“Pelo que o direito se retirou, e a justiça se pôs de longe; porque a
verdade anda tropeçando pelas praças, e a retidão não pode entrar.” (Is.59.14)
O Brasil fez fama no mundo todo por causa do elevado nível
de corrupção, tema de tese no exterior. Geralmente, essa corrupção é associada
à política nacional, ao planalto central, à esfera política formal do país. Por
isso, de vez em quando, irmãos pedem orações pelos nossos governantes e pelo
nosso país, a fim de que o Senhor mude nossa realidade política. Diversas
sugestões são dadas na tentativa de indicar a origem da corrupção brasileira
que vem assolando o país por quinhentos anos. No propósito de acabarem com esse
ciclo vicioso, diversas igrejas têm realizado campanhas nacionais de oração
contra a corrupção. E, desejoso de que “vivamos
vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm.2.2), também tenho
orado bastante rogando a misericórdia do Senhor, tanto em orações individuais
quanto em reuniões de oração junto à igreja.
Todavia, tenho pensado no fato de que nossos políticos são a
exata expressão da moral brasileira. Ou seja, o povo brasileiro merece os
políticos que tem. O número daqueles que poderiam protestar essa afirmação é
tão diminuto que se torna insignificante diante do tamanho da nação. Então, por
que Deus mudaria nossa realidade política corrompida se o brasileiro age como
corrupto em seu dia a dia? Não seriam os políticos brasileiros uma expressão do
juízo divino sobre a nação que Deus “entregou
a uma disposição mental reprovável” (Rm.1.28) e nesse abandono recebe o
devido castigo em suas próprias atitudes? A vida eclesiástica serve de
termômetro disso, pois se aqueles que deveriam ser sal da terra e luz do mundo
estão corrompidos, o que deveríamos esperar do mundo ao redor?
Vi e ouvi, no decurso de meus anos de ministério pastoral, a
corrupção dentro da esfera eclesiástica. Vi desvio de dinheiro e caixa dois
dentro do ambiente eclesiástico; vi uso indevido de autoridade em benefício
próprio; vi briga política por cargos em concílios de diversas instâncias; vi
presidentes usarem o cargo para beneficiarem tanto a si mesmos quanto a própria
igreja, privilegiando seus interesses em detrimento de outros; vi pastores não
apoiarem ideias e projetos de colegas de ministério por causa de interesses em
privilégios políticos. Ouvi sobre projetos aprovados por favoritismo; ouvi
sobre pastores que tentaram prejudicar colegas de ministério por interesse no
campo do outro; ouvi sobre a tentativa de “puxar o tapete do outro”; ouvi sobre
líderes que administram sem importar-se com os outros; ouvi mentiras semelhantes
às que ouvimos no planalto central; ouvi e vi favoritismo familiar e muitas
promessas que não foram cumpridas, semelhante ao que acontece no mais espúrio
ambiente político de nosso país.
Não é coincidência que praticamente toda pessoa que entra no
ambiente político nacional termina corrompida fazendo parte do mesmo sistema de
corrupção presente a séculos na política brasileira. Não há nenhum mistério.
Ninguém “enterrou uma cabeça de bode no planalto central”. Não deve haver
superstições ou misticismos sobre o assunto. O fato é que toda pessoa que entra
na esfera política da nação é um brasileiro, ou seja, tem uma veia corrupta,
pois foi educado dentro de um país extremamente corrupto. Jesus afirmou que “cada árvore é conhecida pelo seu próprio
fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam
uvas” (Lc.6.44). Como poderíamos ter bons e honestos políticos em um país
onde a corrupção faz parte da cultura popular?
Observemos o ambiente em que as crianças são formadas. A
corrupção começa em casa quando pai ou mãe esconde algo um do outro e ensinam a
criança a fazer o mesmo. Na escola a criança encontra uma cultura da injustiça
chamada de “fila” ou “cola”, tantas vezes alimentada pelos próprios pais que
estão mais interessados na prosperidade financeira dos filhos do que com a
educação moral deles. Na rua, pais subornam guardas de trânsito para não serem
multados; parentes tentam conseguir facilidades e benefícios do governo junto
ao INSS, mentindo o estado da saúde; pais tentam conseguir isenção de taxas
(ENEM, por exemplo) mentindo sobre a situação financeira da família; votos são
vendidos por muito ou pouco; e, o famoso “jeitinho brasileiro” é solução para
todos os problemas mais complicados. Assim os filhos crescem vendo a corrupção,
potencializando, assim, a natureza pecadora já corrompida desde o nascimento
(Sl.51.5). Consequentemente, cada criança torna-se um jovem e adulto tão
corrupto quanto os demais.
Portanto, me questiono: Por que Deus iria abençoar um país
em que o povo é corrupto, até mesmo na esfera eclesiástica? Jesus disse que “se o sal vier a ser insípido, como lhe
restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado
pelos homens” (Mt.5.13). A corrupção de nosso país não está dentro do planalto,
mas no coração do povo e, por isso, o povo é digno de seus corruptos. Portanto,
precisamos redirecionar nossa oração: Senhor, muda o coração desse povo! Nossos
políticos são a perfeita caricatura do povo brasileiro, nitidamente corrupto em
seu dia a dia. Por que, então, Deus nos ajudaria? Não precisamos de novos
políticos, precisamos de um novo povo brasileiro. Deus tenha misericórdia de
nós!
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