Ser cristão é confessar convicção plena em todo ensino da
Escritura Sagrada (Ef.4.4-6), procurando, a partir de então, viver uma vida
segundo “a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus” (Rm.12.2) revelada por sua Santa Palavra, conforme disse o
apóstolo Paulo: “logo, já não sou eu quem
vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo
pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”
(Gl.2.20).
O legítimo cristianismo consiste do casamento entre a
ortodoxia (pureza na doutrina) e a ortopraxia (pureza no viver). E como um
casamento, a ortodoxia e a ortopraxia precisam dialogar, viver concordemente e
andar juntas o tempo todo, pois o divórcio entre os termos, também consiste em
transgressão da Palavra de Deus. E como todo bom marido, a ortodoxia deve
nortear sua esposa, ortopraxia, a fim de que o viver cristão esteja sempre em
pleno acordo com todo ensino da Escritura Sagrada.
Portanto, quanto mais fiel à Escritura for o conhecimento
doutrinário do cristão mais puro deverá ser seu viver; quanto mais profundo o
entendimento cristão sobre os ensinamentos bíblicos mais amadurecido deverá ser
o agir desse cristão, em seu dia a dia; quanto mais ampla for a compreensão do
cristão sobre a história da redenção mais desfrutará dos benefícios dela, pois
sua mente e seu coração estarão bem focados na graça proveniente do Senhor que
em Cristo Jesus nos concedeu o dom do Espírito Santo para uma vida abundante,
agora e eternamente.
De modo semelhante, o oposto também é verdade. Ou seja,
quanto menos conhecimento, entendimento e compreensão os cristãos tiverem das
doutrinas bíblicas menos desfrutarão dos benefícios divinos; e, ainda, inferior
será o modo de viver, pois assim como “a
boca fala do que está cheio o coração” (Mt.12.34) a vida reflete nossas
mais íntimas convicções doutrinárias, aquelas que realmente estão arraigadas no
coração. Essa é uma das razões porque há tantos “cristãos” que causam mais
problemas dentro das igrejas do que servem de alguma forma ao Reino de Deus.
O divórcio entre ortodoxia e ortopraxia gera muitas
incoerências dentro das igrejas. As implicações podem ser vistas tanto na
dimensão individual quanto na esfera coletiva, as comunidades eclesiásticas. Já
que Deus é soberano, por que o cristão fica preocupado e ansioso? A doutrina da
soberania divina não deveria conduzir o cristão à plena confiança em Deus e
consequente paz na mente e no coração (Fp.4.6-7)? Esse é o entendimento do
apóstolo Paulo que conduz os cristãos de Filipos a descansarem completamente no
Senhor, mesmo em dias maus como aqueles vividos por Paulo, por ocasião da
escrita da carta (Fp.1.7,13). Todavia, tem sido comum a separação entre o
conhecimento e a prática, criando, assim, incoerências que prejudicam tanto a
vida do cristão quanto seu testemunho perante a sociedade.
Um dos assuntos mais falados em nossos dias, tanto no mundo
pagão quanto nas igrejas cristãs evangélicas, é o amor. Mas, por falta de relação
com a Verdade, a Palavra de Deus, até os mais absurdos pecados, condenados pela
Escritura (Rm.1.18-32; 1Co.6.9-10; Ap.21.8), são
adornados e aceitos. Por causa da errada compreensão sobre o amor, os mesmos
que professam ter amor no coração estão falando mal um dos outros, denegrindo a
imagem de qualquer um que os desagradem, quer ovelhas quer pastores; “cristãos”
cantam que amam a Deus, mas o desonram no dia a dia, vivendo como se o Senhor
não existisse, fazendo somente aquilo que é bom para si mesmos; “cristãos”
juram, na profissão de fé, serem submissos e obedientes à Palavra de Deus e às
lideranças (enquanto fiéis à Palavra de Deus), mas se enchem de si mesmos ao
primeiro sinal de contrariedade, quebrando, assim, todo o voto feito na
presença da igreja e do Senhor, Criador e Senhor de tudo e todos.
Assim, podemos dizer que o povo de Deus “está sendo
destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Os.4.6) e a presença de obras da
carne no meio da igreja: “prostituição,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras,
discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas
semelhantes a estas” (Gl.5.19-21) decorre da separação entre a ortodoxia e
a ortopraxia, de forma que se repete o que foi dito pelo apóstolo Paulo: “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios
por vossa causa” (Is.52.5//Rm.2.24).
Tudo isso decorre tanto da falta de conhecimento da Palavra
de Deus, pois muitos cristãos pós-modernos pensam que o cristianismo é apenas
um conjunto de sentimentos externados em rito cúltico dominical, quanto por
causa do divórcio entre a ortodoxia e a ortopraxia que já não dialogam, nem
vivem concordemente nem andam juntas. Decorrente disso, também, vem os
extremos: igrejas apáticas com corretas doutrinas e igrejas ativas na
evangelização e oração, mas repletas de problemas doutrinários que levam os
membros às práticas mais absurdas, como tomar banho de bermuda ou calça,
condenar o uso de barba ou mesmo se jogar ao chão como suposta expressão da
presença do Espírito de Deus.
Portanto, estudar as doutrinas ensinadas pela Escritura
Sagrada não é um exercício apenas teórico nem muito menos infrutífero. O
cristão deve se debruçar sobre todo ensino bíblico por meio de muita oração,
para que o coração esteja bastante quebrantado pelo Espírito Santo, a fim de
que todo conhecimento resulte em sincera confissão de pecados, aumento da
alegria da salvação, desejo de viver segundo a vontade do Senhor, interesse em
testemunhar as maravilhas de Deus ao mundo e compaixão para com os pecadores
perdidos que não conhecem o Evangelho da graça de Deus.
Motivamos, assim, todo cristão a se esmerar na leitura e
estudo da Escritura Sagrada, com o propósito de conhecer melhor a Deus e seu
projeto redentor e, em Cristo, na dependência do Espírito do Senhor,
aperfeiçoar a vida para que, nela, Deus seja glorificado tanto na força quanto
na fraqueza de uma vida totalmente obediente e dedicada a Cristo, o Senhor de
toda a glória.
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