“e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef.1.4-5)
Todo verdadeiro cristão é parte da igreja de Jesus. Essa igreja é criação divina, sendo alvo do amor do Senhor demonstrado na cruz do Calvário, “porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo.3.16), de modo que “Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm.5.8).
Para compreendermos a natureza da igreja a qual fazemos parte, Deus se utiliza de diversas figuras: videira verdadeira, esposa de Cristo, santuário ou templo do Espírito, corpo de Cristo, família de Deus, povo de Deus, cidade ou Jerusalém celestial. Essas figuras transmitem características da igreja por analogia, ajudando-nos a entender quem somos, o que Deus tem para nós e o que Deus quer de nós.
De todas as cartas do Novo Testamento, a que melhor se debruça sobre o propósito de nos revelar a natureza da igreja é a carta de Paulo aos efésios. Nessa carta, o apóstolo faz uso de três figuras para falar da igreja: 1) Família de Deus, em que Deus é o Pai e todos os cristãos são filhos adotivos; 2) Corpo de Cristo, em que Jesus é a cabeça e cada cristão é um membro do corpo, de modo que juntos formam o corpo inteiro; 3) e, esposa de Cristo, pois Jesus tomou a igreja como noiva, dando sua vida por ela, e a conduzirá por toda a eternidade.
É interessante observarmos que a carta aos efésios, apesar de ser pequena, é a carta que mais fala sobre família, também, fazendo menção da relação entre o Pai e seus filhos (Ef.1.5; 2.19; 3.15; 6.1-4) e entre o Esposo e sua esposa (Ef.5.22-33). Essas relações familiares devem ser cheias de amor, confiança, pureza, verdade e harmonia, sendo o fundamento para que a relação fraterna, entre os irmãos em Cristo, seja realmente santa, humilde, mansa, paciente e cheia de amor mútuo.
Sendo assim, em Éfeso, a família é uma figura da relação do cristão com Deus e, também, do relacionamento dos cristãos entre si. Mas, diferente de outras das cartas paulinas, Efésios enfatiza a relação vertical, entre Deus e os cristãos. Ou seja, para que os cristãos saibam conviver entre si, de modo agradável a Deus, é preciso que entendam a relação da igreja com Deus. Se o cristão não olhar corretamente para Deus como Pai de toda a igreja, a relação com os demais cristãos será egoísta, soberba e indiferente. Se o cristão não olhar para Jesus como o noivo da igreja, não cultivará a pureza e a dependência.
Conforme Efésios, fomos todos adotados por Deus, por meio de Jesus Cristo, o unigênito do Pai, de forma que não há distinção entre os filhos, tanto em relação à origem quanto em relação ao destino, pois todos foram libertos do pecado, do mundo e do diabo, para viver uma nova vida, presente e futura, abençoados “com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef.1.3).
Assim, em Cristo, “já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus” (Ef.2.19). Essa realidade cristã é universal, pois há apenas uma família de Deus e somente um modo de entrar nela: Jesus Cristo. Portanto, todos os membros dessa família são igualmente agraciados e amados, e devem zelar pelo bem-estar dessa família com igual dedicação.
E como membros da família de Deus, os cristãos devem saber se comportar e se relacionar dentro dela, para o louvor da glória do Pai, não “na vaidade dos seus próprios pensamentos” nem segundo a “dureza do seu coração” (Ef.4.17,18). A igreja, então, deve viver como uma linda família conduzida por um único Pai: Deus. Para isso, é necessário estar cheios do Espírito Santo e da Verdade que procede do Senhor, fazendo dela o conteúdo dos diálogos entre os irmãos.
Mas, ao mesmo tempo em que a igreja procura honrar a Deus, também deve estar ciente de que até as melhores famílias possuem limitações, falhas e fraquezas. Por isso, é necessário paciência, suporte e esforço, com muita graça e misericórdia para que “cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef.4.16). E “deixando a mentira, fale cada um a verdade com o próximo”, sendo “uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou” (Ef.4.25.32).
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