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terça-feira, 17 de março de 2020

Ensaio para tempos difíceis

Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis” (Ef.6.13)

Como você age (e reage) em tempos difíceis? Momentos maus são suficientes para mudar sua relação com Deus e com a igreja? Deveríamos nos preocupar com uma possível apatia cristã decorrente das dificuldades?

O Coronavírus trouxe um ensaio para tempos difíceis, possibilitando uma avaliação da vida pessoal e familiar dos cristãos. Como você reagiria caso não fosse mais possível termos igrejas locais (prédios) para os cristãos se reunirem livremente? Isso mudaria seu cristianismo? Você ainda estudaria a Palavra de Deus? Como estaria sua vida de oração? Você procuraria outros cristãos para partilhar o conhecimento de Cristo? Sua família ainda seria pastoreável? Evangelizaria as pessoas ou isso estava apenas atrelado a fazer parte de uma denominação? Seus filhos cresceriam aprendendo a Palavra do Senhor ou deixariam de ser ensinados por não haver professor de Escola Bíblica Dominical para educa-los?

Por medida de precaução, algumas igrejas locais já fecharam as portas aguardando até que passe o perigo da propagação comunitária do vírus. Outras estão refletindo o assunto. A evasão dos cultos ocorre naturalmente, tendo em vista a recomendação de profissionais de saúde e lideranças políticas para que todos evitem aglomerações. Mas, o que os cristãos estão fazendo nesse momento? Onde estão os cristãos que não vão aos cultos por causa do perigo de contágio? Esperamos que não estejam aglomerados nos shoppings nem compartilhando comidas e bebidas em restaurantes. Tomara que não estejam se arriscando em outros ambientes públicos, como quem queria apenas uma oportunidade para se ver livre da responsabilidade de ir aos cultos.

As escolhas que as famílias cristãs fazem nesse momento nos ajudam a analisar como está o cristianismo. Graças a Deus, todos os cristãos tem Bíblia em casa e, por meio da internet, até podem acompanhar pregações e estudos, quer em formato de textos quer em modo audiovisual. Hoje, podemos pastorear muitas pessoas à distância, em casos de necessidade, como o que estamos começando a presenciar. É possível conversarmos largamente por telefone ou por redes sociais, através de textos, áudios ou mesmo imagens. Há tantos meios para ajudarmos e pedirmos ajuda que nos tornamos indesculpáveis em casos de isolamento obrigatório. Mas, o que sua família escolhe fazer nessas ocasiões? Assistir TV não é uma boa resposta.

Como anda a cristandade nesse momento? Como anda seu cristianismo? Essa é uma ótima oportunidade para cada um avaliar se é cristão de verdade ou vive um cristianismo de massa? Esse é um momento para averiguar se a sua família apenas gosta do ambiente da igreja e das amizades dentro dela ou se Cristo é realmente o centro de seu lar, habitando em cada coração. Talvez, vocês apenas tenham se acostumado com a rotina da frequência nos cultos (semelhante a Missa de corpo presente), sem que o coração tenha o prazer de dizer: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do SENHOR” (Sl.122.1). O que será dessas pessoas sem o “animador de plateia” (às vezes chamado de pastor) que precisa ficar motivando os homens, as mulheres, os jovens, os adolescentes e as crianças, a fim de que demonstrem algum interesse em participar da vida comum da igreja local?

Tenho certeza que muitos se acostumaram tanto com a ideia de “bater ponto” na igreja local que não se apercebem que, uma vez estando no culto, já estão contando as horas para voltar para casa, a fim de fazer qualquer outra coisa de interesse particular (nem que seja comer). A ausência da alegria da salvação no coração de muitos cristãos tem feito de seu cristianismo uma religião de ritos, datas especiais e tradições, apenas. Tenho muitas dúvidas se diversos cristãos já experimentaram alguma vez o pleno deleite de pertencer a Cristo e andar com Ele. Após ter reconhecido seu pecado com Bate-Seba, uma profunda tristeza tomou conta de Davi, uma dolorosa sensação de distanciamento de Deus, e isto o fez temer que não mais pudesse sentir a alegria da salvação em seu coração (Sl.51). Então, Davi clamou: “Restitui-me a alegria da Tua salvação” (Sl.51.12). Qual a sua sensação diante da necessidade de se distanciar da vida comum da igreja?

O autor do Salmo 84 cantou, dizendo: “O pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha os seus filhotes; eu, os teus altares, SENHOR dos Exércitos, Rei meu e Deus meu!” (Sl.84.3). No Salmo 16, Davi expressou sua plena satisfação em entrar na presença do SENHOR, o Criador dos céus e da terra, o redentor de sua alma: “na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl.16.11). Jesus mostrou aos discípulos que nem mesmo as necessidades mais básicas e os deleites mais cotidianos podiam substituir o lugar do prazer em Deus em seu coração: “Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo.4.34). Falando aos filipenses, Paulo esboçou sua alegria em Cristo, dizendo “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro [...]Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp.1.21,23) e ainda ordenou aos cristãos da cidade a fazerem do Senhor a razão da felicidade do coração: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” (Fp.4.4). Mas, você, por que vai aos cultos? Qual a razão da alegria de seu coração, se é que possui?

A presente situação é ínfima para o cristianismo quando a comparamos com as muitas ameaças já vivenciadas pela igreja ao longo de seus dois mil anos de história. Milhares de cristãos foram mortos para diversão de pagãos de várias gerações. O próprio paganismo cultural tem matado muito mais pessoas (suicídios, homicídios, drogas e doenças sexualmente transmissíveis) e destruído muito mais famílias (divórcio, doenças emocionais e depressão) do que o Coronavírus e outras doenças. O número de casos no Brasil demonstra isso: são 234 casos para 210 milhões de brasileiros. Devemos lembrar que a Peste Negra matou milhões de pessoas, dizimando um terço da população europeia.

Por isso, podemos dizer que a pandemia do Coronavírus trouxe um ensaio para uma reflexão da igreja de nossos dias. Com isso, não sugerimos acomodação diante do vírus, mas ações responsáveis sem escândalos nem profetadas apocalípticas, afinal a melhor atitude é a prevenção e Deus não deixou de ser o Senhor de toda a Terra. Não sabemos qual o nosso exato momento dentro da história redentora nem o que nos aguarda nos anos vindouros. O que podemos afirmar, com certeza, é que estamos a cada dia mais próximos da conclusão da história humana como a conhecemos debaixo do pecado. De fato, Jesus está mais próximo de voltar a cada ano, mas Ele não nos ensinou a ficar procurando descobrir qual a data certa de seu retorno. O que devemos fazer é nos preocupar em glorificar seu NOME como quem aguarda sua volta a qualquer momento (Mt.25).

Portanto, o que podemos fazer de melhor, agora, é fortalecer as bases do cristianismo reconduzindo-o para a Palavra de Deus. Esse é um bom momento para os pais desenvolverem a prática do culto doméstico, lendo a Palavra de Deus em família, orando com os filhos, cantando ao Senhor e, até, pregando a Escritura. Também é uma ótima oportunidade para que todos exercitem a vida devocional pessoal investindo horas na leitura da Bíblia e na oração. O cristianismo não é movido por eventos nem depende de grandes coisas para ter vida. Avivamentos não ocorrem com mega eventos nem com pessoas importantes à vista, mas por meio de uma busca sincera e profunda do conhecimento de Cristo, em oração, através de um cristianismo puro e simples em que o Espírito Santo e a Palavra de Deus conduzem a vida de seu povo. Então, apresente sua vida e família ao Senhor e cultive abundantemente uma vida cristã verdadeiramente saudável, em um mundo que vive doente de tudo.

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