Certo
dia, eu estava andando no centro da cidade, com minha filha mais velha de 16
anos de idade. Havíamos ido procurar material escolar para ela. Eu, como de costume,
andava ao lado dela, indo de um lado para o outro, de acordo com a necessidade,
sempre ficando do lado externo da calçada, entre a rua e ela. Quando já
estávamos próximos de casa, ela se dirigiu a mim com as seguintes palavras: “Eu
não aceito casar com um homem que não me proteja da rua. Isso é o mínimo que
ele deve fazer”. Minha filha estava o tempo todo observando minhas idas e
vindas enquanto passeávamos pelas calçadas da cidade, e entendeu que eu estava
ali para protegê-la de todo perigo possível.
Isso
se chama cavalheirismo. Não sei se você já ouviu falar sobre o assunto, pois a
cada nova geração, está mais difícil encontrarmos cavalheiros na sociedade. A
preocupação tanto masculina quanto feminina com a aparência do corpo e,
principalmente com a sensualidade tem feito com que o caráter das pessoas se
torne irrelevante, afinal parece que ninguém precisa ser um cavalheiro para
satisfazer sexualmente uma mulher; nem muito menos para ter status, fama e
riquezas.
O
que é um cavalheiro? Não é um homem montado em um cavalo. Esse seria o
cavaleiro. Todavia, é muito adequada, para o queremos dizer, a imagem de um
homem nobre montado em um cavalo branco, galopando elegantemente. Acredito que
você já tenha visto muitas vezes esse bonito cenário apresentado nos contos de
fadas: o corajoso e valoroso príncipe que aparece para resgatar a indefesa
donzela. Ele não teme a ameaça nem abre mão de seu dever de salvar a moça em
perigo. E por mais fantasioso que possa ser imaginar, hoje, um príncipe em seu
cavalo branco, há algo que realmente precisa ser resgatado, em nossos dias,
nesse belo cenário imaginário: o valor do homem.
A
feminilização da sociedade apagou a hombridade. Ironicamente, as mulheres
ficaram mais masculinas em alguns aspectos (e muito sensuais em outros)
enquanto os homens estão feminilizados. Em nossos dias, as mulheres vão para a
guerra (e não duvido que certos homens fiquem esperando em casa), praticam
esportes agressivos como UFC, assumem todo tipo de liderança, inclusive
doméstica, e até fazem trabalhos “brutos” que só homens fariam no passado. E
para alimentar a inversão de papeis, a mídia tem difundido, pouco a pouco, o
cenário doméstico de um homem “do lar” usando avental enquanto sua esposa
trabalha fora para sustentar a casa.
Portanto,
aquilo que o feminismo prometeu, não cumpriu: a igualdade de gênero. A proposta
inicial era reconhecer o valor das mulheres e garantir para elas alguns
direitos perante a sociedade. Porém, como podemos ver em nossos dias, a
promessa foi quebrada e o feminismo levou as mulheres para um abismo sem fundo.
O preço para elas assumirem a sociedade foi apagar os homens. Então, as
próprias mulheres passaram a sofrer as consequências desse erro, pois, ao
procurarem um cavalheiro para se relacionar, encontram apenas adolescentes de
20, 30, 40 ou mais anos. Tudo o que elas têm são objetos para a satisfação
sexual, incapazes de protege-las, conduzi-las e cuidar delas. Eles estão nas
academias tirando fotos para exibir o corpo, em casa jogando videogame todo dia,
nas ruas andando em um carro rebaixado com um som ensurdecedor ou vendo
besteira no celular o dia inteiro.
As
reclamações das mulheres vêm de todos os lados. Os eternos adolescentes de hoje
não querem compromisso (casamento), muito menos filhos. O slogan é curtir a
vida. Querem ganhar muito, de preferência sem trabalhar. E uma das reclamações
mais comuns de empresários daqui da cidade é a falta de trabalhadores, pois,
dizem, ninguém quer trabalhar. Adolescentes de 20, 30, 40 ou mais anos não
sabem trocar uma lâmpada, quanto mais desentupir uma pia. E, já que as mulheres
lutaram por direitos iguais, eles fazem questão de deixa-las pagar a despesa do
restaurante. Portanto, a conta da escolha feita pelo feminismo chegou e são
elas que estão pagando muito caro pelo erro cometido.
No
entanto, não queremos jogar toda a culpa do pecado dos homens sobre as
mulheres. Para que sejamos justos, devemos recuar até Adão que foi o primeiro
homem covarde da história, pois não protegeu sua mulher do ataque da serpente
nem assumiu sua culpa quando desobedeceu a Deus (Gn.3.1-12). Pouco tempo depois
da trágica queda de Adão, encontramos o primeiro homem perverso da história
que, por inveja, matou seu próprio irmão, traiçoeiramente, sem que este tenha
feito qualquer mal para ele (Gn.4.1-16). Um pouco mais adiante, vemos ainda o
primeiro homem corrupto da humanidade (talvez tenha sido o primeiro político
também) que legislou em favor de si mesmo, depois de ter matado dois homens
injustamente (Gn.4.23-24). E se percorrermos as páginas da Palavra de Deus,
encontraremos muitos outros homens que mostraram, em suas próprias vidas, os
graves danos do pecado para o caráter masculino.
Por
que tudo isso? Por que homens e mulheres não conseguem viver a beleza de uma
vida digna, virtuosa, abençoadora? Nosso problema humano chama-se pecado e
todos, tanto homens quanto mulheres estão debaixo desse problema. Por isso,
encontramos dentro de nós tanta indisposição para aquilo que é justo e bom.
Logo, forjar um cavalheiro (ou uma nobre dama) exige trabalho árduo, pois o
coração do pecador tende a rejeitar aquilo que é bom. Portanto, não pense que
essa luta é apenas sua. A batalha contra o pecado é nossa e, assim como você,
tenho lutado contra meu coração durante toda a minha vida. Somos diamantes
brutos precisando ser trabalhados por Deus. E nossa esperança é que Deus tem
prazer em transformar homens pecadores em verdadeiros cavalheiros.
Portanto,
a falta hombridade dos homens do passado e, também, do presente não é culpa das
mulheres, de fato. Mas, não podemos ignorar que o movimento feminista
contribuiu fortemente para tornar aquilo que não era bom em algo pior ainda.
Então, o que temos, hoje, são mulheres empoderadas (e sobrecarregadas), usando
e sendo usadas por eternos adolescentes que compram, mas não pagam, pois vivem
irresponsavelmente como se não houvesse amanhã. E serão eles que formarão a
terceira idade de amanhã, não deixando qualquer esperança de que tenham algum
bom ensinamento para dar à futura geração, seus poucos netos (se tiverem
filhos).
Talvez
eu tenha chocado você com minhas palavras. Mas, reflita um pouco: esse é ou não
o quadro da presente realidade? Pode ser que você não vá para a academia só
para tirar selfie, não jogue videogame o dia todo, não tenha um carro rebaixado
com som exageradamente forte nem passe tanto tempo vendo besteira no celular.
Caso isso seja verdade, quero lhe dar meus parabéns. Porém, você tem visto esse
triste cenário masculino e sabe o quanto seu coração é indisposto a agir como
verdadeiro homem, sacrificando a si mesmo para cuidar de outras vidas que estão
a seu alcance. Em nosso país, o que mais temos visto são homens desonestos
usando sistemas para se beneficiarem e prejudicarem o próximo, traiçoeiramente.
Isso não é ser homem!
Como
nosso propósito aqui não é apenas lamentar o problema social estabelecido em
nossos dias, precisamos voltar à nossa pergunta inicial: O que é um cavalheiro?
Podemos afirmar que a roupa de um homem não garante que ele seja um cavalheiro.
Políticos desonestos, empresários mulherengos e ladrões de banco também usam
trajes charmosos, bebem vinhos finos e fumam charutos elegantes. Muito
provavelmente, as pessoas mais elegantes de nosso mundo contemporâneo sejam as
que menos devamos imitar. Ou seja, “não julgue o livro pela capa”. Não basta
ter um cavalo caro e um traje fino para o chamar de príncipe encantado.
O
que caracteriza um cavalheiro é a nobreza de caráter. Portanto, você conhece um
cavalheiro pelo coração, não por sua aparência. Podemos dizer que o mesmo
princípio ensinado pelo apóstolo Pedro a respeito das mulheres deva ser
aplicado aos homens: “Não seja o adorno
da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato
de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível
trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus.”
(1Pe.3.3-4). Judeus e gentios da casta popular não tinham hábitos metrossexuais
que existem hoje, por isso o apóstolo Pedro se dirige apenas às mulheres que,
comumente, se preocupam mais com a aparência. Porém, também devemos dizer aos
homens que sua preocupação deve estar com o interior, não com a aparência.
Logo,
cavalheiro é o homem que tem um interior bonito aos olhos de Deus. João Batista
é descrito com aparência rupestre, mas seu coração era nobre e, mesmo face a
morte, não negou a Deus (Mt.14.4). Enquanto isso, Herodes que se vestia
reluzente, e era aclamado entre todos, morreu comido por vermes, pois seu
coração era podre (At.12.21-23). Homens cavalheiros também são pecadores, mas a
nobreza do coração os conduz ao arrependimento e à mudança de atitude. Por
isso, a Palavra de Deus descreve Davi como um dos mais cavalheiros dentre os
homens, pois apesar de seu famoso pecado, viveu e morreu como um homem de Deus
(1Sm.17; Sl.51; 1Rs.1).
Portanto,
ser um cavalheiro é ter as virtudes divinas realçadas em sua vida. Caso o
pecado não tivesse entrado no mundo, todos os homens seriam verdadeiros
cavalheiros, pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Porém, o
pecado corrompeu todas as faculdades do homem, de modo que as virtudes foram
enfraquecidas e os vícios apareceram. Por isso, todo homem precisa da obra
divina da salvação, a fim de que, pelo Espírito de Deus, as virtudes divinas
nele possam, outra vez, serem realçadas e os vícios abandonados.
Sendo
assim, há esperança para que você seja um cavalheiro, em meio a uma sociedade
vulgarizada. Essa é a missão do Espírito e da Palavra de Deus (2Co.3.18).
Juntos, eles transformam homens vulgares em verdadeiros cavalheiros que
refletirão a beleza do caráter de Deus em suas vidas. Para isso, você deverá se
achegar ao Senhor, por meio de Jesus, confiando e rogando o operar do Espírito
Santo em sua vida, através da Palavra de Deus. Leitura da Escritura e oração
serão os instrumentos graciosos de Deus para transformar você, um pecador
perdido, em um verdadeiro cavalheiro.
A
hombridade não é uma criação cultural, mas uma característica divina no homem
(sexo masculino). Por isso, em qualquer cultura, a sociedade espera do homem as
atitudes próprias de um cavalheiro. É verdade que existem culturas matriarcais.
Todavia, mesmo nessas culturas, a sociedade espera do homem a coragem, a
nobreza, a integridade, o homem como deve ser. Ou seja, mesmo quando a
sociedade se mostra perdida e confusa, com seus valores trocados, podemos ver
no mais íntimo do coração das pessoas a consciência do ideal divino para o
homem e para a mulher. Logo, é uma desonra para qualquer homem a falta de
hombridade.
Então,
é uma tarefa importante para o cristianismo propagar o evangelho restaurador do
cavalheirismo. Por meio do testemunho da obra de Cristo em nós e através do
fiel ensino da Palavra de Deus aos pecadores, a hombridade pode ser resgatada
em nossos dias. E uma vez que sejamos bem-sucedidos, com a graça de Deus, toda
a sociedade se beneficia dessa bênção, pois tanto os homens têm sua identidade
resgatada quanto as mulheres recebem verdadeiros cavalheiros com os quais
poderão formar família, para serem amadas, cuidadas, protegidas e guiadas.
Posteriormente,
olharemos para diversas virtudes que são próprias de um cavalheiro:
integridade, honestidade, abnegação, coragem etc. Mas, primeiramente, devemos
recorrer ao uso de um modelo para evidenciar a beleza da vida de um verdadeiro
cavalheiro. O uso de exemplos concretos nos ajuda a compreender e vislumbrar
melhor a beleza da nobreza de caráter. Então, convido você a observar conosco
(no próximo capítulo) a vida do homem perfeito que nunca pecou e, portanto,
sempre agiu virtuosamente, como um verdadeiro cavalheiro: Jesus, o varão
perfeito.
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