“Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos
com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei,
nunca jamais te abandonarei” (Hb.13.5)
Consideramos importante mostrar que a igualdade, em sentido
político, nunca foi um ideal da política divina. Ou seja, não faz parte do
propósito de Deus que suas criaturas sejam politicamente iguais, mas que tenham
igual regozijo em Deus, mesmo diante da desigualdade: “O rico e o pobre se encontram; a um e a outro faz o SENHOR.”
(Pv.22.2). Podemos observar isso nas diversas ordens de anjos, na distribuição
de competências e bens dados aos homens e, até mesmo, nas diferenças entre os
demais seres vivos, administrados “politicamente”.
A Escritura revela uma ordem angelical, plenamente feliz em
Deus, em que os anjos possuem tanto funções variadas quanto status diferentes.
Miguel é chamado de “grande príncipe” e “arcanjo”, aparecendo em Apocalipse
como líder do exército angelical na luta contra o dragão. Aparecem, ainda, mais
duas outras classes: Querubim e Serafim.
Arcanjo:
Daniel
12:1 Nesse tempo, se
levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e
haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele
tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado
inscrito no livro
1
Tessalonicenses 4:16 Porquanto o
Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada
a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão
primeiro
Judas
1:9 Contudo, o arcanjo
Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés,
não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse:
O Senhor te repreenda!
Apocalipse
12:7 Houve peleja no
céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o
dragão e seus anjos
Querubim
Êxodo
37:8 Um querubim, na
extremidade de uma parte, e o outro, na extremidade da outra parte; de uma só
peça com o propiciatório fez os querubins nas duas extremidades dele
Ezequiel
28:14 Tu eras querubim
da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no
brilho das pedras andavas
Serafim
Isaías
6:2 Serafins estavam
por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas
cobria os seus pés e com duas voava
Encontramos, ainda, o anjo Gabriel que aparece como
mensageiro da Revelação divina. Seu nome aparece apenas duas vezes no Antigo
Testamento, no livro de Daniel (Dn.8.16; 9.21) e duas vezes no Novo Testamento,
no livro de Lucas (Lc.1.19,26). Parece ser o principal anjo mensageiro de Deus,
responsável por anunciar o nascimento do maior profeta: João Batista (Lc.1.19),
e do Filho de Deus, Jesus, (Lc.1.26), além de explicar a visão que Daniel
recebeu do Senhor, a respeito dos dias de Cristo (Dn.8.16; 9.21).
Portanto, mesmo entre os seres celestiais há diferenças em
que uns se destacam mais que outros, porque recebem status diferentes da parte
de Deus. Caso fossem seres humanos pecadores, essas diferenças seriam a causa
de muitos problemas sociais, pois o coração pecador despertaria para a inveja e
a cobiça, como ocorreu com Caim que invejou seu irmão e o matou: “Caim, que era do Maligno e assassinou a seu
irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu
irmão, justas” (1Jo.3.12). Todavia, a plena satisfação em Deus basta para
os seres celestiais,
Diferenças provenientes de Deus também são encontradas entre
os homens. Os súditos do Reino de Deus não são iguais em competências recebidas:
“Ora, os dons são diversos, mas o
Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o
mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em
todos” (1Co.12.4-6//Ex.35.30-35), nem recebem iguais porções de bens: “O SENHOR empobrece e enriquece; abaixa e
também exalta” (1Sm.2.7). Todavia, todos devem viver plenamente satisfeitos
com o que tem, conforme disse Paulo: “tendo
sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Tm.6.8). Por toda a
Escritura, Deus concede dons para algumas pessoas em detrimento de outras: “Falarás também a todos os homens hábeis a
quem enchi do espírito de sabedoria, que façam vestes para Arão para
consagrá-lo, para que me ministre o ofício sacerdotal” (Ex.28.3) e, ainda,
distribui status e bens em medidas diferentes para os homens:
Gênesis 37:5-8 Teve José um sonho e o relatou a seus irmãos;
por isso, o odiaram ainda mais. 6
Pois lhes disse: Rogo-vos, ouvi este sonho que tive: 7 Atávamos feixes no campo, e eis
que o meu feixe se levantou e ficou em pé; e os vossos feixes o rodeavam e se
inclinavam perante o meu. 8
Então, lhe disseram seus irmãos: Reinarás, com efeito, sobre nós? E sobre nós
dominarás realmente? E com isso tanto mais o odiavam, por causa dos seus sonhos
e de suas palavras.
Dessa forma, as diferenças entre os homens procedem do
próprio Criador que dá medidas diferentes às pessoas e lhes exige igual
contentamento, pois Deus deve bastar-lhes (1Ts.5.18; 2Co.12.9). Essas medidas
distintas não tornam os homens diferentes, pois todos os seres humanos possuem
a mesma origem (Adão e Eva), imagem (divina) e essência (corpo e alma). Além
disso, todas as pessoas têm a mesma fonte de felicidade (Deus), mesma razão de
existir (Criador), mesmo propósito de vida (glorificar o Senhor) e mesma
esperança disponibilizada em Cristo Jesus (vida eterna). Ou seja, a
desigualdade social não justifica uma desigual felicidade nem os demais pecados
do homem: inveja, cobiça, tirania, maldade, intrigas, furtos, assassinatos,
avareza etc. Antes, a igual fonte e propósito de todas as coisas: Deus, é
suficiente para que todos os homens tenham igual satisfação quer pobres quer
ricos, pois, diz o salmista, “na tua
presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente”
(Sl.16.11).
No decurso da história redentora, o Senhor escolheu alguns
em detrimento de muitos outros para realizarem obras especiais, destacando-os
dentre os demais:
Abraão
Gênesis
18:19 Porque eu o
escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que
guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR
faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito
Eli
1
Samuel 2:28 Eu o escolhi dentre
todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu altar,
para queimar o incenso e para trazer a estola sacerdotal perante mim; e dei à
casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel
Davi
1
Samuel 16:1 Disse o SENHOR a
Samuel: Até quando terás pena de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não
reine sobre Israel? Enche um chifre de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o
belemita; porque, dentre os seus filhos, me provi de um rei
Ciro
Isaías
45:1 Assim diz o SENHOR
ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante
a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as
portas, que não se fecharão
Os apóstolos
Mateus
19:28 Jesus lhes
respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na
regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos
assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel
Parábola dos talentos
Mateus
25:14-15 Pois será como um
homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus
bens. 15 A um deu cinco
talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo a sua própria
capacidade; e, então, partiu
Portanto, mesmo que todas as pessoas sejam iguais em
essência diante de Deus (1Co.11.11-12), Deus não concede igualdade social para
todas as pessoas. Todos têm, diante de Deus e dos homens, igual direito à
justiça, ao sustento, a fazer o que é certo, mas não recebem as mesmas dádivas
do Senhor. Isso não torna algumas pessoas melhores do que outras, apenas lhes
concede vidas sociais diferentes, o que não lhes impede de ter a mesma
felicidade, pois esta felicidade provém do Senhor “o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos”
(Ef.4.6); “abundante em benignidade para
com todos os que te invocam” (Sl.86.5), como disse Davi: “Mais alegria me puseste no coração do que a
alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho” (Sl.4.7).
Diante de todas as diferenças, Deus ordena ao homem que não
cobice aquilo que foi dado ao outro (Ex.20.17) nem reclame daquilo que recebeu
do Senhor (Jo.6.43; 1Co.10.10). Um grande propósito em tudo isso é apontar para
o contentamento em Deus. Ou seja, o homem deve ser feliz no Criador, de modo
que conhecer a Deus e pertencer a Ele lhe seja suficiente, conforme disse Davi:
“a tua graça é melhor do que a vida”
(Sl.63.3). Cristo apontou para esse propósito divino quando advertiu seus
discípulos sobre a razão da alegria deles, após tê-los enviado a pregarem a
Palavra de Deus nas cidades:
Lucas
10:17-20 Então, regressaram
os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos
submetem pelo teu nome! 18
Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. 19 Eis aí vos dei autoridade para
pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada,
absolutamente, vos causará dano. 20
Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim
porque o vosso nome está arrolado nos céus.
A alegria do homem não deve ser depositada em ter ou não ter
algo, mas no Senhor. Sendo assim, tanto ter quanto não ter são testes
importantes que visam identificar aqueles que realmente amam a Deus de todo o
coração. Aqueles que têm muito não devem fazer de suas posses a fonte de sua
alegria nem aqueles que têm pouco devem cobiçar, como se ter algo fosse a razão
da felicidade do homem. A desigualdade, então, cumpre importante papel na
identificação daqueles que realmente se satisfazem em Deus, pois a plena
satisfação no Senhor, Criador de tudo, basta para que todos os homens sejam
plenamente felizes.
A tentativa de impor igualdade social sempre será frustrada,
porque o problema do homem não se encontra naquilo que ele tem, mas em seu
coração pecador. Sempre haverá algo a mais no outro que se torne motivo para a
cobiça do coração, como diz o ditado popular: “a grama do vizinho é sempre mais
verde”. Mesmo que todos tivessem iguais pertences, o homem cobiçaria a mulher
do outro ou os dons diferentes do próximo ou a aparência mais agradável do colega
ou o temperamento mais interessante naqueles que se destacam etc. Portanto,
sempre haverá desigualdade entre os homens, e caso não haja contentamento em
seu coração, a realidade jamais bastará, porque a insatisfação encontra-se no
coração do pecador.
Todavia, o contentamento é solução para os problemas
sociais. Por meio do contentamento, o homem tanto se satisfaz com o que tem,
muito ou pouco, quanto se dispõe a ajudar aquele que realmente nada tem, já que
se satisfaz com pouco. O contentamento vence a cobiça do coração e conduz o
homem a dar graças ao Senhor por tudo, quer pouco quer muito. O contentamento é
aplicável a todas as circunstâncias e aproxima os homens entre si. Por meio do
contentamento, uma nação pode combater o problema do alto índice de divórcios,
pois os cônjuges estarão contentes com o próprio casamento e procurarão
preservá-lo com cuidados necessários, em vez de substituí-lo como fruto de um
descontentamento. Assim, o contentamento se mostra superior à igualdade social,
solução divina para que a sociedade viva bem, em plena harmonia, mesmo que a
uns tenha sido dado muito e para outros Deus tenha confiado pouco
(Mt.25.14-30).
(Texto selecionado do artigo intitulado: O Estado conforme a
Escritura. Disponível em http://voxscripturae.blogspot.com/2018/06/o-estado-conforme-escritura.html)
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