“e conhecer o amor de Cristo, que excede todo
entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus” (Ef.3.19)
Como você deseja que seu cônjuge seja? Normalmente, queremos
que o cônjuge seja semelhante a nós mesmos, razão para gastarmos muito esforço
em tentar mudar o outro à nossa imagem. Mas, será que Deus quer que seja assim?
Deveríamos querer que nosso cônjuge seja igual a nós? Ou deveríamos desejar que
nosso cônjuge seja semelhante a Cristo?
O mundo do conto de fadas criou uma caricatura sobre a vida
e sobre o casamento que não se encaixa na realidade nem aponta para Cristo. No
conto de fadas as virtudes humanas são exaltadas, a aparência costuma ser
destacada e o amor é idolatrado como uma espécie de poder redentor capaz de
mudar pessoas e garantir a felicidade eterna. Portanto, no conto de fadas,
Cristo não é a razão e o propósito da criação nem o alvo da história humana.
Antes, em tais contos é reafirmado o egocentrismo do coração pecador,
apresentando o ser humano como centro de todas as coisas, razão para tudo girar
em torno dos personagens principais das ficções que visam induzir o público a
identificar-se com eles.
A partir dessa referência inculcada na cabeça das gerações,
rapazes e moças passam a idealizar um casamento nos moldes dos contos de fadas,
colocando toda a expectativa de uma vida feliz sobre os ombros do futuro
cônjuge. Não é de se estranhar que haja tantos divórcios em nossos dias, afinal, mais cedo ou mais tarde, aqueles jovens descobrem que a vida não é um conto de
fadas e que o cônjuge não é uma pessoa encantada e sem defeitos.
Diversas das brigas, confusões, discussões, contendas e
frustações decorrem do desejo e esforço de um cônjuge em querer moldar o outro
à sua personalidade. O coração egoísta atua ativamente no propósito de fazer
com que o casamento gire em torno dele. O coração narcisista coloca-se como
referência do casamento, entendendo que o cônjuge deve atender às suas expectativas e desejos,
mas não conseguindo alcançar seu objetivo, sente-se injustiçado e frustrado, no
direito de pedir o divórcio.
Por causa do egocentrismo natural do ser humano, nenhum dos
cônjuges costuma perguntar, quer em momentos bons quer em momentos ruins, o que
Cristo deseja para o casamento. Será que o formador da família não tem uma vontade
para ela? Você já perguntou o que Cristo deseja para seu cônjuge e para você?
Vocês já procuraram qual a vontade de Cristo para a vida de vocês, tanto para o
esposo e pai quanto para a esposa e mãe? Vocês estão procurando moldar a
própria vida a Cristo? Já pensaram que até os defeitos do cônjuge podem
ajudar no propósito de trabalhar o caráter de ambos, bem como auxilia-los a
aprenderem a contentar-se com Cristo (Sl.63.3; 2Co.12.9)?
As perguntas acima são importantes porque tiram o foco dos
cônjuges e o colocam sobre Cristo, afinal tudo existe por Ele e para Ele
(Rm.11.36). Cristo é a causa e propósito da vida e, portanto, o único que pode
dar a felicidade para alguém, pois a felicidade está nEle. Por isso, as pessoas
sempre serão frustradas ao tentar encontrar a felicidade em outros lugares e ao
colocar todas as expectativas de uma vida feliz sobre os cônjuges imperfeitos, limitados e mortais.
Então, em vez de gastar tempo e esforço tentando mudar o
cônjuge para molda-lo à nossa própria imagem, deveríamos gastar tempo procurando
moldar nossa própria vida à imagem de Cristo. Portanto, devemos perguntar: O
que Cristo deseja que meu cônjuge seja? Essa pergunta sinaliza a ideia de que
Cristo é mais importante do que eu e que a vontade dEle é mais importante que a
minha. Indica que Cristo tem interesse no casamento e, também, um propósito com
ele. Podemos dizer ainda que a pergunta nos lembra que não somos o centro do
universo nem “a medida de todas as coisas”. E, por fim, podemos apontar para a
necessidade de que cada um dos cônjuges aprenda a contentar-se com Cristo e
tenha prazer em ver o operar de Cristo no meio do lar com a finalidade de
moldar o caráter ao de Cristo, restaurando a imagem dEle no casal.
Para saber tudo o que Cristo deseja para a vida dos cônjuges
será necessário interesse em ouvir Deus falar por meio da Escritura Sagrada.
Nela, encontramos todas as respostas às perguntas práticas sobre como deve ser
o viver de todas as pessoas no dia a dia (Mt.5-7; Rm.12.9-21; 1Co.12.12-27 etc.)
e, também, como deve ser o comportamento específico do homem bem como o modo de
agir da mulher (Sl.128; 1Tm.2.8-15; 1Pe.3.1-7 etc.). Na Palavra de Deus, encontramos mandamentos sobre a relação sexual (1Co.7.3-9); ordenanças sobre a
forma como um cônjuge deve tratar o outro (Ef.5.22-33); e, ensinamentos sobre a
relação pais-filhos (Ef.6.1-4).
Com os olhos fitos em Cristo, buscando as coisas lá do alto
(Cl.3.1-3), até as diferenças e adversidades poderão ser compreendidas como
bons instrumentos para Deus trabalhar o caráter de cada cônjuge (1Pe.3.1-7).
Aquilo que é frustrante para uns, para o cristão pode ser uma bênção, já que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles
que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”
(Rm.8.28). Conforme disse o apóstolo Paulo, “o que é para eles prova evidente de perdição é, para vós outros, de
salvação, e isto da parte de Deus” (Fp.1.28).
Não é em vão que devemos suportar uns aos outros (Cl.3.13).
Somos desafiados a ter paciência quando o cônjuge faz coisas que não gostamos.
Somos lembrados da incondicionalidade do amor quando o cônjuge não merece nossa
dedicação e carinho. Podemos colocar em prática a misericórdia diante dos
diversos defeitos do cônjuge, sabendo o quanto o Senhor tem sido misericordioso
para conosco. Desse modo, o casamento mostra-se como uma importante oficina
para o desenvolvimento do caráter cristão, desde que adornado pela Palavra e
Espírito de Deus.
É na família que a mulher desenvolve o respeito e a submissão
devidos às autoridades, a começar com o pai, seguido do marido (Ef.5.22-24;
6.1-3). O relacionamento com o esposo oferecerá um grande desafio para as
esposas (principalmente em nossos dias feministas), a fim de saberem resistir
ao orgulho aflorado pelo mundo autossuficiente de nossos dias. Um viver humilde
e modesto, manso e tranquilo é de grande valor diante de Deus (1Pe.3.4) que “resiste aos soberbos, contudo, aos humildes
concede a sua graça” (1Pe.5.5). É de grande proveito a mulher ser provada
para ser aprovada (Tg.1.12), mostrando-se amável e dedicada sentindo-se feliz com o marido. Tal comportamento serve de modelo para a igreja, a noiva de
Cristo, que deve contentar-se plenamente com seu noivo Jesus.
Portanto, aquilo que aparentemente é ruim por contrariar as
vontades do coração, batendo de frente com a personalidade e o temperamento da
esposa, torna-se grande instrumento nas mãos do Senhor para trabalhar a vida de
sua serva. Mesmo sem saber, o esposo (com todos os defeitos que também precisam
ser corrigidos) contribui para o crescimento de sua esposa, desafiando-a a um
proceder cristão diante das adversidades. Caso ambos sejam cristãos, a
atmosfera do lar adornado pela Palavra e Espírito de Deus torna-se um agradável
ambiente de transformação e edificação.
Os desafios dentro da vida familiar também alcançam o homem.
Há muito o que ser mudado em um homem para que venha a parecer com Cristo. Jesus é o perfeito noivo da igreja que a ama e se deu por ela (Ef.5.25-27). Ele é
gentil e amável, firme em suas decisões tomadas por amor à sua amada igreja.
Ele é valente e trabalhador, sempre vigilante e dedicado para proteger e
sustentar sua noiva. Quando ela erra, ele a perdoa; diante de suas
imperfeições, ele é paciente. Esse é o modelo deixado por Cristo para que o
marido glorifique a Deus em sua relação com a esposa.
Todavia, o homem não é, naturalmente, uma joia. Ele se
parece muito mais com uma pedra bruta e bastante dura. O orgulho do homem é tão
feroz quanto o da mulher. Quando incomodado, pode sentir-se inclinado a reagir
com aspereza. Quando seu orgulho é ferido pode agir com ignorância diante da
esposa e filhos. Reconhecer seus erros não faz parte de sua natureza, desde a
queda de Adão e Eva (Gn.3.12). Pedir perdão e perdoar pode custar algumas
noites de oração para a esposa e alguns dias de reflexão para o marido.
Tanto o marido quanto a esposa precisam entender que o
casamento (e a família como um todo) é de grande auxílio no processo de mudança da vida, caso sejam dirigidos
pela Palavra do Senhor e quebrantados pelo Espírito Santo. A família não fará
milagres na vida de seus membros, mas será o ambiente para Deus operar suas
maravilhas no coração de cada um. É evidente que a relação dos cônjuges com Cristo
é indispensável para que o processo de aprendizado e crescimento no
conhecimento de Cristo e na prática de uma vida cheia do Espírito seja bem-sucedido.
Para que um cônjuge seja verdadeiro auxílio ao outro, é
necessário que compreendam o alvo de Deus para cada um: Cristo. O propósito do
casamento não é tornar um cônjuge semelhante ao outro para o deleite de ambos,
mas transformar a vida de ambos à imagem de Cristo para o bem de todos e a
glória de Deus. Cônscios disso, os cônjuges deverão estar dispostos a serem
trabalhados por meio de contrariedades como Paulo foi contrariado por Deus e o
louvou por confiar plenamente na vontade do Senhor (2Co.12.7-10).
Prontos para todo o trabalhar de Deus em suas vidas, os
cônjuges poderão fazer bom proveito da vida conjugal com todas as suas
variáveis. O ponto de partida para essa grande jornada é o quebrantamento do
coração (Ez.36.26-27; Jo.3.3). Vocês querem que Deus trabalhe a vida de vocês?
Vocês desejam que Cristo seja impresso na vida de vocês? Vocês amam mais ao
Senhor da glória do que a si mesmos? Então, ambos precisam negar a si mesmos (Mt.16.24)
em cada desafio do casamento e em cada contrariedade que surja na relação conjugal. Afinal,
foi Deus quem criou o casamento e fez dele um ambiente propício para trabalhar a vida
dos cônjuges, de modo que não rejeitamos nem ofendemos pessoas quando pecamos,
mas ao próprio Deus que tanto nos amou que entregou seu filho por nós (Rm.5.8).
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