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quarta-feira, 17 de abril de 2019

Cristo, nossa celebração

porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (Cl.2.17)

Nos dias do Antigo Testamento, Deus ordenou, para Israel, a celebração de três grandes festas (Ex.23.14-17): 1) Festa dos Pães Asmos ou Páscoa – celebração da saída do Egito e início do ano judaico, festejada em 14 de Nisã [Nissan] (em 2019, será no dia 19 de abril); 2) Festa das Semanas ou Pentecostes – celebração das primícias da colheita, festejada em 6 de Sivan (em 2019, será no dia 9 de junho); 3) Festa da Colheita ou Festa dos Tabernáculos – Celebração da colheita dos frutos de outono e memorial dos quarenta anos em que Israel peregrinou no deserto antes de entrar na terra prometida. Essa festa deveria ser celebrada em 15 de Tishrei (em 2019, será no dia 14 de outubro).

O cristianismo compreende, desde o princípio, que essas três festas tem seu cumprimento em Cristo, razão para o Novo Testamento não as ordenar aos cristãos: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.” (Cl.2.16-17). Tendo em vista que seu propósito histórico-redentor foi alcançado, o Novo Testamento não dá destaque para as três festas, razão para que as três sejam mencionadas como informações, não como mandamentos. A Festa de Pentecostes é mencionada apenas três vezes (At.2.1; 20.16; 1Co.16.8), a Festa dos Tabernáculos aparece apenas uma vez (Jo.7.2) e a Páscoa aparece quase que exclusivamente nos evangelhos, com um maior número de citações que as demais (Mt.26; Mc.14; Lc.2.41; Lc.22; Jo.2.13,23; 6.4; 11.55; 12.1; 13.1; 18.28,39), além da referência em At.12.4 e Hb.11.28.

Curiosamente, os autores dos evangelhos não nos informam em qual período festivo Jesus nasceu. Apenas sabemos que ocorria alguma festa em Israel, porque Lucas nos diz que Maria “deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc.2.7). Ou seja, no dia em que Jesus nasceu todas as hospedarias estavam cheias de hóspedes. Uma sugestão bastante interessante é que Jesus tenha nascido nos dias da Festa dos Tabernáculos (Am.9.11; Zc.14.16-19), já que Ele “habitou entre nós” (Jo.1.14) e prometeu fazer morada em nós (Jo.14.23). Ou seja, se podemos especular uma data para o nascimento de Jesus essa data seria entre os meses de setembro e outubro.

Por alguma razão, Deus não quis revelar explicitamente, a seu povo, o dia em que seu Filho Unigênito nasceria entre os pecadores. O fato (o nascimento) deveria bastar para aqueles que haveriam de crer, mesmo sem qualquer alusão ao dia em que Jesus veio a nascer. Por isso, devemos nos contentar em anunciar a encarnação do Verbo, sem a necessidade de criar um dia para este evento tão importante (Jo.1.14). A necessidade de ter uma data para comemorar o nascimento de Cristo é semelhante à carência que o homem tem de criar imagens de Deus, a fim de ter para onde olhar quando for adorar.

Já o cumprimento da Festa de Pentecostes aparece claramente no Novo Testamento (At.2.1) com um cumprimento histórico-redentor bem específico: a descida do Espírito de Deus. A igreja do Senhor Jesus foi enchida abundantemente com o Espírito Santo, no dia em que os judeus festejavam as primícias da colheita do trigo (Ex.34.22). É interessante observarmos que, nos Evangelhos, tanto João Batista (Mt.3.12; Lc.3.17) quanto Jesus chamam a igreja de trigo (Mt.13.25,29,30; Lc.22.31), possível relação à tipologia presente no Antigo Testamento e cumprida em Atos 2.

De todas as três festas judaicas, a Páscoa é a mais importante, tanto nas páginas do Antigo Testamento quanto nas narrativas dos Evangelhos. Não é difícil compreender a razão dessa singular ênfase. Na Páscoa, o Filho de Deus daria cumprimento à grande promessa redentora, morrendo como Cordeiro de Deus para pagar a dívida do homem, trazendo, assim, a justificação, o cancelamento da dívida eterna (Rm.5.1; Cl.2.13-14), “despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl.2.15).

Desse modo, o rito judaico da Páscoa também teve seu cumprimento em Jesus, o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo.1.29), por meio do qual temos a redenção “pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe.1.19). Jesus satisfez plenamente as exigências da lei, cumprindo cabalmente tudo. Isso significa tanto que Ele estava apto para morrer em nosso lugar quanto que sua morte significava o fim das sombras proféticas do Antigo Testamento (Cl.2.17; Hb.8.5; 10.1).

Por isso, Jesus inaugurou uma nova aliança com novos ritos, mais simples e mais significativos: o Batismo (Mt.28.19) e a Ceia (Mt.26.26-28; 1Co.11.23-26). Esses dois ritos substituíram completamente todos os rituais judaicos que visavam apontar para o nascimento, vida, morte, ressurreição e presença de Cristo na igreja. Para compreender a razão do batismo substituir a circuncisão (Cl.2.11) é preciso lembrar que o corte do prepúcio do homem judeu apontava para a Santa Semente (Is.6.13; Gl.3.16), descendência de Abraão (Gn.12.1-3; 18.14) e de Davi (2Sm.7.11-14). Portanto, tendo chegado o descendente prometido, Cristo, a circuncisão alcança seu propósito e, então, caduca. Por isso, um novo rito de entrada no povo da aliança é dado por Jesus, um sinal para toda a família da aliança (At.16.30-34; 1Co.7.14): o batismo.

A Ceia é a páscoa do cristão, não mais celebrada apenas em um dia específico como ocorria com a Páscoa judaica. A Ceia pode ser celebrada quantas vezes a igreja desejar, sendo um importante meio de graça para comunicar “dramaticamente” o Evangelho, anunciando “a morte do Senhor, até que Ele venha” (1Co.11.26). Por meio da Ceia, o cristão tem sua fé renovada, pois relembra tanto a obra redentora de Cristo quanto sua promessa de volta. Por meio da fé, o cristão renova sua alegria da salvação e da comunhão com Jesus, pois Cristo está espiritualmente presente para abençoar sua igreja amada.

A ausência de todas as sombras do Antigo Testamento mostra a superioridade da nova aliança (Mt.26.28; 1Co.11.25; 2Co.3.6; Hb.12.24). A fé cristã não precisa mais das muletas que sustentavam a fé do antigo povo de Deus, pois a obra de Deus no coração do homem também é superior aos dias antigos (Ez.36.25-27), conforme nos mostra Lucas ao historiar a bonita vida da igreja de Jesus, resultado da descida do Espírito de Deus (At.2.42-47). A realidade da nova vida dentro da nova aliança feita por meio do sangue do Verdadeiro Cordeiro de Deus é superior em todos os aspectos, como nos mostra o autor de Hebreus (Hb.1.4; 7.7,19,22; 8.6; 10.34; 11.16,35,40), e exige uma fé superior que tenha por suficiente a Palavra que foi dada à igreja, com toda a simplicidade de uma vida profundamente arraigada a Cristo. Não há datas especiais nem grandes festas, mas o cristão está cheio de Cristo, por meio da presença do Espírito Santo no meio da igreja chamada de Santuário de Deus (1Co.3.16; 6.19; Ef.2.21; 2Ts.2.4; 1Pe.2.5).

Portanto, reflita: Por que voltar a uma fé rudimentar que necessita de relíquias para ser alimentada quando Cristo já se faz presente no meio de sua igreja? Quanto maior for a necessidade de elementos visíveis para representar o cristianismo, mais pobre se mostrará a fé cristã. A presença espiritual de Cristo que opera poderosa e eficazmente no coração daqueles que são tocados pela Palavra e Espírito de Deus (Ef.3.20) deve ser suficiente para sustentar e conduzir perfeitamente o cristão. Por essa razão nem mesmo os sinais e maravilhas operados outrora são necessários para alimentar a fé cristã. Cristo basta! A presença do Espírito de Deus basta! Bastou para Paulo (2Co.12.9) e deve bastar para você também.

Então, viva a beleza e profundidade da nova vida alcançada em Cristo Jesus. Ele está conosco, ainda que não visivelmente; Ele opera em nós, ainda que não perfeitamente; Ele fala conosco, ainda que não pessoalmente. Ou seja, mesmo que aguardemos a manifestação da consumação do tempo (1Co.15.50-58), quando Cristo voltará para buscar seu povo e trazer novo céu e nova terra (Ap.21-22), Sua presença é real e suficiente para preencher-nos, sustentar-nos e conduzir-nos. Portanto, em vez de procurar muletas para uma fé deficiente e fraca, fortaleça sua fé por meio de uma vida de comunhão com Cristo. Para isso, será preciso tempo dedicado à oração e à meditação na Palavra de Deus, junto a uma vida de adoração pura e simples prestada no meio da igreja de Jesus. Fortalecido, você verá que nada mais é necessário para sustentar sua fé, além da presença do próprio Cristo operando pelo Espírito Santo em sua vida.

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