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quinta-feira, 19 de março de 2020

Habacuque (1.5-11) - Deus responde a seu povo

Vede entre as nações, olhai, maravilhai-vos e desvanecei, porque realizo, em vossos dias, obra tal, que vós não crereis, quando vos for contada” (Hc.1.5)

Deus é tão bom, tão gracioso, tão misericordioso que responde quando seu povo clama: “se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2Cr.7.14). O Senhor não tem obrigação de responder ou atender a qualquer criatura, mas por seu santo amor que o glorifica, o Senhor se dispõe, “conforme o beneplácito de sua vontade” (Ef.1.5), a atender ao chamado de suas criaturas que clamam por seu favor.

Esta graça torna-se ainda mais superabundante (Rm.5.20) quando refletimos na condição do homem perante seu Criador (Sl.14; Sl.53). Se a anjos que nunca pecaram o Senhor não tem por obrigação ouvir nem atender a voz, quanto mais a pecadores sujos, indignos, rebeldes, egoístas, indiferentes, incrédulos e cheios de toda maldade (Rm.3.10-18). O ser humano se fez inimigo de Deus e sua condição pecadora é completamente repugnante à santidade do Senhor. O homem não apenas peca por vacilo (o que seria suficiente para estar debaixo da ira de Deus); ele transgride a Palavra de Deus por rebeldia, propositadamente. As pessoas sabem que estão pecando, são advertidas, mas debocham fingindo que tudo está bem. Elas são rebeldes contra Deus. Assim como o porco é um animal sujo para o homem, assim é a condição do pecador perante seu Criador (Mt.7.6; At.11.5-18). Contudo, quando este homem, mergulhado na lama, é purificado pelo sangue de Cristo (Rm.5.1; 1Jo.1.7) e se volta para Deus suplicando seu auxílio, Deus se compadece de sua miserável condição e o socorre em meio a aflição.

Assim, após Habacuque ter orado ao Senhor (Hc.1.1-4), Deus respondeu com as seguintes palavras:

Vede entre as nações, olhai, maravilhai-vos e desvanecei, porque realizo, em vossos dias, obra tal, que vós não crereis, quando vos for contada.  6 Pois eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcham pela largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas.  7 Eles são pavorosos e terríveis, e criam eles mesmos o seu direito e a sua dignidade.  8 Os seus cavalos são mais ligeiros do que os leopardos, mais ferozes do que os lobos ao anoitecer são os seus cavaleiros que se espalham por toda parte; sim, os seus cavaleiros chegam de longe, voam como águia que se precipita a devorar.  9 Eles todos vêm para fazer violência; o seu rosto suspira por seguir avante; eles reúnem os cativos como areia.  10 Eles escarnecem dos reis; os príncipes são objeto do seu riso; riem-se de todas as fortalezas, porque, amontoando terra, as tomam.  11 Então, passam como passa o vento e seguem; fazem-se culpados estes cujo poder é o seu deus. (Hc.1.5-11)

Nada foge ao controle daquele que é Senhor de tudo, inclusive da história. Poderiam os homens pecarem sem que Deus o soubesse? Poderia alguém fazer o mal sem que isto chegasse ao conhecimento do Senhor? E, porventura, Deus ignoraria a maldade do homem sem que o conduzisse a juízo? Não! É a resposta dada em meio às muitas palavras do texto (Hc.1.5-11). A história redentora estava em curso e grandes coisas ainda viriam a acontecer, mas o Senhor se mostra paciente quanto ao cumprimento de sua santa vontade. Nada nem ninguém impediria que Deus cumprisse seu plano redentor e, apesar de todo pecado e dureza de coração, o povo de Israel ainda seria o instrumento divino para trazer à luz o Filho de Deus (Rm.9.4-5; Gl.3.16; Ap.12.1-6). Mas, para trazer seu Filho ao mundo, seria necessária a purificação da nação. O pecado do povo rebelde não impediria o plano divino e, para isso, Deus castigaria seu povo, a fim de prepara-lo para o grande dia, o dia da chegada do Messias prometido (Lc.1.68-79).

Às vezes, o cristão pode ter a impressão que seus pecados impedirão o cumprimento dos propósitos divinos para sua vida. A certeza do amor de Deus, testificado pelo Espírito Santo e pela Escritura Sagrada, é posto em dúvida quando o cristão cai em tentações, pecando contra o Senhor. Será que sou realmente salvo? (1Jo.2.1), chora o coração aflito, carente de vestir-se da armadura de Deus contra toda dúvida perniciosa (Ef.6.10-18). Se você já teve esse sentimento, deve correr para a Palavra de Deus e começar, desde Gênesis, a ler a história redentora onde encontrará os muitos pecados de homens e mulheres que esperavam pela redenção prometida. Nenhum dos pecados cometidos pelo povo de Deus foi suficiente para impedir que o plano redentor fosse concretizado, ainda que tenha dado razão para que o Senhor castigasse seu povo (Hb.12.4-13).

Também, muitas circunstâncias adversas podem fazer-se grandes adversárias contra a igreja de Jesus. Nos dois mil anos de cristianismo, diversas foram as ocasiões que se levantaram contra o povo de Deus, tentando impedir que a igreja seguisse em frente servindo ao Senhor. Apocalipse nos conta que o diabo e seus anjos se voltaram contra o povo de Deus para o devorar, sabendo que pouco tempo lhes resta (Ap.12.12-17). Nos dias da reforma protestante, o cristianismo estava sucumbindo ao pecado, dando a impressão que não havia mais esperança para a noiva do Cordeiro. Contudo, Deus levantou homens agraciados pela fé e sabedoria, a fim de lutarem pela Verdade, purificando a igreja de toda maldade que havia penetrado em seu meio. Então, já se passaram mais de dois mil anos, desde o nascimento do Redentor, e nada pode destruir a igreja de Cristo, mostrando, assim, que nada nem ninguém pode impedir o agir do Senhor (Is.43.13).

Para cumprir sua vontade, Deus pode utilizar-se de muitos meios. Em 1 Reis 22, encontramos uma interessante história que nos ajuda a compreender a instrumentalidade até de seres maus. Quando o Senhor quis matar o rei Acabe por causa de toda a maldade que praticara contra Deus, junto a sua esposa Jezabel (1Rs.16.30-33), reuniu “todo o exército do céu” (1Rs.22.19), anjos e demônios, e “perguntou o SENHOR: Quem enganará a Acabe, para que suba e caia em Ramote-Gileade?” (1Rs.22.20). Deus é o Senhor da vida e pode tirá-la como e quando quiser, mas Ele queria que Acabe morresse por sua incredulidade, enganado pelos falsos profetas sobre os quais depositou sua confiança, rebelando-se contra o Deus de Israel. Acabe enganou o povo com falsos deuses e morreria enganado pelos mensageiros desses falsos deuses. Mas, quem poderia enganar Acabe? Deus é a Verdade e nenhuma mentira pode ser proferida por Ele. Também os anjos não poderiam mentir, pois Deus os criara santos. Quem, então, poderia cumprir tal propósito?

Micaías prosseguiu: Ouve, pois, a palavra do SENHOR: Vi o SENHOR assentado no seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua direita e à sua esquerda.  20 Perguntou o SENHOR: Quem enganará a Acabe, para que suba e caia em Ramote-Gileade? Um dizia desta maneira, e outro, de outra.  21 Então, saiu um espírito, e se apresentou diante do SENHOR, e disse: Eu o enganarei. Perguntou-lhe o SENHOR: Com quê?  22 Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. Disse o SENHOR: Tu o enganarás e ainda prevalecerás; sai e faze-o assim.  23 Eis que o SENHOR pôs o espírito mentiroso na boca de todos estes teus profetas e o SENHOR falou o que é mau contra ti. (1Rs.22.19-23)

Deus aceitou a sugestão de um demônio que propôs ser um “espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas” (1Rs.22.22). Somente com a aprovação divina o espírito maligno poderia atuar e, ainda, ser bem-sucedido. O mesmo podemos encontrar no livro de Jó quando Satanás sugere a Deus, por duas vezes, que tocasse em tudo o que Jó tinha, tirando-lhe bens, família e saúde (Jó.1.6-12; 2.1-7). Foi nesse sentido que o reformador Lutero afirmou: “o diabo é o diabo de Deus”, ou seja, até o diabo é uma criatura e deve completa obediência a Deus e, ainda, é instrumento de Deus para cumprir sua perfeita vontade, pois nada pode resistir à vontade do Criador e Senhor de todo o universo (visível e invisível). Não foi diferente quanto ao propósito de conduzir Jesus à cruz. Satanás (e Judas) foi o instrumento (sem compreender) para que Cristo fosse crucificado: “Ora, Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era um dos doze. Este foi entender-se com os principais sacerdotes e os capitães sobre como lhes entregaria a Jesus” (Lc.22.3-4).

A resposta divina para Habacuque caminha na mesma direção. Deus estava atento a tudo o que acontecia e agiria para castigar seu povo por toda a sua perversidade. Para isso, O Senhor usaria um povo bruto, valente e forte que viria arremeter contra Judá: os caldeus (Hc.1.6). Este povo não viria contra a nação de Israel por acaso (aconteceria alguma coisa por acaso?). Deus estava suscitando os caldeus contra seu povo para o castigar, a fim de purifica-lo de seus pecados sociais. O livro do profeta Jeremias nos conta os detalhes dos dias que antecederam o ataque dos caldeus até o momento em que Jerusalém cai nas mãos da Babilônia (Jr.20.4-5). Foram dias terríveis, nos conta o profeta (Jr.52). Pior do que a maldade que se fazia dentro de Judá seria a arremetida dos caldeus contra o povo que estava desprezando seu Deus (Hc.1.5-11). Desse modo, o Senhor também vingaria os justos que haviam sido violentados, injustiçados, perseguidos, maltratados e desprezados (Hc.1.1-4).

Portanto, Deus não está alheio aos sofrimentos daqueles que o amam e esperam nEle (Sl.25.3). Todavia, o Senhor tem um tempo certo para todas as coisas (Ec.3.1-8). É preciso confiar no Senhor e esperar sua resposta graciosa (Sl.37). É o que a igreja tem feito desde que Jesus subiu aos céus para estar à direita de Deus Pai (Lc.22.69; At.1.9-11; Rm.8.34; Cl.3.1), aguardando a volta de Cristo, quando, finalmente, seremos separados dos ímpios para vivermos eternamente com o Senhor (Mt.25.31-46; Ap.20.11-15). Enquanto estivermos vivendo em um mundo que “jaz no maligno” (1Jo.5.19), sofreremos aflições, perseguições, injustiças e catástrofes. Diante de tudo isso, devemos olhar para Deus (Cl.3.1-3), Senhor dos céus e da terra, e lembrar que Ele “não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Rm.8.32). Jesus prometeu e voltará para nos buscar (Ap.22.7,12,20). Nesse dia, seremos livrados de todas as nossas angústias e o Senhor “enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap.21.4).

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