“Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que,
sentados nas praças, gritam aos companheiros: Nós vos tocamos flauta, e não
dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes.” (Mt.11.16-17)
–
O cliente tem sempre razão! Dizem os “especialistas” em relações de negócios.
Essa frase tornou-se estigma do universo
comercial das grandes cidades e alcançou as mais diversas esferas da sociedade.
O cliente tornou-se poderoso e inquestionável, alvo dos mais variados mimos,
pois sua satisfação representa a garantia de investimento para os
estabelecimentos. Cada novo dia, então, dá início à “corrida do ouro” em busca
da satisfação da clientela cada vez mais exigente, já que o menor desagrado dos
investidores em potencial pode levar um império econômico à ruína, pois, como
bárbaros, eles não perdoam ninguém. Mas, será que o cliente tem sempre razão?
Seria, realmente, bom que as pessoas fossem sempre agradadas? Além disso, quais
as implicações de dar sempre razão para os pecadores?
O problema começa na falta de conhecimento sobre
a natureza humana. A antropologia ensinada nas universidades é bastante deficiente
e utópica, pois não é capaz de retratar a realidade do ser humano, tendo em
vista sua cosmovisão naturalista. Sem o reconhecimento da natureza caída de
todo pecador, o homem é tratado como um ser neutro, sem inclinação para nada:
nem bem nem mal. Por causa desta visão equivocada, a sociedade avança a
tecnologia e amplie seu universo acadêmico, porém caminha para o abismo social
com a mesma velocidade. A verdade é que não há ser humano que não peque; não há
criança inocente; não há coração que não esteja propenso para o mal. Todos
pecaram e precisam ser tratados como pecadores (Rm.3.10-18) que, em boa parte
da vida, precisarão ser confrontados, pois cometerão muitos erros no pensar,
falar e fazer.
Portanto, como poderíamos dar razão para aqueles
que vivem cometendo erros? Como poderíamos dizer que o errado está certo e que
o certo está errado (Is.5.20)? Tal atitude, no mínimo, deveria ser considerada
incoerente e insensata, pois, ao desconstruir os valores, o homem destrói a si
mesmo, rejeitando tanto o Criador quanto os limites estabelecidos por Deus para
a boa manutenção da vida social. Sendo assim, cada palavra e atitude dos homens
precisam ser medidas e julgadas à luz da Verdade, a fim de que recebam aquilo
que é justo: louvor pelo que é bom e reprovação por todos os erros cometidos
(Ef.6.8; Cl.3.25). Mas, ao colocar o homem no centro do universo, tornando-o a
medida de todas as coisas, os valores receberam status secundário e a satisfação do
ser humano alcançou primazia, criando uma geração ensimesmada e autodestrutiva.
A cultura pagã do “cliente tem sempre razão”
alcançou diversas esferas da sociedade, indo muito além das relações comerciais.
Podemos encontra-la na relação pais-filhos; na relação cristão-igreja; na
relação mestre-aprendiz; e, na relação povo-governo. Em todas essas relações se
repete o mesmo problema: a ideia de que o líder tem obrigação de fazer, sempre,
a vontade do liderado. Portanto, a visão de mundo em que as pessoas devem
sempre ser agradadas, independentemente de terem ou não razão, vai muito além do
propósito de alcançar clientes para o estabelecimento e tem suscitado sérios
problemas para as famílias, a igreja, as escolas e a política, em geral.
Criou-se uma geração cheia de razão e mimada, pois é incapaz de ser
contrariada, corrigida e liderada, já que satanás conseguiu inculcar-lhe a
ideia da autossuficiência (não precisar de ninguém), dizendo-lhe,
constantemente, que essa geração tem sempre razão. Dentro dessa cultura pagã,
as pessoas estão sempre insatisfeitas, murmurando contra tudo e todos,
ofendendo do menor ao maior líder que as contrariar.
Recentemente, uma discussão entre uma mãe e uma
universitária, por meio de rede social, tornou-se notícia em jornais, de tão absurdo
que foi o assunto (g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/boneco-gera-crise-entre-mulheres-e-historia-viraliza-te-jogo-pela-janela.ghtml).
O menino havia chegado a casa chorando por não ter brincado com um boneco caríssimo
da coleção da universitária. A criança foi contrariada e ficou insatisfeita,
razão para ter feito sua queixa à mãe que logo exigiu “os direitos” de seu
filho, querendo obrigar a universitária a permitir que o filho brinque com o
tal boneco. Pais adoecidos pela psicologia da cultura do trauma são incapazes
de educar seus filhos, pois não conseguem confrontá-los nem contrariá-los, produzindo
uma geração demasiadamente mimada. Quantas vezes pais compram coisas para seus
filhos pelo simples fato deles terem pegado na loja e não quererem mais soltar?
Os pais tem medo de se opor aos filhos, alimentando no coração dos pequeninos
pecadores a ideia de que eles têm sempre razão e as pessoas devem fazer tudo da
forma como eles querem. São essas mesmas crianças mimadas que se tornam adultos
igualmente mimados que querem ser satisfeitos em tudo, obrigando as pessoas a
fazerem tudo conforme a vontade deles.
Decorrente da má educação que receberam, as
pessoas estão levando a cultura pagã do “cliente tem sempre razão” para a
esfera eclesiástica. Os “cristãos” gostam do pastor e da igreja até o dia em
que são contrariados (quando querem algo, mas não são atendidos) ou
confrontados (por causa de seus pecados). A igreja, então, tornou-se um
supermercado obrigado a fazer constantes promoções (eventos) para atrair
clientes, pronto para satisfazer aos desejos da clientela e se adequar ao sinal
da menor insatisfação de seus clientes exigentes. Infelizmente, muitos pastores
estão aceitando essa cultura pagã com medo que o rol de membros da igreja
diminua, contribuindo, assim, para o crescimento dessa cultura maligna, esquecendo-se
(ou ignorando) que uma pessoa não convertida a Cristo no meio da igreja visível
não está menos sujeita ao inferno do que se estivesse fora dela.
Para constatar o problema, basta verificar o
número de pessoas que entram e saem das igrejas. A rotatividade cresceu
bastante, pois as pessoas querem um lugar onde se sintam bem e sejam bem
tratadas e, de preferência, não sejam incomodadas nem contrariadas. Portanto,
os cristãos não querem ser pastoreados, mas sentem a necessidade de um “clube
cristão” para preencherem o tempo vazio da semana. Tem crescido, também, o
número de pessoas desigrejadas que não querem ter qualquer compromisso com uma
igreja local. Assim, elas podem ir e vir sem que se sintam obrigadas a cumprir responsabilidades
como: dizimar, ser assíduo nos cultos, obedecer a uma liderança, assumir
funções dentro da igreja e ser corrigido quando cometer alguma falta. A relação
cristão-igreja tornou-se superficial e contraditória, pois as mesmas pessoas
que desejam os benefícios, como cantar (pois gostam) junto com o grupo de
cânticos, não aceitam o benefício da disciplina, e quando cometem algum pecado
que exige correção, saem da igreja, pois não querem ser exigidas nem corrigidas.
Achar que tem sempre razão trouxe diversas implicações
negativas para os indivíduos e a sociedade. Pessoas que não sabem ser
contrariadas são imaturas, pois não sabem lidar com as adversidades e, também,
orgulhosas, pois se consideram superiores às demais, tornando a convivência
difícil, já que esperam sempre ser agradadas e servidas pelos outros. O
aprendizado, então, torna-se mais difícil, pois as pessoas não estão prontas
para reconhecer que não sabem ou assumir que estão erradas. Além disso, a “geração
cliente” vive em desarmonia social, pois a criança não respeita os mais velhos
nem as autoridades; o povo não se submete às lideranças, desejando que estas
façam sempre sua vontade; as mulheres não são submissas aos maridos, criando
constante atrito dentro dos lares, aumentando bastante o número de divórcios;
os professores não conseguem ensinar nas escolas, principalmente, públicas,
pois nem o governo permite a reprovação nem o conselho tutelar deixa que o
aluno seja castigado nem os pais autorizam que seus filhos sejam contrariados.
A sociedade, então, está em “pé de guerra”, vivendo em constante tensão, pois
todos querem ser satisfeitos e ninguém está pronto para ser confrontado.
Portanto, precisamos dizer que você muitas vezes
não tem razão e precisa ser confrontado diversas vezes em sua vida. Você não
pode cultivar o desejo de ser sempre agradado, pois somos todos pecadores e
necessitamos que Deus nos confronte muitas vezes, corrigindo-nos quando
errarmos. Porém, se você não for capaz de ser corrigido por Deus (Hb.12.4-13),
transformado pela Escritura (2Tm.3.16-17) e santificado pelo Espírito do Senhor
(Hb.12.14), então não será digno de entrar no Reino de Deus (1Jo.1.5-10), pois
o Senhor exige tais coisas dos que se aproximam DELE. Lembre-se que você
precisa de Jesus, mas Jesus não precisa de você e, por isso, é você quem deve
chorar e implorar por misericórdia a Deus, sabendo que sem a graça do Senhor
seu destino será horrendo, terrível: o inferno (Mc.9.43-48; Tg.4.8-10). Assim,
quando alguém chamar sua atenção por causa de seus pecados, você deverá baixar
a cabeça, envergonhado, e pedir perdão a Cristo por ter agido de forma
vergonhosa diante de Deus e, então, dispor de um coração pronto para ser
corrigido e aperfeiçoado.
Precisamos dizer para você que somente Jesus é a
medida de todas as coisas para quem tudo foi criado; e que unicamente Cristo é o
centro do universo para quem todos devem viver (Rm.11.33-36; Cl.1.13-23). Sendo
assim, ninguém tem obrigação de viver em função de você quer seja criança,
adolescente, jovem ou adulto. Se algo não estiver como você gosta, sua
obrigação é contentar-se e aprender a lidar com a situação adversa. Se não
fizerem o que você queria, seu dever é agradecer a Deus pelo que tem e
glorificar a Jesus pelo fato de que tudo foi criado por Ele e para Ele. É seu dever
aprender a lidar com a contrariedade e insatisfação, e buscar viver sempre
contente e agradecido a Deus em toda e qualquer situação (Fp.4.11). Portanto, é
você quem deve se esforçar para que sua vida gire em função de Cristo todo dia,
o dia todo, em vez de querer que as pessoas façam a sua vontade. Você deve se
esforçar para que suas palavras louvem Cristo; suas ações deem testemunho do
operar santificador da Escritura e Espírito do Senhor em sua vida; e, seu
coração tenha plena satisfação no Filho de Deus, de tal forma que a graça do
Senhor lhe baste e lhe seja melhor que a vida (2Co.12.9; Sl.63.3).
Então, agradeça a Deus as muitas vezes em que
você é contrariado e corrigido, pois por essas coisas Deus manifesta graciosa
oportunidade para você se arrepender, mudar e crescer, a fim de que reconheça
seus pecados, aceite que não é o centro do mundo e aprenda a viver uma vida
para o inteiro agrado do Senhor. As adversidades apontarão, também, suas falhas
e fraquezas, exigindo-lhe paciência, contentamento e humildade, pois terá que
aceitar, tantas vezes, aquilo que não gostaria e fazer o que não queria,
mantendo a compostura de um cristão que ama e teme ao Senhor. Somente desta
forma, poderemos ter uma geração madura, pronta para as lutas do dia a dia. E, enquanto isso, a
Verdade será juíza sobre todas as coisas para que só tenha razão aquele que realmente tem
razão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário