“Seja bendito o teu manancial, e alegra-te
com a mulher da tua mocidade, corça de amores e gazela graciosa. Saciem-te os
seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias.” (Pv.5.18-19)
Ano passado, conheci um senhor que sofre de Disgeusia, ou
seja, perda do paladar. Para ele, tanto faz comer um delicioso churrasco gaúcho
ou uma porção de chuchu cozido na água sem sal. Ele sente a necessidade de
comer, mas não sente o gosto nem das coisas boas nem das ruins. Já pensou se
tivéssemos sido criados assim? Poderíamos ter necessidades sem satisfações na
vida. Todavia, porque Deus é bom, somos capazes de sentir a criação ao nosso
redor. Desta forma, vivemos não apenas pela necessidade de sobreviver, pois
temos em nosso corpo a capacidade de desfrutar das maravilhas da criação de
Deus.
O Senhor nos deu sentidos por meio dos quais podemos
experimentar diversas sensações, boas ou ruins (olfato, paladar, tato, audição
e visão). Um aroma agradável causa satisfação, uma comida deliciosa proporciona
deleite, um toque diferente desperta prazer, boa música alegra o coração e a
beleza da criação causa bem-estar naquele que a contempla. Nosso corpo foi
perfeita e detalhadamente formado para desfrutar das maravilhas de uma criação
encantadora que possui aroma, sabor e beleza.
Deus nos criou amplamente sensitivos e em grande medida as
coisas ao nosso redor causam satisfação. Tudo isso aponta para a bondade do
Senhor, pois Ele mesmo nos proporciona todo bem-estar. Nosso Criador é a causa
de todo bem que desfrutamos, pois Ele mesmo criou tudo muito bom (Gn.1.31) e
deu ao homem o prazer de desfrutar de todas as boas coisas que Ele criara
(Gn.1-2). Portanto, prazer, satisfação, alegria e bem-estar têm em Deus sua
causa primária e devem ser desfrutados na presença dEle (1Tm.4.4). Quando
experimentamos algo que promove alegria ao nosso coração, devemos lembrar-nos
de seu autor, pois Deus é o criador de tudo isso.
Tendo em vista que os prazeres da criação nos foram dados
por Deus, não devemos usufruir de tais bênçãos fora da presença do Senhor.
Querer sentir alegria longe de Deus é semelhante e celebrar uma festa sem querer
a presença daquele que a patrocinou dispondo do lugar, ornamentação, músicas
comidas e bebidas. Fazer isso não somente expressa profunda ingratidão, mas,
também, desaforo, pois sem o proporcionador de nossas alegrias não poderíamos
sentir qualquer prazer na vida. Portanto, é evidente que devemos adorar a Deus
por todos os benefícios que nos tem concedido, desfrutando-os com gratidão e
santidade, fazendo de suas bênçãos confiadas a nós instrumentos para a
propagação de sua muita bondade. Isso significa que podemos usufruir de tudo o
qual Deus criou desde que Ele seja convidado a estar presente em todas as
nossas alegrias, a fim de que o adoremos por tudo que Ele nos deu.
O sexo faz parte do conjunto de bênçãos sensoriais que o
Senhor nos concedeu graciosamente. E como as demais bênçãos mencionadas aqui, o
sexo também deve ser desfrutado na presença do Senhor, com gratidão e santa alegria,
pois ele expressa a bondade de Deus para com sua criação (Pv.5.18-19). E para
que o sexo possa ser usufruído diante de Deus, de forma a glorificar seu Santo
NOME, o Senhor nos deu regras importantes que o tornam seguro, saudável, santo
e agradável. Por isso, Deus deu ao homem apenas uma mulher, unindo-os em
aliança de vida, a fim de formar, com ela, uma família, berço de uma vida
sexual boa e agradável.
Em Gênesis 2.18-25, a Escritura revela a origem da família
e, dentro do seio familiar, a dádiva divina do prazer sexual concedido para que
o homem e a mulher pudessem se alegrar em Deus que os abençoou com tantas
maravilhas. Os deleites preparados para o homem seriam desfrutados dentro de
uma aliança em que o homem “se une à sua
mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn.2.24). Mais que intimidade,
pela qual não se envergonhavam um do outro (Gn.2.25), o homem teria compromisso
de vida, refletindo a bondade de Deus em seu cuidado com a esposa, a fim de
proporcionar-lhe um prazer puro que a aproximaria de Deus em adoração e
gratidão por todas as boas dádivas concedidas pelo Senhor (Hb.13.4).
Contudo, o fato do Senhor considerar “não ser bom que o homem esteja só” (Gn.2.18) não estava relacionado
somente à solidão. O Senhor “buscava a
descendência que prometera” (Ml.2.15), seu Filho Bendito, por meio da qual
um grande povo seria separado para Deus. O prazer sexual, então, tanto foi um
presente gracioso do Senhor para alegrar o dia a dia do homem quanto um meio
para alcançar seu propósito de constituir um grande povo santo, no meio do qual
nasceria seu Filho, Jesus Cristo. Desta forma, prazer e redenção seriam manifestos
dentro do ambiente familiar onde o amor de Deus se expressaria em provisão,
proteção, redenção, esperança e alegrias.
Portanto, você não precisa fugir do prazer, mas precisa
olhar para ele por meio de Cristo. Em Jesus, o prazer não é egoísta, mas
altruísta, pois busca dar satisfação para o outro, alegrando-se em ser benção
para o cônjuge; não é impuro, mas santo, pois ele é experimentado em pleno
acordo com a vontade de Deus revelada na Sagrada Escritura, sempre em oração; não
é a finalidade da vida, mas uma bênção no meio dela, que aponta para a muita
bondade de Deus, pois o prazer não deve ser buscado a qualquer custo, mas, sim,
esperado no Senhor, a fim de que o glorifique por meio de nossa gratidão.
Todavia, o pecado transforma as bênçãos divinas em ídolos do
coração do homem. Em vez de adorar a Deus pelo que Ele deu ao homem, o pecado
conduz o coração do pecador a rebelar-se contra o Senhor, usufruindo do prazer
de forma afrontosa a Deus. Glutonaria e bebedice tornam a satisfação da
alimentação em idolatria do prazer e, em vez de agradecer a Deus pela comida e
bebida, o pecador faz delas seu ídolo, tornando-se escravo dessas coisas
enquanto despreza aquele que as criou. O mesmo ocorre com todas as demais
sensações que Deus concedeu ao homem. Sempre que o prazer tem um fim em si
mesmo, Deus é substituído pelo prazer e, ao invés de aproximar-se do Senhor o
pecador é afastado de Deus.
Ao desfrutarmos das maravilhas da vida diante de Deus
anunciamos ao mundo que a esperança de uma vida feliz encontra-se no Senhor. A
dor, angústia e sofrimento fazem parte da vida humana por causa do pecado
presente na criação. E por essa razão, o homem constantemente cria meios para
fugir de tais amarguras da vida, tentando evitar aflições. Nesses momentos, o
cristão proclama que Deus é nossa fonte de satisfação presente e futura, por
meio do qual podemos superar as lutas da vida. Além disso, comunicamos que as bênçãos
do Senhor são concedidas dentro de uma relação pactual, ou seja, de um
compromisso de vida entre Deus e seu povo.
Por meio da esperança em Deus, o cristão adverte que os
prazeres não são a finalidade da vida humana (hedonismo), pois o propósito das bênçãos
divinas é atrair-nos para o Senhor no qual o pecador encontra a esperança de felicidade
eterna. Os prazeres que desfrutamos na vida, na presença de Deus, tornam-se
pequenas demonstrações da felicidade eterna, pois nos lembram de que Deus é o
autor de todas as coisas boas. Portanto, viva as maravilhas da vida na presença
do Senhor e O glorifique em tudo, desfrutando dos prazeres que Ele criou para
serem experimentados dentro do Reino de Deus, para a glória de Cristo Jesus.
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