“Até quando, SENHOR? Esquecer-te-ás de mim
para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto?” (Sl.13.1)
Dificilmente, conseguiremos comparar o sofrimento dos
salmistas com os problemas que passamos em nossos dias, afinal, em diversos dos
salmos de clamor, o autor está sendo perseguido por seus inimigos que
procuravam matá-lo. Os clamores tinham fundamentos bem sólidos, pois a
perseguição dos adversários era real e cair diante do inimigo significava
morte, como disse Davi: “ilumina-me os
olhos, para que eu não durma o sono da morte” (Sl.13.3).
Às vezes, essas situações perduravam por longos tempos sem
que Deus lhe apresentasse qualquer resposta. Então, o coração do salmista se
angustiava, vendo-se em aperto sem qualquer solução. Todavia, mesmo em aflição,
Davi não deixa de buscar auxílio no Senhor nem de esperar de Deus a salvação. Quem
poderia socorrê-lo na perseguição? Quem poderia livrá-lo das mãos dos inimigos?
Davi bem sabia que o Senhor era seu escudo (Sl.3.3) e que o silêncio não
representava ausência divina, por isso disse: “no tocante a mim, confio na tua graça” (Sl.13.5).
Por isso, mesmo cercado de tribulações, ameaçado de morte,
Davi retira de seu coração palavras de confiança, gratidão e alegria
(Sl.13.5-6). A certeza de que Deus estava com ele para o guardar até mesmo no
vale mais profundo (Sl.23.4) alegrava seu semblante triste e tranquilizava o
coração inquieto. Portanto, mesmo quando parecia que o Senhor havia se
esquecido dele, que o Senhor não ouvia suas orações (Sl.13.1-2), Davi não
desiste de continuar clamando (Sl.13.3-4) nem murmura contra Deus.
A Escritura diz que “muitas
são as aflições do justo” (Sl.34.19) e, mesmo que sejam diferentes do que
Davi estava passando, várias delas perturbam o coração. Em diversos problemas
que enfrentamos na vida, parece que o Senhor não está nos vendo nem ouvindo nem
disposto a nos ajudar. O silêncio incomoda a alma que precisa de auxílio. Mas,
é exatamente nesses momentos da vida que devemos demonstrar confiança, gratidão
e alegria, à semelhança de Davi.
No deserto, Israel se deparou com problemas ao longo da
caminhada, após terem visto todas as maravilhas que Deus operara no Egito
(Ex.3-14). E diante das necessidades, o povo murmurava contra o Senhor
(Ex.15.24; 16.2; 17.3; Nm.16.41); tentou a Deus pondo-o à prova (Ex.17.7;
Hb.3.9); e, falaram contra o Senhor diversas vezes, resistindo à vontade de
Deus (Nm.16.1-35; .Sl.106.16). Por causa da constante agitação maldosa do
coração daquele povo, os filhos de Israel não percebiam a grandeza do que Deus
havia feito para libertá-los (Ex.15), o que o Senhor estava fazendo no deserto
para sustentá-los com tudo o que era necessário (Dt.8.3-4) e o que Deus haveria
de fazer dando-lhes a terra prometida (Dt.27.3). E, tamanho foi o pecado do
povo que Deus lhes negou entrar na terra do descanso (Nm.14.26-35; Sl.95.11).
Não é isso o que Deus espera de seus filhos, por isso o
Senhor pôs aquela geração por exemplo, a fim de que a igreja não cometesse os
mesmos erros (1Co.10.1-13). Tiago nos diz que “bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação;
porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor
prometeu aos que o amam” (Tg.1.12) e Paulo afirma que a “tribulação produz perseverança; e a
perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Rm.5.3-4). Ou seja,
Davi foi aprovado por Deus, porque se manteve firme nas promessas divinas
diante das lutas que precisou enfrentar, e solidificou sua esperança na
salvação do Senhor ao perseverar nas tribulações, com confiança, gratidão e
alegria.
Como você tem reagido diante dos problemas da vida?
Murmuração? Exigências de Deus? Esfriamento espiritual? Rebeldia contra a
igreja, os líderes, o próprio Deus? Como você lida com a aparente inércia do
Senhor que se mantem em silêncio mesmo quando você clama por socorro? Você tem
perseverado em oração? Você se mantém firme na adoração? Você tem agradecido a
Deus por tudo o que Ele já fez em sua vida? Ou você só tem olhado para o
problema, como quem está preocupado apenas em sair dele? Ou seja, você tem
reagido aos problemas como aquela geração perversa de Israel ou tem glorificado
a Deus com confiança, gratidão e alegria, como Davi?
Cristo glorificou o Pai mesmo diante da mais difícil
angustia que alguém poderia passar: sofrer toda a ira do Deus Todo-Poderoso
(Is.53; Mt.26.36-45; Hb.2.18; 5.8; 13.12), a fim de satisfazer a justiça do
Senhor (Rm.3.26; 5.1; Gl.3.13; 1Pe.1.18-19). Na oração sacerdotal, Cristo
mostrou sua confiança, gratidão e alegria exaltando o Pai por tudo o que havia
planejado acerca da redenção e, também, por tudo o que haveria de ser feito
para consumá-la: a crucificação e ressurreição (Jo.17). Quando estava no
Getsêmani com os discípulos, sabendo o que estava para acontecer, Jesus mostrou
sua confiança, gratidão e alegria entregando, prontamente, a vida ao Pai para
que a vontade de Deus fosse feita: “Meu
Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e
sim como tu queres” (Mt.26.39).
Mesmo indo para a cruz, Cristo confiou plenamente na vontade
do Pai. Não deveriam, aqueles que creem, confiar no Senhor quando cercados por
tribulações? A vontade de Deus é sempre “boa,
agradável e perfeita” (Rm.12.2) e sua presença na vida daqueles que o amam
é real e ativa (Sl.145.18-19). O que se conclui? Se Deus não poupou nem mesmo
seu Filho amado (Rm.8.32) para nos livrar do maior problema que tínhamos: a
justa condenação, como nos abandonaria diante das lutas enfrentadas nesse mundo
que “jaz no maligno” (1Jo.5.19)?
Portanto, acalme seu coração aflito lembrando-se da real presença do Senhor;
aquiete sua alma angustiada memorando tudo o que Deus fez para nos salvar. Então,
persevere em oração, confiando certo de que Deus está ouvindo; agradecendo,
porque Ele nunca nos desampara; e alegrando-se, porque há esperança para
aqueles que estão em Cristo Jesus.
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