“Eu, porém, vos digo: amai os
vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do
vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir
chuvas sobre justos e injustos.” (Mt.5.44-45)
Em nossa cultura tão
teórica e abstrata, o amor é visto como algo mágico que surge repentinamente no
coração, um sentimento que aparece por conta própria como ocorre nos contos de
fadas. Tudo funciona como num “passe de mágica”, sem que haja uma busca
consciente por uma vida de amor. O amor, então, parece ter vida própria e poder
para escolher a quem deseja contagiar.
Mas, seria o amor algum
tipo de força mágica que age nas pessoas quando quer? De maneira nenhuma! A
Escritura diz que Deus é amor, mas não diz que o amor é Deus (1Jo.4.16).
Portanto, o amor depende de alguém para vir à existência. Caso não haja alguém
que ame, não haverá amor. O amor, então, exige esforço. Uma cultura iludida por
contos de fadas costuma esperar que o amor apareça sozinho, sem qualquer
esforço, gerando bastante negligência diante da necessidade de se cultivar e
restaurar a presença do amor nas relações familiares e fraternas.
Observe que ter rancor no
coração e odiar pessoas que nos desagradaram é uma tarefa muito fácil e natural
para o pecador. Também podemos dizer que é fácil amar os amigos, as pessoas que
nos fazem bem, aquelas que proporcionam bem-estar em nós. Contudo, é muito
difícil amar os inimigos, fazer o bem àqueles que fazem mal para nós. Jesus
disse que esse é o caminho rumo à perfeição e que deveríamos trilha-lo, a fim
de sermos perfeitos como o Pai, amando os inimigos e orando pelos que nos
perseguem (Mt.5.43-48). Diante de tal exigência, fica evidente que o amor exige
esforço de nossa parte e muita graça da parte de Deus.
Quando foi que você
dedicou esforço, junto à oração, para amar pessoas que o desagradaram? Vivemos
dias de tão grande conforto e facilidade que nos acomodamos mais do que já é o
normal para o ser humano. Tem sido mais fácil ir ao cartório assinar o divórcio
do que lutar pela manutenção ou restauração do casamento. A cultura da
facilidade trouxe um grande prejuízo para a sociedade alimentando o comodismo. Caso
não tenhamos cuidado, teremos mais pessoas divorciadas em novos casamentos do
que casamentos que perduram por toda a vida. Teremos mais pessoas fora das
igrejas ou que apenas visitam “igrejas” do que fiéis membros que perseveram
firmes por toda a vida numa igreja local.
A verdade é que é bem
mais fácil falar mal das pessoas e depois ignorá-las, trocá-las, desprezá-las
no coração. Contudo, você sabe que o certo é amá-las, mesmo que elas não
pareçam merecedoras desse amor, assim como você não merece o amor de Deus
(Rm.5.8). O problema, portanto, encontra-se dentro do coração corrupto do ser
humano (Jr.17.9). O único amor que é natural a este coração é o amor próprio,
razão para que todas as pessoas procurem o que é melhor para elas. O pecado
tornou o coração egoísta e o colocou no trono da vida para conduzi-la a seu bel-prazer.
Não é sem razão que vivemos em uma era chamada de humanista, ou seja, em que o
homem é o centro de todas as coisas.
Escrevendo aos Romanos,
Paulo exorta a igreja a esforçar-se para fazer o bem perante todos os homens
(Rm.12.17), de modo que “se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se
tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas
sobre a sua cabeça” (Rm.12.20). Para que a igreja vivesse o amor de Cristo
seria necessário esforço e dedicação, completa abnegação, afinal o amor de
Cristo contraria o orgulho e egoísmo naturais ao coração. Deus não nos ensina a
amar-nos a nós mesmos, mas exorta com muita frequência a amarmos os outros,
lembrando-nos constantemente daquilo que já sabemos, pois tamanha é a
dificuldade do coração pecador.
Para conseguirmos amar as
pessoas diante de todos os desafios que o pecado nos impõe, não podemos ser
acomodados. É preciso muito esforço, com muita oração, para amar um pecador que
fere nosso ego. É bem mais fácil amar pessoas que o massageiam. Mas, amar
apenas aqueles que fazem bem a nós não passa de um amor a si mesmo, amor a
nosso bem-estar.
Portanto, o primeiro
esforço necessário para que exercitemos o amor é lutar contra o orgulho e o egoísmo
do próprio coração. Aceitar a humilhação, sofrer o dano recebido, suportar o
ego machucado, engolir o orgulho ferido, se esvaziar de si mesmo. Amar
verdadeiramente como Cristo nos amou e como Deus ama sem que seja beneficiado
por este amor é uma tarefa contrária à natureza pecadora do ser humano. Mas, é
esse amor que Deus quer de seus filhos. Paulo diz aos Coríntios: “O só
existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não
sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?”
(1Co.6.7).
O esforço seguinte é
colocar em prática um amor verdadeiramente prático. Sentimentos não podem ser
medidos nem pensamentos mensurados, mas pelos frutos é possível se conhecer uma
árvore, conforme nos disse Jesus: “ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom
ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore”
(Mt.12.33). O esforço para amar começa em atitudes conscientes de quem sabe que
amar é mandamento e está presente em três grandes ordens do Senhor (Mt.22.36-40;
Jo.13.34-35). Ou seja, você precisa se dedicar para obedecer aos mandamentos de
amar pelo simples fato de serem mandamentos, tendo como referência o amor de
Cristo.
Por meio desse esforço
desprendido em oração, diversas relações quebradas podem ser restauradas,
relacionamentos familiares podem ser renovados e igrejas se tornam exemplos da
vontade de Deus, vivendo um amor verdadeiro, não fingido, não teórico
(Rm.12.9). Afinal, o apóstolo João nos exorta a que “não amemos de palavra,
nem de língua, mas de fato e de verdade” (1Jo.3.18).
Então, o que você está
esperando para colocar em prática esse amor prático? Comece fazendo o bem para pessoas
que estão a seu redor no dia a dia e, em seguida, para aquelas que seu coração
tem mais dificuldade para amar. Assim, você estará quebrando a maldade de seu
coração e exercitando o amor divino. Com dedicação, aquilo que era quase
impossível poderá tornar-se um hábito prazeroso de seu dia a dia.
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