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sábado, 5 de janeiro de 2019

Deus ama sua igreja (Ef.1.1-2)

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus” (Ef.1.1)

Deus ama sua igreja! Esse amor tem fundamento tão somente na livre vontade do Senhor. Ele escolheu amar um povo e o denominou de igreja, família de Deus (Ef.2.19). Por ser decorrente apenas da livre vontade, o amor de Deus pela igreja é incondicional, perceptível no fato de que primeiro Ele a amou para depois justifica-la por meio da morte sacrificial de Seu Filho, a fim de que pudesse ter plena comunhão com Sua igreja tornada santa. Por isso, disse Paulo: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm.5.8).

Conforme o Senhor Jesus afirmou em parábola (Mt.13.24-43), Deus faz distinção entre o joio e o trigo que se encontram dentro da igreja visível. De acordo com essa parábola o joio foi plantado pelo inimigo de Deus enquanto que apenas o trigo foi plantado pelo Senhor da terra. Portanto, o joio nunca foi desejado pelo Senhor. Ou seja, ainda que Deus abençoe sua igreja visível, Ele realmente ama sua igreja invisível composta por todos aqueles que verdadeiramente estão em Cristo, tanto os que viveram pela fé nos dias do Antigo Testamento quanto os que creram em Jesus nos dias do Novo Testamento. Por isso, o joio que esteve no meio da igreja também será “queimado” (Mt.13.30) enquanto que o trigo (aqueles que perseveraram firmes na fé até o fim) será recolhido no “celeiro” divino.

Por causa do amor divino pela igreja, a Escritura diz que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm.8.28). Deus providenciou tudo o que é necessário para que a igreja tenha eterna comunhão com Ele e viva uma vida abundante, glorificando e alegrando-se nEle por meio de Cristo Jesus. Em sua carta aos Efésios, o apóstolo Paulo nos revela a obra do Senhor pela igreja, no meio da igreja e através da igreja, de tal modo que é possível contemplar Romanos 8.28 em toda a carta aos Efésios. Nesta carta, tudo está cooperando para o bem da igreja abençoada “com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef.1.3).

A própria carta de Paulo é considerada uma bênção divina entregue à igreja para sua edificação, pois Paulo era apóstolo “por vontade de Deus” (Ef.1.1) “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef.4.12). Desse modo, Paulo foi enviado por Deus para abençoar a igreja de Cristo por meio da Revelação do Espírito Santo, a fim de edificá-la “sobre o fundamento dos apóstolos” (Ef.2.20) que é a Palavra de Deus. A revelação do conhecimento de Deus “aos santos [...] e fiéis em Cristo Jesus” (Ef.1.1) manifesta mais uma vez o amor de Deus pela sua igreja (verdadeiros cristãos).

A vontade de Deus em escolher, chamar e enviar Paulo como apóstolo demonstra o cuidado do Senhor para com aqueles que Ele ama. O Senhor sabe que a igreja precisa crescer na graça e no conhecimento da Verdade, aprender a viver uma vida santa em todos os aspectos e ser confortada no dia a dia diante das muitas perseguições sofridas. Deus conhece a vida de seu povo e se antecipa diante de suas necessidades, não somente físico-materiais, mas, sobretudo, à necessidade de viver uma vida abundante em Cristo e para Cristo.

Todavia, não é incomum que cristãos ajam como crianças que só veem o presente físico-material. Para as crianças os pais provam o amor dando presentes. Elas não conseguem compreender a disciplina como uma prova de amor paterno nem uma poupança para o futuro como demonstração do cuidado dos pais, pois elas querem ter aquilo que gostam, agora. As crianças têm dificuldade de contemplar a importância do futuro e o valor daquilo que não é palpável. Para a criança, o amor só é demonstrado de forma plenamente concreta, física, material e presente, razão para só valorizarem o ensino dos pais após chegarem à fase adulta (caso não amadureçam antes), quando finalmente compreenderão a grandeza da educação como bênção para a vida dos filhos.

Diante disso, mais uma vez se mostra o amor de Deus ao enviar servos escolhidos para a igreja, a fim de que preguem fielmente a Palavra de Deus para o amadurecimento de Seus filhos. Quanto mais fiéis forem os servos enviados mais proveitosa será a educação da igreja e quanto mais educada estiver a igreja mais madura será para compreender o Ser de Deus e Suas obras realizadas pela igreja, na igreja e através da igreja. A maturidade da igreja fará com que seja plenamente feliz em Cristo em toda e qualquer situação, tornando-a também forte para jamais desanimar ou desistir da jornada proposta pelo Pai Celeste, ainda que tenha que andar “pelo vale da sombra da morte” (Sl.23.4).

Devemos considerar ainda que a igreja é caracterizada de apostólica, ou seja, enviada por Cristo, e isto por duas razões: A primeira, como já fora dito, é por ter sua doutrina fundamentada na doutrina dos apóstolos que Deus lhe deu graciosamente para seu bem (At.2.42). A segunda diz respeito ao seu envio ao mundo como igreja mensageira que deve proclamar a Palavra de Deus ao mundo (Jo.20.21), a fim de que pessoas sejam salvas e cristãos sejam edificados, tudo para a glória de Deus. Portanto, você que crê no Senhor Jesus também deve abençoar vidas com sua vida, servindo como instrumento para salvar e edificar pessoas, abençoando, dessa maneira, a igreja de Jesus, tanto seu crescimento quanto seu amadurecimento (Ef.4.15-16).

O amor de Deus é Santo, assim como todos os atributos divinos são igualmente Santos, pois Deus é Santo. Por essa razão, ao amar a igreja, Deus providenciou a santificação da mesma. Ele enviou Seu Filho para justificá-la tornando-a livre do “escrito de dívida” (Cl.2.14) que era contra ela, fazendo-a, portanto, justa aos olhos do Senhor. Além disso, Deus enviou Seu Santo Espírito para separar a igreja do pecado, agindo em seu coração, a fim de que, por meio de uma nova vida, pudesse odiar o que é mau, assim como Deus odeia o que é mau.

Portanto, ao chamar a igreja de santa (Ef.1.1) o amor de Deus pelo seu povo é manifesto, pois a justiça que possibilitou tal caracterização da igreja proveio do próprio Deus, através de Seu Filho Jesus Cristo. Por seu grande amor à igreja, o Senhor a tornou semelhante a si mesmo: Separado de todo pecado; pois, Deus só faz o que é bom e reto. Os cristãos foram separados da vida mundana e libertos da escravidão do pecado para viverem uma vida íntegra. A liberdade cristã se revela na santidade do povo de Deus, chamado, na carta aos Coríntios, de “santificados” (1Co.1.2). E essa liberdade demonstra o grande amor que Deus tem para com seu povo a ponto de resgatá-lo da escravidão, transportando-o “para o Reino do Filho do Seu amor” (Cl.1.13). Ao nos chamar de santos, Deus está dizendo que tem cuidado de nos separar do que é mau, de nos livrar tanto das consequências quanto da influência do mal.

Tendo em vista a separação de uma vida mundana, a santificação representa privações para a igreja. Por isso, nem sempre o cristão aceita facilmente o ensino bíblico que ordena a separação de tudo o que é mau. O coração ainda dividido entre o bem e o mal deseja experimentar prazeres, satisfazer desejos, realizar sonhos, sentir-se livre para fazer sua própria vontade, extravasar seus sentimentos diametralmente opostos e saciar o vaidoso orgulho de considerar-se autossuficiente, detentor do poder de fazer a própria vontade. Quando a Escritura vai de encontro a tais vontades do coração, então a luta cristã torna-se mais áspera, tanto entre o mestre e seu discípulo quanto entre o Espírito e a carne (Gl.5.16-26).

E, até na guerra Deus mostra seu amor, pois a luta contra o coração é o caminho para a completa libertação, a fim de que os filhos de Deus possam viver a beleza de uma vida santa, “na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm.8.21). Ao enviar profetas, apóstolos e pastores para a igreja, Deus mostrou seu cuidadoso amor paterno que ora conforta ora exorta, a depender da real necessidade de seu povo. E para que a igreja pudesse ser realmente chamada de santa, Deus enviou o supremo Apóstolo Jesus Cristo (Hb.3.1) para realizar a obra redentora em favor de seu povo.

A estes crentes (fiéis) em Cristo Jesus (Ef.1.1), Deus enviou sua graça e paz. Isto significa que após o Senhor Jesus realizar a obra redentora tanto por meio da Cruz quanto por meio do envio do Espírito Santo para a igreja, Deus ficou satisfeito e sorriu para seu povo amado e agraciado com a santificação (Objetiva e subjetiva). O rosto do Pai Celeste resplandece ao olhar para seu povo justificado e sorri num sinal de satisfação, alegrando-se com a paz estabelecida entre Ele e Seu povo amado. Deus está em paz com a igreja e satisfeito com isso, de modo que distribui com alegria Suas muitas bênçãos sobre Seu povo amado (Ef.1.3).

Interessante observarmos que a comum bênção introdutória do apóstolo Paulo nos remete à bênção sacerdotal ordenada por Deus a Arão, primeiro sumo sacerdote de Israel. Mesmo sendo diferentes em tamanho e termos, as duas bênçãos se assemelham em significado, como uma continuação da bênção do Senhor dispensada sobre sua igreja do Antigo e Novo Testamento:

Números 6.24-26
Efésios 1.2
24 O SENHOR te abençoe e te guarde; 
25 o SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; 
26 o SENHOR sobre ti levante o rosto e te dê a paz.
2 graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Em ambos os textos, Deus é a origem da bênção sobre seu povo. É Deus quem abençoa Sua igreja e, por isso, a bênção é certa. Aqueles que a proclamam são apenas instrumentos para anunciar a vontade divina. Ocorre uma ênfase na autoridade daquele que abençoa: em Números, o Nome do Senhor é repetido três vezes como recurso para a ênfase; em Efésios, o apóstolo frisa três vezes a origem com termos diferentes que remetem ao Senhor da igreja: Deus, nosso Pai, Senhor Jesus Cristo. Essa bênção é composta de duas partes: 1) a satisfação divina em abençoar Seu povo; 2) e, a paz na relação entre Deus e Seu povo. Essas duas partes da benção divina sobre a igreja resumem “toda sorte de bênção espiritual” (Ef.1.3) destinada aos que Deus ama. O novo céu e nova terra são frutos da graça do Senhor, ou seja, de seu rosto ter resplandecido sobre a igreja; a doce comunhão presente no relacionamento entre Deus e sua igreja decorre da paz que foi estabelecida; além das muitas outras bênçãos reveladas pela Escritura Sagrada.

Achar graça diante de Deus como Noé (Gn.6.8), Moisés (Ex.33.13), Davi (2Sm.15.25; At.7.46), Maria (Lc.1.30) e outros acharam é o mesmo que dizer que o rosto do Senhor resplandeceu para eles. Quando Jesus foi batizado, a voz do Pai ecoou dizendo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt.3.17). Já Lucas afirma que “a graça de Deus estava sobre Ele” (Lc.2.40), de modo que “crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc.2.52). Segundo o apóstolo João, “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (Jo.1.14), do qual veio sobre a igreja essa mesma graça (Jo.1.16-17). Portanto, Deus estava satisfeito com Seu Filho (Is.53.11), resplandecendo o rosto para Ele, abençoando Cristo em todos os seus caminhos.

Podemos dizer que a bênção dos apóstolos (Rm.1.7; 1Co.1.3; 2Co.1.2; Gl.1.3; Ef.1.2; Fp.1.2; Cl.1.2; 1Ts.1.1; 2Ts.1.2; 1Tm.1.2; 2Tm.1.2; Tt.1.4; Fm.3; 1Pe.1.2; 2Pe.1.2; 2Jo.3; Ap.1.4) é uma legítima continuação da bênção de Arão. Isso não significa que os apóstolos eram sacerdotes no Novo Testamento, mas demonstra que Deus nunca mudou seu amor destinado à igreja. A graça e a paz são bênçãos antigas decorrentes do amor de Deus para com Seu povo e foi Jesus Cristo quem possibilitou a concretização de tais bênçãos profetizadas desde os dias do Antigo Testamento. Hoje, por meio de Cristo, o rosto de Deus verdadeiramente resplandece sobre sua igreja que desfruta de plena paz com Deus por meio da justificação recebida pela fé (Rm.5.1).

Deus ama sua igreja e tudo faz para o bem dela. E para desfrutar melhor desses benefícios divinos destinados à igreja, você deve amadurecer na fé. A maturidade cristã proporciona ao cristão a satisfação de poder compreender melhor a manifestação do amor de Deus nos momentos mais adversos, das formas mais variadas, quer no conforto quer na exortação. A igreja deve buscar a maturidade, a fim de ser capaz de se alegrar plenamente em Deus. Cristãos maduros não murmuram da vida, pois sabem que ela é um dom de Deus; cristãos maduros não dão trabalho para a liderança pastoral, pois até a disciplina recebem com humildade e satisfação, já que estão com os olhos fitos em Cristo, buscando as coisas lá do alto onde Cristo vive (Cl.3.1-4). São esses cristãos maduros que sabem o quanto Deus os ama e agradecem por serem capazes de amar intensamente a Deus, também (Dt.6.5).

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