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sábado, 16 de julho de 2022

A realidade da redenção


 Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt.2.11-13)


Segundo a estatística do IBGE 2010, há aproximadamente 42 milhões de evangélicos no Brasil. Dentre eles estão os reformados, os pentecostais, os neopentecostais e todas as novidades nocivas que surgiram por aí. E com tudo isso, ainda somos uma das nações mais corruptas do mundo. Nesse país, todo brasileiro é corrupto até que se prove o contrário. Por isso, não se entra em um supermercado com mochila nas costas ou sacolas nas mãos. O segurança que fica na entrada pedirá para colocar tudo em uma embalagem que impossibilite você de roubar.


O número crescente de evangélicos parece algo muito bom, principalmente para aqueles que se apegam muito a relatórios aparentes. Mas, a verdade é que o número crescente revela a profunda contradição em que vive o cristianismo de nossos dias, pois a igreja brasileira não tem deixado bons testemunhos pelo país. É difícil saber se somos mais enganados fora ou dentro das denominações, porque a soberba e a corrupção se espalha como pó em dias de forte ventania.


Mas, por que isso está acontecendo? Por que o aumento de evangélicos não representa uma melhoria na qualidade de vida da sociedade? Você não fica perplexo, diante do problema? O cristianismo está negando a totalidade da realidade. O foco na salvação como bênção apenas “espiritual” e futura têm feito com que o evangelho não tenha uma relação com a vida. Desse modo, não é apenas o livro de Apocalipse que é interpretado de forma apenas simbólica, mas toda a vida cristã torna-se um simbolismo do futuro, não o começo da realidade futura. Vou chamar esse fenômeno de: Salvação platônica. 


Podemos dizer que o evangelho está sendo mal aplicado ao dia a dia das pessoas. Consequentemente, o modo de tratar o presente torna-se confuso. É interessante ver isso em um exemplo bem simples: muitos evangélicos bebem vinho, ainda que seja apenas na Ceia, afinal Jesus tomou vinho na Ceia. Mas, esse mesmo evangélico condena qualquer outra bebida alcoólica (inclusive, com menor teor alcóolico que o vinho), afirmando ser pecado. Logo, dá a entender que os demais ingredientes possuem algum caráter “imundo”, que não tem explicação. Confuso, não é?


Contudo, a salvação não é algo confuso. A Palavra de Deus nos diz que a salvação é a restauração de toda a criação ao estado de pureza para uma vida eterna sem pecado (Rm.8), em que Deus é o único Senhor no coração dos homens. Portanto, a salvação é aplicada a todos os tempos da criação e a todas as esferas dela (micro criação e a macro criação). Ela foi consumada no passado da história humana e tem implicações reais para o presente e para o futuro de toda a criação, não apenas das igrejas locais:


porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Cl.1.19-20)


O ensino bíblico de que todas as coisas foram criadas por Deus, pertencem a Deus e estão sendo restauradas por Deus, até alcançar sua completude por ocasião da volta de Jesus, tem aplicações importantíssimas tanto para o foro íntimo quanto para vida social, dentro e fora das igrejas locais. Significa que Cristo é o Rei de tudo, o Senhor de tudo, o Mediador entre o homem e Deus, o Cordeiro que tira o pecado do mundo, o Sumo pastor, o Legislador da sociedade mundial. Como nos diz o apóstolo: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm.11.36).


Esta Verdade orienta todas as práticas da sociedade. Ou seja, esta Verdade nos diz que tudo o que o homem faz, faz para Cristo, querendo ou não. Se fizer algo ruim, estará fazendo algo ruim para Cristo; se fizer algo mal feito estará fazendo algo mal feito para Cristo; se fizer algo bom, glorificará a Deus. Também nos diz que nenhum homem tem autonomia para legislar a seu bel-prazer, muito menos em benefício próprio. O certo e o errado são definidos por Cristo, pois Ele é a Verdade, o Senhor de tudo e o juiz de todos. Logo, não importa quantas leis os homens criem, todas elas devem ser julgadas pela Palavra de Deus e rejeitadas quando ferirem a Escritura Sagrada. 


A restauração de todas as coisas é a submissão de tudo ao poder soberano do Senhor Jesus Cristo. Por isso, a restauração não tem caráter meramente político, mas, sobretudo, existencial santificador. Ou seja, Cristo está transformando sua criação dia a dia para que viva em plena harmonia com o Criador, de modo a reluzir, em toda sua natureza, a beleza da glória dos atributos comunicáveis de Deus: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” (2Co.3.18).


Essa restauração tem seu ponto de partida na igreja visível, razão para que toda a criação esteja atenta aos cristãos: “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus” (Rm.8.19). Portanto, o olhar para a eternidade define o viver no tempo presente e a vida cristã de hoje deve propagar a glória da vida eterna prometida. O apóstolo Paulo diz à igreja de Colossos: 


Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra (Cl.3.1-2)


Buscar as coisas lá do alto é trazer a pureza da realidade celeste para o dia a dia; pensar nas coisas lá do alto, é nortear a vida diária pela santidade de Deus. É vivenciar a redenção no tempo presente, na certeza de que Deus a completará quando Cristo voltar (1Co.15.50-58):


Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento (Fp.4.8).


A esquizofrenia do fenômeno evangelical brasileiro (de todas as denominações) está promovendo uma “para-realidade”, ou seja, uma suposta realidade confusa. Os valores foram relativizados (o erro depende de quem erra); as práticas se tornaram subjetivas (cada qual decide a sua); o cristianismo se tornou uma pluralidade (muitos Messias, Papas). Não há coerência entre as palavras e as atitudes, entre a vida privada e a vida pública. Até parece um “multiverso da loucura”. Por isso, toda essa confusão.


O propósito de Satanás é impedir o progresso da restauração da criação, sobretudo manifesta na sociedade. Por isso, a soltura de Satanás significa um retorno ao paganismo (Ap.20.7-10), tanto teórico quanto prático (ex.: darwinismo, feminismo, iluminismo, homossexualismo etc.), com toda sua idolatria, injustiça, arrogância, prostituição, mentira, inimizades, hipocrisia etc. Logo, o avanço do paganismo tanto no cristão quanto na cristandade e na sociedade representa o regresso da restauração de tudo. 


Todavia, o avanço do paganismo não pode impedir a consumação final da redenção, pois Cristo voltará com certeza. Dessa forma, a garantia da volta de Cristo e, consequentemente, a consumação da restauração da criação, deve motivar o cristão a buscar o agir do Espírito de Deus em sua vida, “plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp.1.6). Quanto mais santo for o cristão e a cristandade, mais evidente ficará o progresso da redenção rumo à eternidade. E esse progresso será visto na conformação do ser humano à vontade de Deus quer homem quer mulher, seja marido seja esposa, tanto pais quanto filhos, líderes e liderados.

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