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quarta-feira, 29 de junho de 2022

Não passe de largo

 


E quem der a beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão” (Mt.10.42)


Quantas vezes você já “passou de largo” de alguém necessitado de ajuda? Você acha que nunca fez isso? A expressão “passar de largo” encontra-se em uma parábola conhecida como “Bom Samaritano” e significa “passar distante”. Foi o que aconteceu com o sacerdote e o levita que viram um judeu ferido ao chão:


Lucas 10:30-34  Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto.  31 Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo.  32 Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou de largo.  33 Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele.  34 E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele.


O que Jesus nos mostra nessa parábola é muito triste; acredito que você concorda. Um sacerdote e um levita passaram distantes de um homem que precisava urgentemente de ajuda. Dois religiosos preocupados com a aparência, não mostraram qualquer piedade e amor diante da fisionomia maltratada daquele necessitado. Eles conheciam toda a Lei, mas não conheciam o Deus dessa Lei. Eram homens da religião, mas não, homens de Deus.


Com essas Palavras, Jesus mostrou para o intérprete da Lei que amar a Deus e amar ao próximo são mandamentos totalmente práticos. Dizer que ama a Deus, mas não estar disposto a negar a si mesmo não é amor verdadeiro (Mt.16.24; Jo.14.21). Dizer que ama alguém, mas não ser bênção para essa pessoa não é amor de verdade (1Co.13.1-8). Encontramos a mesma ideia na carta de Tiago, falando sobre a fé e as obras:


Tiago 2:14-16  Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?  15 Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano,  16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?


Creio que boa parte dos cristãos aplicará os dois textos à necessidade de serem generosos com o próximo na administração dos próprios bens. Isso é correto e muito bom! É a aplicação mais imediata do texto. Todo cristão deve ter prazer em dar ao próximo daquilo que Deus tem lhe dado graciosamente. E, graças a Deus, vemos muitos cristãos doando roupas, calçados e comida. E, se você não tem feito isso, comece a trabalhar seu coração!


Mas, cuidado para não se orgulhar disso. Ações benevolentes nem sempre são frutos de um coração puro que age por amor. Jesus viu, em sua geração, um grande interesse em aparecer. A vaidade estava se aproveitando de coisas boas para se gloriar: “Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens” (Mt.6.2). Boas ações não precisam de holofotes nem são feitas para alimentar a vaidade do pecador. Verdadeiras boas ações provêm do Espírito Santo operando no coração. 


Todavia, esses dois textos possuem aplicações mais amplas e, até, mais importantes. Você já pensou nas necessidades espirituais de cada irmão e irmã da igreja? O que você faz quando vê um cristão necessitado de ensino, correção e fortalecimento? Nossa impressão é que há um hábito de se “passar de largo” deixando “ao chão” a pessoa com necessidade espiritual.


Sendo bem prático: Se você visse um irmão na fé caído ao chão, você correria para levantá-lo e o ajudaria com o necessário, levando-o até o hospital, se necessário. Caso você visse um irmão na fé sem dinheiro, você lhe daria o possível para ajudá-lo, a fim de tirá-lo do aperto. Se você visse um irmão na fé precisando de comida, você lhe daria tudo o que lhe fosse possível. Todavia, você vê irmãos espiritualmente caídos, necessitados e precisando de transformação, mas “passa de largo” e não lhes presta qualquer socorro, não atende às mais profundas necessidades do coração deles?


Mas, por que cristãos doam tantas coisas materiais e negligenciam tanto as coisas espirituais? Há uma inversão de valores nesse problema. Jesus afirmou: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt.6.33). Basta você pensar: De que adianta dar tudo o que se pode ter nesse mundo e deixar as pessoas irem para o inferno? De que adiante cuidar da aparência das pessoas quando é o coração que precisa ser adornado com a beleza da santidade. Podemos ver esse mal em muitas famílias onde os pais se preocupam demasiadamente em dar aos filhos a melhor educação acadêmica e todo conforto possível, mas não lhes dão nem mesmo uma migalha da Palavra do Senhor. Eles estão preocupados com o presente e o sucesso dos filhos, mas não estão atentos à eternidade.


Certa vez a raposinha disse ao pequeno príncipe: “É somente com o coração que podemos ver corretamente; o essencial é invisível aos olhos”. Por isso, é mais fácil ver que alguém precisa de roupa e comida do que enxergar que esse alguém precisa da Palavra de Deus. Há muitas pessoas que não precisam de vestes nem de alimentos, mas carecem, profundamente, da Palavra do Senhor. Há 3400 anos, o Senhor disse: “não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o homem” (Dt.8.3//Mt.4.4).


Há homens e mulheres dentro das igrejas locais que precisam que suas feridas sejam tratadas. Há homens que não cuidam de seus lares como deveriam, mesmo assim irmãos não se achegam pessoalmente para falar ao coração a Palavra do Senhor. Há mulheres que não amam o marido nem lhe são submissas, mesmo assim irmãs não se aproximam para falar diretamente ao coração a Palavra do Senhor, ensinando-lhes a viver o amor de Deus no casamento. Há jovens sofrendo com as muitas tentações do mundo, mas os demais jovens não chegam junto para os fortalecer. Há muitos cristãos precisando de ajuda, mas aqueles que sabem disso estão “passando de largo”. Há adolescentes que vão à igreja, mas não queriam estar nela. Há crianças com problemas domésticos, mas não sabem com quem contar.


Todos os anos, os grupos de homens, mulheres, jovens, adolescentes e crianças prestam relatórios. Eles são estimulados a apresentar a maior quantidade de atividades nos relatórios e são motivados a medir o sucesso pelo número de sócios, ainda que ninguém se aperceba disso. Mas, quando as mulheres conversam, quando os homens conversam, quando os jovens conversam, quando os adolescentes conversam, quando as crianças conversam falam sobre o quê? Não estariam, estes, aprendendo que a aparência é mais importante que o coração? 


É preciso ensinar homens, mulheres, jovens, adolescentes e crianças a ver com o coração; a se preocuparem com o que é essencial; a se importar com a vida espiritual do próximo; a ser instrumento para edificação, exortação e fortalecimento dos irmãos na fé. Homens falam de trabalho, carro, futebol, mas não falam sobre problemas reais do coração. Mulheres falam de roupas, ornamentação da igreja, departamentais, mas não dizem uma palavra para aquelas que precisam de mudanças em sua vida. Esses homens e mulheres estão “passando de largo” como religiosos que não se importam com as reais necessidades do próximo.


Homem, você tem “passado de largo” de quantos irmãos que você sabe precisarem de exortação, consolo, edificação, ajuda? (Tt.2.1-2) Mulher, você tem “passado de largo” de quantas irmãs que você sabe precisarem aprender a amar ao marido e aos filhos, a serem boas donas de casa, a viver em submissão ao esposo? (Tt.2.3-5) Jovem, você tem “passado de largo” frente às lutas internas que outros jovens sofrem no dia a dia? Adolescente, você tem “passado de largo” quando outros adolescentes estão faltando os cultos?


Pare de se preocupar apenas com a aparência! Você não deve se preocupar apenas com relatórios! Jesus está vendo você “passar de largo” abandonando muitas vidas ao chão. Pastor, você é capaz de viajar milhares de quilômetros para tentar se livrar de um colega de ministério, mas não é capaz de bater na porta desse ministro para lhe falar ao coração a Palavra de Deus? Presbítero, você é capaz de gastar todo esforço para realizar grandes eventos, mas não consegue se esforçar para ter pequenos essenciais momentos com um irmão que precisa de seu auxílio? Diácono, você é capaz de fazer grandes campanhas para arrecadar alimentos, mas não é capaz de levar uma só porção do alimento espiritual ao coração do necessitado?


O apóstolo Paulo disse que jamais deixou “de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At.20.20). Ou seja, há momento para se falar ao público. Mas, há muitos outros momentos em que devemos falar ao coração das pessoas de modo particular. E esses momentos particulares são de grande importância para que sejam tratados assuntos particulares, ajudando pessoas com seus problemas e pecados pessoais. Negligenciar esses momentos é “passar de largo” frente àqueles que estavam ao chão.


O sacerdote e o levita “passaram de largo” sem qualquer peso na consciência. Eles estavam vazios do amor de Deus, porque não conheciam realmente ao Senhor. Eles desprezaram o propósito divino para seu povo: ser sal da terra e luz do mundo (Mt.5.13-16). Mas, entraram no Templo de Jerusalém, fizeram longas e bonitas orações, abriram a Bíblia e pregaram elegantemente “para serem vistos dos homens” (Mt.6.5; 23.5-8), assim “já receberam a recompensa”. E quando Jesus voltar nem mesmo olhará para muitos sacerdotes e levitas que desprezaram as mais profundas necessidades dos pequeninos de Cristo (Mt.25).

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