“Até
quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E
não salvarás?” (Hc.1.2)
Dias difíceis nos deixam perplexos. Mesmo homens que já
praticaram coisas horríveis ficam indignados quando a maldade é praticada
contra aqueles que eles amam. Não fomos feitos para o mal, mas, sim, para o
bem. E não poderia ser diferente, pois fomos criados à imagem daquele que é
Santo em todos os seus atributos (amor, bondade, paciência, justiça,
fidelidade, benignidade etc.) e fez todas as coisas muito boas (Gn.1.31;
Is.6.3). Por isso, encontramos a mesma perplexidade no livro do profeta Habacuque,
um homem que viveu em dias muito maus do povo de Deus, pois a Palavra de Deus
não estava regendo a vida pessoal, familiar e social de Judá.
Em 732 a.C., As tribos do norte caíram pelas mãos do império
Assírio, como castigo proveniente de Deus, tendo em vista todos os pecados do
povo que não se arrependeu de toda sua profunda idolatria (2Rs.17). Judá e
Benjamin, as tribos restantes (Além de Levi que não possuía território)
deveriam ter aprendido o temor a Deus, vendo a manifestação da justiça do
Senhor sobre as tribos irmãs. Todavia, não havia domínio próprio no coração
daquele povo “propenso para o mal” (Ex.32.22). Mesmo tendo Deus
levantado bons reis para conduzirem o povo à Palavra do Senhor, tais como Asa
(2Cr.14.2), Josafá (1Rs.22.43), Amazias (2Cr.25.2), Uzias (2Cr.26.4), Jotão
(2Cr.27.2), Ezequias (2Cr.29.2) e Josias, conhecido como o reformador de Judá,
(2Cr.34.2).
Agora, Habacuque se depara com semelhante problema em seu
povo, a tribo de Judá e Benjamin. Segundo o profeta, a violência, a iniquidade,
a opressão, a destruição, a contenda, o litígio e a injustiça tornaram-se parte
do dia a dia de um povo que se chamava pelo nome do Senhor. Por meio do profeta
Isaías, Deus diz: “o meu nome é blasfemado incessantemente todo o dia”
(Is.52.5). O clamor de Habacuque é enfático, fazendo referência à sete pecados
sociais para apontar o contexto caótico de Judá (Hc.1.2-4). O problema já
estava em um nível tão elevado que não havia a quem recorrer nos tribunais de
Judá, pois não havia justos para julgarem retamente, como nos diz o profeta: “a
lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o
justo, a justiça é torcida” (Hc.1.4). Vejamos os quatro primeiros
versículos do livro de Habacuque:
Sentença revelada ao profeta
Habacuque. Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás?
Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me
fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há
contendas e o litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça
nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida.
(Hc.1.1-4)
Ao contrário do que pode parecer, o profeta não está
murmurando da vida. Ele está elevando sua voz a Deus e apresentando sua oração
ao Senhor, perplexo com a maldade em meio a seu povo. Ele não consegue entender
a razão dos pecados só aumentarem no meio do povo de Deus sem que o Senhor tome
uma atitude drástica. Por que Deus não age? Por que Deus não purifica seu povo?
Como Deus pode ver toda a maldade de seu povo e não fazer nada? O profeta
precisa acalmar seu coração na presença do Senhor e, por isso, busca a Deus em
oração. Habacuque está inconformado com os pecados de Judá e anseia pela ação
divina, a fim de que os justos não sejam destruídos, de modo que os ímpios se
proliferem na terra que o Senhor havia dado para seu povo.
O que você faz quando se depara com problemas: quer naturais
quer sociais, sejam coletivos sejam individuais? O comum hábito de murmurar não
resolve os problemas de uma criação sujeita ao pecado. Paulo nos ensina, em sua
carta a Timóteo, a usar “a prática de súplicas, orações, intercessões, ações
de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se
acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com
toda piedade e respeito” (1Tm.2.1-2). Provérbios nos conduz à oração por
todos aqueles que Deus investiu de autoridade, dizendo que “Como ribeiros de
águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu querer, o
inclina” (Pv.21.1).
A perplexidade de Habacuque nos conduz inevitavelmente a
refletirmos sobre as angústias de Cristo que se humilhou vivendo entre
pecadores (Fp.2.7). Quem poderia sentir e sofrer mais a maldade dos pecadores
do que Aquele que nunca pecou? Se nós que somos maus (Mt.7.11) nos indignamos
com a maldade alheia quanto mais se entristecerá aquele que nunca fez mal algum.
Jesus esteve perplexo com os pecados dos homens de sua geração e exclamou: “geração
incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?”
(Mt.17.17). E como se não bastasse ter que suportar a maldade diária do ser
humano, Cristo foi condenado à morte injustamente, tendo que morrer pelas mãos
de homens ímpios (Herodes e Pôncio Pilates). Mesmo assim, Jesus suportou a sua
geração com graça e misericórdia, esperando pacientemente o dia em que deveria
cumprir a redenção em favor de sua igreja.
Quando esteve diante de problemas, Habacuque clamou ao
Senhor, a fim de encontrar auxílio em Deus. Apesar de sua perplexidade,
Habacuque sabe que o Senhor é o Soberano de toda a terra e, por isso, aguarda
uma resposta graciosa de Deus. Nesse curto trecho do livro (Hc.1.1-4), somos
conduzidos à santidade do Senhor. Deus é Santo e, por isso, reprova todo tipo
de pecado, quer individual quer social. Por essa razão, o profeta espera uma
ação divina contra toda maldade daquela geração perversa. O que Habacuque não
sabia é que a definitiva solução contra todo pecado do ser humano ainda estava
por vir e deveria ser aguardada como quem espera o dia certo para a mulher dar
à luz a seu filho. Deus não estava alheio aos problemas da nação nem deveria, o
profeta, pensar numa possível inercia divina. O Senhor estava providenciando a
chegada do Redentor, Cristo Jesus, o Filho de Deus.
Portanto, diante dos mais variados problemas que sobrevêm ao
mundo, devemos clamar a Deus na certeza de que o Senhor tudo sabe e tudo pode.
Não devemos pensar que Deus esteja alheio aos problemas nem que Ele não se
importe com o sofrimento de seu povo. O Senhor tem um momento certo para todas
as coisas, a fim de que toda a história glorifique seu Santo NOME e testemunhe
toda a glória “daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua
vontade” (Ef.1.11). Então, acalme seu coração no Senhor lembrando que
Cristo, mais do que qualquer outra pessoa, sofreu as angústias de ter que
conviver com um mundo conturbado, em uma criação desarmônica. E Ele fez isso,
para que um dia pudéssemos viver em um novo céu e nova terra (Ap.21-22), onde a
vontade de Deus reinará perfeitamente no coração de todos os habitantes do
Reino celeste e a própria criação viverá em completa harmonia para o louvor da
glória daquele que tudo faz muito bom. Então, descanse o coração em Deus e espere
nEle!
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