“O SENHOR retribua o teu feito, e seja
cumprida a tua recompensa do SENHOR, Deus de Israel, sob cujas asas vieste
buscar refúgio.” (Rt.2.12)
Deus opera maravilhas por meio daqueles que confiam nEle. Nem
sempre as maravilhas do Senhor são agradáveis à primeira vista, mas tribulações também podem ser instrumentos para a concretização da vontade de
Deus (Gn.45.5,8). Nas adversidades da vida, Deus prova nosso coração,
fazendo-nos conhecer as fraquezas da carne enquanto somos desafiados a confiar
no auxílio do Senhor (Dt.8.2-4). Nem sempre encontramos explicações para as
tribulações da vida, mas Deus quer que confiemos nEle mesmo assim. Contudo,
nossa fé não é um salto no escuro, pois a confiança dos que esperam em Deus deve estar
fundamentada nas promessas do Senhor, feitas em Cristo Jesus, sabendo que “Deus trabalha para aquele que nEle espera”
(Is.64.4).
Noemi voltou pobre e desamparada para Belém, com sua nora
Rute. Todavia, a história de Noemi não acaba assim. A tragédia ocorrida no
primeiro capítulo é sobreposta pela graça superabundante de Deus que não
desampara seu povo. Semelhante à história de José (Gn.37-50), o mal que
sobreveio à família foi um meio para o alcance de um propósito maior: a
preservação do projeto redentor. Sem que elas soubessem, Deus estava conduzindo
seus passos, a fim de prover graciosa e poderosa salvação para aquele lar, por
meio do qual o Senhor preservaria a linhagem de seu Filho, o Messias prometido,
aquele que pisaria a cabeça da serpente (Gn.3.15). A história de Noemi e Rute
cumpria um importante papel na história redentora, e o sofrimento delas não
poderia ser comparado com a glória da salvação que o Senhor suscitaria a partir
da genealogia daquelas mulheres (Mt.1.5; Rm.8.18).
Enquanto Elimeleque sai de Belém com receio de ser apanhado
pela fome que alcançou a terra de Judá (Rt.1.1), Deus guardou um homem temente para ser
o resgatador dele (Rt.2.1). Boaz manteve-se em Belém durante todo o período da
fome, demonstrando que sua confiança estava em Deus, e o Senhor o guardou
dando-lhe não somente a provisão diária, mas ainda o fazendo próspero (Rt.2.1).
É possível imaginarmos as muitas orações daquele homem de Deus que durante a
intempérie que sobreveio a Israel, fez do Senhor seu auxílio. Elimeleque morreu, levando sua esposa e nora à miséria, contudo Boaz
enriqueceu e cresceu na presença do Senhor. Elimeleque confiou em sua esperteza para fugir do castigo de Deus, que
sobreveio a Israel, indo para uma terra pagã, mas Boaz confiou no Senhor,
aguardando em Deus a provisão, pois sabia que o Senhor, Deus de Israel, era refúgio
certo nas horas de tribulação (Rt.2.12).
Estando em Belém, já acomodadas à antiga casa de Noemi,
surge a necessidade natural de encontrarem provisão. Sem homens para
sustenta-las, Rute sugere, para Noemi, sua ida aos campos, a fim de apanhar
espigas caídas, conforme o direito concedido por Deus aos pobres de seu povo
(Lv.19.10). Rute não se mostra arrependida de ter trocado o conforto da casa de
seus pais pela dureza de uma vida pobre ao lado de sua sogra, no seio de Israel,
o povo de Deus. Rute era uma mulher trabalhadora e esperava que Deus fosse
gracioso com ela em sua empreitada para conseguir o sustento diário. Pronta
para enfrentar a luta diária, Rute saiu em busca de algum campo.
Sem saber aonde colher, Rute vai para um campo qualquer que
“por casualidade” (Rt.2.3) era o
campo de Boaz, um de seus resgatadores. Em silêncio, Deus estava operando sua
vontade, guiando Rute para o caminho por onde deveria andar. De tantos campos
possíveis para colher (Rt.2.8), onde Rute poderia ter sido molestada (Rt.2.22),
aquela recém convertida serva do Senhor foi guiada pela graça divina para o
campo certo. A história redentora estava em andamento, e Deus estava garantindo
seu cumprimento em cada etapa dela. Mesmo que Israel tivesse se colocado longe de
seu Deus, virando-lhe as costas durante todo o livro de Juízes (Jz.2.11-23), o
Senhor não se apartou de seu povo, a fim de manter firme sua promessa
redentora.
Nos livros de Rute e Ester, Deus é o Senhor presente na
história agindo silenciosamente na vida de seu povo, a fim de garantir o
cumprimento de sua vontade (Et.4.14). Nem sempre Deus opera de formas
extraordinárias, manifestando seu poder por modo visível na vida de seu povo.
Boa parte do tempo, o Senhor age sem ser percebido, exigindo daqueles que se
aproximam dele que confiem em seu poder, fidelidade e perfeita vontade. Esse
fenômeno deve acalmar o coração do cristão, a fim de esperar confiantemente em
sua graciosa salvação. Jeremias viu a ruina de seu povo e chorou a destruição
de Jerusalém, mas não desistiu de esperar pela salvação de Deus. E mesmo que
Jeremias não entendesse o desenrolar do projeto divino para purificação da
nação, preparando-a para o advento de Cristo, Jeremias descansou o coração em
Deus, proclamando que “bom é o SENHOR
para os que esperam por Ele, para a alma que o busca. Bom é aguardar a salvação
do SENHOR, e isso, em silêncio” (Lm.3.25-26).
Boaz, o resgatador, aparece na história. Ele é um homem
piedoso e temente a Deus, abençoador de seus servos (Rt.2.4). Boaz era um homem
cuidadoso e logo percebeu que havia alguém diferente em seu campo. É provável
que a beleza de Rute tenha chamado sua atenção, fazendo-o se interessar por
saber quem era ela. O servo de Boaz informa-lhe tudo quanto sabia sobre Rute. A
informação completa deve ser coletada a partir de dois blocos de textos: Rute
2.6-7 e 11-12. Conforme esses dois textos, Rute era uma mulher moabita que
decidiu voltar com sua sogra Noemi da terra de Moabe, rejeitando retornar para
a casa de seus pais, para ir a uma terra que “dantes não conhecia”, a fim de buscar refúgio no Deus de Israel, e
desde a manhã estava trabalhando arduamente para obter suprimento para si e
para sua sogra.
As notícias sobre Rute agradaram bastante Boaz. Ele deveria
trata-la com amor, pois assim Deus ordenara que seu povo fizesse aos
estrangeiros que habitassem no meio de Israel (Lv.19.34). Mas, era o fato de
Rute ter-se convertido ao Deus de Israel que a tornava igual aos demais
israelitas (Ex.12.48; Nm.9.14). Portanto, Rute não era uma pagã no meio do povo
de Deus, mas uma crente fiel adotada pelo Senhor para fazer parte da família de
Deus (Ef.2.19). Provavelmente, poucas mulheres em Israel, nos dias de Juízes,
possuíam a fé e o caráter de Rute. Então, ciente de que ele era um dos
resgatadores de Rute, Boaz deve ter-se interessado pela bela e virtuosa jovem
Rute.
Boaz encontra-se com Rute, surgindo um diálogo entre eles
(Rt.2.8-13). Ele a trata com cortesia e carinho, preservando a honra de Rute.
Seu interesse pela jovem, o motiva a ter um especial cuidado com ela, e Boaz
pede-lhe que permaneça colhendo em seu campo (Rt.2.8). Desta forma, Boaz teria
a certeza de que ninguém molestaria Rute e ainda poderia observá-la durante o
tempo da cega, a fim de conhecê-la melhor. Para que Rute ficasse bem à vontade,
Boaz adverte a todos que não mexam com ela. Seu coração parece estar realmente
apaixonado, e protege-la era a melhor forma de guarda-la para um possível
casamento futuro. Todo conforto necessário é providenciado, e Rute recebe o
acesso ao ambiente doméstico onde Boaz e seus servos comiam e bebiam (Rt.2.9).
Ele demonstra para Rute que ela não estaria mais sozinha, pois encontrou nele
amparo e segurança, ambos providenciados por Deus, como bênção graciosa do
Senhor para aquela que confiou sua vida às mãos do Senhor.
Rute ficou perplexa com o tratamento de Boaz, e,
humildemente, prostrou-se perante ele. Parece que Rute nunca vira tamanho
cuidado e ternura para com uma estrangeira (Rt.2.10). Nem todos os israelitas obedeciam à
Lei, tratando com amor e justiça aos órfãos, viúvas e estrangeiros que buscavam
em Deus seu refúgio. Mas, Boaz estava tratando Rute como sua parenta, afinal
ela havia feito muito bem para seus familiares. Provavelmente, Rute não sabia
que sua fé no Deus de Israel a tornava igual aos demais israelitas, herdeira
das mesmas promessas feitas a Abraão. Então, Boaz explica-lhe a razão de estar
tratando-a com dignidade e especial amor, despertado pelo conhecimento da fé e
caráter dela. Para Boaz, Rute era melhor que muitas outras mulheres israelitas,
pois seu valor excedia ao de finas joias (Rt.2.11; Pv.31.10). Portanto, Rute não era
apenas uma estrangeira, mas uma mulher de Deus, e o Senhor a abençoaria muito
por sua fé.
As palavras de Boaz iam além do cuidado de um homem de Deus
pelo povo do Senhor. Boaz, falou ao coração de Rute, ou seja, mostrou seu
interesse por Rute assim como Siquém mostrara seu interessem em casar com Diná
(Gn.34.3: "falou ao coração"). Rute sentiu-se cativada por Boaz, mas não sabia que ele poderia ser
seu futuro marido (Rt.2.13). Com as palavras de Boaz, Rute sentiu-se cuidada e
amparada. Ela já não se sentia mais como estrangeira numa terra estranha, pois
o cuidado de Boaz fez com que ela se sentisse amada. Pelo cuidado de Boaz, Rute
sabia que não estaria sozinha na hora da necessidade, pois ele estaria ao seu
lado para sustenta-la (Rt.2.14), provendo-lhe tudo o que era necessário. E
assim, Boaz agiu para com Rute durante toda a sega da cevada e do trigo
(Rt.2.23). Rute estava experimentando a recompensa graciosa do Senhor por ter
buscado em Deus refúgio no dia da tribulação (Rt.2.12).
Até o momento, Rute não sabia os detalhes da grandiosa obra
que Deus estava realizando em sua vida, pois não sabia que Boaz era seu
resgatador. Ao retornar para casa, Noemi viu a farta colheita de Rute e, ainda,
a muita comida que trouxera de sua refeição (Rt.2.18). Admirada com aquele
feito, Noemi quis descobrir quem era o benfeitor que a deixou colher tanto em
seu campo e, ainda, deu-lhe comida em grande quantidade. Ao dizer seu nome,
Boaz, Noemi glorificou a Deus, abençoando Boaz por sua bondade para com Rute
(Rt.2.20). Então, finalmente, Rute descobriu que ele poderia ser o resgatador da
família, trazendo esperança de novos dias para as duas mulheres que
aparentemente estavam desamparadas, sem perceberem que Deus estava em todo tempo
cuidando delas.
Naquele momento, Noemi reconheceu que havia esperança para
elas. O que ela não sabia é que a providência do Senhor não alcançaria apenas
as necessidades imediatas de Noemi e Rute, mas todo o povo de Deus, preservando
a linhagem messiânica prometida por Deus para salvação do homem. Portanto,
mesmo que as tribulações advindas sobre Noemi e Rute tenham causado-lhes
tristeza ao coração, todas as coisas estavam colaborando “para o bem dos que amam a Deus” (Rm.8.28), pois nada era tão
importante quanto a redenção do povo de Deus. Elas só precisavam confiar no
Senhor e ter paciência, procedendo com fidelidade a Deus em todo tempo, pois o
Senhor estaria realizando sua obra com poder e graça. Rute passou alguns meses
conhecendo melhor Boaz enquanto colhia em seu campo. Ela precisou ter paciência
até chegada da hora em que o Senhor a abençoaria com um novo lar.
Às vezes fortes tribulações nos alcançam, exigindo que
tomemos alguma decisão: seguir em frente olhando para o Senhor ou desistir
olhando para traz. Aqueles que optam por olhar para Cristo e seguir em frente
são conduzidos pelo novo e vivo Caminho, guardados e amparados pelo Senhor. Nem
sempre seremos capazes de entender o agir de Deus em nossa vida, mas é certo
que o único Caminho pelo qual o Senhor nos conduzirá é Cristo Jesus. E mesmo
que demore, sempre valerá a pena esperar no Senhor, pois a vontade de Deus é “boa, perfeita e agradável” (Rm.12.2).
Boaz e Rute esperavam pela boa vontade de Deus, guardando-se para o dia em que
Deus lhes constituiria uma família. E por esperarem em Deus, o Senhor os
abençoou com um lar, uma linda família para a glória do Senhor.
Enquanto esperamos em Deus, devemos "arregaçar as mangas" e
trabalhar para a glória do Senhor. Desistir entregando-se ao desânimo não resolverá
os problemas da vida. É necessário olhar para Jesus e seguir em frente lutando,
pois o projeto redentor do Senhor é muito maior que nossa pequena vida aqui.
Deus tem algo extraordinário para seus filhos, nunca visto pelo homem, mas é
preciso perseverar até o fim, para herdar a concretização de todas as promessas
de Deus. Satanás tentou Jesus oferecendo-lhe o mundo e suas riquezas, mas
Cristo recusou tudo, olhando para os céus, para a glória de Deus (Mt.4.8-11).
Portanto, é preciso buscar “as coisas lá
do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus” (Cl.3.1), a fim de
estar pronto para os dias maus.
Além disso, o capítulo dois de Rute fornece um modelo de
relacionamento entre um homem e uma mulher. Boaz e Rute amavam e temiam a Deus,
e possuíam um caráter íntegro. Boaz tratava Rute com cortesia, como parte mais
frágil, protegendo-a e sustentando-a com amor e carinho, fazendo com que ela
encontrasse nele amparo e força em meio às dificuldades da vida. Enquanto isso,
Rute era trabalhadora, dedicada, humilde e submissa, disposta a obedecê-lo em
tudo, respeitando-o em todo tempo, sendo-lhe fiel companheira em diálogos.
Desta forma, Boaz foi benção para Rute e encontrou em Rute uma auxiliadora que
o abençoava, também. No comportamento cheio de temor de ambos, encontraram um
no outro a perfeita companhia para dividir a vida em suas alegrias e tristezas,
servindo de instrumento para a glória de Deus.
(continua...)
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