“Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante” (1Co.15.45)
De onde viemos? Para onde vamos? Quem somos nós? Essas são algumas das principais perguntas feitas pelos seres humanos de todas as gerações, pois dizem respeito à nossa identidade, causa e propósito de vida. Temos a necessidade de saber as respostas, porque elas nos conduzem ao Criador em quem a vida tem seu significado e sentido, em quem somos completos e abençoados, pois somos dEle, fomos feitos por Ele e para Ele (Rm.11.36), criados à imagem e semelhança de Deus (Gn.1.27).
Para entendermos melhor a humanidade e sua relação com o Criador, iremos para Adão, o primeiro homem. Adão é a humanidade como deveria ser, ainda que não seja a humanidade como ela será na eternidade, pois Cristo é o perfeito homem. Adão não tinha pecado, mas, também, não era incorruptível. Enquanto fosse fiel, Adão não morreria, mas ele não era imortal (Gn.2.17; 3.6,19). Adão foi o primeiro de muitos, portanto o representante de toda a raça humana, pois até mesmo Eva, sua esposa, proveio dele (Gn.2.21-22).
Para conhecermos melhor Adão, precisamos recorrer ao texto de Gênesis 1 a 3. A primeira informação que temos sobre Adão é que ele foi criado à imagem e semelhança do Criador: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn.1.26). Portanto, veremos características divinas em Adão e, consequentemente, em nós, seus legítimos descendentes. Ou seja, carregamos marcas do divino que nos tornam responsáveis por honrar Aquele de quem herdamos no nome.
Essas características serão encontradas não somente em Gênesis, mas, também, nos demais livros até Apocalipse: Amor, justiça, bondade, benignidade, paciência, misericórdia, ira justa, mansidão, inteligência, sabedoria, criatividade, alegria etc. Por essa razão, mesmo a humanidade caída consegue refletir os atributos de Deus, tendo em vista que o pecado não anula a imagem de Deus em nós, ainda que a tenha contaminado. Mesmo um ateu expressará em sua vida as virtudes divinas, pois elas estão em nosso “DNA” e não dependem de nossas crenças. E serão essas mesmas marcas divinas que se tornarão testemunhas contra toda negação de Deus, “porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças” (Rm.1.21).
Portanto, dizer que “errar é humano” não é uma expressão correta, pois o pecado é um acidente na vida do ser humano, não parte de sua natureza, porque Deus não fez o homem pecador. Podemos, sim, dizer que amar é humano; praticar a justiça é humano; ser inteligente e criativo é humano; ser paciente e manso é humano, pois todas essas características do homem (e da mulher) fazem parte de sua essência, como alguém criado à imagem e semelhança de Deus.
Deve ficar bem claro, então, que a doutrina da depravação total não é uma anulação da imagem divina no homem, mas a abordagem de como o pecado contaminou tudo no ser humano, toda a imagem divina no homem, de modo que até o bem que o ser humano pratica possui vestígios do pecado, como um copo de água misturada com barro. Não importa quão pura tenha sido a água, anteriormente, ela estará misturada com o barro. Por isso, é possível pessoas amarem outras por amor próprio, por mero interesse na satisfação que elas causam, sem que percebam.
Além da imagem de Deus, Adão carrega em si a própria criação, pois fora criado do solo. O nome Adão significa aquele que foi criado do solo, pois, em Hebraico, solo é “adamar”. Assim, Adão representa a própria criação, razão para que todo o universo tenha sofrido com a queda do homem (Gn.3.17). Quando Adão transgrediu a Palavra do Senhor, levou consigo todo o universo do qual fora feito. Por isso, também, na morte, o ser humano volta ao pó da terra “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn.3.19).
Sendo assim, ser humano é ser parte da criação. O ser humano não é apenas alma, ele é corpo. Somos a imagem de Deus e, também, parte da criação. É o que somos. Mas, não podemos dizer que o pecado é parte de quem somos. Portanto, somos motivados a lutar contra o pecado, para nos livrar ao máximo de sua interferência em nossas vidas. Somos motivados a desfrutar sabiamente as maravilhas da criação que nos foi entregue. E, também, somos motivados a entregar a vida completamente ao Senhor e Salvador Jesus, para que Ele nos restaure e nos dê graça, a fim de desfrutarmos o máximo possível da humanidade que é celestial e terrena, pois carrega traços espirituais e físicos.
Adão também era inteligente e criativo, à semelhança de Deus. No sexto dia, o Senhor plantou um jardim para que o homem morasse em um lugar especialmente preparado para seu bem-estar e alegria no Senhor, revelando, assim, o amor, a graça e a bondade de Deus (Gn.2.8). Estando no Jardim do Éden, Deus ordenou que o homem cultivasse e guardasse aquilo que o Senhor havia criado nos seis dias, sobretudo o Jardim do Éden. Portanto, o homem deveria desenvolver tudo o que fora criado pelo Senhor, como um empreendedor que transforma seu campo em uma cidade. Esse desenvolvimento seria realizado com inteligência e criatividade, como até nossos dias podemos ver nas obras das mãos do ser humano.
Portanto, desenvolver aquilo que é posto em nossas mãos é um exercício divino. Construir uma casa, dar beleza aos cômodos de um lar e arrumar o ambiente em que moramos são exercícios divinos a serem realizados com inteligência e criatividade. Dessa forma, as donas de casa não devem desmerecer seu trabalho, pois é o cumprimento de uma antiga ordenança do Senhor para o homem: “cultive e guarde” (Gn.2.15). Quando você desenvolve aquilo que lhe foi posto em suas mãos, você está obedecendo ao mandato de Deus e agindo com inteligência e criatividade.
Após ter criado Adão, no início do sexto dia, o Senhor também deu ao homem a importante tarefa de nomear todos os animais mostrando, assim, sua inteligência, sua criatividade e, ainda, seu governo. O homem estava cumprindo seu papel de dominar sobre a criação, exercendo o governo como importante comissário. É interessante observarmos que, após a queda, o homem também nomeou a mulher, chamando-a de Eva (Gn.3.20), atuando, desse modo, como líder de seu lar, algo que deveria ter feito antes da entrada do pecado no mundo. Por isso, Paulo nos ensina: “E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva” (1Tm.2.12-13).
Vemos, então, que Deus acabara de criar Adão e este já era capaz de exercer tarefas complexas, difíceis e divinas. Isso tudo só foi possível, porque o homem fora criado à imagem do Criador, tendo sido enchido pelo Espírito do Senhor para realizar todas as tarefas ordenadas por Deus (Gn.6.3). Algo semelhante aconteceu com Bezalel, escolhido por Deus para trabalhar na construção do Tabernáculo (Ex.31.1-11). Tal capacitação divina também é mencionada posteriormente no livro do profeta Isaías, pois o Messias também seria cheio do Espírito de Deus: “Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR” (Is.11.2).
Enquanto Adão não desobedeceu a Deus, realizou todas as tarefas divinas com pureza e maestria, como Deus lhe havia ordenado, desfrutando, ao máximo, de tudo que lhe fora confiado. A capacitação provinha do próprio Deus e tudo concorria para o bem (Rm.8.28). Isso deve motivar você a buscar uma vida abundante no Senhor, cheia do Espírito Santo e agradável a Deus, para que tudo o que você faça seja realmente para o louvor da glória do Senhor (1Co.10.31).
Essa esperança é possível por causa de Cristo, chamado por Paulo de último Adão (1Co.15.45-49). Em Cristo, o que o pecado contaminou pode ser purificado (Rm.5.1; 2Co.3.18); em Cristo, o medo da morte é substituído pela esperança da vida eterna (Rm.5.2-5); em Cristo, é possível vencermos o pecado na carne pelo poder do Espírito que por Ele nos foi dado (Rm.8.1-15); em Cristo, nossas debilidades podem ser superadas (2Co.12.9-10); em Cristo, a tolice é trocada pela sabedoria que vem do alto (Tg.1.5); em Cristo, os vícios dão lugar às virtudes divinas (Gl.5.16-23); em Cristo, a humanidade encontra sua plenitude, pois Cristo é o perfeito varão que opera em nossas vidas “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef.4.13).
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