“Paulo,
apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e
fiéis em Cristo Jesus” (Ef.1.1)
Deus ama sua igreja! Esse amor tem fundamento tão somente na
livre vontade do Senhor. Ele escolheu amar um povo e o denominou de igreja,
família de Deus (Ef.2.19). Por ser decorrente apenas da livre vontade, o amor
de Deus pela igreja é incondicional, perceptível no fato de que primeiro Ele a
amou para depois justifica-la por meio da morte sacrificial de Seu Filho, a fim
de que pudesse ter plena comunhão com Sua igreja tornada santa. Por isso, disse
Paulo: “Mas Deus prova o seu próprio amor
para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”
(Rm.5.8).
Conforme o Senhor Jesus afirmou em parábola (Mt.13.24-43),
Deus faz distinção entre o joio e o trigo que se encontram dentro da igreja
visível. De acordo com essa parábola o joio foi plantado pelo inimigo de Deus
enquanto que apenas o trigo foi plantado pelo Senhor da terra. Portanto, o joio
nunca foi desejado pelo Senhor. Ou seja, ainda que Deus abençoe sua igreja
visível, Ele realmente ama sua igreja invisível composta por todos aqueles que
verdadeiramente estão em Cristo, tanto os que viveram pela fé nos dias do
Antigo Testamento quanto os que creram em Jesus nos dias do Novo Testamento.
Por isso, o joio que esteve no meio da igreja também será “queimado” (Mt.13.30)
enquanto que o trigo (aqueles que perseveraram firmes na fé até o fim) será
recolhido no “celeiro” divino.
Por causa do amor divino pela igreja, a Escritura diz que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles
que amam a Deus” (Rm.8.28). Deus providenciou tudo o que é necessário para
que a igreja tenha eterna comunhão com Ele e viva uma vida abundante,
glorificando e alegrando-se nEle por meio de Cristo Jesus. Em sua carta aos
Efésios, o apóstolo Paulo nos revela a obra do Senhor pela igreja, no meio da
igreja e através da igreja, de tal modo que é possível contemplar Romanos 8.28
em toda a carta aos Efésios. Nesta carta, tudo está cooperando para o bem da
igreja abençoada “com toda sorte de
bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef.1.3).
A própria carta de Paulo é considerada uma bênção divina
entregue à igreja para sua edificação, pois Paulo era apóstolo “por vontade de Deus” (Ef.1.1) “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos
para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”
(Ef.4.12). Desse modo, Paulo foi enviado por Deus para abençoar a igreja de
Cristo por meio da Revelação do Espírito Santo, a fim de edificá-la “sobre o fundamento dos apóstolos”
(Ef.2.20) que é a Palavra de Deus. A revelação do conhecimento de Deus “aos santos [...] e fiéis em Cristo Jesus”
(Ef.1.1) manifesta mais uma vez o amor de Deus pela sua igreja (verdadeiros
cristãos).
A vontade de Deus em escolher, chamar e enviar Paulo como
apóstolo demonstra o cuidado do Senhor para com aqueles que Ele ama. O Senhor
sabe que a igreja precisa crescer na graça e no conhecimento da Verdade,
aprender a viver uma vida santa em todos os aspectos e ser confortada no dia a
dia diante das muitas perseguições sofridas. Deus conhece a vida de seu povo e
se antecipa diante de suas necessidades, não somente físico-materiais, mas,
sobretudo, à necessidade de viver uma vida abundante em Cristo e para Cristo.
Todavia, não é incomum que cristãos ajam como crianças que
só veem o presente físico-material. Para as crianças os pais provam o amor
dando presentes. Elas não conseguem compreender a disciplina como uma prova de
amor paterno nem uma poupança para o futuro como demonstração do cuidado dos
pais, pois elas querem ter aquilo que gostam, agora. As crianças têm
dificuldade de contemplar a importância do futuro e o valor daquilo que não é
palpável. Para a criança, o amor só é demonstrado de forma plenamente concreta,
física, material e presente, razão para só valorizarem o ensino dos pais após
chegarem à fase adulta (caso não amadureçam antes), quando finalmente
compreenderão a grandeza da educação como bênção para a vida dos filhos.
Diante disso, mais uma vez se mostra o amor de Deus ao
enviar servos escolhidos para a igreja, a fim de que preguem fielmente a
Palavra de Deus para o amadurecimento de Seus filhos. Quanto mais fiéis forem
os servos enviados mais proveitosa será a educação da igreja e quanto mais
educada estiver a igreja mais madura será para compreender o Ser de Deus e Suas
obras realizadas pela igreja, na igreja e através da igreja. A maturidade da
igreja fará com que seja plenamente feliz em Cristo em toda e qualquer
situação, tornando-a também forte para jamais desanimar ou desistir da jornada
proposta pelo Pai Celeste, ainda que tenha que andar “pelo vale da sombra da morte” (Sl.23.4).
Devemos considerar ainda que a igreja é caracterizada de
apostólica, ou seja, enviada por Cristo, e isto por duas razões: A primeira,
como já fora dito, é por ter sua doutrina fundamentada na doutrina dos
apóstolos que Deus lhe deu graciosamente para seu bem (At.2.42). A segunda diz
respeito ao seu envio ao mundo como igreja mensageira que deve proclamar a
Palavra de Deus ao mundo (Jo.20.21), a fim de que pessoas sejam salvas e
cristãos sejam edificados, tudo para a glória de Deus. Portanto, você que crê
no Senhor Jesus também deve abençoar vidas com sua vida, servindo como
instrumento para salvar e edificar pessoas, abençoando, dessa maneira, a igreja
de Jesus, tanto seu crescimento quanto seu amadurecimento (Ef.4.15-16).
O amor de Deus é Santo, assim como todos os atributos
divinos são igualmente Santos, pois Deus é Santo. Por essa razão, ao amar a
igreja, Deus providenciou a santificação da mesma. Ele enviou Seu Filho para
justificá-la tornando-a livre do “escrito
de dívida” (Cl.2.14) que era contra ela, fazendo-a, portanto, justa aos
olhos do Senhor. Além disso, Deus enviou Seu Santo Espírito para separar a
igreja do pecado, agindo em seu coração, a fim de que, por meio de uma nova
vida, pudesse odiar o que é mau, assim como Deus odeia o que é mau.
Portanto, ao chamar a igreja de santa (Ef.1.1) o amor de
Deus pelo seu povo é manifesto, pois a justiça que possibilitou tal
caracterização da igreja proveio do próprio Deus, através de Seu Filho Jesus
Cristo. Por seu grande amor à igreja, o Senhor a tornou semelhante a si mesmo:
Separado de todo pecado; pois, Deus só faz o que é bom e reto. Os cristãos
foram separados da vida mundana e libertos da escravidão do pecado para viverem
uma vida íntegra. A liberdade cristã se revela na santidade do povo de Deus,
chamado, na carta aos Coríntios, de “santificados”
(1Co.1.2). E essa liberdade demonstra o grande amor que Deus tem para com seu
povo a ponto de resgatá-lo da escravidão, transportando-o “para o Reino do Filho do Seu amor” (Cl.1.13). Ao nos chamar de
santos, Deus está dizendo que tem cuidado de nos separar do que é mau, de nos
livrar tanto das consequências quanto da influência do mal.
Tendo em vista a separação de uma vida mundana, a
santificação representa privações para a igreja. Por isso, nem sempre o cristão
aceita facilmente o ensino bíblico que ordena a separação de tudo o que é mau. O
coração ainda dividido entre o bem e o mal deseja experimentar prazeres,
satisfazer desejos, realizar sonhos, sentir-se livre para fazer sua própria
vontade, extravasar seus sentimentos diametralmente opostos e saciar o vaidoso
orgulho de considerar-se autossuficiente, detentor do poder de fazer a própria
vontade. Quando a Escritura vai de encontro a tais vontades do coração, então a
luta cristã torna-se mais áspera, tanto entre o mestre e seu discípulo quanto
entre o Espírito e a carne (Gl.5.16-26).
E, até na guerra Deus mostra seu amor, pois a luta contra o
coração é o caminho para a completa libertação, a fim de que os filhos de Deus
possam viver a beleza de uma vida santa, “na esperança de que a própria criação será redimida do
cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus”
(Rm.8.21). Ao enviar profetas, apóstolos e pastores para a igreja, Deus mostrou
seu cuidadoso amor paterno que ora conforta ora exorta, a depender da real
necessidade de seu povo. E para que a igreja pudesse ser realmente chamada de
santa, Deus enviou o supremo Apóstolo Jesus Cristo (Hb.3.1) para realizar a
obra redentora em favor de seu povo.
A estes crentes (fiéis) em Cristo Jesus (Ef.1.1), Deus
enviou sua graça e paz. Isto significa que após o Senhor Jesus realizar a obra
redentora tanto por meio da Cruz quanto por meio do envio do Espírito Santo
para a igreja, Deus ficou satisfeito e sorriu para seu povo amado e agraciado
com a santificação (Objetiva e subjetiva). O rosto do Pai Celeste resplandece
ao olhar para seu povo justificado e sorri num sinal de satisfação,
alegrando-se com a paz estabelecida entre Ele e Seu povo amado. Deus está em
paz com a igreja e satisfeito com isso, de modo que distribui com alegria Suas
muitas bênçãos sobre Seu povo amado (Ef.1.3).
Interessante observarmos que a comum bênção introdutória do
apóstolo Paulo nos remete à bênção sacerdotal ordenada por Deus a Arão,
primeiro sumo sacerdote de Israel. Mesmo sendo diferentes em tamanho e termos,
as duas bênçãos se assemelham em significado, como uma continuação da bênção do
Senhor dispensada sobre sua igreja do Antigo e Novo Testamento:
Números
6.24-26
|
Efésios
1.2
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24 O SENHOR te abençoe e
te guarde;
25 o SENHOR faça resplandecer o
rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti;
26 o SENHOR sobre ti levante o rosto e te dê a paz.
|
2 graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
|
Em ambos os textos, Deus é a origem da bênção sobre seu
povo. É Deus quem abençoa Sua igreja e, por isso, a bênção é certa. Aqueles que
a proclamam são apenas instrumentos para anunciar a vontade divina. Ocorre uma
ênfase na autoridade daquele que abençoa: em Números, o Nome do Senhor é
repetido três vezes como recurso para a ênfase; em Efésios, o apóstolo frisa três
vezes a origem com termos diferentes que remetem ao Senhor da igreja: Deus, nosso
Pai, Senhor Jesus Cristo. Essa bênção é composta de duas partes: 1) a
satisfação divina em abençoar Seu povo; 2) e, a paz na relação entre Deus e Seu
povo. Essas duas partes da benção divina sobre a igreja resumem “toda sorte de bênção espiritual”
(Ef.1.3) destinada aos que Deus ama. O novo céu e nova terra são frutos da
graça do Senhor, ou seja, de seu rosto ter resplandecido sobre a igreja; a doce
comunhão presente no relacionamento entre Deus e sua igreja decorre da paz que
foi estabelecida; além das muitas outras bênçãos reveladas pela Escritura
Sagrada.
Achar graça diante de Deus como Noé (Gn.6.8), Moisés
(Ex.33.13), Davi (2Sm.15.25; At.7.46), Maria (Lc.1.30) e outros acharam é o
mesmo que dizer que o rosto do Senhor resplandeceu para eles. Quando Jesus foi
batizado, a voz do Pai ecoou dizendo: “Este
é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt.3.17). Já Lucas afirma que “a graça de Deus estava sobre Ele”
(Lc.2.40), de modo que “crescia Jesus em
sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc.2.52).
Segundo o apóstolo João, “o Verbo se fez
carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (Jo.1.14), do qual
veio sobre a igreja essa mesma graça (Jo.1.16-17). Portanto, Deus estava
satisfeito com Seu Filho (Is.53.11), resplandecendo o rosto para Ele,
abençoando Cristo em todos os seus caminhos.
Podemos dizer que a bênção dos apóstolos (Rm.1.7; 1Co.1.3;
2Co.1.2; Gl.1.3; Ef.1.2; Fp.1.2; Cl.1.2; 1Ts.1.1; 2Ts.1.2; 1Tm.1.2; 2Tm.1.2;
Tt.1.4; Fm.3; 1Pe.1.2; 2Pe.1.2; 2Jo.3; Ap.1.4) é uma legítima continuação da
bênção de Arão. Isso não significa que os apóstolos eram sacerdotes no Novo
Testamento, mas demonstra que Deus nunca mudou seu amor destinado à igreja. A
graça e a paz são bênçãos antigas decorrentes do amor de Deus para com Seu povo
e foi Jesus Cristo quem possibilitou a concretização de tais bênçãos profetizadas
desde os dias do Antigo Testamento. Hoje, por meio de Cristo, o rosto de Deus
verdadeiramente resplandece sobre sua igreja que desfruta de plena paz com Deus
por meio da justificação recebida pela fé (Rm.5.1).
Deus ama sua igreja e tudo faz para o bem dela. E para
desfrutar melhor desses benefícios divinos destinados à igreja, você deve
amadurecer na fé. A maturidade cristã proporciona ao cristão a satisfação de
poder compreender melhor a manifestação do amor de Deus nos momentos mais
adversos, das formas mais variadas, quer no conforto quer na exortação. A igreja
deve buscar a maturidade, a fim de ser capaz de se alegrar plenamente em Deus. Cristãos
maduros não murmuram da vida, pois sabem que ela é um dom de Deus; cristãos
maduros não dão trabalho para a liderança pastoral, pois até a disciplina
recebem com humildade e satisfação, já que estão com os olhos fitos em Cristo,
buscando as coisas lá do alto onde Cristo vive (Cl.3.1-4). São esses cristãos
maduros que sabem o quanto Deus os ama e agradecem por serem capazes de amar intensamente
a Deus, também (Dt.6.5).
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