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quinta-feira, 28 de março de 2019

Plena felicidade em Cristo

Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” (Fp.4.4)

Comércio cheio de segunda a segunda, pessoas olhando vitrines de shoppings sem necessidade alguma e sem saber o que comprar. Carência emocional levando rapazes e moças, homens e mulheres à constante troca de relacionamento. Bebedice e glutonaria fazem a festa até altas horas, deixando marcas nas ruas, nas casas e na saúde da geração. Esses e outros fenômenos de nossos dias mostram o vazio do coração do homem que tenta se preencher de alguma forma. A infelicidade paira como nuvem densa, razão para o estado emocional das pessoas estar tão desestruturado e tão confuso.

Após a compra desnecessária, o coração que sentiu certa alegria pela nova aquisição já se encontra vazio outra vez, pois na alegria passageira e superficial não encontrou a felicidade. A carência preenchida pelo prazer e a sensação de realização amorosa logo se esvai dando lugar ao coração desocupado, tal qual uma casa abandonada, pois na paixão instável e mortal não se encontra a verdadeira e eterna felicidade. A sensação de satisfação pelo estômago cheio e a cabeça tomada pelo álcool desaparece na manhã seguinte, exigindo nova aventura que proporcione algum tipo de sensação para iludir o coração infeliz. Sem perceber, o ser humano vive insaciável, como um poço sem fundo, impossível de ser enchido pelas coisas dessa vida. Mas, até quando essa angustia durará?

A procura por algo que preencha o coração vazio só cessa quando este coração for completamente e permanentemente enchido. Mas, quem pode fazer isso? O que poderia preencher o coração humano de tal forma que haja contentamento pleno? Barriga cheia não indica coração cheio; emoções satisfeitas não indicam um coração plenamente e incondicionalmente feliz; mente ocupada não representa a plena satisfação da alma. Coisa alguma que há no mundo mostra-se suficiente para preencher o vazio do coração: nem comida nem bebida nem riquezas nem poder nem amor nem prazer nem realizações nem lazer. Por essa razão, a busca por preencher o coração continua geração após geração como uma empreitada infrutífera rumo a lugar nenhum.

O que seria esse pleno contentamento? Por analogia, podemos dizer que é semelhante a ter um copo completamente cheio de água, portanto sem qualquer necessidade de receber nem mesmo mais uma gota. Esse copo tem tudo o que poderia ter, por isso não precisa de mais nada. Ao mesmo tempo, ele não tem muitas outras coisas que poderia ter: suco, refrigerante, sorvete, mousse, vinho etc. Ele não precisa de nada mais por estar plenamente cheio daquilo que é puro, límpido, saciador, completo, suficiente, tendo a medida certa que não será tirada dele em nenhum momento.

Como isso se aplica ao coração do homem? Nenhuma comida ou bebida, nenhum prazer ou sentimento, nenhum poder ou riqueza pode encher o coração do homem nem muito menos mantê-lo cheio. Portanto, é preciso algo capaz de entrar direto no coração e fazê-lo plenamente e permanentemente satisfeito, de tal modo que haja ampla e completa felicidade. Por meio desse contentamento, o muito e o pouco serão sempre suficientes, como disse Paulo: “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Tm.6.8).

Esse pleno contentamento deve ser compreendido como completa felicidade. Logo, não deve ser confundido com ter tudo o que se deseja, mas significa estar plenamente satisfeito mesmo não tendo nada daquilo que pode ser desejado. Tudo ou nada não importarão para aquele que encontrou o pleno contentamento. Portanto, a felicidade não é encontrada numa vida ascética de eremita ou monge. Saber viver com pouco não é sinônimo de ter o pleno contentamento no coração nem ter tudo o que se deseja significa estar plenamente feliz. Abundância ou escassez não preenchem o coração insaciável do homem, apenas transmitem uma falsa ideia de felicidade, já que ambos são fundamentos circunstanciais.

Lembremos agora daqueles brinquedos educativos de encaixe em que cada figura geométrica tem seu devido lugar. Os espaços vazios somente são preenchidos pelas formas geométricas corretas e tentar forçar o encaixe de outra forma geométrica somente quebrará o brinquedo. Caso uma das formas geométricas seja perdida, o espaço destinado para ela ficará vazio para sempre, pois nada substitui a forma respectiva. O apóstolo Paulo faz uso de raciocínio semelhante, dizendo: “os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os alimentos; mas Deus destruirá tanto estes como aquele. Porém o corpo não é para a impureza, mas, para o Senhor, e o Senhor, para o corpo” (1Co.6.13). O espaço vazio do coração do homem tem uma forma que somente Deus pode preencher, de modo que sem Ele o coração continuará vazio por todos os seus dias.

Apenas Aquele que criou o ser humano pode preencher o vazio do coração, pois criou o homem para si mesmo (Rm.11.36). Como aquele brinquedo de encaixe em que há diversos desenhos vazados, cada qual feito para uma forma geométrica, assim o coração do homem possui um desenho vazado muito peculiar, preparado sob medida para o Criador, Senhor e Deus. Por isso, somente Cristo, o Filho de Deus, é capaz de encher o coração do homem com o pleno contentamento, a pura felicidade que provém do Espírito Santo. As demais coisas da vida são como figuras geométricas diferentes que ficam sobrepostas ao espaço vazado, mas não preenchem o vazio. Além disso, uma figura geométrica sobreposta não permanece muito tempo no local, pois não tendo sido encaixada está sujeita à locomoção, assim que ocorra qualquer leve mudança circunstancial tal como trepidações, ventanias, inclinações etc.

Mas, por que o homem sente a necessidade de ser preenchido por Deus, através de Cristo que nos envia seu Santo Espírito? Porque a desobediência de Adão e Eva separou o homem de seu Criador, como podemos ver no rumo da sociedade em cada geração. O pecado arrancou brutalmente a “peça” que se encaixava perfeitamente, pois Deus se recusa a permanecer em um lugar sujo, até que seja verdadeiramente limpo, tornando-o aceitável à presença de Deus. Essa separação deixou um vazio na raça humana, razão para que todo ser humano busque incansavelmente algo que lhe proporcione a sensação de estar cheio, sem saber que tal sensação é apenas uma ilusão sobreposta, incapaz de fazê-lo verdadeiramente e permanentemente feliz.

No Evangelho de Lucas (Lc.1.39-45) há um evento encantador que nos ajuda a mostrar a felicidade proporcionada por Deus, independente das circunstâncias da vida. Maria e Isabel, ambas grávidas, se encontram por ocasião da visita de Maria a sua parente (Lc.1.36,39-40). Nesse encontro, João Batista, ainda no ventre de sua mãe, Isabel, sente a presença de Cristo ao ouvir a voz de Maria que estava grávida de Jesus, o Filho de Deus (Lc.1.41). João Batista, antes de nascer, foi agraciado com o contentamento pleno em Cristo Jesus, estremecendo “de alegria” dentro do ventre de sua mãe (Lc.1.44). Não havia nada mais em que ele pudesse se alegrar, mas o Espírito Santo proporcionou a plena alegria proveniente de Cristo. Essa é a mesma alegria indizível e não circunstancial que Jesus concede àqueles que recebem o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Por causa da presença do pleno contentamento proporcionado pelo Espírito de Deus, Cristo disse aos discípulos que deveriam se alegrar em meio às perseguições e os discípulos de Jesus alegraram-se mesmo em circunstâncias bastante adversas:

Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós (Mt.5.11-12)

Chamando os apóstolos, açoitaram-nos e, ordenando-lhes que não falassem em o nome de Jesus, os soltaram. E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome (At.5.40-41)

Este, recebendo tal ordem, levou-os para o cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco. Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam (At.16.24-25)

Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo. Assim, vós também, pela mesma razão, alegrai-vos e congratulai-vos comigo (Fp.2.17-18)

Essa alegria não é sinônimo de religiosidade. Há muitas formas de pessoas sentirem-se aparentemente “bem” dentro das mais diversas religiões. Contudo, o contentamento em Cristo, que é a vontade de Deus para seu povo, é diametralmente oposto ao desejo por poder, status, fama, glória, elogios, bajulações, riquezas, cargos, grandeza, êxtases, entre outras coisas semelhantes. Tais buscas revelam o vazio do coração ensimesmado que, não desfrutando da plenitude da alegria da presença de Deus (Sl.16.11), procura satisfazer-se em alguma suposta glória aparente, quer proposta por uma vida acética quer sugerida por uma vida de fama, engano do coração pecador (Jr.17.9).

Por isso, falando para multidões, dentre as quais se encontravam os escribas, os fariseus e os saduceus que amavam a grandeza aparente, Jesus disse: “Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes talares e das saudações nas praças; e das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes” (Mc.12.38-39). Tão cheios de aparência, mas tão vazios de coração, não conseguiram ver que o filho de um carpinteiro (Mt.13.55) era o Senhor de toda a criação (Hb.1.3). A religiosidade dos homens não é sinônimo de contentamento em Cristo, por isso há tanta gente infeliz dentro das denominações, razão para tantas pessoas causarem problema para a igreja de Jesus.

Todavia, Cristo, sendo Senhor e Rei, ofereceu-se a si mesmo para que a glória e a alegria de seu povo estivesse somente nEle. E vivendo como um de nós, exclamou: “aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt.11.19), pois “quem fala por si mesmo está procurando a sua própria glória; mas o que procura a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça” (Jo.7.18). Cristo ensinou aos discípulos que sua presença é o único caminho para a plena satisfação da alma (Sl.16) e nada mais seria necessário para complementar a felicidade que Ele proporciona ao cristão. Assim, Cristo basta! Cristo basta hoje e eternamente bastará! Por isso, mesmo não sabendo como será o novo céu e a nova terra, o cristão pode alegrar-se nas promessas do Senhor por meio de uma viva esperança, pois Deus será a razão da felicidade eterna dos filhos de Deus, não o fato de que tudo será bonito e perfeito naquele dia.

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