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sábado, 24 de setembro de 2016

Romance e redenção em Rute (4/4)

Seja a tua casa como a casa de Perez, que Tamar teve de Judá, pela prole que o SENHOR te der desta jovem” (Rt.4.12)

Esperar em Deus requer entrega completa da vida, confiança plena no Senhor (Sl.42.5). Nessa espera, o tempo e as más circunstâncias da vida serão provações constantes, pois o coração do homem é ansioso por natureza (Mt.6.25; Fp.4.6) e sua carne é fraca (Mt.26.41). Por isso, nesse momento, você está dizendo consigo mesmo: – Não é fácil! – Eu tento! Contudo, é nesse contexto que Deus convida você a confiar nEle (Sl.55.22), entregando toda sua vida aos cuidados dEle (Sl.37.5). E para que isso aconteça, será necessário desejar que sua vida seja instrumento para a manifestação da glória de Deus (Jo.4.34; Fp.1.19-26), semelhante a vida de Rute.

O dia amanheceu! Boaz encheu o manto de Rute com seis medidas de cevada, a fim de não chamar a atenção da cidade para o fato de estar voltando do campo tão cedo, e despediu Rute, consolando-a com a certeza de que ele faria tudo que fosse possível para resgatá-la. Rute foi para casa debaixo de muita expectativa. Será que Deus os uniria em matrimônio? A vontade do Senhor seria expressa pela boca do outro resgatador. Caso ele quisesse resgatar Rute, então os sonhos daquela jovem seriam desfeitos num relance. Em casa, Rute conta para sua sogra como fora a noite. Então, Noemi aquieta o coração de Rute, lembrando-lhe que Boaz tomaria todas as medidas necessárias para casar com ela. Noemi parece conhecer Boaz muito bem. Portanto, Rute deveria apenas descansar no Senhor, pois, pela graça do Senhor, que vive e contempla os desejos do coração de seus servos, elas veriam o bem (Rt.3.13). Mais uma vez, a vida frágil daquelas mulheres (de Boaz, também) estava nas mãos graciosas de Deus. A dúvida parecia dar razão para que Rute ficasse ansiosa, mas a certeza de que o Senhor estava presente confortava seu coração.

Sua história até aquele momento servia-lhe de consolo. Em cada etapa de sua trajetória Deus esteve presente, conduzindo graciosamente sua vida, providenciando tudo o que era necessário para seu sustento. Nada havia faltado, pois o Senhor guiara seus passos. E quando menos esperava recomeçar uma vida familiar, o amor bateu-lhe à porta com voz doce e gesto gentil (Rt.2.8-16). Quem mais poderia estar por trás de tamanhas benevolências? O temor do Senhor no coração de Boaz confirmava ser ele um homem certo para se casar. Ainda estando em Moabe, quando Noemi insistia que suas noras voltassem para a casa de seus respectivos pais, ela as abençoou, rogando benevolência do Senhor sobre cada uma, a fim de que pudessem se estabelecer na vida e constituir família feliz (Rt.1.8-9). Teria o Senhor ouvido a oração de Noemi? Rute deveria aquietar o coração no Senhor, naquele a quem ela entregara sua fé e toda sua vida (Rt.1.16). A única tarefa de Rute, naquele momento, seria esperar confiadamente pelo Senhor.

O Senhor é Deus provedor que sustenta seu povo com graça e constitui família feliz para aqueles que nEle esperam. A história de Israel testemunha as muitas benevolências do Senhor sobre seu povo, constituindo família para Abraão, Isaque, Jacó (Gn.21; 24; 29) e para as parteiras que temeram a Deus (Ex.1.20-21). Também, por quarenta anos, em pleno deserto inóspito, o Senhor sustentou seu povo com pão do céu, carne em abundância, água da rocha e direção certa tanto de dia quanto a noite (Ex.17.6; Dt.8.2-4). Portanto, o Senhor era forte amparo para todos os que o buscavam, e Rute deveria esperar que essa mesma graça divina viesse sobre ela. Essas e outras histórias eram transmitidas geração após geração, a fim de que o povo de Deus confiasse continuamente em seu Deus. A história de Israel também consolaria o coração daquela mulher apaixonada.

Mesmo sem anunciar, diretamente, o agir do Senhor em favor de Rute, o enredo do livro se desenvolve sob a moldura da providência divina. O NOME do Senhor aparece algumas vezes no livro (mais especificamente 18), adornando-o com a certeza de que, em todo tempo, Deus estava presente na história como Senhor absoluto dela, a fim de garantir que sua perfeita vontade fosse feita. Em Rute, Deus não se esquece de seu povo e o visita com provisão (Rt.1.6); abençoa aqueles que procedem fielmente (Rt.1-8-9); castiga os que buscam no mundo o seu socorro (Rt.1.13,21); firma os passos daqueles que professam sua fé nEle (Rt.1.17); está presente tanto na vida de ceifeiros como de senhores, abençoando seu povo (Rt.2.4,20); e trabalha para os que esperam por Ele (Rt.2.12; 3.10,13; 4.11-14). Em Rute, Deus se revela poderoso para cumprir seu projeto redentor mesmo quando as adversidades se opõem à sua vontade (Rt.3.12).

Qual seria a melhor forma de Boaz adquirir o direito ao resgate de Rute? Nenhuma outra transação feita até aquele dia fora tão importante na vida de Boaz quanto a conquista do direito de resgatar aquela bela e virtuosa jovem. Por isso, Boaz planeja seus passos. Seu propósito não se limitava em apenas saber qual seria a decisão do outro resgatador de Rute. Boaz desejava que o resgatador, que o precedia em direito, transferisse para ele a obrigação de resgatar a terra e suscitar descendência para o falecido Malom. Que doce obrigação seria aquela! Mas, somente por meio da transferência legal, Rute estaria livra para ser a esposa de Boaz, formando família debaixo da bênção tanto do Senhor quanto do povo de Deus. Portanto, Boaz deveria ser cuidadoso, a fim de não levantar suspeitas de seu muito interesse na joia rara que lhe caíra do céu: Rute.

Boaz escolheu um lugar estratégico para encontrar o outro resgatador e, também, confirmar legalmente a transferência de direito: a porta da cidade. A porta da cidade era o lugar de maior movimento, aonde as pessoas iam e vinham do trabalho diário: agricultores, pecuaristas, comerciantes, homens e mulheres. Neste mesmo lugar, costumavam-se fazer reuniões, transações, acertos de contas e julgamentos nas cidades de Judá (Dt.22.15; 25.7; 1Rs.22.10; 2Cr.32.6; Jó.29.7; Jr.38.7; 2Sm.15.2; Lm.5.14; Am.5.10; Mc.1.33). Portanto, a porta da cidade era o melhor lugar para conversar com o tal resgatador, pois era o lugar das assembleias do povo, e, nele, deveria ser selado, publicamente, o acordo entre Boaz e o outro resgatador.

Boaz planejou um encontro formal com o outro resgatador, na presença dos líderes da cidade, os anciãos (Rt.4.2). Contudo, tudo seria feito de improviso, sem agendamento prévio, pois seu propósito era resolver o assunto naquele mesmo dia, aproveitando a oportunidade dada pelo Senhor. Boaz se dirigiu para a porta da cidade, esperando encontrar o resgatador. Ao vê-lo passando, Boaz chama-o para assentar-se junto dele. O “fulano”, resgatador de Rute, aceita seu convite e senta-se ao lado de Boaz (Rt.4.1). Estando ambos sentados, Boaz chama dez dos líderes, anciãos da cidade, pedindo-lhes que se assentassem junto deles, a fim de serem júris do processo legal a ser tratado perante eles. O número elevado de testemunhas demonstra a seriedade do assunto. O livro de Rute conta-nos que Boaz era um homem “de muitos bens” (Rt.2.1), portanto desfrutava de certa posição de destaque entre os concidadãos da cidade, e seu pedido fora atendido com presteza. Desta forma, o ambiente estava pronto para o importantíssimo assunto a ser tratado: o resgate da joia mais rara da cidade, Rute.

Dois assuntos envolviam o resgate: a compra da terra, para garantir a herança familiar (Lv.25.25) e o levirato, a fim de suscitar descendência ao falecido (Gn.38.8). Boaz dá início aos assuntos, começando pela terra (Rt.4.3). Seria a terra mais importante do que Rute? Com certeza não! Pois em todo o livro a terra só é mencionada no capítulo quatro. É provável que a ordem de assuntos utilizada por Boaz tenha sido uma estratégia. Talvez Boaz soubesse que seu parente não era homem de muitos bens, e que, portanto, não possuía dinheiro suficiente para a compra da terra. Desta forma, recusando o resgate da terra, ele também estaria recusando resgatar Rute. Contudo, o plano de Boaz não funcionou. O outro resgatador confirma seu propósito de cumprir o dever para com a família, comprando o terreno de Noemi (Rt.4.4). Não sabemos como Boaz sentiu-se naquele momento. Ele era um homem compenetrado, mas não estava imune às variações emocionais, às sensações diferentes. Suas mãos podem ter gelado e seu coração batido mais acelerado, afinal ele estava a um passo de perder a mulher mais virtuosa da cidade.

Boaz tem apenas uma carta em suas mangas. Ele precisa demonstrar que o resgate seria inviável para o outro resgatador. A compra da terra envolveria o resgate das viúvas também, sob a obrigação de sustenta-las e suscitar descendência a Malom por meio do casamento com Rute (Rt.4.5). Não sabemos se o outro resgatador já era casado ou tinha pretensão em casar com alguém, especificamente, nem qual era a situação financeira dele. Considerando a ordem em que Boaz apresentou o assunto, podemos conjecturar que o outro resgatador não tinha tão boa condição financeira como Boaz. Por alguma razão não revelada, o outro resgatador não pôde assumir sua responsabilidade perante Noemi e Rute. O acúmulo de obrigações tornara-se grande demais para o outro resgatador, e isto prejudicaria sua vida (Rt.4.6). Então, o resgatador informa sua incapacidade para cumprir a obrigação familiar. Esta resposta agradou sobremaneira Boaz, trazendo alívio ao seu coração, pois, agora, Rute estava mais perto do que nunca de ser sua esposa.

Dá para imaginar as inúmeras sensações que se misturaram dentro de Boaz: alívio, alegria, gratidão, conforto e pressa para concretizar o acordo legal. Boaz suspira satisfeito por ter recebido do Senhor aquela adorável missão. A transferência é selada conforme o costume da época, e Boaz recebe um dos sapatos de seu parente como penhor do contrato firmado (cf. Gn.38.18). Então, Boaz profere o contrato solene diante dos anciãos da cidade, confirmando seu direito à compra da terra de Noemi e ao casamento com Rute, a fim de suscitar descendência ao falecido. Boaz estava feliz, pois a bela e virtuosa Rute seria sua esposa. Mas, algo maior do que a realização do sonho de Boaz e Rute estava se cumprindo. Boaz adquiriu o direito à bendita linhagem santa do futuro Salvador, o Messias prometido.

Israel era a nação profética de Deus, herdeira desse maravilhoso ministério, a fim de proclamar a Salvação do Senhor geração após geração (Rm.3.2). Por isso, os anciãos profetizam as bênçãos do Senhor sobre a vida de Boaz e Rute, tornando-os herdeiros das bênçãos de Abraão, Isaque e Jacó (Rt.4.11-12). O propósito do romance estava prestes a ser alcançado: a sucessão da linhagem santa, conforme a escolha divina das famílias. Mais uma estrangeira entra na genealogia por meio de sua fé no Deus de Israel, como sinal profético de que a salvação do Senhor alcançaria famílias de toda a Terra. Por isso, de tantas mulheres em Belém de Judá, o Senhor decidiu que uma estrangeira fosse a herdeira das promessas, casando-se com um fiel servo de Deus.

A providência do Senhor é consumada com o nascimento do filho de Rute, Obede. Deus é louvado pela vida da criança (Rt.4.13-14), pois sua benevolência foi manifesta graciosamente na vida de Noemi e na vida de todo o Israel. Por meio dele, o caminho do perfeito Resgatador estava garantido. Portanto, a esperança de Israel estava viva, germinando lentamente pelo curso da história, aguardando a chegada da primavera quando, finalmente, daria seu fruto, o nascimento do Filho de Deus. Os versículos finais confirmam o propósito do Senhor e sua presença atuante em todo o tempo (Rt.4.13-22). Nada aconteceu por acaso, nem as angústias passadas nem as alegrias presentes. Desta forma, em Rute, Deus revela sua superabundante graça sobre os gentios, preanunciando a entrada deles no povo de Deus, e lembra ao seu povo que o Senhor é o único refúgio e esperança para Israel.

O projeto redentor de Deus é maior que nosso mundo privado! Para entendermos melhor a vida cristã é preciso encaixá-la dentro da moldura da redenção. Ao emoldurar nossa vida dentro da redenção divina, entendemos melhor que os sofrimentos, as escolhas, as alegrias, as frustrações, a capacitação de cada cristão e cada passo de nossa vida possuem valor eterno, cumprindo papel importante dentro da redenção. Semelhante a Rute, não teremos respostas para todas as circunstâncias de nossa vida. Assim como ela não fazia ideia que a tragédia em Moabe seria o início para uma nova vida em Belém, também não sabemos por quais caminhos o Senhor nos conduzirá, mas sempre teremos a certeza de que tudo será para a glória do Senhor. 


Portanto, faça com que a vontade de Deus seja seu maior desejo. É provável que você já tenha se perguntado muitas vezes: Será que Deus não quer minha felicidade? Por que Deus não atende ao clamor de meu coração? Tenha certeza de que o Senhor quer sua felicidade, e Ele conhece bem seu coração. Porém, é preciso que seu coração tenha prazer no Senhor, agradando-se de sua Santa e Perfeita vontade (Sl.37.4). Pergunte-se: Por que desejo estas coisas? Talvez você esteja colocando a criatura no lugar do Criador, fazendo Deus de gênio da lâmpada mágica. O casamento é prazeroso ao homem e à mulher, e o verdadeiro amor conjugal é uma das mais encantadoras experiências da vida. Contudo, o propósito do casamento não finda com a satisfação mútua dos cônjuges. Por meio do casamento, Deus deve ser glorificado no reconhecimento diário de sua graça e presença, no testemunho de seu tão grande amor, na propagação da Palavra do Senhor, geração após geração. Pergunte-se, então: Qual meu propósito para o casamento? Quando estiver certo de que seu propósito é manifestar a glória de Deus aqui na terra, então peça a Deus um cônjuge, para que, juntos, possam viver a história da redenção.

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