“Vede
entre as nações, olhai, maravilhai-vos e desvanecei, porque realizo, em vossos
dias, obra tal, que vós não crereis, quando vos for contada” (Hc.1.5)
Deus é tão bom, tão gracioso, tão misericordioso que
responde quando seu povo clama: “se o meu povo, que se chama pelo meu nome,
se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então,
eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2Cr.7.14).
O Senhor não tem obrigação de responder ou atender a qualquer criatura, mas por
seu santo amor que o glorifica, o Senhor se dispõe, “conforme o beneplácito
de sua vontade” (Ef.1.5), a atender ao chamado de suas criaturas que clamam
por seu favor.
Esta graça torna-se ainda mais superabundante (Rm.5.20)
quando refletimos na condição do homem perante seu Criador (Sl.14; Sl.53). Se a
anjos que nunca pecaram o Senhor não tem por obrigação ouvir nem atender a voz,
quanto mais a pecadores sujos, indignos, rebeldes, egoístas, indiferentes, incrédulos
e cheios de toda maldade (Rm.3.10-18). O ser humano se fez inimigo de Deus e
sua condição pecadora é completamente repugnante à santidade do Senhor. O homem
não apenas peca por vacilo (o que seria suficiente para estar debaixo da ira de
Deus); ele transgride a Palavra de Deus por rebeldia, propositadamente. As pessoas sabem que estão pecando, são advertidas, mas debocham fingindo que
tudo está bem. Elas são rebeldes contra Deus. Assim como o porco é um animal
sujo para o homem, assim é a condição do pecador perante seu Criador (Mt.7.6;
At.11.5-18). Contudo, quando este homem, mergulhado na lama, é purificado pelo
sangue de Cristo (Rm.5.1; 1Jo.1.7) e se volta para Deus suplicando seu auxílio,
Deus se compadece de sua miserável condição e o socorre em meio a aflição.
Assim, após Habacuque ter orado ao Senhor (Hc.1.1-4), Deus respondeu
com as seguintes palavras:
Vede entre as nações, olhai, maravilhai-vos e desvanecei, porque realizo,
em vossos dias, obra tal, que vós não crereis, quando vos for contada. 6 Pois eis que suscito os caldeus,
nação amarga e impetuosa, que marcham pela largura da terra, para apoderar-se
de moradas que não são suas. 7
Eles são pavorosos e terríveis, e criam eles mesmos o seu direito e a sua
dignidade. 8 Os seus cavalos
são mais ligeiros do que os leopardos, mais ferozes do que os lobos ao
anoitecer são os seus cavaleiros que se espalham por toda parte; sim, os seus
cavaleiros chegam de longe, voam como águia que se precipita a devorar. 9 Eles todos vêm para fazer
violência; o seu rosto suspira por seguir avante; eles reúnem os cativos como
areia. 10 Eles escarnecem dos
reis; os príncipes são objeto do seu riso; riem-se de todas as fortalezas,
porque, amontoando terra, as tomam. 11
Então, passam como passa o vento e seguem; fazem-se culpados estes cujo poder é
o seu deus. (Hc.1.5-11)
Nada foge ao controle daquele que é Senhor de tudo,
inclusive da história. Poderiam os homens pecarem sem que Deus o soubesse?
Poderia alguém fazer o mal sem que isto chegasse ao conhecimento do Senhor? E,
porventura, Deus ignoraria a maldade do homem sem que o conduzisse a juízo? Não!
É a resposta dada em meio às muitas palavras do texto (Hc.1.5-11). A história
redentora estava em curso e grandes coisas ainda viriam a acontecer, mas o Senhor
se mostra paciente quanto ao cumprimento de sua santa vontade. Nada nem ninguém
impediria que Deus cumprisse seu plano redentor e, apesar de todo pecado e
dureza de coração, o povo de Israel ainda seria o instrumento divino para
trazer à luz o Filho de Deus (Rm.9.4-5; Gl.3.16; Ap.12.1-6). Mas, para trazer
seu Filho ao mundo, seria necessária a purificação da nação. O pecado do povo
rebelde não impediria o plano divino e, para isso, Deus castigaria seu povo, a
fim de prepara-lo para o grande dia, o dia da chegada do Messias prometido (Lc.1.68-79).
Às vezes, o cristão pode ter a impressão que seus pecados
impedirão o cumprimento dos propósitos divinos para sua vida. A certeza do amor
de Deus, testificado pelo Espírito Santo e pela Escritura Sagrada, é posto em
dúvida quando o cristão cai em tentações, pecando contra o Senhor. Será que sou
realmente salvo? (1Jo.2.1), chora o coração aflito, carente de vestir-se da
armadura de Deus contra toda dúvida perniciosa (Ef.6.10-18). Se você já teve
esse sentimento, deve correr para a Palavra de Deus e começar, desde Gênesis, a
ler a história redentora onde encontrará os muitos pecados de homens e mulheres
que esperavam pela redenção prometida. Nenhum dos pecados cometidos pelo povo
de Deus foi suficiente para impedir que o plano redentor fosse concretizado,
ainda que tenha dado razão para que o Senhor castigasse seu povo (Hb.12.4-13).
Também, muitas circunstâncias adversas podem fazer-se
grandes adversárias contra a igreja de Jesus. Nos dois mil anos de
cristianismo, diversas foram as ocasiões que se levantaram contra o povo de
Deus, tentando impedir que a igreja seguisse em frente servindo ao Senhor. Apocalipse
nos conta que o diabo e seus anjos se voltaram contra o povo de Deus para o
devorar, sabendo que pouco tempo lhes resta (Ap.12.12-17). Nos dias da reforma
protestante, o cristianismo estava sucumbindo ao pecado, dando a impressão que
não havia mais esperança para a noiva do Cordeiro. Contudo, Deus levantou
homens agraciados pela fé e sabedoria, a fim de lutarem pela Verdade,
purificando a igreja de toda maldade que havia penetrado em seu meio. Então, já
se passaram mais de dois mil anos, desde o nascimento do Redentor, e nada pode
destruir a igreja de Cristo, mostrando, assim, que nada nem ninguém pode
impedir o agir do Senhor (Is.43.13).
Para cumprir sua vontade, Deus pode utilizar-se de muitos
meios. Em 1 Reis 22, encontramos uma interessante história que nos ajuda a
compreender a instrumentalidade até de seres maus. Quando o Senhor quis matar o
rei Acabe por causa de toda a maldade que praticara contra Deus, junto a sua
esposa Jezabel (1Rs.16.30-33), reuniu “todo o exército do céu”
(1Rs.22.19), anjos e demônios, e “perguntou o SENHOR: Quem enganará a Acabe,
para que suba e caia em Ramote-Gileade?” (1Rs.22.20). Deus é o Senhor da
vida e pode tirá-la como e quando quiser, mas Ele queria que Acabe morresse por
sua incredulidade, enganado pelos falsos profetas sobre os quais depositou sua
confiança, rebelando-se contra o Deus de Israel. Acabe enganou o povo com falsos
deuses e morreria enganado pelos mensageiros desses falsos deuses. Mas, quem
poderia enganar Acabe? Deus é a Verdade e nenhuma mentira pode ser proferida
por Ele. Também os anjos não poderiam mentir, pois Deus os criara santos. Quem,
então, poderia cumprir tal propósito?
Micaías
prosseguiu: Ouve, pois, a palavra do SENHOR: Vi o SENHOR assentado no seu
trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua direita e à sua esquerda. 20 Perguntou o SENHOR: Quem
enganará a Acabe, para que suba e caia em Ramote-Gileade? Um dizia desta
maneira, e outro, de outra. 21
Então, saiu um espírito, e se apresentou diante do SENHOR, e disse: Eu o
enganarei. Perguntou-lhe o SENHOR: Com quê?
22 Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca
de todos os seus profetas. Disse o SENHOR: Tu o enganarás e ainda prevalecerás;
sai e faze-o assim. 23 Eis
que o SENHOR pôs o espírito mentiroso na boca de todos estes teus profetas e o
SENHOR falou o que é mau contra ti. (1Rs.22.19-23)
Deus aceitou a sugestão de um demônio que propôs ser um “espírito
mentiroso na boca de todos os seus profetas” (1Rs.22.22). Somente com a
aprovação divina o espírito maligno poderia atuar e, ainda, ser bem-sucedido. O
mesmo podemos encontrar no livro de Jó quando Satanás sugere a Deus, por duas
vezes, que tocasse em tudo o que Jó tinha, tirando-lhe bens, família e saúde
(Jó.1.6-12; 2.1-7). Foi nesse sentido que o reformador Lutero afirmou: “o diabo
é o diabo de Deus”, ou seja, até o diabo é uma criatura e deve completa
obediência a Deus e, ainda, é instrumento de Deus para cumprir sua perfeita
vontade, pois nada pode resistir à vontade do Criador e Senhor de todo o
universo (visível e invisível). Não foi diferente quanto ao propósito de
conduzir Jesus à cruz. Satanás (e Judas) foi o instrumento (sem compreender)
para que Cristo fosse crucificado: “Ora, Satanás entrou em Judas, chamado
Iscariotes, que era um dos doze. Este foi entender-se com os principais
sacerdotes e os capitães sobre como lhes entregaria a Jesus” (Lc.22.3-4).
A resposta divina para Habacuque caminha na mesma direção.
Deus estava atento a tudo o que acontecia e agiria para castigar seu povo por
toda a sua perversidade. Para isso, O Senhor usaria um povo bruto, valente e
forte que viria arremeter contra Judá: os caldeus (Hc.1.6). Este povo não viria
contra a nação de Israel por acaso (aconteceria alguma coisa por acaso?). Deus estava
suscitando os caldeus contra seu povo para o castigar, a fim de purifica-lo de seus
pecados sociais. O livro do profeta Jeremias nos conta os detalhes dos dias que
antecederam o ataque dos caldeus até o momento em que Jerusalém cai nas mãos da
Babilônia (Jr.20.4-5). Foram dias terríveis, nos conta o profeta (Jr.52). Pior
do que a maldade que se fazia dentro de Judá seria a arremetida dos caldeus
contra o povo que estava desprezando seu Deus (Hc.1.5-11). Desse modo, o Senhor
também vingaria os justos que haviam sido violentados, injustiçados,
perseguidos, maltratados e desprezados (Hc.1.1-4).
Portanto, Deus não está alheio aos sofrimentos daqueles que
o amam e esperam nEle (Sl.25.3). Todavia, o Senhor tem um tempo certo para
todas as coisas (Ec.3.1-8). É preciso confiar no Senhor e esperar sua resposta
graciosa (Sl.37). É o que a igreja tem feito desde que Jesus subiu aos céus
para estar à direita de Deus Pai (Lc.22.69; At.1.9-11; Rm.8.34; Cl.3.1), aguardando
a volta de Cristo, quando, finalmente, seremos separados dos ímpios para
vivermos eternamente com o Senhor (Mt.25.31-46; Ap.20.11-15). Enquanto
estivermos vivendo em um mundo que “jaz no maligno” (1Jo.5.19), sofreremos
aflições, perseguições, injustiças e catástrofes. Diante de tudo isso, devemos olhar
para Deus (Cl.3.1-3), Senhor dos céus e da terra, e lembrar que Ele “não poupou o seu próprio Filho,
antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele
todas as coisas?” (Rm.8.32). Jesus prometeu e voltará para nos buscar (Ap.22.7,12,20).
Nesse dia, seremos livrados de todas as nossas angústias e o Senhor “enxugará
dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem
pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap.21.4).
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