que estiver no campo não
volte atrás para buscar a sua capa. 17
Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! 18 Orai para que isso não suceda
no inverno. 19 Porque
aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio
do mundo, que Deus criou, até agora e nunca jamais haverá. 20 Não tivesse o Senhor
abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que
ele escolheu, abreviou tais dias. 21
Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não
acrediteis; 22 pois
surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para
enganar, se possível, os próprios eleitos.
23 Estai vós de sobreaviso; tudo vos tenho predito. 24 Mas, naqueles dias, após a
referida tribulação, o sol escurecerá, a lua não dará a sua
claridade, 25 as estrelas
cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. 26 Então, verão o Filho do Homem
vir nas nuvens, com grande poder e glória.
27 E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos
quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu. 28 Aprendei, pois, a parábola da
figueira: quando já os seus ramos se renovam, e as folhas brotam, sabeis que
está próximo o verão. 29
Assim, também vós: quando virdes acontecer estas coisas, sabei que está
próximo, às portas. 30 Em
verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. 31 Passará o céu e a terra,
porém as minhas palavras não passarão.
32 Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem
os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai.
|
20 Quando,
porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a
sua devastação. 21 Então,
os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que se encontrarem
dentro da cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem
nela. 22 Porque estes dias
são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito. 23 Ai das que estiverem grávidas
e das que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra
e ira contra este povo. 24
Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até
que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles. 25 Haverá sinais no sol, na lua
e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por
causa do bramido do mar e das ondas; 26
haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que
sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados. 27 Então, se verá o Filho do
Homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória. 28 Ora, ao começarem estas
coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se
aproxima. 29 Ainda lhes
propôs uma parábola, dizendo: Vede a figueira e todas as árvores. 30 Quando começam a brotar,
vendo-o, sabeis, por vós mesmos, que o verão está próximo. 31 Assim também, quando virdes
acontecerem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus. 32 Em verdade vos digo que
não passará esta geração, sem que tudo isto aconteça. 33 Passará o céu e a terra,
porém as minhas palavras não passarão.
34 Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda
que o vosso coração fique sobrecarregado com as consequências da orgia, da
embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha
sobre vós repentinamente, como um laço.
35 Pois há de sobrevir a todos os que vivem sobre a face de
toda a terra. 36 Vigiai,
pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas
que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do Homem.
|
Os três textos acima possuem diversos elementos judaicos que
devem ser considerados. E para que fique mais claro ainda que eles realmente
apontam para Israel, vamos recorrer ao evento que causou o longo
discurso de Jesus (Mt.24-25). Citaremos apenas o texto de Mateus 24.1-3, porque
é o mais detalhado dos três evangelhos e não possui grande distinção que
interfira em nosso propósito:
Tendo Jesus
saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos
para lhe mostrar as construções do templo.
2 Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos
digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada. 3 No monte das Oliveiras,
achava-se Jesus assentado, quando se aproximaram dele os discípulos, em
particular, e lhe pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal
haverá da tua vinda e da consumação do século. (Mt.24.1-3)
O assunto é iniciado quando Jesus e os discípulos estavam no
Templo de Jerusalém observando a beleza do prédio e receberam, inesperadamente,
o anúncio da queda daquela grandiosa construção. Interessados em saber mais
sobre o acontecimento, os discípulos pedem que Jesus lhes revele quando
aconteceria a derribada do edifício e quais sinais estariam associados ao
momento. Portanto, precisamos tomar como ponto de partida o Templo que ficava
na cidade de Jerusalém, na região da Judeia que era habitada pelo povo judeu, o
qual adorava a Deus naquele Templo.
Por essa razão, encontramos diversos elementos judaicos no
texto. Mateus e Marcos fazem referência a profecias do livro de Daniel (sem
explica-las) sobre o lugar santo onde elas seriam cumpridas. Enquanto isso, Lucas,
que escreve para gentios, oferece a interpretação do texto, de modo que não
temos razões para duvidar que o assunto esteja intimamente relacionado à queda de
Jerusalém: “Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que
está próxima a sua devastação” (Lc.21.20//Mt.24.15; Mc.13.14). Além disso, os
demais elementos do texto são referentes ao contexto judaico daqueles
dias:
1. Quem
estivesse na Judeia deveria fugir para os montes (os judeus seriam capturados)
2. Quem
estivesse no campo não deveria voltar para a cidade (a cidade seria sitiada)
3. Deveriam
orar para a fuga não acontecer no inverno (média de aproximadamente 10ºC e
chuvas)
4. Deveriam
orar para a fuga não acontecer no sábado (pela tradição, judeus não podiam
andar muito aos sábados)
Considerando que o momento gerador do discurso e as
perguntas dos discípulos eram referentes a Jerusalém, principalmente sobre a
queda do Templo, não poderíamos, realmente, esperar que a resposta fosse
diferente. Os discípulos perguntam: “- Quando e quais os sinais da queda do
Templo de Jerusalém?” Então, Jesus responde às perguntas deles: “- Quando vocês
virem a cidade sitiada (esse é o sinal), então acontecerá a queda do Templo de
Jerusalém (esse é o momento)”. Jesus não oferece uma data certa, mas aponta
para o sinal indicador do evento.
Por isso, também, um pouco mais à frente, Cristo afirma: “Em
verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça”
(Mt.24.34//Mc.13.30//Lc.21.32). Ou seja, ainda haveria pessoas daquela geração
para a qual Jesus se dirige que estariam vivas quando o Templo de Jerusalém
fosse destruído. E foi exatamente isso que aconteceu, pois em 70 d.C. o Império
Romano invadiu Jerusalém e a destruiu, incendiando e colocando abaixo os muros,
o Templo e diversas outras construções da cidade. Os judeus, então, foram capturados
e dispersos pelo mundo deixando de ter uma pátria (nação); obrigados a viver
como um povo sem terra nem governo próprios.
Até o prezado momento, parece que os textos são bastante
fáceis e se cumpriram perfeitamente na queda de Jerusalém, em 70 d.C. Contudo,
há outros elementos no texto que também devem ser observados e tornam o assunto
mais complexo. Jesus afirma que o evento da destruição do Templo (e da cidade) seria
a maior tribulação de todos os tempos. Conforme Cristo, aquela tribulação seria
tão grande que não poderia ser assemelhada a nenhuma outra que ocorreu desde o
início do mundo e que jamais ocorreria outra semelhante a ela até o final do
mundo:
Mateus 24.21-22: porque nesse tempo haverá grande
tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem
haverá jamais. Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo;
mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados
Marcos 13.19-20: Porque aqueles dias serão de
tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou,
até agora e nunca jamais haverá. Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e
ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais
dias
Lucas 21.23-24: Porque haverá grande aflição na
terra e ira contra este povo. Cairão a fio de espada e serão levados cativos
para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém
será pisada por eles.
A pergunta inicial é: Se fizermos uma pesquisa histórica
sobre as cidades destruídas e os povos maltratados no curso da história humana,
realmente chegaríamos à conclusão de que a queda de Jerusalém em 70 d.C. foi o
pior de todos os eventos, a maior de todas as tribulações sofridas por um povo?
E mesmo que reduzamos a pesquisa à história de Israel, desde os dias de sua
fundação até os dias atuais, poderíamos dizer que a queda de Jerusalém em 70
d.C. foi o pior evento da história desse povo? Após a pesquisa, é possível
chegarmos à conclusão que o evento da queda de Jerusalém não foi a maior
tribulação nem mesmo quando comparado com outros eventos de Israel (estimulamos
o leitor a realizar a pesquisa). Muitos outros eventos sofridos por outros
povos e, também, por outras gerações do próprio povo de Israel foram maiores do
que a queda de Jerusalém.
Durante a história humana, povos foram destruídos
completamente, pois a cultura das guerras na antiguidade costumava ser de
exploração e sobreposição, não de colonização. Essa é uma das razões de não
termos tantos vestígios arqueológicos e literários de diversas civilizações. Nas
listas das principais guerras e mais cruéis cercos, a queda de Jerusalém em 70
d.C. não é considerada nem como resultado da maior guerra nem do principal
cerco já ocorrido na história humana, ainda que possa ser considerado um dos
principais eventos do primeiro século da era cristã. Além disso, muitas guerras
que ocorreram entre o século II e século XXI (da era cristã) foram muito mais
mortais e marcantes do que a queda de Jerusalém.
Quando comparamos a queda de Jerusalém em 70 d.C. com outros
eventos marcantes da história de Israel, também chegamos à conclusão que os
anos em que os judeus estiveram em guerra contra o Império Romano até a derrota
completa (66 a 70 d.C.) não são superiores aos anos de sofrimento que a geração
anterior a Moisés padeceu nas mãos dos Egípcios nem a todas as tribulações a
que foram submetidos os judeus desde a destruição de Jerusalém, por parte dos
babilônicos, até a condição de província de Roma. O período interbíblico também
testemunha o sofrimento dos judeus que foram subjugados por vários reinos:
Babilônio, Medo-Persa, Greco-Mecedônio e Romano. Se olharmos para eventos
posteriores, encontraremos os judeus espalhados pelo mundo, vivendo à mercê da
disposição dos povos gentílicos que os acolhiam e que muitas vezes os
maltrataram duramente, como ocorreu no holocausto: genocídio judeu da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945 d.C.), provavelmente o pior de todos os massacres aos
judeus. Ou seja, o evento, em si, da queda de Jerusalém em 70 d.C. não pode ser
considerado o cumprimento total da profecia de Cristo, pois não se enquadra na
descrição de maior tribulação ocorrida na história humana, incluindo passado e
futuro.
Todavia, Jesus não errou em sua profecia e desejamos mostrar
isso. O problema está na forma como se olha para a tribulação que sobreveio aos
judeus. Vejamos o que aconteceu: 1. Jerusalém foi destruída; 2. O povo foi
disperso; 3. Deixaram de ter uma terra; 4. Deixaram de ter governantes; 5.
Ficaram sujeitos aos povos que os acolhiam. Portanto, não devemos olhar para a
grande tribulação como um evento curto e único, mas como algo maior. A queda de
Jerusalém é o início da grande tribulação, mas não a totalidade dela, pois os
judeus foram atribulados pelos gentios desde 70 d.C. até 14 de maio de 1948,
quando se deu a reconstrução do Estado de Israel. Ou seja, realmente podemos
considerar que 1878 anos (1948-70=1878) de tribulação é a maior tribulação
sofrida por um povo em toda a história humana, tanto em termos quantitativos
quanto qualitativos. Desse modo, encontramos perfeito cumprimento do texto
bíblico: “Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo.
Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que
os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles”
(Lc.21.23-24).
Lucas foi um discípulo de Paulo e seu texto mostra uma
perfeita concordância com Romanos 11.11-26 onde o apóstolo afirma que o
endurecimento de Israel deu início à era dos gentios e que esta era caminharia
para a plenitude. É nesse período que os judeus estariam cativos nas nações e
Jerusalém seria pisada. A história testifica que Jerusalém foi alvo dos olhos
de cristãos e muçulmanos durante séculos, sendo muitas vezes disputada por
ambos, enquanto os judeus viviam dispersos entre as nações. A era dos gentios
não se limita ao tempo da queda de Jerusalém (70 d.C.) nem pode ser reduzida
apenas ao povo romano. Os dois mil anos de história cristã (aproximadamente) é
especialmente gentílico e deve ser considerado como o tempo dos gentios que
corre para sua plenitude.
Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum!
Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em
ciúmes. 12 Ora, se a transgressão
deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza para os
gentios, quanto mais a sua plenitude! 13
Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos
gentios, glorifico o meu ministério, 14
para ver se, de algum modo, posso incitar à emulação os do meu povo e salvar
alguns deles. 15 Porque, se o
fato de terem sido eles rejeitados trouxe reconciliação ao mundo, que será o
seu restabelecimento, senão vida dentre os mortos? 16 E, se forem santas as primícias
da massa, igualmente o será a sua totalidade; se for santa a raiz, também os
ramos o serão. 25 Porque não quero, irmãos, que ignoreis este
mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento
em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. 26 E, assim, todo o Israel será
salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as
impiedades. (Rm.11.11-16,25-26)
Nesse momento, pode ser que você pergunte: “- Mas, o texto
de Mateus e Marcos nos dizem que os dias seriam abreviados
(Mt.24.22//Mc.13.20). Como entender isso?” Devemos observar o real significado
do verbo grego abreviar. O verbo que foi traduzido por “abreviar” (kolobow)
significa cortar e pode ser aplicado tanto à metragem quanto ao tempo. Ele
aparece apenas cinco vezes no texto grego da Escritura (LXX e N.T.) e uma das referências
nos ajuda a entender o sentido do verbo: “E deu Davi ordem aos seus moços que os matassem; e cortaram [kolobow]
-lhes os pés e as mãos, e os penduraram
sobre o tanque de Hebrom; tomaram, porém, a cabeça de Is-Bosete, e a sepultaram
na sepultura de Abner, em Hebrom” (2Sm.4.12). Nesse versículo, o
verbo grego traduz a palavra hebraica cortar (qatsah). O verbo pode ser
aplicado a qualquer tamanho e tempo, pois seu propósito é apontar para um corte
feito no comprimento ou no tempo, tornando algo que era maior em menor; não
necessariamente pequeno, mas menor em relação ao que seria antes de receber o
corte. Ou seja, a tribulação dos judeus poderia ter demorado mais de 1878 anos,
contudo Deus fez um corte no tempo (abreviou) para que a tribulação durasse até
14 de maio de 1948, quando deixaram de ser um povo perseguido pelas nações e
passaram a ter sua própria nação.
Jesus diz que sua vinda se daria após a grande tribulação.
Compreendendo que a grande tribulação ocorreu entre 70 d.C. e 1948 d.C.,
podemos dizer que estamos perfeitamente dentro do prazo de sua volta, ainda que
não tenhamos como afirmar quando isso acontecerá (e nem mesmo ousamos arriscar
sugestões). Nesse período (70 a 1948 d.C.) ocorre o cumprimento de boa parte
dos textos escatológicos de Apocalipse, encaixando-se perfeitamente no tempo e
no espaço com as Palavras de Cristo registradas nos evangelhos. Mas, não é
nosso propósito tratar sobre esse livro agora (cf. https://voxscripturae.blogspot.com/2016/12/uma-leitura-pos-milenista-historicista.html).
Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não
dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus
serão abalados. 30 Então,
aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se
lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e
muita glória. 31 E ele
enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os
seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus
(Mt.24.29-31)
Portanto, estamos considerando que a descrição da volta de
Jesus não é figurada nem se refere a seu juízo sobre os judeus no ano de 70
d.C. Lucas 21.26 afirma que nesse tempo (após a tribulação) “haverá homens
que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo
[oikuméne]”. O autor utiliza o termo oikuméne, usado no Novo
Testamento para se referir ao mundo em geral, nações, regiões da terra, muito
além do povo judeu e suas terras. É sobre esse tempo que Lucas afirma: “Então,
se verá o Filho do Homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória”
(Lc.21.27). Quando isso acontecer, Jesus disse que os cristãos deveriam se
alegrar, não se entristecer: “Ora, ao começarem estas coisas a suceder,
exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima”
(Lc.21.28). Caso a referência à volta e presença de Cristo fosse uma menção
figurada ao juízo de Deus sobre os judeus em 70 d.C., não haveria razão para os
cristãos se alegrarem, muito menos os cristãos judeus; e, não poderiam considerar que aquele evento fosse redentor, como Jesus afirma: “a vossa redenção está
próxima” (Lc.21.28).
Tal redenção deve ser considerada no mesmo sentido que Paulo
afirma em Romanos 8.21, a vida eterna: “na esperança de que a própria
criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos
filhos de Deus”. Afinal, como poderíamos pensar em exultação e redenção se Jesus
estivesse se referindo ao evento trágico da queda da cidade querida dos judeus?
Os
cristãos judeus amavam seu povo e de modo algum sentiriam prazer em suas
tribulações. Paulo chega a dizer que gostaria de dar sua vida por seu povo: “Digo
a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a
minha própria consciência: tenho grande tristeza e incessante dor no coração;
porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus
irmãos, meus compatriotas, segundo a carne” (Rm.9.1-3). Portanto, não é
possível encaixar o texto de Lucas dentro de uma ideia preterista, em que a
volta de Jesus e a redenção decorrente dela são compreendidas de modo figurado relacionado ao juízo divino sobre os judeus. Seguindo esse mesmo caminho
interpretativo, compreendemos que o final do
discurso em Mateus 25.31-46 se refere à volta de Cristo no último dia:
Quando vier o
Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará
no trono da sua glória; 32 e
todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros,
como o pastor separa dos cabritos as ovelhas;
33 e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à
esquerda; 34 então, dirá o
Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na
posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo […] 46 E irão estes para o castigo
eterno, porém os justos, para a vida eterna (Mt.25.31-34,46)
Não sabemos quando Jesus voltará, mas, por meio da leitura
dos textos bíblicos, parece-nos que somos conduzidos a dias vindouros não tão
distantes. Sabemos, contudo, que a grande tribulação mencionada por Cristo é uma
referência ao sofrimento dos judeus ao longo de 1878 anos e já aconteceu. Jesus,
então, deve estar às portas. O que fazer diante disso? Jesus disse para estarmos sempre prontos
(Lc.21.29-36), vivendo uma vida santa e agradável a Deus por meio do enchimento
do Espírito Santo (Jo.15). Todo o Novo Testamento nos conduz para essa nova
vida em Cristo, a fim de que o cristão glorifique a Deus com sua vida e se
alegre em ver o operar do Senhor em seu coração. Desse modo, o cristão estará
sempre pronto e jamais terá receio da volta de Jesus, antes manterá seu anseio
pelo retorno do amado, por meio do qual a igreja consegue se alegrar em dias
maus, sabendo que sua recompensa é certa e maravilhosa:
Vi novo céu e
nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não
existe. 2 Vi também a cidade
santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como
noiva adornada para o seu esposo. 3
Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com
os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo
estará com eles. 4 E lhes
enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto,
nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. 5 E aquele que está assentado no
trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque
estas palavras são fiéis e verdadeiras. 6
Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim.
Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. 7 O vencedor herdará estas coisas,
e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. (Ap.21.1-7)
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