“Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades,
nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco,
então, é que sou forte.” (2Co.12.10)
Pais,
como seus filhos deveriam ver vocês?
No
dia das mães, milhares de “frases feitas” elogiando a delicadeza, a beleza, o
amor e o cuidado das mulheres privilegiadas com a maternidade são dedicadas por
seus filhos. A mãe é transformada (equivocadamente) em um símbolo do amor, da
ternura e, até, da vida. No dia dos pais, canecas criativas e camisas
“descoladas” de superpai servem de presentes para comemorar esse dia
considerado tão especial. Os pais não precisam ser policiais nem bombeiros, não
costumam ser fortes nem guerreiros, mas são idealizados como heróis. Pais e
mães são adornados com diversas características especiais de personagens
fictícios, sobretudo a de não errar. Nas escolas, a idealização é alimentada em
uma semana dedicada quase que exclusivamente para elogiar pais ou mães que
parecem não ter qualquer fraqueza para demonstrar.
Em
um mundo que se gaba da racionalidade, pais e mães são apresentados como personagens de uma mitologia qualquer. A
criança não é conduzida a refletir sobre a verdadeira natureza humana, tanto no
que diz respeito à herança dos atributos divinos (Gn.1.26) quanto em relação ao
pecado que corrompeu cada parte de nosso ser (Rm.3.10-18). Desse modo, as
famílias são induzidas a não mostrar suas fraquezas, como se os filhos
precisassem acreditar que seus pais não erram; dando a entender que a confiança
e o amor dos filhos em relação aos pais dependem da ideia fictícia de que seus
pais são perfeitos.
Você
já percebeu que a Palavra de Deus não omite os muitos erros e fraquezas de seus
personagens (2Co.12.7-10)? Ela nos conta exatamente a verdade sobre quem eles
eram e o que fizeram em sua caminhada com Deus, mesmo que tenham sido
importantes personagens para a história redentora. Sabemos que Jacó deu ouvidos
a Labão e deixou que sua paixão por Raquel o fizesse ter duas esposas (Gn.29);
que Moisés desobedeceu a Deus (Nm.20); que Davi arquitetou o homicídio de um
soldado fiel com o intuito de ficar com a esposa deste (2Sm.11); que Pedro
negou Jesus três vezes e ainda cometeu outros muitos erros (Mt.26; Gl.2.11-14);
que Paulo brigou com Barnabé por causa de Marcos (At.15.37-39) etc. O fato de
Cristo não apresentar nenhum defeito, nenhum erro, é porque Ele realmente nunca
pecou (Hb.4.15).
Mesmo
com todos os seus defeitos, os personagens bíblicos são tratados como heróis da
fé (Hb.11), pois mantiveram seus olhos fitos na graça de Deus. Em suas
fraquezas, buscaram a força do Senhor (Jz.16); em seus erros, encontraram a
misericórdia de Deus (Sl.51); em suas necessidades, viram que o Criador é fiel
provedor (Rute); em suas lutas, aprenderam a entregar tudo nas mãos do Senhor
(Js.10) “que trabalha para aquele que
nEle espera” (Is.64.4). A razão para tudo isso ser bom é que o propósito da
vida humana é glorificar a Deus, não exaltar o ser humano. Por isso, os
personagens apontavam para a necessidade do redentor, Cristo Jesus, por meio do
qual desfrutamos da salvação e da comunhão com Deus.
A
força do cristão está em reconhecer sua fraqueza e sua dependência de Deus,
confiando nas promessas do Senhor, mesmo quando nada contribui para isso. Os
filhos precisam aprender a depender de Deus e descansar em Deus em toda e
qualquer situação, para que tenham paz no coração e um bom estado emocional
quando tiverem problemas para resolverem. A ansiedade tem tomado conta de boa
parte das pessoas, criando uma sociedade inquieta que vive de aparências. Por
isso, cônjuges brigam quando tem problemas financeiros e pais se mostram
incapazes de pedir perdão quando cometem erros. Os filhos precisam aprender que
a força do homem se encontra naquele que o criou: Deus. Ao aprender a lidar com
as fraquezas, os filhos repousarão o coração nas promessas do Senhor e
desenvolverão uma mente equilibrada, pronta para lidar com as adversidades da
vida.
Para
isso, os pais devem dar exemplo! Um dos grandes benefícios da vida familiar é a
transparência. Dificilmente, os membros da família conseguem viver uma mentira
por muito tempo, pois o natural convívio diário “desarma” a pessoa. Isso não é
ruim, pois não precisamos fingir que somos perfeitos para tentar agradar a
Deus. Antes devemos viver a verdade para encontrar nEle tanto o perdão quanto a
santificação. De modo semelhante, não devemos construir relações que exijam a
perfeição do outro, mas relacionamentos sinceros e maduros, prontos para
compreender as debilidades do outro, perdoar quando necessário e ajudar a
desenvolver uma vida santa e agradável a Deus. E o melhor ambiente para o
exercício de uma relação assim é a família.
Para
que os pais sejam amados por seus filhos e sejam alvos da confiança da família,
não é necessário criar uma imagem fictícia de superpai ou supermãe. A melhor
forma de educar os filhos é por meio da verdade e a verdade sobre a natureza
dos pais é que ela não é diferente em nada da natureza das demais pessoas. Os
pais sentem medo, necessidades, tristeza, dúvida, raiva e muitas outras coisas
comuns a todos os seres humanos. A reflexão sobre a realidade da humanidade dos
pais é importante tanto para os próprios pais quanto para seus filhos, pois
evita tanto a sobrecarga da tentativa de fingir ser o que não é quanto
frustrações futuras decorrentes da descoberta de que os pais não são o que
fingiam ser.
Portanto,
é importante para a educação dos filhos ver que os pais pedem perdão quando
erram, clamam a Deus quando tem necessidades, se humilhando diante do Senhor
quando tem problemas, pedem força a Deus diante de suas próprias fraquezas, solicitam
ajuda quando não sabem resolver os dilemas etc. Pais “normais” ensinam aos
filhos que a glória do homem não se encontra em sua suposta força, mas no poder
de Deus que opera na fraqueza (2Co.12.7-10). Pais que parecem nunca errar e
que, portanto, não pedem ajuda nem confessam seus pecados nem se humilham nas
necessidades alimentarão o orgulho dos filhos que dificilmente aceitarão ajuda
à medida que irão crescendo. Eles refletirão a falsa ideia de que a força do
homem está em não mostrar fraqueza, engano que pode levar muitos filhos ao
sofrimento solitário e dificuldades em relacionar-se com outras pessoas. Além
disso, provavelmente, serão estes os pais que, ao envelhecerem, se mostrarão “cabeças
duras”, incapazes de ouvir conselhos.
Então,
pais, sejam “simplesmente” vocês mesmos diante de seus filhos, de modo que seus
filhos vejam que vocês não são perfeitos como eles também não são, e que,
diante das falhas, a solução bíblica é reconhecer os erros, confessar os
pecados, pedir ajuda ao Senhor e mudar de atitude para a glória de Deus. Isso
não significa que deverão sentir-se tão à vontade que não se preocuparão em
evitar erros que deveriam ser evitados. Os pais não devem se acomodar a uma
vida medíocre, pois não é assim que apontamos para a glória de Cristo. Os pais
devem preocupar-se em crescer e amadurecer a vida tanto quanto tem por
obrigação se interessar em ajudar os filhos a crescerem e amadurecerem. Ou
seja, os pais não devem ser negligentes no cuidado consigo mesmos, assim como
também não podem fingir que são perfeitos.
Diante
das mais diversas circunstâncias vivenciadas em família, os pais tem a
oportunidade de trazer grandes ensinamentos bíblicos que apontam para a
necessidade que todos temos de Cristo. Um exemplo disso, são as divergências
que deverão ser tratadas com paciência, abnegação e sabedoria. Quando cônjuges
divergem, mostram aos filhos que são naturalmente diferentes. Nesses momentos,
o marido pode exercitar o amor abnegado e/ou a esposa mostrar como a mulher
deve ser submissa (Ef.5.22-33). Tais divergências também acontecerão na relação
entre os pais e os filhos, como momentos oportunos para demonstrar a forma
agradável a Deus de se tratar as diferenças. Todavia, em muitas das
ocorrências, tanto os cônjuges se esquecerão do que aprenderam com Cristo
quanto os pais ignorarão que devem ser exemplo aos filhos. Quando isso
acontecer, os pais não devem se desesperar. Será o momento para exercitar e
ensinar outra grande lição: a capacidade de reconhecer o erro, pedir perdão e
mudar de atitude. Todas essas lições serão vivenciadas dentro de um dia a dia
normal de uma família normal que deseja viver para a glória do Senhor. E tendo
aprendido com os pais, os filhos poderão colocar tudo isso em prática, em suas
diversas relações dentro e fora de casa.
Filhos
com pais normais que buscam no Senhor tudo o que é necessário para viver uma
vida para a glória de Deus não precisarão idealizar um super-herói. Eles
aprenderão que uma vida comum glorifica a Deus e aponta para a imensa graça do
Senhor que se manifesta dia a dia na vida daqueles que reconhecem suas
fraquezas, a fim de viver pelo poder de Deus. São esses mesmos filhos que, mais
tarde, aceitarão os conselhos e a ajuda dos pais, saberão lidar com os diversos
problemas presentes na igreja local e formarão família normais e estáveis que
não se abalam diante das lutas da vida. Portanto, não finjam que não erram nem
se preocupem em ser super-heróis para seus filhos, pois nada disso os
conduzirão para Cristo. Preocupem-se apenas em viver uma vida normal para a
glória do Senhor, de modo que seus filhos os considerem especiais não por
parecerem fortes, mas por apontarem para a grandeza de Deus diante de suas
próprias fraquezas.
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