“Disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não
hei de eu buscar-te um lar, para que sejas feliz?” (Rt.3.1)
O amor é um grande aliado nas dificuldades da vida. Por
causa dele, Jacó suportou trabalhar quatorze anos com Labão, sem reclamar,
mesmo sendo enganado diversas vezes, pois a recompensa de seu trabalho era
Raquel (Gn.29.20,30). Por amor, Sara aceitou ser levada para a casa de um rei
estranho, Abimeleque, correndo o risco de ser defraudada, pois prezava pela
vida de seu grande amor, Abraão (Gn.20). O amor nos ajuda a sofer as
dificuldades com paciência e torna as lutas mais suportáveis. O amor torna
desertos em mananciais e alivia as amarguras desta vida. Rute enfrentou longo
período de trabalho no campo, fortalecida pelo amor de Boaz.
A sega da cevada e do trigo haviam acabado (Rt.2.23), e, por
isso, Rute não via mais Boaz. Em casa, Rute sonhava acordada,
suspirando o desejo de ter continuado trabalhando no campo de Boaz, só para ter
a alegria de vê-lo e conversar um pouco mais com ele. Como foram felizes
aqueles longos dias de trabalho, pois o amor costuma transformá-los em poucas
horas de um dia encantador. O trabalho parecia-lhe mais leve, e as horas eram
alegres, adornados com a ternura e os cuidados de Boaz. Jacó também experimentara
esta sensação quando trabalhava por Raquel, pois “por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como
poucos dias, pelo muito que a amava” (Gn.29.20). Mas, infelizmente, não
havia mais nada para colher nos campos, e Rute não podia se expor indo à casa
de Boaz. Ela era viúva e deveria esperar pelo resgatador. Mal sabia ela que
Deus havia lhe reservado uma abençoada família, junto ao piedoso Boaz.
Essa não foi à primeira vez em que Deus fez do casamento um
instrumento para o cumprimento de seu propósito redentor. O povo de Deus
aguardava a vindo do Salvador por meio do nascimento do Messias, e o ambiente
para a manifestação do Filho de Deus seria a família. Os filhos de Deus
aguardavam que um homem temente ao Senhor e uma mulher fiel a Deus concebessem “aquele que pisaria a cabeça da serpente”
(Gn.3.15). Portanto, o romance tinha um lugar especial dentro da história da
redenção, pois esperava-se que o Filho prometido fosse fruto do amor conjugal. Na
verdade, Israel não sabia ainda que a “virgem
daria à luz” (Is.7.14), mas tinha a certeza que a mulher bem-aventurada que
desse à luz o Salvador do mundo, estaria muito bem acompanhada por um homem
temente a Deus que a amaria e cuidaria dela.
Tudo estava indo muito bem, mas, por alguma razão, Boaz não
tomou nenhuma iniciativa para resgatar Rute. Desde o início, Boaz estava
consciente de seu grau de parentesco com Malom, falecido esposo de Rute. Portanto,
Boaz sabia que era o resgatador de Rute (Rt.3.12). Talvez a timidez daquele
homem fê-lo admirar de longe a bela e virtuosa Rute, sem ter a coragem de tomar
qualquer iniciativa, além das cortesias diárias com as quais cativava o coração
da jovem; ou, talvez, ele tenha preferido deixar que Noemi e Rute ficassem à
vontade para decidir se de fato desejariam ser resgatadas. É provável que ambas
as razões tivessem colaborado com a inércia de Boaz, mas sua ciência de que
havia outro resgatador mais chegado do que ele e sua idade avançada em relação
à juventude de Rute devem ter sido determinantes em sua decisão de não tomar
qualquer iniciativa (Rt.3.10,12). Ele não poderia fazer nada caso o outro
resgatador tivesse o interesse de resgatar Rute. Por isso, mesmo disposto a
resgatá-la, Boaz prefere recuar perante os obstáculos que via a sua frente,
mantendo seu estado contemplativo, apenas.
Noemi acompanhou a alegria de Rute, estampada em seu rosto,
durante os dias da sega. Por isso, incomodada com a falta de iniciativa de Boaz
que até o momento não fizera nada, Noemi arquiteta um plano para unir os dois,
definitivamente. O resgate de Rute representaria sustento para Noemi, também,
pois ambas seriam cuidadas por Boaz. Porém, foi o desejo por ver a felicidade
de sua virtuosa nora (o estabelecimento de sua vida), que Noemi decidiu tomar
alguma atitude em favor dela. A inercia de Boaz não foi um obstáculo para Deus
realizar sua graciosa vontade na vida de Rute, conforme seu maravilhoso projeto
redentor. Portanto, Deus incomoda Noemi, a fim de usa-la para a concretização
de sua “boa, agradável e perfeita vontade”.
Neste ponto, a história de Rute assemelha-se, novamente, à
história de Jacó. Para que Jacó recebesse a bênção da primogenitura, conforme
profecia dada a Rebeca (Gn.25.23), alguns eventos foram importantes. Dentre
esses, a mediação de Rebeca fora fundamental para que Jacó alcançasse a bênção
de seu pai, Isaque. Rebeca decidiu tomar iniciativa, arquitetando um
mirabolante plano para que Jacó fosse abençoado sem que Isaque percebesse
(Gn.27.6-23). Semelhantemente, sucessivos eventos, bons e ruins, na vida de
Rute, contribuíram para a realização da vontade de Deus. Um deles foi à decisão
de Noemi em unir Boaz e Rute, tornando-se uma mediadora dessa união. Em ambas
as histórias o Senhor transforma catástrofes em bênçãos e faz uso de mediadores
para abençoar aqueles a quem o Senhor havia escolhido para fazer parte da
história da redenção (cf., também, a história de José). Desta forma, a
Escritura revela-nos que nada pode impedir a concretização da vontade de Deus
que tudo faz como lhe agrada. Além disso, os textos revelam que história
redentora não é formada por um único momento, mas por um conjunto de eventos sucessivos
que compõe seu grande enredo que culmina com o nascimento, vida, morte, ressurreição,
ascensão e volta de Jesus.
Decidida a ajudar Rute, Noemi a conduz para um importante
encontro, onde Rute apresentaria seu interesse em casar-se com Boaz, seu resgatador.
Por alguma razão, Noemi conhecia alguns hábitos de Boaz, e, portanto, sabia que,
naquele dia, ele estaria no campo realizando o trabalho de limpar a cevada na
eira. Ao fim do trabalho, Boaz descansaria no campo (Rt.3.2), sendo o momento
apropriado para Rute agir. Boaz não era o primeiro dos resgatadores em
proximidade de parentesco. Por essa razão, talvez, Noemi não quisesse expor o
amor de Rute por Boaz, e, por isso, planejou um encontro noturno para os dois,
a fim de que ninguém o soubesse. Caso Boaz não a quisesse resgatar, a tristeza
de Rute estaria guardada em família. Mas, se Boaz estivesse disposto a
resgatá-la, ele se esforçaria por ela, tomando todas as providências cabíveis
necessárias. O cuidado de Noemi demonstra que Rute era-lhe como uma filha
amada.
O planejado encontro seria decisivo para Rute. Será que Boaz
a amava tanto quanto ela o amava? Será que ele estava disposto a lutar por ela?
Rute está disposta a fazer sua parte. Então, Noemi a orienta a se arrumar da
melhor forma possível para mostrar o quanto estava interessada em Boaz. O valor
de Rute já era conhecido do homem, pois ele a acompanhou durante os meses da
sega. As virtudes dela já o haviam cativado, mas Rute mostraria seu propósito
de entregar a vida inteira aos cuidados dele, e queria dar-lhe o melhor de seu
coração e corpo. Noemi instrui Rute a tomar um bom banho, usar perfume e vestir-se
de tal forma que não fosse facilmente reconhecida. Com toda essa produção, Rute
não deixaria dúvidas de seu interesse no casamento com Boaz. Além disso, Rute
deveria ir ao campo sem ser notada, observando ao longe o lugar onde Boaz se
deitaria, a fim de proceder com discrição. Todo o processo demoraria um pouco e
seria trabalhoso, mas em atitude submissa e disposta, Rute aceita o plano de
sua sogra, a fim de pô-lo em prática.
Além de trabalhoso, o plano de Noemi poderia ser perigoso,
pois estaria expondo Rute perante Boaz. Os dois estariam sozinhos no campo,
durante horas da noite, numa completa escuridão. O que aconteceria quando Rute
estivesse exposta para Boaz? Contudo, elas não parecem estar preocupadas com
isso. Noemi e Rute já conheciam Boaz o suficiente e estavam seguras quanto a
seu caráter. Baoz era um homem temente a Deus, portanto não faria nada que
pudesse denegrir a imagem de Rute ou fazê-la sofrer. Elas sabiam que ele a
trataria com respeito e amor.
Rute procede conforme tudo o que Noemi disse, e, então,
deita-se aos pés de Boaz, aguardando o momento em que ele acordaria com os pés
gélidos, pois ela havia descoberto seus pés, a mando de Noemi (Rt.3.4,7). Boaz
acorda e toma um susto com a presença de alguém a seus pés. Então, Rute se
revela para Boaz, fazendo alusão à razão de estar ali: Ela queria que Boaz a
resgatasse, ou seja, que ele casasse com ela (Rt.3.9). O susto que Boaz teve ao
ver que alguém estava a seus pés, em meio à noite, não foi tão grande quanto
sua felicidade ao ouvir as palavras de Rute (Rt.3.10).
Boaz bendiz Rute com alegria. A atitude de Rute confirmou
seu imenso valor, pois ela preferira se guardar para o legítimo resgatador a
correr após outros jovens de sua idade (Rt.3.10). Considerando o que Boaz diz
para Rute, ele não era jovem como ela. Não é possível saber a idade de ambos,
mas a diferença etária entre eles deveria ser significativa. Essa, talvez,
tenha sido uma das principais razões pelas quais Boaz preferiu não tomar
providências para resgatar Rute. Mas, agora que tinha a certeza de que Rute
queria casar-se com ele, o ânimo de Boaz mudou. Ele estava diante de uma joia
rara, pois em todo tempo Rute demonstrou ter grande valor (Rt.3.11). E apesar
de banhada, cheirosa e entregue nas mãos de Boaz, a virtude de Rute, uma mulher
temente a Deus, era a razão pela qual Boaz queria casar-se com ela.
Mesmo desejoso de tê-la em seus braços, Boaz não esconde os
obstáculos: havia outro resgatador mais chegado do que ele (Rt.3.12). O alegre
momento entre os dois é quebrado pela apreensão da dúvida: será que o outro
resgatador teria interesse em resgatar Rute? Caso isso acontecesse, ninguém poderia
evitar que Rute se casasse por obrigação. Nesse momento, Rute deve ter
entendido a inércia de Boaz. Mas, desta vez ele estava disposto a fazer o que
fosse necessário para resolver o problema. Pela manhã, sem perder tempo, Boaz
iria atrás do outro resgatador, a fim de tornar clara sua intensão de resgatar
Rute. Boaz não esperaria mais, pois estava de todo decidido a receber Rute por
esposa. Ambos estavam dispostos a fazer o que lhes cabia para confirmar o
casamento, mas somente Deus poderia dar a resposta final para a vida deles.
Caso tudo o que estava acontecendo procedesse do Senhor, então Deus confirmaria
sua vontade retirando todos os obstáculos, a fim de que Boaz e Rute pudessem
casar.
Eles passaram a noite no campo, ou conversando ou dormindo, cada
qual em seu lugar, mas não tiveram qualquer contato físico. Boaz preservou a
integridade de Rute o tempo todo, pois aguardava a confirmação do Senhor se de
fato Rute seria sua esposa. Sua preocupação com a imagem de Rute revela seu temor
a Deus e amor pela jovem. Por isso, ele a orienta a acordar bem cedo, a fim de
sair sem ser notada. Para evitar as bocas maledicentes, Boaz entrega para Rute
algumas medidas de cevada, a fim de que, ao entrar na cidade, as pessoas não
levantassem dúvidas quanto à razão pela qual Rute havia ido ao campo de Boaz.
Desta forma, ele ajudou Rute a guardar sua imagem perante a sociedade.
Noemi estava à espera de Rute. Ao chegar, Rute conta-lhe
tudo o que aconteceu. A reação de Boaz deixa evidente para Noemi que ele estava
bastante interessado em Rute. Portanto, não havia mais nada a ser feito por
elas. Agora, Noemi e Rute deveriam esperar pela providência do Senhor que, sem
que elas soubessem, já estava agindo na vida delas há muito tempo. Apesar do
obstáculo à frente, Rute podia se alegrar, pois estava certa de que Boaz estava
totalmente decidido a cuidar dela por toda a vida, e, enquanto não resolvesse o
assunto, não descansaria (Rt.3.18).
Você já refletiu sobre a bênção do amor? Deus nos fez
capazes de amar, capazes de cuidar uns dos outros, capazes de sentir a imensa
alegria de ter alguém para partilhar a vida. Isso só é possível porque Deus nos
fez a sua imagem e semelhança. Portanto, o casamento é uma bênção de Deus para
o homem (Gn.2.18-25), a fim de que possa desfrutar das delícias do amor na
presença do Senhor, glorificando e agradecendo a Deus, todos os dias, por sua
muita bondade em dar-nos a felicidade do casamento (Sl.127; Sl.128; Ct.8.7).
Para desfrutar o melhor do casamento, os jovens devem preocupar-se
em viver uma vida para a glória de Deus, cuidando do próprio caráter, a fim de
serem bênçãos, uns para os outros. Homens amorosos, cuidadosos, piedosos,
responsáveis e fiéis serão bênçãos para a futura esposa. Da mesma forma,
mulheres submissas, amáveis, cuidadosas, trabalhadoras e fiéis serão bênçãos
para o futuro marido. Somente assim, ambos encontrarão, um no outro, a bênção
necessária para que o lar tenha amor, harmonia e caminhe na presença do Senhor.
Portanto, as advertências e as proibições divinas com respeito ao casamento
misto, crente com não-crente, são importantes ensinos que visam livrar os
jovens da infelicidade de um casamento dividido pelo jugo desigual (2Co.6.14-18).
Sendo assim, não se deixe enganar pelas aparências nem deixe que o coração o
traia. Ouça a voz do Senhor guardando você dos males deste mundo.
Esperar em Deus é sempre a melhor opção, pois a vontade do
Senhor é “boa, perfeita e agradável”
(Rm.12.2). Rute poderia ter ido atrás de jovens de seus dias, pois não lhe faltaria
oportunidades. Mas, ela preferiu esperar em Deus, aguardando seu resgatador.
Seu papel, enquanto espera no Senhor, é cuidar de seu próprio coração, orando
em todo tempo, a fim de estar pronto(a) para o dia em que Deus lhe mostrará a
pessoa certa para o casamento. Ser bênção para o outro cumpre um importante papel dentro do projeto redentor, pois faz de você um instrumento para conduzir o cônjuge a Cristo. Lembre-se que nada é impossível para Deus. Ele
pode usar pessoas e circunstâncias, a fim de que a boa vontade dele seja
concretizada em sua vida. Portanto, espera pelo Senhor!
(continua...)
(continua...)
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