“Portanto,
tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois
de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis” (Ef.6.13)
Como você age (e reage) em tempos
difíceis? Momentos maus são suficientes para mudar sua relação com Deus e com a
igreja? Deveríamos nos preocupar com uma possível apatia cristã decorrente das
dificuldades?
O Coronavírus trouxe um ensaio
para tempos difíceis, possibilitando uma avaliação da vida pessoal e familiar
dos cristãos. Como você reagiria caso não fosse mais possível termos igrejas
locais (prédios) para os cristãos se reunirem livremente? Isso mudaria seu
cristianismo? Você ainda estudaria a Palavra de Deus? Como estaria sua vida de
oração? Você procuraria outros cristãos para partilhar o conhecimento de
Cristo? Sua família ainda seria pastoreável? Evangelizaria as pessoas ou isso
estava apenas atrelado a fazer parte de uma denominação? Seus filhos cresceriam
aprendendo a Palavra do Senhor ou deixariam de ser ensinados por não haver
professor de Escola Bíblica Dominical para educa-los?
Por medida de precaução, algumas
igrejas locais já fecharam as portas aguardando até que passe o perigo da
propagação comunitária do vírus. Outras estão refletindo o assunto. A evasão
dos cultos ocorre naturalmente, tendo em vista a recomendação de profissionais
de saúde e lideranças políticas para que todos evitem aglomerações. Mas, o que
os cristãos estão fazendo nesse momento? Onde estão os cristãos que não vão aos
cultos por causa do perigo de contágio? Esperamos que não estejam aglomerados
nos shoppings nem compartilhando comidas e bebidas em restaurantes. Tomara que
não estejam se arriscando em outros ambientes públicos, como quem queria apenas
uma oportunidade para se ver livre da responsabilidade de ir aos cultos.
As escolhas que as famílias
cristãs fazem nesse momento nos ajudam a analisar como está o cristianismo.
Graças a Deus, todos os cristãos tem Bíblia em casa e, por meio da internet,
até podem acompanhar pregações e estudos, quer em formato de textos quer em
modo audiovisual. Hoje, podemos pastorear muitas pessoas à distância, em casos
de necessidade, como o que estamos começando a presenciar. É possível
conversarmos largamente por telefone ou por redes sociais, através de textos,
áudios ou mesmo imagens. Há tantos meios para ajudarmos e pedirmos ajuda que
nos tornamos indesculpáveis em casos de isolamento obrigatório. Mas, o que sua
família escolhe fazer nessas ocasiões? Assistir TV não é uma boa resposta.
Como anda a cristandade nesse
momento? Como anda seu cristianismo? Essa é uma ótima oportunidade para cada um
avaliar se é cristão de verdade ou vive um cristianismo de massa? Esse é um
momento para averiguar se a sua família apenas gosta do ambiente da igreja e
das amizades dentro dela ou se Cristo é realmente o centro de seu lar,
habitando em cada coração. Talvez, vocês apenas tenham se acostumado com a
rotina da frequência nos cultos (semelhante a Missa de corpo presente), sem que
o coração tenha o prazer de dizer: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à
Casa do SENHOR” (Sl.122.1). O que será dessas pessoas sem o “animador de
plateia” (às vezes chamado de pastor) que precisa ficar motivando os homens, as
mulheres, os jovens, os adolescentes e as crianças, a fim de que demonstrem
algum interesse em participar da vida comum da igreja local?
Tenho certeza que muitos se
acostumaram tanto com a ideia de “bater ponto” na igreja local que não se
apercebem que, uma vez estando no culto, já estão contando as horas para
voltar para casa, a fim de fazer qualquer outra coisa de interesse particular
(nem que seja comer). A ausência da alegria da salvação no coração de muitos
cristãos tem feito de seu cristianismo uma religião de ritos, datas especiais
e tradições, apenas. Tenho muitas dúvidas se diversos cristãos já experimentaram alguma
vez o pleno deleite de pertencer a Cristo e andar com Ele. Após ter reconhecido
seu pecado com Bate-Seba, uma profunda tristeza tomou conta de Davi, uma
dolorosa sensação de distanciamento de Deus, e isto o fez temer que não mais pudesse
sentir a alegria da salvação em seu coração (Sl.51). Então, Davi clamou: “Restitui-me
a alegria da Tua salvação” (Sl.51.12). Qual a sua sensação diante da
necessidade de se distanciar da vida comum da igreja?
O autor do Salmo 84 cantou,
dizendo: “O pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha
os seus filhotes; eu, os teus altares, SENHOR dos Exércitos, Rei meu e Deus
meu!” (Sl.84.3). No Salmo 16, Davi expressou sua plena satisfação em entrar
na presença do SENHOR, o Criador dos céus e da terra, o redentor de sua alma: “na
tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente”
(Sl.16.11). Jesus mostrou aos discípulos que nem mesmo as necessidades mais
básicas e os deleites mais cotidianos podiam substituir o lugar do prazer em
Deus em seu coração: “Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a
vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo.4.34). Falando aos
filipenses, Paulo esboçou sua alegria em Cristo, dizendo “Porquanto, para
mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro [...]Ora, de um e outro lado, estou
constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é
incomparavelmente melhor” (Fp.1.21,23) e ainda ordenou aos cristãos da
cidade a fazerem do Senhor a razão da felicidade do coração: “Alegrai-vos
sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” (Fp.4.4). Mas, você, por que
vai aos cultos? Qual a razão da alegria de seu coração, se é que possui?
A presente situação é ínfima para o cristianismo quando a comparamos com as muitas ameaças já
vivenciadas pela igreja ao longo de seus dois mil anos de história. Milhares de cristãos foram mortos para diversão de pagãos de várias gerações. O próprio paganismo cultural tem matado muito mais
pessoas (suicídios, homicídios, drogas e doenças sexualmente transmissíveis) e
destruído muito mais famílias (divórcio, doenças emocionais e depressão) do que o
Coronavírus e outras doenças. O número de casos no Brasil demonstra isso: são 234 casos para
210 milhões de brasileiros. Devemos lembrar que a Peste Negra matou milhões de pessoas, dizimando um terço da população europeia.
Por isso, podemos dizer que a
pandemia do Coronavírus trouxe um ensaio para uma reflexão da igreja de nossos
dias. Com isso, não sugerimos acomodação diante do vírus, mas ações
responsáveis sem escândalos nem profetadas apocalípticas, afinal a melhor
atitude é a prevenção e Deus não deixou de ser o Senhor de toda a Terra. Não
sabemos qual o nosso exato momento dentro da história redentora nem o que nos
aguarda nos anos vindouros. O que podemos afirmar, com certeza, é que estamos a
cada dia mais próximos da conclusão da história humana como a conhecemos
debaixo do pecado. De fato, Jesus está mais próximo de voltar a cada ano, mas
Ele não nos ensinou a ficar procurando descobrir qual a data certa de seu
retorno. O que devemos fazer é nos preocupar em glorificar seu NOME como quem
aguarda sua volta a qualquer momento (Mt.25).
Portanto, o que podemos fazer de
melhor, agora, é fortalecer as bases do cristianismo reconduzindo-o para a
Palavra de Deus. Esse é um bom momento para os pais desenvolverem a prática do
culto doméstico, lendo a Palavra de Deus em família, orando com os filhos,
cantando ao Senhor e, até, pregando a Escritura. Também é uma ótima
oportunidade para que todos exercitem a vida devocional pessoal investindo
horas na leitura da Bíblia e na oração. O cristianismo não é movido por eventos
nem depende de grandes coisas para ter vida. Avivamentos não ocorrem com mega
eventos nem com pessoas importantes à vista, mas por meio de uma busca sincera
e profunda do conhecimento de Cristo, em oração, através de um cristianismo
puro e simples em que o Espírito Santo e a Palavra de Deus conduzem a vida de
seu povo. Então, apresente sua vida e família ao Senhor e cultive
abundantemente uma vida cristã verdadeiramente saudável, em um mundo que vive doente de
tudo.
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