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segunda-feira, 23 de julho de 2018

Família, núcleo base da sociedade

Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (Dt.6.6-7)

Mais devastador que um bombardeio contra um povo é o ataque sorrateiro à família, alicerce de qualquer nação. Enquanto houverem famílias fortes, qualquer raça será capaz de se reestruturar, mesmo após as mais terríveis assolações. Todavia, uma nação formada por famílias desestruturadas está fadada à ruina moral e consequentemente ao desastre cultural, político e econômico. Por essa razão, desde o jardim do Éden, Satanás ataca a família, destruindo, assim, as bases da sociedade. E todas as vezes em que foi bem-sucedido, a Escritura nos revela a corrupção de todo um povo (Gn.6).

Portanto, um Estado forte é constituído por famílias fortes. Ou seja, não é o Estado que deve ser grande e poderoso, mas as famílias que devem ser saudáveis e inabaláveis. O Estado de Israel era pequeno e relativamente simples, mas enquanto as famílias estivessem bem estruturadas, a nação desfrutaria de bem-estar social. Ou seja, um importante fator determinante para a pequena dimensão do Estado de Israel era a centralidade da família. Enquanto o Estado supervisionava o cumprimento da Lei do Senhor, as famílias eram responsáveis pela manutenção diária da vida social. Essa responsabilidade pode ser vista nas palavras de Paulo que aplica à igreja o cuidado para com o próximo:

1 Timóteo 5:4,8-9  Mas, se alguma viúva tem filhos ou netos, que estes aprendam primeiro a exercer piedade para com a própria casa e a recompensar a seus progenitores; pois isto é aceitável diante de Deus.
8 Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente.  9 Não seja inscrita senão viúva que conte ao menos sessenta anos de idade, tenha sido esposa de um só marido.

Conforme Paulo, o sustento dos idosos é uma responsabilidade dos filhos ou parentes próximos. Esse procedimento é educativo e justo, pois tanto exige a prática do amor quanto a obrigação de honrar aqueles que haviam sustentado a família por muitos anos, quando os filhos eram ainda jovens. Caso alguém não tivesse filhos vivos, então a responsabilidade cairia sobre os parentes mais próximos que deveriam mostrar semelhante amor para com os familiares (Dt.5.16; 27.16). E, em casos extremos, os cidadãos deveriam mostrar compaixão para com os necessitados acolhendo-os, assim como Deus acolheu seu povo livrando-o do sofrimento do Egito e sustentando-o com pão, carne e água por quarenta anos no deserto (Lv.25.35; Dt.8.1-4). Esse é o sistema bíblico e orgânico de aposentadoria dos idosos e inválidos.

Levítico 25:35-43  Se teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então, sustentá-lo-ás. Como estrangeiro e peregrino ele viverá contigo.  36 Não receberás dele juros nem ganho; teme, porém, ao teu Deus, para que teu irmão viva contigo.  37 Não lhe darás teu dinheiro com juros, nem lhe darás o teu mantimento por causa de lucro.  38 Eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para vos dar a terra de Canaã e para ser o vosso Deus.  39 Também se teu irmão empobrecer, estando ele contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como escravo.  40 Como jornaleiro e peregrino estará contigo; até ao Ano do Jubileu te servirá;  41 então, sairá de tua casa, ele e seus filhos com ele, e tornará à sua família e à possessão de seus pais.  42 Porque são meus servos, que tirei da terra do Egito; não serão vendidos como escravos.  43 Não te assenhorearás dele com tirania; teme, porém, ao teu Deus.

O direito à posse perpétua foi um importante instrumento para garantir o equilíbrio econômico em Israel. As famílias que conquistaram suas terras por ocasião da entrada em Canaã tinham a garantia de que essas terras pertenceriam perpetuamente à família. Para aquisição de novas propriedades, o povo deveria conquistar novas terras dentro dos amplos limites constituídos como fronteiras para a nação (Dt.11.24; Js.1.4). Portanto, conforme o sistema de Israel, a propriedade de uma família somente poderia ser vendida temporariamente, dando à família o direito de resgatá-la posteriormente (Lv.25.8-34), impossibilitando, assim, que algumas famílias se tornassem donas de muitas terras enquanto outras ficassem sem nada (Is.5.8).

A Lei de Israel não impunha uma igualdade, mas impedia a tirania e o monopólio de algumas poucas famílias. Ou seja, em Israel poderia haver rico e pobre, mas não deveria haver pessoas tomando conta de toda a terra enquanto outras viviam na completa miséria. O mínimo aceitável era o sustento necessário no dia a dia, garantido pelas leis em favor dos necessitados, e o máximo permitido era o enriquecimento justo, fruto do trabalho árduo, honesto e não avarento, sem tirar dos outros o mesmo direito de ter o básico para a sobrevivência: moradia e sustento. O décimo mandamento: não cobiçarás! (Ex.20.17) acusa a proibição divina do enriquecimento indevido. Ninguém deveria querer o que é do outro, incluindo a posse de terras. Cada qual deveria desenvolver sua própria terra. Todavia, seria possível arrendar a terra de outra família por tempo limitado (Lv.25.8-9) e dela tirar proveito pelo tempo em que estivesse sob o domínio de quem a adquiriu temporariamente.

A agricultura e a pecuária foram as principais fontes de sustento dos povos antigos. Contudo, devemos lembrar que outras formas de trabalho eram possíveis e lícitas: transações comerciais, trabalhos liberais (professor, médico, jornaleiro, cozinheiro, servidor), produção têxtil, metalúrgica, de perfumista, de padeiro, de carpinteiro, de joalheiro etc. (Ex.28.3; 31.1-11; 35.30-35; 1Sm.8.13; 1Rs.10.28). Portanto, as famílias de Israel poderiam ser bem-sucedidas tanto no bom uso da terra quanto no bom exercício de suas profissões, pois não era proibido, ao povo de Deus, adquirir riquezas.

O pequeno livro de Rute, nos mostra a boa relação que deveria haver entre ricos e pobres. Boaz, o resgatador de Noemi e Rute, era um homem “de muitos bens” (Rt.2.1) e os havia adquirido de forma justa e legal, em conformidade com as leis de Israel. Ele possuía trabalhadores à sua disposição e cumpria sua obrigação como provedor dos pobres, deixando que os necessitados entrassem em suas terras para colher os frutos da produção agrícola que caíssem ao chão, conforme ordenança do Senhor (Lv.19.9-10). Assim, no livro de Rute, a relação entre rico e pobre, proprietário e trabalhador é boa e agradável:

Rute 2:4-10  Eis que Boaz veio de Belém e disse aos segadores: O SENHOR seja convosco! Responderam-lhe eles: O SENHOR te abençoe!  5 Depois, perguntou Boaz ao servo encarregado dos segadores: De quem é esta moça?  6 Respondeu-lhe o servo: Esta é a moça moabita que veio com Noemi da terra de Moabe.  7 Disse-me ela: Deixa-me rebuscar espigas e ajuntá-las entre as gavelas após os segadores. Assim, ela veio; desde pela manhã até agora está aqui, menos um pouco que esteve na choça.  8 Então, disse Boaz a Rute: Ouve, filha minha, não vás colher em outro campo, nem tampouco passes daqui; porém aqui ficarás com as minhas servas.  9 Estarás atenta ao campo que segarem e irás após elas. Não dei ordem aos servos, que te não toquem? Quando tiveres sede, vai às vasilhas e bebe do que os servos tiraram.  10 Então, ela, inclinando-se, rosto em terra, lhe disse: Como é que me favoreces e fazes caso de mim, sendo eu estrangeira?

Portanto, toda a responsabilidade com o sustento dos pobres caía sobre as famílias de Israel, exigindo-lhes amor e obediência: “Quando também segares a messe da tua terra, o canto do teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da tua messe. Não rebuscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o SENHOR, vosso Deus” (Lv.19.9-10). Desse modo, o Estado não ficava sobrecarregado nem precisa possuir uma superestrutura. Os impostos não precisavam ser altos e as pessoas eram conscientizadas quanto aos deveres para com o próximo, fazendo-as praticantes, no dia a dia, do mandamento: “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv.19.18).

A responsabilidade familiar de cuidar dos necessitados foi aplicada à vida da igreja do Novo Testamento que não deveria se esquecer dos pobres (At.20.35; Gl.2.10), a começar pelo cuidado “para com a própria casa” (1Tm.5.3-16). Ou seja, as obrigações familiares impostas no Pentateuco destinam-se a reger a vida de todas as pessoas, e a igreja deve ser exemplo nisso (At.2.42-47). Os cristãos, chamados de “família de Deus” (Ef.2.19), tem a incumbência de cuidar uns dos outros (2Co.9.6-15), assim como Moisés ensinou para o Estado de Israel.

(Texto selecionado do artigo intitulado: O Estado conforme a Escritura. Disponível em http://voxscripturae.blogspot.com/2018/06/o-estado-conforme-escritura.html)

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