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sábado, 14 de dezembro de 2019

Saia do isolamento

O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria” (Pv.18.1)

Nossa geração é mais individualista do que percebe. Provavelmente, você não se considera individualista, pois acha normal sair sem conversar com ninguém após o término do culto. Talvez você não sinta falta do convívio com os demais irmãos durante a semana, pois o trabalho ocupa muito de seu tempo. Então, não vê problema em faltar a reunião de oração, a Escola Bíblica Dominical, o encontro de jovens, as departamentais de homens ou mulheres, as vigílias de oração etc. Já se tornou tão comum que cristãos apareçam “na igreja” apenas nos domingos à noite que não parece haver problema algum nisso. Mas, já que a igreja é chamada de “família de Deus” (Ef.2.19), como podemos tratá-la de forma tão impessoal? É certo tratar uma família assim?

A comunhão do povo de Deus é algo divino, ou seja, provém do próprio Deus. Em Efésios 2.13-19, o apóstolo Paulo nos fala sobre a relação entre a obra redentora de Cristo e a unidade daqueles que são chamados de irmãos em Cristo. Isso se dá porque o sacrifício do Senhor Jesus tornou possível a adoção de filhos para Deus, por meio da justificação, fazendo com que os que creem em Cristo tornem-se parte da família de Deus, a fim de que vivam em verdadeira paz e verdadeiro amor. Portanto, a unidade e a comunhão da igreja são parte da obra redentora, glorificando a Deus que une pecadores em torno de um só, a saber: Cristo Jesus.

Aquilo que Paulo nos ensina em Efésios pode ser visto na narrativa de Atos dos apóstolos, em que Lucas nos conta as implicações práticas do agir do Espírito Santo e da Palavra de Deus nos corações daqueles que creram na pregação de Pedro. Atos 2.42-47 nos revela uma igreja perseverante, temente, amável e dedicada, como uma grande família em que um cuida do outro, em Cristo e para Cristo. A obra redentora de Deus tanto justificou pecadores para dar-lhes a redenção eterna quanto estava santificando vidas para viverem como novas criaturas no presente. E o testemunho prático daqueles que abandonaram o orgulho e o egoísmo tornou-se conhecido por todas as demais pessoas, atraindo mais pecadores para Cristo para a glória de Deus.

No Salmo 133, Davi faz duas analogias sobre a comunhão do povo de Deus (óleo e orvalho). Na primeira analogia, a comunhão daqueles que creem no Senhor é semelhante ao derramar do óleo da unção que confirmaria a escolha divina daquele que mediaria entre Deus e seu povo (Ex.29.7). O óleo da unção representava o derramar do Espírito Santo para capacitar o homem a fazer a vontade de Deus, indicando que o sumo sacerdote estaria cheio do Espírito de Deus. Assim como o óleo da unção, derramado em abundância, era uma manifestação visível da presença do Espírito, também a comunhão dos irmãos revelaria que o Espírito do Senhor estaria no meio de sua igreja. Logo, a “não-unidade” do povo de Deus revela a carnalidade em que vivem os que se dizem cristãos.

Você já pensou nos benefícios da comunhão? Talvez não tenha refletido o suficiente, já que a vida cristã de nossos dias persiste em ser solitária. A tendência atual em transformar o culto a Deus em um “show gospel” tem piorado o individualismo. Pessoas vão à “igreja” para “assistir” um culto, não para adorar, pois o caráter congregacional do culto a Deus foi retirado. As mega igrejas dificultam uma relação pessoal entre os cristãos que ali se congregam. Líderes tem se preocupado mais com a glória aparente de uma igreja imensa do que com a beleza de pequenas igrejas em que haja verdadeira comunhão entre os irmãos. Por isso, dificilmente subdividem suas mega igrejas para formar outras de menor tamanho. Então, famílias vão e vem sem serem percebidas pela multidão que, às vezes, parece mais uma plateia.

A unidade da igreja e sua comunhão diária são fundamentais para o bem-estar do povo de Deus, no meio do qual Deus deve ser glorificado na luta contra todo pecado, contra todo principado e potestade (Ef.6.10-18). Soldados sozinhos não são capazes de vencer uma guerra, mas um batalhão bem unido e preparado, com certeza terá grande chance de ser vitorioso. Jesus afirmou que “todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá” (Mt.12.25). Portanto, nem mesmo Satanás é tão "bobo" ao ponto de dividir seu reino maligno, sabendo que a divisão causaria o enfraquecimento de seu império. Por isso, Paulo roga, com grande insistência, às igrejas que se esforcem para “preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef.4.3; Gl.5.13-15; Fp.1.27-30 etc.).

Então, quanto esforço você dedica para cultivar uma vida de comunhão constante com os irmãos que Deus lhe deu por meio do sacrifício de Jesus Cristo? Quando você se isola para viver uma “fé individual”, deixando de estar em contato com a igreja de Jesus, busca seus próprios interesses, negligenciando aquilo que agrada ao Senhor e, também, beneficia os irmãos em Cristo. Conforme o livro de Provérbios, “o solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria” (Pv.18.1). Portanto, o não cultivo da comunhão (isolamento) não é uma atitude sábia proveniente do Espírito de Deus. Ao contrário, quando cristãos não buscam estar juntos com os demais irmãos em Cristo mostram que estão sendo conduzidos pelo próprio coração egoísta, deixando de glorificar a Deus por meio da relação com a igreja de Jesus, para satisfazer os interesses particulares do próprio coração.

Na prática, podemos listar algumas implicações do isolamento em contraste com os benefícios de uma vida comunitária cristã. Sozinhos, jovens tem perdido batalhas contra a pornografia. Mas se estivessem sempre juntos, poderiam fortalecer um ao outro, orando e conversando sobre a Palavra de Deus, alimentando, uns nos outros, pensamentos puros e agradáveis a Deus como disse o apóstolo Paulo: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp.4.8)

Sozinhos, jovens tomam decisões erradas agindo precipitadamente. Mas, andando com outros irmãos, eles podem compartilhar suas dúvidas e receber conselhos embasados na Palavra do Senhor. E quando o coração estiver frenético, podem ser acalmados e conduzidos a olhar firmemente para Cristo, a fim de que não ajam por impulso, mas pela direção da Palavra e do Espírito de Deus. Até o lazer coletivo é mais saudável do que a vida solitária, pois serve de proteção para o coração e a mente, evitando imaginações vãs. Jovens que estão comprometidos, quando sozinhos podem cair em tentação, mas se saem com outros irmãos em Cristo, são vigiados para o bem deles mesmos, sendo protegidos dos desejos do coração.

Sozinhos, cônjuges têm vivido crises que tornam a vida conjugal sofrida. A falta de maturidade para tratar diversos assuntos do casamento podem levar os cônjuges a muitos anos “batendo cabeças” desnecessariamente. Mas, se os casais tivessem outras famílias ao lado, poderiam compartilhar seus desafios e encontrar exortação, conforto, ânimo e ensino, ajudando-se mutuamente a desfrutarem de uma vida familiar saudável e prazerosa, em Cristo Jesus. O isolamento de casais tanto os priva de serem abençoados com o aprendizado que outros podem oferecer quanto se mostra egoísta, pois priva os demais casais daquilo que poderiam receber deles também.

Sozinhos, pais podem sofrer muitas dificuldades na educação de seus filhos, vendo o tempo passar sem que seus descendentes vivam em Cristo e para Cristo. A educação de filhos não é fácil e exige muita perseverança e auxílio. A igreja deve ajudar as famílias na educação de seus filhos, suavizando a carga dos pais. Paulo ordena a Tito que exorte os homens mais experientes e as mulheres mais maduras a ensinarem os mais jovens. Ou seja, uma família deve ajudar a outra na educação para que todos se alegrem com o crescimento espiritual das crianças e jovens. Por isso, os pais deveriam cultivar a relação com outras famílias, deixando o orgulho de quem se acha autossuficiente, sem perceber que tem cometido tantos erros no decorrer da jornada paterna. Pais que valorizam a relação entre famílias estão dando aos filhos o benefício de interagirem com outras crianças, adolescentes e jovens, possibilitando o surgimento e crescimento de importantes amizades cristãs.

Portanto, troque a vida isolada por uma vida em constante comunhão com a igreja. Não seja cabeça-dura nem orgulhoso nem egoísta nem solitário, pois todas essas coisas são pecados e brotam de um coração que não está olhando firmemente para o autor e consumador de nossa fé: Jesus. Cristo sacrificou a si mesmo para formar um povo que viva em comunhão para a sua glória e o Espírito Santo opera por meio da Escritura Sagrada para transformar os corações duros em novos corações prontos para negar a si mesmos e amar (Mt.16.24; Jo.13.34-35). Então, não despreze aquilo que Deus ama: a igreja (Ef.5.25-27). Lembre-se que todo cristão deve se preparar para a eternidade, quando viverá unido perfeitamente a todo o povo de Deus, pois o Senhor não dará um novo céu e nova terra só para você. Logo, você precisa aprender a viver em comunhão.

Desse modo, jovens e adultos, solteiros e casados, filhos e pais façam questão de estarem juntos. Cultive o amor na prática, na relação com seus irmãos em Cristo. Jovens, não troquem os momentos de interação com os demais por outras atividades, mesmo as mais atraentes (cinema, passeios, festinhas e coisas semelhantes). Casais, se aproximem dos demais casais da igreja. A troca de experiências à luz da Escritura Sagrada pode ser de grande valor para todos. Pais, aproximem-se com seus filhos das demais famílias, ajudando, assim, tanto os próprios filhos quanto sua relação conjugal; abençoando tanto seu lar quanto muitas outras famílias com as quais você estará interagindo em Cristo Jesus. Lembre-se: “Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!” (Sl.133.1)

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