“Se alguém quiser prevalecer contra um, os
dois lhe resistirão” (Ec.4.12)
Você tem sido um escudeiro(a) para seu cônjuge na guerra
contra o pecado? Ou só faz o papel de acusador? Não é difícil fazer o papel de
acusador (Zc.3.1), afinal o ser humano está sempre atento aos pecados do outro (Mt.7.3)
e tem língua afiada para condenar o pecador (Jo.8.7). Por isso, é tão fácil
apontar os erros das pessoas e tão comum casais trocarem inúmeras acusações que
visam mostrar que o cônjuge é mais pecador. Assim, a mulher faz questão de
lembrar todos os erros cometidos pelo marido ao longo de seus anos de casados e
o esposo procura relembrar tudo que o desagradou no casamento, até as visitas à
sogra, para não se sentir mais pecador do que a esposa.
Enquanto observar as pessoas, a fim de acusá-las de seus
erros, é uma tarefa fácil e comum ao ser humano, ajudar as pessoas a não
pecarem é um exercício trabalhoso que exige paciência, perseverança e
abnegação. É preciso paciência, porque muitos erros são cometidos ao longo da
caminhada conjugal e diversos deles serão repetidos algumas vezes. A
perseverança é necessária, porque as pessoas não mudam de uma hora para a
outra, mas são transformadas aos poucos pelo operar da Palavra de Deus e do
Espírito do Senhor, no coração. E a abnegação é imprescindível, porque tantas
vezes os cônjuges deverão abrir mão da própria vontade, a fim de ter paciência
e perseverança, mantendo-se firmes à aliança firmada pelo matrimônio. O cuidado
necessário com o casamento exige a disposição de negar a si mesmo, a fim de
fazer o que é melhor para o amadurecimento e bem-estar da família.
Nos dias em que se guerreava com espadas, lanças e outras
armas brancas, a presença do escudo era de fundamental importância para
proteger o guerreiro dos ataques inimigos. Além de suas armas pessoais, os
principais guerreiros (pessoas nobres) costumavam ter um escudeiro, ou seja,
alguém que tinha o propósito de estar ao lado para proteger, livrando o
guerreiro de ataques surpresas, inesperados e não percebidos. Portanto, seu
objetivo não era se proteger nem mesmo atacar, mas guardar seu senhor (a quem o
escudeiro servia) dos ataques inimigos. Por isso, conseguir livrar seu senhor
da morte era tanto uma obrigação quanto uma honra, pois indicava o bom
cumprimento de seu dever, assim como a falha em cumprir seu dever de proteger
seria um grave delito, podendo ser punido com a morte.
Tendo em vista o importantíssimo papel do escudeiro frente
as batalhas, desejamos comparar o cuidado que um cônjuge deve ter com o outro
ao dever de um escudeiro. Ou seja, os cônjuges devem ser como escudeiros
protegendo um ao outro contra todas as ameaças desse mundo pecador, já que,
inevitavelmente, estamos todos em um campo de batalha em que há adversários por
todos os lados. O comércio procura atrair pessoas para uma vida fútil de
vaidade; as propagandas atraem pessoas para uma vida vazia e avarenta; e, a
mídia motiva todos a se entregarem aos desejos do coração, deixando-se guiar
pelas emoções tão enganosas. Más conversações, insinuações sensuais, exposição
de nudez na TV, outdoors, ruas etc., seduções no trabalho etc. atacam
diariamente a família procurando arrastá-la para um abismo sem fim. Os
cônjuges, então, precisam se cuidar diariamente.
O casamento é uma bênção de Deus para o ser humano e está
envolto de muitas delícias tanto físicas quanto emocionais. Todavia, a bênção
do casamento não finda nos prazeres que nele podem ser desfrutados. O casamento
é um grande instrumento contra a prostituição e todo tipo de imoralidade
sexual, pois os cônjuges têm a valiosa missão de proteger um ao outro dos mais
variados ataques do mundo maligno que procura arrastar pessoas por todo tipo de
tentação. Portanto, mais que fiscais que observam o que o outro está fazendo,
os cônjuges são escudeiros que estão presentes ao lado da pessoa amada para
ajudá-la a se proteger dos terríveis ataques inimigos.
A família é a escola da vida onde, quando pequenos e
dependentes dos pais, aprendemos a amar a Deus e viver para sua glória, sendo
preparados para as responsabilidades que ainda virão por meio do trabalho, do
casamento e da paternidade. E no casamento, o amadurecimento do ser humano tem
continuidade, pois os dois alunos (marido e esposa) continuarão sendo ensinados
pelo Senhor, através da Sagrada Escritura. Quanto mais maduros forem esses dois
alunos (marido e esposa) melhor será o casamento. O mais importante, portanto,
não é o quanto eles conhecem um ao outro, mas o quanto eles conhecem ao Senhor
e a sua vontade para a vida matrimonial, conscientes dos deveres conjugais de
cada um. O bom aluno é aquele que faz todas as suas obrigações e quando provado
é aprovado por ter se preparado bem.
Em nossos dias, poucas pessoas são preparadas para casar,
pois a ênfase sobre a vida material mudou a educação familiar. Antigamente, o
jovem aprendia com os pais como ser um bom marido e um bom pai, o que incluía
ser responsável no exercício do trabalho, por meio do qual sustentaria sua
família. A moça aprendia com a mãe a ser uma esposa dedicada e submissa e uma
mãe zelosa e responsável, verdadeira auxiliadora do marido no cuidado com a
família. Hoje, os pais insistem em conduzir os filhos para uma boa profissão e
retardam ao máximo o casamento. Os pais colocam os filhos nas melhores escolas,
mas não lhes ensinam a cuidar de uma casa; pagam universidades caras para as
filhas, mas não lhes ensinam a fritar um ovo; põe os filhos em todo tipo de
cursinho, mas não lhes ensinam os deveres conjugais nem paternos. Por isso,
temos tantos bons profissionais com famílias destruídas, que conseguem gerir
uma empresa, mas não são capazes de cuidar do próprio lar, pois nem mesmo sabem
quais são as suas obrigações conjugais nem paternas. Você sabe quais são suas
responsabilidades conjugais e paternas? De que adianta ser bem-sucedido profissionalmente,
se aquilo que é mais valioso está sendo destruído por suas próprias mãos?
Em Eclesiastes 4.9-12 (texto abaixo), Salomão nos conta a
vantagem de ter alguém andando ao nosso lado, já que as relações humanas servem
de instrumento para um abençoar mútuo, tanto demonstrando a beleza do amor de
Deus quanto a necessidade que todos nós temos de receber auxílio nas lutas
travadas no dia a dia da vida. O Salmista Davi nos diz que a vida familiar é
uma bênção do Senhor, pois “Deus faz que
o solitário more em família” (Sl.68.6) e Provérbios adverte que “o solitário busca o seu próprio interesse e
insurge-se contra a verdadeira sabedoria.” (Pv.18.1). Em todos esses
textos, Deus nos ensina que a vontade dEle é que o ser humano viva em família,
no meio da qual podemos ser alvos do trabalhar gracioso do Senhor.
melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga
do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que
estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem
juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser
prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se
rebenta com facilidade. (Ec.4.9-12).
Encontramos em Provérbios, ainda, a seguinte orientação
sobre a bênção do casamento concedido por Deus ao homem: “Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade,
corça de amores e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e
embriaga-te sempre com as suas carícias.” (Pv.5.18-19). O prazer não é
resultado do pecado, como alguns pensam. Antes, a Escritura nos diz que Deus
criou a mulher e a deu para o homem, a fim de que fossem uma só carne
(Gn.2.18-25), ou seja, para que tivessem uma vida conjugal com todos os seus
deleites. Deus fez o ser humano com a capacidade de sentir prazer e quis que o
prazer fosse compartilhado dentro de uma aliança (o casamento) para alegria do
homem e da mulher, para o louvor da glória de Deus que tudo criou.
Mas, o pecado entrou no mundo e destruiu sua harmonia e
pureza. Por causa da natureza pecaminosa, do mundo que jaz no maligno e do
diabo que deseja devorar o povo de Deus (Ef.2.1-3; 1Pe.5.8), o dia a dia do
cristão é uma constante batalha contra a carne. Por isso, como um escudeiro que
tem o propósito de proteger o guerreiro, os cônjuges devem ser instrumentos de
Deus para proteger um ao outro contra os muitos ataques do mundo, sabendo que a
carne é fraca (1Jo.5.19; Mt.26.41). Vaidade, orgulho, consumismo, avareza, prostituição,
pornografia, preguiça, maledicência, mentira, desonestidade, impaciência,
maldade, descontrole etc. são alguns dos pecados contra os quais os cônjuges
devem lutar, ajudando um ao outro a vencê-los. Para isso, os cônjuges deverão
estar atentos ao conhecimento de Deus, cultivando uma vida com Cristo, de modo
que possam mostrar ao cônjuge qual o caminho reto ensinado pela Palavra de
Deus.
Portanto, cultivem uma vida piedosa em família. Um lar
constantemente alimentado pela Palavra de Deus, tanto em casa quanto junto à
igreja, estará preparado para os ataques de parasitas perniciosos que desejam
adoecer a família. O marido, então, não deve alimentar a vaidade nem o
consumismo da esposa; a mulher deve ajudar o marido a combater o orgulho e
cultivar a verdade, a paciência e o domínio próprio junto a ele. Ambos devem
estar atentos, para não deixarem que as conversas em família tenham como
assunto a vida dos outros. Dessa forma, tanto os cônjuges estarão ajudando um
ao outro a viverem uma vida agradável a Deus quanto serão modelo para os
filhos, ensinando-lhes a viver uma vida piedosa, com toda humildade e todo respeito
(1Tm.3.4).
Toda pessoa tem defeitos e esses defeitos costumam incomodar
o outro, nas relações. Não seria bom que, em vez de se mostrar incomodado com o
defeito do outro, um cônjuge estivesse disposto a ajudar o outro a corrigir
seus erros e amadurecer o caráter para não mais cometer os mesmos erros? Mas,
para que isso seja possível é necessário tanto a disposição para ajudar quanto
o interesse em ser ajudado. Quando não há a consciência da necessidade de mudar
nem o interesse em receber ajuda, o papel de escudeiro do cônjuge torna-se mais
difícil, pois terá que correr muito atrás do outro para o defender. Portanto, o
maior inimigo da necessidade mútua de ajudar e ser ajudado é o orgulho. Por
causa do orgulho, as pessoas preferem esconder e negar seus defeitos, lutar
sozinhas para resolver seus problemas e ainda transferir o erro para o outro. O
orgulho é um grande inimigo do casamento e tem sido motivo para muitas relações
sofridas.
Como dissemos antes, há muitos pecados que devem ser
combatidos dentro do casamento. O cônjuge precisa ter maturidade para perceber
isso e ajudar o outro a vencer os pecados por meio da Palavra de Deus e da
oração. A missão do cônjuge não é acusar, mas ajudar por intermédio da
Escritura Sagrada. Não se corrige nem se educa pessoas por meio de opiniões
pessoais, pois aquilo que eu acho não serve de regra para as demais pessoas.
Para corrigir e educar pessoas, precisamos de um ensino verdadeiro e absoluto
que tenha real autoridade para exortar o ser humano. Portanto, é necessário que
a Palavra de Deus seja conhecida. Por meio dela, as pessoas poderão ser
convencidas de seus pecados e transformadas para uma vida santa e agradável a
Deus. Por meio da Escritura Sagrada, podemos mostrar uns aos outros o que Deus
quer de nós e para nós. E por meio da oração, colocamos o cônjuge diante de
Deus, a fim de que o Senhor quebrante o coração através do Espírito Santo, para
que esteja pronto para ser trabalhado pela Palavra de Cristo.
Uma das formas de um proteger o outro é através do
cumprimento de um importante dever conjugal: a relação sexual.
O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e
também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. 4 A mulher não tem poder sobre o
seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem
poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher. 5 Não vos priveis um ao outro, salvo
talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração
e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da
incontinência. (1Co.7.3-5)
Não devemos subestimar a necessidade sexual nem as muitas
tentações do mundo. Nossos dias se mostram bastante desafiadores,
principalmente para o homem. A sensualidade é exaltada e exposta para crianças,
adolescentes, jovens e adultos. A internet facilitou o acesso a todo tipo de
pornografia e a falta de bom senso de muitas mulheres que andam quase nuas nas
ruas exige um cuidado constante com o olhar. Diante de tudo isso, os cônjuges
precisam ser mais que fiscais do outro, devem ser um socorro bem presente para
suprir a necessidade do marido ou da esposa. Por isso, a relação sexual não
depende do interesse de ambos, mas da necessidade de um deles apenas. Uma esposa
sábia vai atrás de seu marido, para cativá-lo e saciar suas necessidades, em
vez de estar fugindo da relação sexual por meio de desculpas injustificadas que
colocam o marido em zona de risco diante do mundo tentador.
Enquanto cônjuges são negligentes com suas responsabilidades
deixando de dar ao outro o prazer sexual, o mundo está bastante atento a estas
necessidades e disposto a oferecer todo tipo de satisfação sexual, esperando
apenas uma oportunidade para arrastar alguém pelas tentações. Portanto, uma
esposa ou esposo, que não cumpre seu dever matrimonial, entregando seu corpo ao
cônjuge para proporcionar-lhe satisfação sexual torna-se cúmplice do mundo e
culpado diante das quedas do outro, pois negligenciou seu dever e expôs o
cônjuge às tentações do mundo. E para que nada disso aconteça, melhor é
prevenir do que remediar. Então, marido e esposa, vocês devem dar a devida
atenção para a necessidade de estar sempre satisfazendo um ao outro no dia a
dia, protegendo um ao outro das muitas tentações do maligno. Um casamento bem
protegido pelo fiel exercício de escudeiros dedicados tem tudo para caminhar
bem por toda a vida.
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