“Porque eu vos dei o exemplo, para que, como
eu vos fiz, façais vós também.” (Jo.13.15)
O
dia da chegada do bebê é muito especial, adornado com muitas expectativas. Uma dessas
expectativas diz respeito a aparência da criança. Com quem será que ela vai
parecer? Isso só é possível porque Deus nos fez para compartilhar quem somos.
Podemos dizer que o organismo da criança “imita” o organismo dos pais. Feições,
tipo de corpo, cor de pele, entre outras características serão herdadas dos
pais e serão carregadas por toda a vida. Os filhos carregam a imagem e
semelhança de seus pais (Gn.5.3).
E
as imitações não param por aí. Deus nos fez com a capacidade para aprender,
imitando aquilo que vemos e ouvimos. Apenas ouvindo alguém tocar, há pessoas
que conseguem repetir o som. Um aprendiz de artesão vê seu mestre trabalhando
e, então, confecciona a mesma obra de arte repetindo os passos observados. De
modo semelhante, aprendemos a falar um idioma, cozinhar qualquer coisa e
realizar os mais diversos trabalhos. O ser humano imita a natureza a seu redor,
copia as pessoas com quem divide o mesmo espaço social e até tenta imitar os
atos criativos e governamentais de Deus. Somos imitadores por natureza!
Portanto,
tudo aquilo que uma criança vê e ouve em casa, na rua, na escola, dos pais, dos
familiares e dos amigos terá alguma influência, grande ou pequena, sobre a vida
dela. A criança cresce imitando o mundo a seu redor sem o discernimento acerca
do que é bom e do que é mau. Esse processo de imitação ocorre naturalmente,
lentamente e eficazmente dando alguns sinais esporádicos de seu funcionamento
por meio de demonstrações de algumas marcas mais fortes. Há momentos em que a
criança quer ser um super-herói, em seguida demonstra imitar um personagem
famoso de seu interesse, depois começa a fazer coisas que viu na roda de seus
amigos e assim por diante. Mas, os sinais mais fortes costumam apontar para as
pessoas com quem mais convivem: jeito de falar, modo de agir, forma de tratar
as pessoas etc.
Por
conseguinte, a maior preocupação dos pais deve ser com respeito à formação do
caráter dos filhos, que será construído a partir da imitação daquilo que eles veem
e ouvem. Essa preocupação não deve ser aplicada apenas aos cuidados com o que
dizem a TV, as músicas, os filmes, a internet, os amiguinhos e outros agentes
externos à família. Os pais devem primeiramente se preocupar com o que os
filhos estão aprendendo dentro de casa no relacionamento com a família, a
primeira e principal agente formadora da cosmovisão dos filhos e,
consequentemente, do caráter deles.
Mas,
porque essa preocupação dentro de famílias que desejam o melhor para os filhos?
A questão é que nem sempre essas famílias que desejam o melhor para os filhos
estão atentas aos mínimos, mas importantíssimos, detalhes da caminhada junto
aos filhos. Maus filmes podem trazer prejuízo para a educação de filhos, mas nada
pior do que ver diariamente os pais cometerem erros diversos, tais como o
simples hábito de mentir. Pequenas e aparentemente inofensivas mentiras no dia
a dia alimentarão no coração da criança muitos outros pecados que procedem da
mentira, tal como a corrupção política.
Isso
ocorre porque o ensino diário é a forma mais eficaz de educar alguém, conforme
foi ordenado por Deus em Deuteronômio 6.7: “tua
as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando
pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” Israel deveria ensinar
seus filhos diariamente por meio da palavra e do exemplo. A escola bíblica das
crianças de Israel seria o próprio lar e, portanto, os pais seriam os
professores. Nesse convívio diário, os filhos veriam o quanto seus pais amam a
Deus (Dt.6.6) e aprenderiam a amar a Deus também, não somente em palavras, mas
sobretudo com atitudes, segundo mais adiante nos diz o Senhor Jesus: “Aquele
que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama” (Jo.14.21).
Devemos
observar que Jesus educou seus discípulos durante três anos convivendo com
eles. Não foram encontros diários nem muito menos periódicos. Os discípulos
deixaram tudo para andar com Jesus por três anos (Mt.19.27) nos quais puderam
ver e ouvir o mestre (At.4.20). Podemos dizer que Jesus adotou seus discípulos
para cuidar deles como um pai cuida de seus filhos (Jo.17.6). Poucos foram os
momentos nos quais Jesus esteve sozinho (Mt.14.23; Mc.6.47; Lc.9.36; Jo.6.15).
Desse modo, ao concluírem o período de preparação, os discípulos realmente
conheciam o modo de falar e agir do mestre, de forma que a liderança religiosa
da época viu na maneira de falar e agir dos discípulos as marcas de Cristo,
reconhecendo “que haviam eles estado com
Jesus” (At.4.13).
O
que você está ensinando a seus filhos? Não me refiro ao que você disse ontem
quando conversava com eles. O que seus filhos estão aprendendo com seu exemplo?
Essa pergunta exige que os pais olhem para si mesmos, não para os filhos. Qual
a conduta de vocês, pais, dentro e fora de casa? O propósito dessa reflexão não
é conduzi-los a uma vida fingida, tentando aparentar algo bom para os filhos
quando a realidade do coração não é boa. O objetivo é incentivar os pais a
mudarem primeiramente a própria vida, a fim de que possam moldar também a vida
de seus filhos conforme a Palavra de Deus.
Em
Deuteronômio 6.4-7, o Senhor admoesta Israel a amar a Deus de todo o coração e a
ensinar esse amor a Deus para os filhos, por todas as gerações. Observemos que
primeiramente os pais precisariam realmente amar a Deus, não apenas fingir
diante dos filhos. Somente vivendo esse amor profundo, intenso e verdadeiro por
Deus, os pais conseguiriam mostra-lo aos filhos no dia a dia: assentado,
andando, ao deitar e ao levantar (Dt.6.7).
Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único
SENHOR. 5 Amarás, pois, o
SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua
força. 6 Estas palavras que,
hoje, te ordeno estarão no teu coração; 7
tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e
andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. (Dt.6.4-7)
É
comum o homem fingir boas aparências para agradar as pessoas de um determinado
ambiente. Todavia, agimos com naturalidade quando estamos com pessoas de nosso
convívio cotidiano, principalmente familiar. Aquilo que não faríamos em
público, fazemos em casa. E para que sejamos exemplos dentro e fora do lar é
preciso que nosso coração e mente tenham realmente aprendido, guardado e
aderido àquilo que Deus nos ensina em sua Palavra, a fim de colocarmos,
naturalmente, em prática no dia a dia. Portanto, reflita profundamente na
seguinte questão: Você ama o Senhor nosso Deus de todo seu coração, de toda sua
alma e de toda sua forma? Você está disposto a negar a si mesmo por amor a
Deus, a fim de viver conforme a vontade do Senhor? Essas perguntas são
fundamentais para que os pais tenham atitudes conscientes dentro e fora de
casa, buscando ser exemplo em tudo para a glória de Deus.
Interessante
observar ainda que a imitação além de ser algo natural ao ser humano, no Novo
Testamento aparece como ordenança, tornando-se uma prática comum ao
cristianismo desde os primeiros séculos da era cristã:
Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em
Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei
em Cristo Jesus. 16
Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores. 17 Por esta causa, vos mandei
Timóteo, que é meu filho amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus
caminhos em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino em cada igreja.
(1Co.4.15-17)
Sede meus imitadores,
como também eu sou de Cristo (1Co.11.1)
Sede, pois, imitadores
de Deus, como filhos amados; 2
e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós,
como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave. (Ef.5.1-2)
Irmãos, sede imitadores
meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós. 18 Pois muitos andam entre nós,
dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que
são inimigos da cruz de Cristo. (Fp.3.17-18)
Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que
em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo, (1Ts.1.6)
Tanto é assim, irmãos, que vos tornastes imitadores das igrejas de Deus
existentes na Judéia em Cristo Jesus; porque também padecestes, da parte dos
vossos patrícios, as mesmas coisas que eles, por sua vez, sofreram dos
judeus, 15 os quais não
somente mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram, e
não agradam a Deus, e são adversários de todos os homens, (1Ts.2.14-15)
Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao
fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança; 12 para que não vos torneis
indolentes, mas imitadores daqueles
que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas. (Hb.6.11-12)
Um
dos papéis da liderança seja familiar seja eclesiástica, quer privada quer
pública é ser exemplo para seus liderados. Paulo entendia sua obrigação de ser
exemplo para as igrejas de Jesus, tanto por ser apóstolo designado por Cristo
quanto por ser o plantador de diversas das igrejas para as quais escreve. Os
pais também precisam ser exemplo para seus filhos tanto no tratamento quanto
nas palavras, no modo de viver e na maneira de pensar. Em tudo, os pais devem
ser exemplo, pois seus filhos estarão atentos a todos os detalhes da vida deles
e os imitarão de modo consciente ou inconsciente. Portanto, os pais precisam
assumir o peso da responsabilidade de serem, inevitavelmente, um modelo para
seus filhos.
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