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quinta-feira, 21 de março de 2019

Santificai os concílios!


Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual Ele comprou com o seu próprio sangue” (At.20.28)

Como deveria, segundo a Palavra de Deus, ser a relação dentro dos concílios da igreja do Senhor Jesus? Essa pergunta é de extrema importância, apesar de ser colocada de lado, tantas vezes, para ser substituída por documentos. Devemos frisar que o novo mandamento dado por Cristo em João 13.34-35 (“...assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros...”) foi ordenado para o colegiado apostólico, àqueles que seriam os primeiros líderes da igreja de Jesus e que preparariam os futuros pastores/presbíteros para pastoreá-la. Posteriormente, então, o apóstolo Pedro se dirige aos presbíteros dizendo: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós [...] tornando-vos modelos do rebanho” (1Pe.5.2-3), inclusive “tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente” (1Pe.1.22).

Lembro-me vividamente de um testemunho contado, em sala de aula de seminário interdenominacional, por um dos alunos que fora presbítero e estava se preparando para o ministério pastoral: “ – Somos motivados a ser oposição contra o pastor como se concordar com ele significasse fraqueza.” Sentimentos contenciosos semelhantes (Gl.5.19-20) já foram motivo para divisões conciliares ao longo da história, porque pastores e presbíteros mostraram-se incapazes de colocar em prática o amor não fingido, perdoando-se mutuamente por amor a Cristo que tanto nos perdoou (Cl.3.13), em vez de tornarem-se vergonha (1Co.6.5) e empecilho para o crescimento saudável da igreja (Gl.5.15), pois “o só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros” (1Co.6.7).

O texto de Atos dos apóstolos 20.17-38 é belíssimo, pois descreve não só o amor, a fidelidade e a dedicação do apóstolo Paulo à obra do Senhor como também a bonita relação que os presbíteros da igreja de Éfeso, juntamente com Paulo, realmente desfrutavam. No final desse texto (At.20.36-38), eles choram juntos com o apóstolo, pois o amavam e não queriam perde-lo. Havia amor entre a liderança, um verdadeiro amor. E para que isso permanecesse vivo dentro do Conselho de Éfeso, Paulo exortou os presbíteros a que se cuidassem antes mesmo de cuidarem da igreja de Cristo Jesus (At.20.28).

Não devemos, contudo, pensar que os personagens bíblicos nunca erraram. Paulo precisou chamar duramente a atenção de Pedro por causa da dissimulação deste (Gl.2.11-14). Todavia, estes apóstolos não tiveram uma relação conturbada depois disto. Posteriormente, encontramos Pedro falando bem do apóstolo Paulo, reconhecendo a sabedoria que Deus lhe havia dado, chamando-o de “amado irmão Paulo” (2Pe.3.15). Também o apóstolo Paulo cometeu deslize ao entrar em desavença com Barnabé e Marcos (At.15.36-40), mas logo se acertaram, razão para que os nomes deles apareçam nas cartas do apóstolo como cooperadores de seu ministério (1Co.9.6; Cl.4.10; 2Tm.4.11; Fm.24).

A relação entre presbíteros e pastores deveria ser a mais saudável possível, assim como todas as relações conciliares. Não deveria ser exceção termos Conselhos amorosos, íntegros e pacíficos em que uns confiam nos outros e cuidam uns dos outros no amor de Cristo Jesus. Pastores e presbíteros deveriam orar uns pelos outros (e por suas famílias) e estar atentos às necessidades uns dos outros (Fp.2.4) como fruto de um verdadeiro e exemplar amor presente em seus corações (Jo.13.34-35). Dessa forma, a igreja veria, na prática, como deve ser a relação entre os irmãos, podendo, assim, colocar em prática o que tem aprendido da parte do Senhor.

Nada é mais danoso para as igrejas do que ter Conselhos doentes em que presbíteros e pastores não confiam uns nos outros e tramam uns contra os outros, como quem fica à espreita para ver se o outro vai cair, a fim de condená-lo. Não aprendemos isso com Cristo que amou seus discípulos, o colegiado apostólico, até o fim (Jo.13.1). Não aprendemos isso na Escritura que nos revela o amor de Deus manifesto em Cristo Jesus (Rm.5.8). E não é isso que os mesmos pastores e presbíteros ensinam para as igrejas, pois sabem que Deus deseja que nossas relações sejam íntegras, honestas, amorosas, pacíficas, humildes, santas e agradáveis a Deus.

Todo concílio deve cultivar uma relação íntegra, humilde, amorosa e verdadeira, onde a simples palavra (sim, sim; não, não - Mt.5.37) seja suficiente para todos (mesmo quando não há documento), enquanto todos oram para que ninguém os perturbe com seus pecados. Deveria ser considerado verdadeiro absurdo que a palavra de um líder cristão só tenha valor quando registrada em documento, pois isso revela que não há integridade nas relações. O propósito do pastor não é se sobressair aos presbíteros nem o propósito dos presbíteros é derrubar ou perseguir o pastor, como tem ocorrido em muitos lugares pelo país. O objetivo do Conselho não é apenas administrar a igreja, como se esta fosse uma empresa, mas pastorear vidas tanto pela exortação quanto pelo conforto, ambos vindos do Senhor, sendo, em tudo isso, exemplos para todos aqueles que desejam viver em Cristo Jesus.

Mas, muitas pessoas já se acostumaram tanto com um mau paradigma que se instalou nos concílios de muitos lugares que nem mesmo conseguem perceber quão antibíblica, danosa e triste é a relação conciliar fora da cruz de Cristo. Muitos pastores estão desgastados por causa de presbíteros que parecem estar dispostos a fazer de tudo para dificultar o pastoreio e muitos presbíteros estão vivendo como se fossem meros administradores de uma empresa eclesiástica. Em muitos lugares se estabeleceu uma verdadeira guerra sem vencedores. Com tudo isso, a política eclesiástica tem sido solapada por interesses particulares, de forma que o único a se beneficiar é o pecado (para não dizer o diabo). E nessa relação egoísta, igrejas inteiras têm sofrido, pois onde deveriam ver integridade, honestidade, amor, alegria, paciência, cumplicidade, bondade, mansidão etc. só encontram obras da carne.

Portanto, as lideranças precisam colocar os joelhos no chão e clamar para que o Espírito de nosso Senhor Jesus Cristo as revista com o dom gracioso do amor de Deus (1Jo.4.7). De que adiante ser um presbítero se faz o papel do diabo perseguindo o pastor e prejudicando a igreja. De que adiante ser pastor se a igreja não o tem como exemplo de amor nem mesmo em sua relação conciliar. Deus não chamou líderes para lhes conferir status perante os demais, mas “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef.4.12), a fim de que “seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef.4.15).

Caso os presbíteros e pastores não sejam capazes de refletir o comportamento e o papel deles, então não estão aptos para o exercício desse ministério. Vocês acham mesmo que Deus se agrada em ver picuinhas, maledicências, intrigas, planos ardilosos para prejudicar o outro, desonestidade, fingimentos, discórdias e coisas semelhantes? Vocês realmente acreditam que Deus esteja satisfeito em ver lideranças conturbadas e imaturas que não conseguem ser exemplo de amor, bondade, honestidade e harmonia? Como vocês serão capazes de ajudar a igreja a viver relacionamentos saudáveis quando vocês mesmos não conseguem viver em paz uns com os outros? Pensem na possibilidade de Deus tomar o que vos deu e dar para outros como fez com Saul (1Sm.15.28). Portanto, reflitam, se arrependam e mudem para a glória de Deus e o bem-estar da igreja!

A igreja está vivendo dias difíceis numa sociedade bastante conturbada. E para vencer o mundo é preciso estar forte, ter Conselhos saudáveis e aptos para a luta (Tt.1.5-16). Por conseguinte, devemos lembrar o que Jesus disse: “Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá” (Mt.12.25). Logo, urge a necessidade de orarmos pelos Conselhos das igrejas, a fim de que sejam verdadeiras bênçãos nas mãos do Senhor. Essa oração não deve ser feita apenas por aqueles que são pastores ou presbíteros, mas por todos que amam ao Senhor e desejam que sua obra cresça saudável. Então, clamemos a Deus para que corações sejam quebrantados e transformados pelo poder da Palavra e do Espírito, a começar por seus líderes.

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