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terça-feira, 21 de abril de 2020

A grande tribulação e a volta de Jesus

porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais” (Mt.24.21)

A expectativa da volta de Jesus é algo muito importante para o cristianismo. Contudo, nem todos os textos do Novo Testamento são igualmente claros principalmente quando se trata da doutrina das últimas coisas (escatologia). Os Evangelhos sinóticos nos revelam uma importante fala escatológica de Cristo (Mt.24-25; Mc.13; Lc.21) entendida de formas diferentes pelos estudiosos. Essas perícopes estão envoltas de muitos debates e diversas interpretações. Desejamos oferecer uma leitura historicista desses textos, apontando para alguns elementos que parecem-nos aproximar a queda de Jerusalém de nossos dias; e o fim da era judaica, da volta de Cristo. Transcrevemos, abaixo (em forma de tabela para facilitar a análise comparativa), os trechos dos sinóticos que desejamos analisar:

Mateus 24.15-36
Marcos 13.14-32
Lucas 21.20-36
15 Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda),  16 então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes;  17 quem estiver sobre o eirado não desça a tirar de casa alguma coisa;  18 e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa.  19 Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias!  20 Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado;  21 porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais.  22 Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados.  23 Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis;  24 porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.  25 Vede que vo-lo tenho predito.  26 Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto!, não saiais. Ou: Ei-lo no interior da casa!, não acrediteis.  27 Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem.  28 Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres.  29 Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados.  30 Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória.  31 E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus.  32 Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão.  33 Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas.  34 Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.  35 Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.  36 Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai.
14 Quando, pois, virdes o abominável da desolação situado onde não deve estar (quem lê entenda), então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes;  15 quem estiver em cima, no eirado, não desça nem entre para tirar da sua casa alguma coisa;  16 e o que estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa.  17 Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias!  18 Orai para que isso não suceda no inverno.  19 Porque aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou, até agora e nunca jamais haverá.  20 Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias.  21 Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis;  22 pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos.  23 Estai vós de sobreaviso; tudo vos tenho predito.  24 Mas, naqueles dias, após a referida tribulação, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade,  25 as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados.  26 Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória.  27 E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu.  28 Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam, e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão.  29 Assim, também vós: quando virdes acontecer estas coisas, sabei que está próximo, às portas.  30 Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.  31 Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.  32 Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai.
20 Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação.  21 Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem nela.  22 Porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito.  23 Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo.  24 Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles.  25 Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas;  26 haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados.  27 Então, se verá o Filho do Homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória.  28 Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima.  29 Ainda lhes propôs uma parábola, dizendo: Vede a figueira e todas as árvores.  30 Quando começam a brotar, vendo-o, sabeis, por vós mesmos, que o verão está próximo.  31 Assim também, quando virdes acontecerem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus.  32 Em verdade vos digo que não passará esta geração, sem que tudo isto aconteça.  33 Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.  34 Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as consequências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço.  35 Pois há de sobrevir a todos os que vivem sobre a face de toda a terra.  36 Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do Homem.




Os três textos acima possuem diversos elementos judaicos que devem ser considerados. E para que fique mais claro ainda que eles realmente apontam para Israel, vamos recorrer ao evento que causou o longo discurso de Jesus (Mt.24-25). Citaremos apenas o texto de Mateus 24.1-3, porque é o mais detalhado dos três evangelhos e não possui grande distinção que interfira em nosso propósito:

Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar as construções do templo.  2 Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.  3 No monte das Oliveiras, achava-se Jesus assentado, quando se aproximaram dele os discípulos, em particular, e lhe pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século. (Mt.24.1-3)

O assunto é iniciado quando Jesus e os discípulos estavam no Templo de Jerusalém observando a beleza do prédio e receberam, inesperadamente, o anúncio da queda daquela grandiosa construção. Interessados em saber mais sobre o acontecimento, os discípulos pedem que Jesus lhes revele quando aconteceria a derribada do edifício e quais sinais estariam associados ao momento. Portanto, precisamos tomar como ponto de partida o Templo que ficava na cidade de Jerusalém, na região da Judeia que era habitada pelo povo judeu, o qual adorava a Deus naquele Templo.

Por essa razão, encontramos diversos elementos judaicos no texto. Mateus e Marcos fazem referência a profecias do livro de Daniel (sem explica-las) sobre o lugar santo onde elas seriam cumpridas. Enquanto isso, Lucas, que escreve para gentios, oferece a interpretação do texto, de modo que não temos razões para duvidar que o assunto esteja intimamente relacionado à queda de Jerusalém: “Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação” (Lc.21.20//Mt.24.15; Mc.13.14). Além disso, os demais elementos do texto são referentes ao contexto judaico daqueles dias:

1.      Quem estivesse na Judeia deveria fugir para os montes (os judeus seriam capturados)
2.      Quem estivesse no campo não deveria voltar para a cidade (a cidade seria sitiada)
3.      Deveriam orar para a fuga não acontecer no inverno (média de aproximadamente 10ºC e chuvas)
4.      Deveriam orar para a fuga não acontecer no sábado (pela tradição, judeus não podiam andar muito aos sábados)

Considerando que o momento gerador do discurso e as perguntas dos discípulos eram referentes a Jerusalém, principalmente sobre a queda do Templo, não poderíamos, realmente, esperar que a resposta fosse diferente. Os discípulos perguntam: “- Quando e quais os sinais da queda do Templo de Jerusalém?” Então, Jesus responde às perguntas deles: “- Quando vocês virem a cidade sitiada (esse é o sinal), então acontecerá a queda do Templo de Jerusalém (esse é o momento)”. Jesus não oferece uma data certa, mas aponta para o sinal indicador do evento.

Por isso, também, um pouco mais à frente, Cristo afirma: “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça” (Mt.24.34//Mc.13.30//Lc.21.32). Ou seja, ainda haveria pessoas daquela geração para a qual Jesus se dirige que estariam vivas quando o Templo de Jerusalém fosse destruído. E foi exatamente isso que aconteceu, pois em 70 d.C. o Império Romano invadiu Jerusalém e a destruiu, incendiando e colocando abaixo os muros, o Templo e diversas outras construções da cidade. Os judeus, então, foram capturados e dispersos pelo mundo deixando de ter uma pátria (nação); obrigados a viver como um povo sem terra nem governo próprios.

Até o prezado momento, parece que os textos são bastante fáceis e se cumpriram perfeitamente na queda de Jerusalém, em 70 d.C. Contudo, há outros elementos no texto que também devem ser observados e tornam o assunto mais complexo. Jesus afirma que o evento da destruição do Templo (e da cidade) seria a maior tribulação de todos os tempos. Conforme Cristo, aquela tribulação seria tão grande que não poderia ser assemelhada a nenhuma outra que ocorreu desde o início do mundo e que jamais ocorreria outra semelhante a ela até o final do mundo:

Mateus 24.21-22: porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais. Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados
Marcos 13.19-20: Porque aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou, até agora e nunca jamais haverá. Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias
Lucas 21.23-24: Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles.

A pergunta inicial é: Se fizermos uma pesquisa histórica sobre as cidades destruídas e os povos maltratados no curso da história humana, realmente chegaríamos à conclusão de que a queda de Jerusalém em 70 d.C. foi o pior de todos os eventos, a maior de todas as tribulações sofridas por um povo? E mesmo que reduzamos a pesquisa à história de Israel, desde os dias de sua fundação até os dias atuais, poderíamos dizer que a queda de Jerusalém em 70 d.C. foi o pior evento da história desse povo? Após a pesquisa, é possível chegarmos à conclusão que o evento da queda de Jerusalém não foi a maior tribulação nem mesmo quando comparado com outros eventos de Israel (estimulamos o leitor a realizar a pesquisa). Muitos outros eventos sofridos por outros povos e, também, por outras gerações do próprio povo de Israel foram maiores do que a queda de Jerusalém.

Durante a história humana, povos foram destruídos completamente, pois a cultura das guerras na antiguidade costumava ser de exploração e sobreposição, não de colonização. Essa é uma das razões de não termos tantos vestígios arqueológicos e literários de diversas civilizações. Nas listas das principais guerras e mais cruéis cercos, a queda de Jerusalém em 70 d.C. não é considerada nem como resultado da maior guerra nem do principal cerco já ocorrido na história humana, ainda que possa ser considerado um dos principais eventos do primeiro século da era cristã. Além disso, muitas guerras que ocorreram entre o século II e século XXI (da era cristã) foram muito mais mortais e marcantes do que a queda de Jerusalém.

Quando comparamos a queda de Jerusalém em 70 d.C. com outros eventos marcantes da história de Israel, também chegamos à conclusão que os anos em que os judeus estiveram em guerra contra o Império Romano até a derrota completa (66 a 70 d.C.) não são superiores aos anos de sofrimento que a geração anterior a Moisés padeceu nas mãos dos Egípcios nem a todas as tribulações a que foram submetidos os judeus desde a destruição de Jerusalém, por parte dos babilônicos, até a condição de província de Roma. O período interbíblico também testemunha o sofrimento dos judeus que foram subjugados por vários reinos: Babilônio, Medo-Persa, Greco-Mecedônio e Romano. Se olharmos para eventos posteriores, encontraremos os judeus espalhados pelo mundo, vivendo à mercê da disposição dos povos gentílicos que os acolhiam e que muitas vezes os maltrataram duramente, como ocorreu no holocausto: genocídio judeu da Segunda Guerra Mundial (1939-1945 d.C.), provavelmente o pior de todos os massacres aos judeus. Ou seja, o evento, em si, da queda de Jerusalém em 70 d.C. não pode ser considerado o cumprimento total da profecia de Cristo, pois não se enquadra na descrição de maior tribulação ocorrida na história humana, incluindo passado e futuro.

Todavia, Jesus não errou em sua profecia e desejamos mostrar isso. O problema está na forma como se olha para a tribulação que sobreveio aos judeus. Vejamos o que aconteceu: 1. Jerusalém foi destruída; 2. O povo foi disperso; 3. Deixaram de ter uma terra; 4. Deixaram de ter governantes; 5. Ficaram sujeitos aos povos que os acolhiam. Portanto, não devemos olhar para a grande tribulação como um evento curto e único, mas como algo maior. A queda de Jerusalém é o início da grande tribulação, mas não a totalidade dela, pois os judeus foram atribulados pelos gentios desde 70 d.C. até 14 de maio de 1948, quando se deu a reconstrução do Estado de Israel. Ou seja, realmente podemos considerar que 1878 anos (1948-70=1878) de tribulação é a maior tribulação sofrida por um povo em toda a história humana, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Desse modo, encontramos perfeito cumprimento do texto bíblico: “Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles” (Lc.21.23-24).

Lucas foi um discípulo de Paulo e seu texto mostra uma perfeita concordância com Romanos 11.11-26 onde o apóstolo afirma que o endurecimento de Israel deu início à era dos gentios e que esta era caminharia para a plenitude. É nesse período que os judeus estariam cativos nas nações e Jerusalém seria pisada. A história testifica que Jerusalém foi alvo dos olhos de cristãos e muçulmanos durante séculos, sendo muitas vezes disputada por ambos, enquanto os judeus viviam dispersos entre as nações. A era dos gentios não se limita ao tempo da queda de Jerusalém (70 d.C.) nem pode ser reduzida apenas ao povo romano. Os dois mil anos de história cristã (aproximadamente) é especialmente gentílico e deve ser considerado como o tempo dos gentios que corre para sua plenitude.

Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes.  12 Ora, se a transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude!  13 Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério,  14 para ver se, de algum modo, posso incitar à emulação os do meu povo e salvar alguns deles.  15 Porque, se o fato de terem sido eles rejeitados trouxe reconciliação ao mundo, que será o seu restabelecimento, senão vida dentre os mortos?  16 E, se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua totalidade; se for santa a raiz, também os ramos o serão. 25 Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios.  26 E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. (Rm.11.11-16,25-26)

Nesse momento, pode ser que você pergunte: “- Mas, o texto de Mateus e Marcos nos dizem que os dias seriam abreviados (Mt.24.22//Mc.13.20). Como entender isso?” Devemos observar o real significado do verbo grego abreviar. O verbo que foi traduzido por “abreviar” (kolobow) significa cortar e pode ser aplicado tanto à metragem quanto ao tempo. Ele aparece apenas cinco vezes no texto grego da Escritura (LXX e N.T.) e uma das referências nos ajuda a entender o sentido do verbo: “E deu Davi ordem aos seus moços que os matassem; e cortaram [kolobow] -lhes os pés e as mãos, e os penduraram sobre o tanque de Hebrom; tomaram, porém, a cabeça de Is-Bosete, e a sepultaram na sepultura de Abner, em Hebrom” (2Sm.4.12). Nesse versículo, o verbo grego traduz a palavra hebraica cortar (qatsah). O verbo pode ser aplicado a qualquer tamanho e tempo, pois seu propósito é apontar para um corte feito no comprimento ou no tempo, tornando algo que era maior em menor; não necessariamente pequeno, mas menor em relação ao que seria antes de receber o corte. Ou seja, a tribulação dos judeus poderia ter demorado mais de 1878 anos, contudo Deus fez um corte no tempo (abreviou) para que a tribulação durasse até 14 de maio de 1948, quando deixaram de ser um povo perseguido pelas nações e passaram a ter sua própria nação.

Jesus diz que sua vinda se daria após a grande tribulação. Compreendendo que a grande tribulação ocorreu entre 70 d.C. e 1948 d.C., podemos dizer que estamos perfeitamente dentro do prazo de sua volta, ainda que não tenhamos como afirmar quando isso acontecerá (e nem mesmo ousamos arriscar sugestões). Nesse período (70 a 1948 d.C.) ocorre o cumprimento de boa parte dos textos escatológicos de Apocalipse, encaixando-se perfeitamente no tempo e no espaço com as Palavras de Cristo registradas nos evangelhos. Mas, não é nosso propósito tratar sobre esse livro agora (cf. https://voxscripturae.blogspot.com/2016/12/uma-leitura-pos-milenista-historicista.html).

Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados.  30 Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória.  31 E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus (Mt.24.29-31)

Portanto, estamos considerando que a descrição da volta de Jesus não é figurada nem se refere a seu juízo sobre os judeus no ano de 70 d.C. Lucas 21.26 afirma que nesse tempo (após a tribulação) “haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo [oikuméne]”. O autor utiliza o termo oikuméne, usado no Novo Testamento para se referir ao mundo em geral, nações, regiões da terra, muito além do povo judeu e suas terras. É sobre esse tempo que Lucas afirma: “Então, se verá o Filho do Homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória” (Lc.21.27). Quando isso acontecer, Jesus disse que os cristãos deveriam se alegrar, não se entristecer: “Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima” (Lc.21.28). Caso a referência à volta e presença de Cristo fosse uma menção figurada ao juízo de Deus sobre os judeus em 70 d.C., não haveria razão para os cristãos se alegrarem, muito menos os cristãos judeus; e, não poderiam considerar que aquele evento fosse redentor, como Jesus afirma: “a vossa redenção está próxima” (Lc.21.28).

Tal redenção deve ser considerada no mesmo sentido que Paulo afirma em Romanos 8.21, a vida eterna: “na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus”. Afinal, como poderíamos pensar em exultação e redenção se Jesus estivesse se referindo ao evento trágico da queda da cidade querida dos judeus? Os cristãos judeus amavam seu povo e de modo algum sentiriam prazer em suas tribulações. Paulo chega a dizer que gostaria de dar sua vida por seu povo: “Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne” (Rm.9.1-3). Portanto, não é possível encaixar o texto de Lucas dentro de uma ideia preterista, em que a volta de Jesus e a redenção decorrente dela são compreendidas de modo figurado relacionado ao juízo divino sobre os judeus. Seguindo esse mesmo caminho interpretativo, compreendemos que o final do discurso em Mateus 25.31-46 se refere à volta de Cristo no último dia:

Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória;  32 e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas;  33 e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda;  34 então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo […]  46 E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna (Mt.25.31-34,46)

Não sabemos quando Jesus voltará, mas, por meio da leitura dos textos bíblicos, parece-nos que somos conduzidos a dias vindouros não tão distantes. Sabemos, contudo, que a grande tribulação mencionada por Cristo é uma referência ao sofrimento dos judeus ao longo de 1878 anos e já aconteceu. Jesus, então, deve estar às portas. O que fazer diante disso? Jesus disse para estarmos sempre prontos (Lc.21.29-36), vivendo uma vida santa e agradável a Deus por meio do enchimento do Espírito Santo (Jo.15). Todo o Novo Testamento nos conduz para essa nova vida em Cristo, a fim de que o cristão glorifique a Deus com sua vida e se alegre em ver o operar do Senhor em seu coração. Desse modo, o cristão estará sempre pronto e jamais terá receio da volta de Jesus, antes manterá seu anseio pelo retorno do amado, por meio do qual a igreja consegue se alegrar em dias maus, sabendo que sua recompensa é certa e maravilhosa:

Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.  2 Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo.  3 Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles.  4 E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.  5 E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.  6 Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida.  7 O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. (Ap.21.1-7)

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