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segunda-feira, 1 de abril de 2019

Ensine aos filhos o andar com Deus

tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (Dt.6.7).

Antes mesmo dos filhos nascerem, os pais costumam planejar a caminhada junto a eles. Bons pais têm prazer em andar com seus filhos, conversar com eles, ensinar-lhes muitas coisas e participar da vida deles. Nos dias em que o trabalho tinha uma natureza familiar, pois era desenvolvido dentro do ambiente doméstico, quer fosse o campo quer fosse uma oficina ao lado da casa, pais e filhos andavam juntos, até por necessidade (Sl.127.5). Os pais ensinavam a profissão aos filhos para que tanto pudessem ajudar a desenvolver o trabalho em benefício da família quanto viessem a dar seguimento ao trabalho aprendido após a formação de uma nova família. Pais e filhos andavam juntos naturalmente, no dia a dia, “assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (Dt.6.7).

Em nossos dias, filhos se assemelham a bens adquiridos que são entregues às mãos de terceiros para que administrem em lugar dos pais. Desde o mundo moderno, quando o trabalho ganhou um caráter mais ambicioso e menos doméstico, a família está sendo dividida. O lar doce lar foi substituído por uma hospedaria, razão, também, para os imóveis estarem cada vez menores, afinal as pessoas só vão para casa para dormir. A relação entre os cônjuges é fragilizada pela falta de convívio e o relacionamento entre pais e filhos praticamente não existe. Muitos filhos só veem seus pais nos finais de semana, quando outras atividades não usurpam o tempo precioso da família. Portanto, já não faz parte do dia a dia dos pais andar com seus filhos, de modo que a relação familiar se resume a encontros esporádicos entre pessoas que dormem sob o mesmo teto.

Como ensinar aos cristãos o andar com Deus se as pessoas não andam umas com as outras? O modelo pagão social de nossos dias substituiu o “andar com” o próximo por um mero encontro com o outro. O andar com alguém pode ser representado por uma linha contínua, indicando algo constante. Já o que a sociedade atual vivencia deve ser representado por pontos distantes uns dos outros que indicam encontros momentâneos, periódicos ou esporádicos. Os cristãos da igreja de Atos dos apóstolos, “diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração” (At.2.46). Em nossos dias, os cristãos se encontram periodicamente para o culto e voltam (correndo) para casa. Logo, não há convívio nem conhecimento mútuo, apenas momentos curtos. As famílias têm sofrido com o mesmo mal, pois seus membros passam o dia fora de casa, trabalhando ou estudando, e encontram-se durante algumas poucas horas no final do dia, quando cada um entrará em seu aposento solitário para comer e acessar o computador. A presente geração, portanto, não sabe o que significa andar com alguém no dia a dia, pois foi privada dessa bênção por causa das escolhas que fez ao longo das décadas.

Nosso primeiro desafio, então, é resgatar o conceito de “andar com”. O paganismo criou uma imensa confusão invertendo diversos valores. Dentre as muitas inversões, propagaram a ideia de que aquilo que deveria ser tratado como algo objetivo (a verdade) passasse a ser visto como subjetivo (relativismo). Enquanto isso, o que deveria ser tratado de modo subjetivo (as relações humanas) passou a ser tratado de forma objetiva (como objeto, número, utilidade). A verdade perdeu seu valor absoluto e a família tornou-se um objeto descartável como tantos outros vendidos nas prateleiras dos supermercados. Não é de se estranhar que líderes de denominações (presbíteros e pastores) olhem para a igreja como uma empresa religiosa e, em vez de pastorear ovelhas, estão administrando números.

“Andar com” alguém não significa ter encontros esporádicos com aquela pessoa. Jesus andou com seus discípulos convivendo com eles dia e noite de cada dia a dia. Essa era a prática de um rabino (mestre) que assumia o propósito de educar seus discípulos. O aprendizado acontecia por meio do ouvir, ver e fazer dentro de uma convivência diária. O relacionamento entre o mestre e seu discípulo era a metodologia eficaz para um aprendizado certo. Isso exigia esforço da parte do discípulo, que deveria estar disposto a andar com seu mestre, e uma vida exemplar do rabino, que tinha a responsabilidade de ser modelo em tudo, a fim de ser imitado por seu discípulo (Ef.5.1; Fp.3.17). Foi nesse convívio diário que Jesus disse aos discípulos: “assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo.13.34).

Portanto, para ensinar aos filhos o andar com Deus é preciso mostrar-lhes como andar com alguém. Os pais precisam primeiramente rever seus conceitos e suas práticas familiares, a fim de reajustá-los à luz da Palavra de Deus. Os pais precisam resgatar o desfrute de uma vida familiar contínua, ampliando ao máximo possível o contato entre os cônjuges e a relação entre pais e filhos. Essa é a prática do conceito de “andar com”, vivenciado dentro do relacionamento mais íntimo entre pessoas: a família. Assim, o conceito de “andar com” estará resgatado dentro do lar e os filhos poderão compreender melhor como deve ocorrer a caminhada com Deus. Enquanto isso não acontecer, as pessoas confundirão encontros semanais de cultos ao Senhor com “andar com Deus” como Enoque andou (Gn.5.24).

O atual contexto das relações sociais também prejudicou a vida pastoral. Nenhum pastor de nossos dias poderá dizer que anda com as ovelhas. Mesmo fazendo visitas mais frequentes, o pastor não anda com as famílias da igreja. Não vemos o relacionamento diário entre o marido e a esposa nem a forma como educam seus filhos. Não acompanhamos o comportamento das ovelhas dentro e fora de casa, a não ser quando estão presentes em alguma atividade da igreja. Logo, não podemos dizer que andamos com as ovelhas de modo a conhece-las e fazer-nos conhecidos para elas. O máximo que podemos fazer é potencializar o ensino da Palavra de Deus, utilizando as diversas formas de comunicação de nossos dias.

Ou seja, visitar alguém, mesmo periodicamente, não é “andar com” essa pessoa. Só conhecemos bem o outro por meio de uma caminhada constante, razão para a família que tem um bom convívio doméstico ter um conhecimento sobre seus membros que nem sempre condiz com as impressões que as pessoas fora da família têm acerca de cada um desses membros. Então, não podemos dizer que alguém que é assíduo em participar dos cultos dominicais esteja realmente andando com Deus, ainda que não falte nenhum culto durante o ano inteiro. Poderíamos dizer que uma pessoa assídua nos cultos, mas que não lê a Palavra de Deus e ainda faz da oração apenas uma reza proferida mecanicamente em alguns momentos tradicionais, realmente anda com Deus? Dificilmente a vida dessa pessoa terá algum sinal de intimidade com Cristo.

Para ensinar aos filhos o andar com Deus, os pais precisam andar com Deus. Conforme Deuteronômios (Dt.6.5-7) os pais deveriam amar a Deus de todo o coração e ensinar aos filhos o amar o Senhor da mesma forma. Esse ensino ocorreria no dia a dia do convívio entre pais e filhos, não apenas em palavras ditadas periodicamente. No andar dos pais com os filhos, estes veriam como seus pais amam a Deus de todo o coração, andando com Deus por meio de um relacionamento constante com o Senhor. Então, estariam presentes três relacionamentos: pais com Deus; pais com filhos; filhos com Deus. Os filhos veriam como se anda com alguém, tanto na relação com seus pais que estariam presentes na vida de seus filhos como, também, na relação diária, íntima e constante dos pais com Deus.

Fica evidente, então, que a família é o melhor e mais eficaz ambiente para se ensinar a andar com Deus. Por essa razão, Satanás é tão insistente em destruir as famílias, sabendo que uma sociedade sem famílias saudáveis está fadada à completa destruição. Não podemos, então, deixar que o mundo dite as regras sobre o viver familiar. A famílias cristãs precisam reagir revertendo os valores que foram invertidos pelo paganismo. Os pais precisam lutar contra o sistema ímpio focado apenas no materialismo e revalorizar as relações familiares para que tanto cônjuges (e pais com filhos) andem uns com os outros de forma saudável quanto cristãos andem com o Senhor nosso Criador, Deus e Redentor.

Para isso, serão necessárias atitudes da parte dos pais. O paganismo tem escravizado as famílias prendendo-as por meio da corrente da necessidade material. Pais cristãos precisam refletir sobre o que realmente é necessário para uma vida familiar materialmente saudável. Muito do que o homem pós-moderno diz ser necessário é apenas capricho de um coração tentado a buscar uma vida supérflua. Não é incomum que mães abandonem seus filhos entregando-os para creches, a fim de satisfazerem anseios particulares, quer denominem de realização profissional quer seja o interesse de comprar mais roupas etc. Diversas promoções oferecidas no trabalho vêm acompanhadas de um alto preço: deixar o convívio familiar. Diante disso, os pais precisam pensar bem: Vale a pena deixar o convívio familiar por um pouco mais de bens materiais? Jesus nos responde, dizendo: “a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc.12.15).

Mas, não é só o convívio familiar que é prejudicado pela busca material. Os cristãos de nossos dias não têm mais tempo para andar com Deus. A vida comunitária da igreja tem sido reduzida paulatinamente. Boa parte das justificativas está associada à falta de tempo. O trabalho é esgotante, estressante, intolerante e sufocante. O comércio investe pesado em propagandas que tanto cativam mentes vazias quanto aprisionam as pessoas emocionalmente. E quanto mais endividadas estiverem as famílias ou maior for a sensação de precisarem de coisas desnecessárias, mais facilmente as pessoas se submeterão ao sistema escravocrata do paganismo materialista de nossos dias. Então, refém do paganismo materialista, o homem não tem tempo para viver, trabalhando de segunda a segunda como um objeto de utilidade pública, escravo de um sistema pagão. Sem tempo para Deus, a vida do homem perdeu o sentido, resumindo o ciclo de vida em três etapas: nascer; trabalhar-comprar; e, morrer, afinal o deus deste século é o bem material.

Pais, parem enquanto há tempo! Tomem a atitude de refletir sobre o que vocês estão fazendo com o tempo de vida dado por Deus e com a família recebida do Senhor. Pensem sobre o que é mais importante! Julguem entre aquilo que é passageiro e o que é eterno (Cl.3.1-4): as coisas são passageiras, as pessoas têm almas eternas; a vida terrena é passageira, a vida pós-morte é eterna. Os pais precisam parar, orar ao Senhor, meditar sobre a vontade de Deus revelada em sua Santa Palavra e, então, tomar algumas atitudes para o bem da família toda. Reflitam sobre a forma como vocês estão administrando o tempo de vocês, pois é no uso do tempo que nós podemos desfrutar tanto da comunhão com Deus quanto da relação familiar. Portanto, o uso correto do tempo é fundamental para o cristão.

Pais, tomem a atitude de dedicar tempo diário para falar com Deus e ouvir sua voz que ecoa pela Escritura Sagrada. Andar com Deus não é o mesmo que o visitar dominicalmente. Então, cultivem um relacionamento diário e abundante com Deus, como filhos amados que tem prazer de estar com o Pai. Quando amamos pessoas queremos estar com essas pessoas. Seria muito estranho que duas pessoas declarassem verdadeiro amor uma pela outra, mas não tivessem interesse de estarem juntas. Pessoas que se amam se esforçam para conseguir algum tempo, a fim de estarem juntas estreitando o relacionamento, principalmente por meio do diálogo. Portanto, é completamente estranho que cristãos afirmem amarem a Deus acima de todas as coisas, mas não se esforcem para investir o maior tempo possível com Deus. Então, pais, andem com Deus e nesse andar com Deus, ensinem seus filhos a andarem com Deus, também.

E para que os filhos também usufruam do convívio com os pais, planejem o dia a dia de vocês de tal maneira que possam desfrutar do maior tempo possível com a família. Caso, tenham condições de tomar café, almoçar e jantar juntos, não percam esse benefício, pois poderão conversar com seus filhos e conduzi-los para Cristo. Ao chegarem em casa, aproveitem aquelas horas antes de dormir para estreitarem os relacionamentos. São poucas horas, mas de grande valor. E, se bem aproveitadas, podem ter implicações eternas, pois nesse pouco tempo em família é possível orar, ler a Bíblia, conversar sobre Cristo e amadurecer o amor familiar. O amor cresce à medida em que ele é cultivado por meio de um convívio marcado por diálogo. Essa dedicação de tempo para estar com os filhos mostrará para eles a importância de dedicar tempo para se relacionar com Deus, também. Eles sentirão a importância de andar com os pais, podendo aplicar o mesmo princípio ao relacionamento com Cristo Jesus.

Portanto, a melhor forma de ensinar aos filhos o andar com Deus é andando com o Senhor junto aos filhos. Durante a caminhada com os pais, os filhos aprenderão a dar valor à dedicação de tempo para construir relacionamentos saudáveis, inclusive com Cristo. Então, por imitação, os filhos poderão desenvolver um andar com Deus semelhante ao que viram na vida cristã de seus pais. São esses os filhos que estarão prontos para sair de casa e percorrer a própria jornada junto ao Senhor e, um dia, também ensinar aos próprios filhos o andar com Deus, preservando sucessivas gerações de famílias que andam com Cristo Jesus.

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