"Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado." (1Jo.1.6-7)
Desde os mais antigos antepassados, homens formam grupos baseados em interesses comuns. Caim foi o primeiro homem a formar seu próprio grupo, construindo uma cidade repleta de orgulho, vaidade e maldade (Gn.4.17-24). Um pouco mais adiante, encontramos homens se unindo em torno de um propósito comum: “edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn.11.4). Assim, a torre de Babel foi símbolo da mais profunda incredulidade humana, afrontando o Deus Criador (Gn.11.1-9//Gn.9). E durante toda a história humana, pessoas formaram grupos de interesse para pecar contra Deus: “Um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte. Assim, o artífice anima ao ourives, e o que alisa com o martelo, ao que bate na bigorna, dizendo da soldadura: Está bem feita. Então, com pregos fixa o ídolo para que não oscile” (Is.41.6-7).
O livro de Provérbios adverte quanto à tentação e ao perigo desse tipo de vil comunhão, contrária a toda virtude e sabedoria (Pv.1.10-14). A beleza do termo comunhão não é capaz de santificar corações pecadores demasiadamente corruptos (Jr.17.9). Antes, o pecado toma proveito de algo bom e o torna profundamente ordinário, mesquinho e maligno, transformando relacionamentos em ajuntamentos ofensivos a Deus e destruidores de vidas.
Provérbios 1:10-14 Filho meu, se os pecadores querem seduzir-te, não o consintas. 11 Se disserem: Vem conosco, embosquemo-nos para derramar sangue, espreitemos, ainda que sem motivo, os inocentes; 12 traguemo-los vivos, como o abismo, e inteiros, como os que descem à cova; 13 acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos de despojos a nossa casa; 14 lança a tua sorte entre nós; teremos todos uma só bolsa
Em sua abertura aos cânticos de louvor e adoração a Deus, o livro de Salmos apresenta uma advertência contra a comunhão de pecadores: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores” (Sl.1.1). Para que Deus aceitasse o culto de Israel seria necessário mais que um ajuntamento solene, era preciso verdadeiro temor de Deus no coração (Dt.6.5). Muitas vezes Israel se reuniu durante sua história para pecar contra Deus (Ex.16; Nm.16; Jz.19; 2Rs.17; 2Rs.21 etc.), mas poucas vezes o ajuntamento israelita realmente glorificava o Senhor e, por isso, Deus exterminou as tribos do norte e levou para o cativeiro Judá e Benjamin (Jr.3.6-9). O profeta Isaías exorta duramente sua geração dizendo: “não posso suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene [...] quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue [...] Eis que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo” (Is.1.12-17; 58.1-14).
Diante disso, podemos afirmar, com certeza, que muitos ajuntamentos de cristãos estão muito longe de serem considerados santas comunhões. Fofoca, mentiras, maledicência, maquinações sujas, invejas, orgulho, ambições, maldades e outros pecados costumam ser propagados com aparência de piedade dentro de diversos grupos cristãos. Em nome de Deus, muitas pessoas matam, enganam, destroem e planejam a ruina alheia, como fizeram os fariseus, os saduceus e os escribas a respeito de Jesus, com o propósito de enganá-lo, fazer-lhe mal e até mata-lo. O fato desses homens serem “membros da igreja judaica”, terem conhecimento das Escrituras e até fazerem parte da liderança religiosa não tornava o ajuntamento em uma santa comunhão, pois havia todo tipo de maldade entre eles. A comunhão só é santa quando há verdadeira santidade dentro dela, pois “o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl.5.22-23).
O grande diferencial da comunhão dos santos encontra-se na nova vida daqueles que estão em verdadeira comunhão. A comunhão dos santos não começa com a prática do termo comunhão, mas com a aplicação do termo santo à vida de cada pessoa. Não é apenas um ajuntamento de pessoas com interesses comuns, mas um relacionamento baseado na obra redentora de Cristo Jesus. O elemento comum ao relacionamento cristão deve ser fundamentalmente a obra da salvação; não apenas ser “membro de uma denominação”, mas ter uma vida cheia do Espírito Santo (Ez.36.25-27). Por isso, o livro de Atos dos Apóstolos testifica que havia beleza divina na comunhão da igreja após o advento do Espírito de Deus (At.2.42-47), porque “em cada alma havia temor” (At.2.43). Por essa razão, também, o apóstolo Paulo adverte os irmãos da igreja de Éfeso a viverem diligentemente a unidade do corpo de Cristo por meio de uma vida cheia do Espírito Santo:
Efésios 5:18-21 E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, 19 falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, 20 dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, 21 sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.
Qualquer pessoa pode fazer parte de um grupo com interesses comuns. Mas, somente o cristão está apto a ter um relacionamento santo em que o elemento comum é Cristo Jesus operando por meio do Espírito Santo. Quando pessoas formam grupos para falar, planejar e fazer mal contra outras pessoas; ou, quando cristãos se visitam para difamar outros cristãos não ocorre uma santa comunhão, mas um vil relacionamento, semelhante ao que ocorria com algumas pessoas da igreja de Coríntios, “porquanto vos ajuntais não para melhor, e sim para pior” (1Co.11.17). Não há qualquer piedade, sabedoria, santidade, beleza e aprovação divina em ajuntamentos pecaminosos. Justificar a maldade das palavras com o suposto propósito de desabafar para alguém e, até, fiscalizar outras pessoas é só uma forma de tentar dar validade aos mais vis pecados do coração, cauterizando a própria mente para pecar com desencargo de consciência. Na verdadeira comunhão dos santos não cabe nenhum pecado, pois o elemento verdadeiramente comum e fundamentalmente necessário a essa relação é a presença de Cristo Jesus operando pelo Espírito Santo nos corações.
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