“Quem, SENHOR, habitará no Teu tabernáculo?
Quem há de morar no Teu santo monte?” (Sl.15.1)
Quantas vezes um pai precisa corrigir seus filhos, a fim de
que não façam aquilo que é errado? Quantas vezes é necessário mostrar que as
escolhas erradas prejudicam a vida do próprio filho? Quantas vezes o ser humano
precisará ser exortado com respeito à pratica da justiça, da misericórdia, do
amor, da paz, da paciência, da bondade etc? Quantas vezes você precisará se
arrepender de ter errado outra vez, mesmo sabendo, antecipadamente, que não era
a escolha certa? O ser humano parece ser incorrigível, pois, mesmo conhecendo o
caminho do bem, não consegue viver uma vida íntegra, razão para que o mundo
tenha tantos problemas sociais. Por que isso?
O Salmo 15 não é fruto da presunção de um artista que se
considera tão bom a ponto de falar de suas qualidades. O autor não está
descrevendo um autorretrato repleto de virtudes próprias. Davi bem conhecia sua
natureza pecaminosa (Sl.32) e viu na pele quão devastador é o pecado do coração
do homem (2Sm.11), pois nascemos “na iniquidade” (Sl.51.5). Nem sempre ele foi
íntegro (2Sm.24.17); nem sempre falou a verdade (1Sm.21.13); nem sempre foi
justo (2Sm.19.6); nem sempre fez o bem (2Sm.12.3). Então, já que Davi não fala
de si mesmo, sobre quem o Salmo 15 está falando? Já que o homem vive pecando contra
Deus e que “não há um justo, nem um sequer” (Rm.3.10), a quem se aplicam as Palavras
desse Salmo? “Quem, SENHOR, habitará no
Teu tabernáculo? Quem há de morar no Teu santo monte?” (Sl.15.1).
Inevitavelmente e inquestionavelmente, o Salmo nos conduz
para Cristo, pois “foi ele tentado em
todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb.4.15; 9.28). Jesus
é o único homem que jamais pecou; que andou de modo íntegro; que viveu na
prática da justiça; que sempre falou a verdade; que não difamava as pessoas.
Ele só fez o bem, honrou aqueles que temiam ao Senhor e reprovou os
desprezíveis. Nos Evangelho, encontramos todas as características do Salmo 15
na pessoa de Cristo, que “pelo seu
próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas” (Hb.9.12), a
fim de habitar no tabernáculo de Deus, “recebido
no céu”, “assentou-se à destra de
Deus” (Mc.16.19; At.2.33; 5.31; 7.56; Hb.8.1; 10.12; 12.2; 1Pe.3.22). Desse
modo, Jesus respondeu à pergunta do salmista e cumpriu aquilo que fora
proferido por Davi, em lugar do homem pecador.
Todavia, o Salmo lido em Cristo deixa de ser transcendente.
Por meio de Jesus, o Salmo 15 é aproximado do homem, a fim de que se torne
nossa realidade, pois Deus também deseja nossa santificação (1Pe.1.15-16). Em
diálogo com Abraão, Deus lhe disse: “Eu
sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito” (Gn.17.1).
Mais adiante, o Senhor dá a lei ao povo de Israel e lhe ordena: “santificai-vos e sede santos, pois eu sou o
SENHOR, vosso Deus. Guardai os meus estatutos e cumpri-os. Eu sou o SENHOR, que
vos santifico” (Lv.20.7-8). O profeta Miquéias conduz Judá à santidade
pessoal e social, dizendo: “Ele te
declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques
a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus”
(Mq.6.8). Desse modo, em toda a Escritura, os profetas exortaram o povo à
santidade, a fim de que o NOME de Deus fosse santificado naqueles que Ele
escolheu, no meio dos quais Ele habita.
Sem Cristo, o Salmo 15 torna-se um dilema sem solução para
aqueles que temem a Deus, pois mesmo querendo fazer a vontade do Senhor,
encontram uma força maior que os impulsionam para o mal, tornando-os
transgressores da Lei divina (Rm.7.14-23). Por isso, nem mesmo grandes homens
do passado conseguiram viver uma vida plena diante de Deus: Moisés sendo “mui manso, mais do que todos os homens que
havia sobre a terra” (Nm.12.3), deixou de desobedecer o Senhor (Nm.20.11); Davi,
que amava Deus (Sl.18.1), não conseguiu viver uma vida sem pecado (Sl.32; 51);
Pedro, que afirmou ser capaz de morrer por Cristo (Mt.26.35), o negou três
vezes (Mt.26.69-75) e ainda cometeu outros erros posteriores (Gl.2.11-14); e,
tantos outros personagens importantes pecaram por toda a vida. Como, então, o
Salmo 15 pode ser aplicado à vida do povo de Deus?
O Salmo 15 é aplicado ao povo do Senhor por meio da
justificação de Cristo e através da santificação do Espírito de Deus. Ao
justificar o pecador por meio de seu sangue, Jesus imputou sua plena fidelidade
à Lei do Senhor à vida daqueles que creem (Mt.5.17//Rm.5.1). Pela fé
tornamo-nos um só com Cristo (Rm.12.5), identificados nEle, de modo que
morremos sua morte e ressuscitamos em sua vida (Rm.6.4-5; Gl.2.20), recebendo,
pela fé, toda a justiça praticada por Jesus. Nós mentimos, mas Jesus falou a
Verdade por nós; nós desobedecemos, mas Cristo cumpriu toda a Lei por nós; nós
fizemos o que é mal, mas Jesus só fez o bem em nosso lugar; nós fomos
derrotados pela carne tantas vezes, mas Cristo a venceu por nós e nos deu sua
vitória. Não procedemos com integridade, não mostramos dignidade, mas Aquele
que vive em justiça e retidão, confiou-nos sua justiça para que jamais sejamos
abalados (Sl.15.5).
Mas, a justificação é a primeira parte da obra redentora,
pois aqueles que Deus justificou também deseja que vivam de modo santo, puro e
agradável a Ele (Rm.12.1; 1Co.6.20; 1Ts.5.23). Para isso, o Senhor nos deu Seu
Espírito Santo, por meio do qual a carne é vencida, as vontades pecaminosas são
controladas e os maus desejos são superados, pois a mente-coração do homem é
tomado pelo Espírito de Deus, que capacita o cristão a viver uma nova vida
santa e irrepreensível em acordo com a justiça que nos foi imputada. O Salmo
15, então, aplica-se, também, à vida daqueles que são cheios do Espírito Santo
(Ef.5.18), segundo a promessa de Deus: “Porei
dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os
meus juízos e os observeis” (Ez.36.27).
Portanto, Jesus trouxe a vida e as promessas do Salmo 15
para o homem através da justificação e santificação; do sangue vertido na cruz
e derramar do Espírito sobre a igreja. Agora, então, podemos ler o Salmo 15 sem
pesar e sem medo. Agora, podemos aplicá-lo à vida das pessoas, àquelas que
creem e andam em Cristo Jesus. Agora, podemos alimentar a esperança de uma nova
vida santa e agradável a Deus naqueles que outrora foram escravos do pecado, “fazendo a vontade da carne e dos pensamentos”
(Ef.2.3) de modo incontrolável, naqueles que eram incapazes de dominar a
própria natureza pecaminosa.
Você quer estar para sempre com Cristo, onde “Deus habitará” com seu povo (Ap.21.3)? Então,
você precisa de Jesus, o justificador, e do Espírito Santo, o santificador. O
Salmo nos adverte a não confiar na própria justiça, pois jamais será suficiente
para satisfazer os perfeitos critérios divinos. Assim, o Salmo 15 nos conduz
para Cristo e para a necessidade de se viver uma vida cheia do Espírito Santo,
sob o controle do Espírito de Deus (Ef.5.18). Então, busque ao Senhor e se
encha do Espírito por meio de uma vida de oração e constante meditação na
Palavra de Deus, falando com o Senhor e ouvindo a voz de Deus, para uma vida em
acordo com as Palavras do Salmo 15.
Nenhum comentário:
Postar um comentário