“Seja a tua casa como a casa de Perez, que
Tamar teve de Judá, pela prole que o SENHOR te der desta jovem” (Rt.4.12)
Esperar em Deus requer entrega completa da vida, confiança
plena no Senhor (Sl.42.5). Nessa espera, o tempo e as más circunstâncias da
vida serão provações constantes, pois o coração do homem é ansioso por natureza
(Mt.6.25; Fp.4.6) e sua carne é fraca (Mt.26.41). Por isso, nesse momento, você
está dizendo consigo mesmo: – Não é fácil! – Eu tento! Contudo, é nesse
contexto que Deus convida você a confiar nEle (Sl.55.22), entregando toda sua
vida aos cuidados dEle (Sl.37.5). E para que isso aconteça, será necessário
desejar que sua vida seja instrumento para a manifestação da glória de Deus
(Jo.4.34; Fp.1.19-26), semelhante a vida de Rute.
O dia amanheceu! Boaz encheu o manto de Rute com seis
medidas de cevada, a fim de não chamar a atenção da cidade para o fato de estar
voltando do campo tão cedo, e despediu Rute, consolando-a com a certeza de que
ele faria tudo que fosse possível para resgatá-la. Rute foi para casa debaixo
de muita expectativa. Será que Deus os uniria em matrimônio? A vontade do
Senhor seria expressa pela boca do outro resgatador. Caso ele quisesse resgatar
Rute, então os sonhos daquela jovem seriam desfeitos num relance. Em casa, Rute
conta para sua sogra como fora a noite. Então, Noemi aquieta o coração de Rute,
lembrando-lhe que Boaz tomaria todas as medidas necessárias para casar com ela.
Noemi parece conhecer Boaz muito bem. Portanto, Rute deveria apenas descansar
no Senhor, pois, pela graça do Senhor, que vive e contempla os desejos do
coração de seus servos, elas veriam o bem (Rt.3.13). Mais uma vez, a vida
frágil daquelas mulheres (de Boaz, também) estava nas mãos graciosas de Deus. A
dúvida parecia dar razão para que Rute ficasse ansiosa, mas a certeza de que o
Senhor estava presente confortava seu coração.
Sua história até aquele momento servia-lhe de consolo. Em
cada etapa de sua trajetória Deus esteve presente, conduzindo graciosamente sua
vida, providenciando tudo o que era necessário para seu sustento. Nada havia
faltado, pois o Senhor guiara seus passos. E quando menos esperava recomeçar
uma vida familiar, o amor bateu-lhe à porta com voz doce e gesto gentil
(Rt.2.8-16). Quem mais poderia estar por trás de tamanhas benevolências? O temor do Senhor no coração de Boaz confirmava ser ele um homem certo para se casar. Ainda
estando em Moabe, quando Noemi insistia que suas noras voltassem para a casa de
seus respectivos pais, ela as abençoou, rogando benevolência do Senhor sobre cada
uma, a fim de que pudessem se estabelecer na vida e constituir família feliz
(Rt.1.8-9). Teria o Senhor ouvido a oração de Noemi? Rute deveria aquietar o coração
no Senhor, naquele a quem ela entregara sua fé e toda sua vida (Rt.1.16). A
única tarefa de Rute, naquele momento, seria esperar confiadamente pelo Senhor.
O Senhor é Deus provedor que sustenta seu povo com graça e
constitui família feliz para aqueles que nEle esperam. A história de Israel
testemunha as muitas benevolências do Senhor sobre seu povo, constituindo
família para Abraão, Isaque, Jacó (Gn.21; 24; 29) e para as parteiras que
temeram a Deus (Ex.1.20-21). Também, por quarenta anos, em pleno deserto
inóspito, o Senhor sustentou seu povo com pão do céu, carne em abundância, água
da rocha e direção certa tanto de dia quanto a noite (Ex.17.6; Dt.8.2-4).
Portanto, o Senhor era forte amparo para todos os que o buscavam, e Rute
deveria esperar que essa mesma graça divina viesse sobre ela. Essas e outras
histórias eram transmitidas geração após geração, a fim de que o povo de Deus
confiasse continuamente em seu Deus. A história de Israel também consolaria o
coração daquela mulher apaixonada.
Mesmo sem anunciar, diretamente, o agir do Senhor em favor
de Rute, o enredo do livro se desenvolve sob a moldura da providência divina. O
NOME do Senhor aparece algumas vezes no livro (mais especificamente 18),
adornando-o com a certeza de que, em todo tempo, Deus estava presente na
história como Senhor absoluto dela, a fim de garantir que sua perfeita vontade
fosse feita. Em Rute, Deus não se esquece de seu povo e o visita com provisão
(Rt.1.6); abençoa aqueles que procedem fielmente (Rt.1-8-9); castiga os que
buscam no mundo o seu socorro (Rt.1.13,21); firma os passos daqueles que
professam sua fé nEle (Rt.1.17); está presente tanto na vida de ceifeiros como
de senhores, abençoando seu povo (Rt.2.4,20); e trabalha para os que esperam
por Ele (Rt.2.12; 3.10,13; 4.11-14). Em Rute, Deus se revela poderoso para
cumprir seu projeto redentor mesmo quando as adversidades se opõem à sua
vontade (Rt.3.12).
Qual seria a melhor forma de Boaz adquirir o direito ao
resgate de Rute? Nenhuma outra transação feita até aquele dia fora tão
importante na vida de Boaz quanto a conquista do direito de resgatar aquela
bela e virtuosa jovem. Por isso, Boaz planeja seus passos. Seu propósito não se
limitava em apenas saber qual seria a decisão do outro resgatador de Rute. Boaz
desejava que o resgatador, que o precedia em direito, transferisse para ele a
obrigação de resgatar a terra e suscitar descendência para o falecido Malom. Que
doce obrigação seria aquela! Mas, somente por meio da transferência legal, Rute
estaria livra para ser a esposa de Boaz, formando família debaixo da bênção
tanto do Senhor quanto do povo de Deus. Portanto, Boaz deveria ser cuidadoso, a
fim de não levantar suspeitas de seu muito interesse na joia rara que lhe caíra
do céu: Rute.
Boaz escolheu um lugar estratégico para encontrar o outro
resgatador e, também, confirmar legalmente a transferência de direito: a porta
da cidade. A porta da cidade era o lugar de maior movimento, aonde as pessoas
iam e vinham do trabalho diário: agricultores, pecuaristas, comerciantes, homens
e mulheres. Neste mesmo lugar, costumavam-se fazer reuniões, transações, acertos
de contas e julgamentos nas cidades de Judá (Dt.22.15; 25.7; 1Rs.22.10;
2Cr.32.6; Jó.29.7; Jr.38.7; 2Sm.15.2; Lm.5.14; Am.5.10; Mc.1.33). Portanto, a
porta da cidade era o melhor lugar para conversar com o tal resgatador, pois
era o lugar das assembleias do povo, e, nele, deveria ser selado, publicamente,
o acordo entre Boaz e o outro resgatador.
Boaz planejou um encontro formal com o outro resgatador, na
presença dos líderes da cidade, os anciãos (Rt.4.2). Contudo, tudo seria feito de
improviso, sem agendamento prévio, pois seu propósito era resolver o assunto
naquele mesmo dia, aproveitando a oportunidade dada pelo Senhor. Boaz se
dirigiu para a porta da cidade, esperando encontrar o resgatador. Ao vê-lo
passando, Boaz chama-o para assentar-se junto dele. O “fulano”, resgatador de
Rute, aceita seu convite e senta-se ao lado de Boaz (Rt.4.1). Estando ambos
sentados, Boaz chama dez dos líderes, anciãos da cidade, pedindo-lhes que se
assentassem junto deles, a fim de serem júris do processo legal a ser tratado
perante eles. O número elevado de testemunhas demonstra a seriedade do assunto.
O livro de Rute conta-nos que Boaz era um homem “de muitos bens” (Rt.2.1), portanto desfrutava de certa posição de
destaque entre os concidadãos da cidade, e seu pedido fora atendido com
presteza. Desta forma, o ambiente estava pronto para o importantíssimo assunto
a ser tratado: o resgate da joia mais rara da cidade, Rute.
Dois assuntos envolviam o resgate: a compra da terra, para
garantir a herança familiar (Lv.25.25) e o levirato, a fim de suscitar
descendência ao falecido (Gn.38.8). Boaz dá início aos assuntos, começando pela
terra (Rt.4.3). Seria a terra mais importante do que Rute? Com certeza não!
Pois em todo o livro a terra só é mencionada no capítulo quatro. É provável que
a ordem de assuntos utilizada por Boaz tenha sido uma estratégia. Talvez Boaz
soubesse que seu parente não era homem de muitos bens, e que, portanto, não
possuía dinheiro suficiente para a compra da terra. Desta forma, recusando o
resgate da terra, ele também estaria recusando resgatar Rute. Contudo, o plano
de Boaz não funcionou. O outro resgatador confirma seu propósito de cumprir o
dever para com a família, comprando o terreno de Noemi (Rt.4.4). Não sabemos
como Boaz sentiu-se naquele momento. Ele era um homem compenetrado, mas não
estava imune às variações emocionais, às sensações diferentes. Suas mãos podem
ter gelado e seu coração batido mais acelerado, afinal ele estava a um passo de
perder a mulher mais virtuosa da cidade.
Boaz tem apenas uma carta em suas mangas. Ele precisa demonstrar
que o resgate seria inviável para o outro resgatador. A compra da terra
envolveria o resgate das viúvas também, sob a obrigação de sustenta-las e
suscitar descendência a Malom por meio do casamento com Rute (Rt.4.5). Não
sabemos se o outro resgatador já era casado ou tinha pretensão em casar com
alguém, especificamente, nem qual era a situação financeira dele. Considerando
a ordem em que Boaz apresentou o assunto, podemos conjecturar que o outro
resgatador não tinha tão boa condição financeira como Boaz. Por alguma razão
não revelada, o outro resgatador não pôde assumir sua responsabilidade perante
Noemi e Rute. O acúmulo de obrigações tornara-se grande demais para o outro resgatador,
e isto prejudicaria sua vida (Rt.4.6). Então, o resgatador informa sua
incapacidade para cumprir a obrigação familiar. Esta resposta agradou
sobremaneira Boaz, trazendo alívio ao seu coração, pois, agora, Rute estava
mais perto do que nunca de ser sua esposa.
Dá para imaginar as inúmeras sensações que se misturaram
dentro de Boaz: alívio, alegria, gratidão, conforto e pressa para concretizar o
acordo legal. Boaz suspira satisfeito por ter recebido do Senhor aquela
adorável missão. A transferência é selada conforme o costume da época, e Boaz
recebe um dos sapatos de seu parente como penhor do contrato firmado (cf.
Gn.38.18). Então, Boaz profere o contrato solene diante dos anciãos da cidade,
confirmando seu direito à compra da terra de Noemi e ao casamento com Rute, a
fim de suscitar descendência ao falecido. Boaz estava feliz, pois a bela e
virtuosa Rute seria sua esposa. Mas, algo maior do que a realização do sonho de
Boaz e Rute estava se cumprindo. Boaz adquiriu o direito à bendita linhagem
santa do futuro Salvador, o Messias prometido.
Israel era a nação profética de Deus, herdeira desse
maravilhoso ministério, a fim de proclamar a Salvação do Senhor geração após
geração (Rm.3.2). Por isso, os anciãos profetizam as bênçãos do Senhor sobre a
vida de Boaz e Rute, tornando-os herdeiros das bênçãos de Abraão, Isaque e Jacó
(Rt.4.11-12). O propósito do romance estava prestes a ser alcançado: a sucessão
da linhagem santa, conforme a escolha divina das famílias. Mais uma estrangeira
entra na genealogia por meio de sua fé no Deus de Israel, como sinal profético
de que a salvação do Senhor alcançaria famílias de toda a Terra. Por isso, de
tantas mulheres em Belém de Judá, o Senhor decidiu que uma estrangeira fosse a
herdeira das promessas, casando-se com um fiel servo de Deus.
A providência do Senhor é consumada com o nascimento do
filho de Rute, Obede. Deus é louvado pela vida da criança (Rt.4.13-14), pois
sua benevolência foi manifesta graciosamente na vida de Noemi e na vida de todo
o Israel. Por meio dele, o caminho do perfeito Resgatador estava garantido.
Portanto, a esperança de Israel estava viva, germinando lentamente pelo curso da
história, aguardando a chegada da primavera quando, finalmente, daria seu
fruto, o nascimento do Filho de Deus. Os versículos finais confirmam o
propósito do Senhor e sua presença atuante em todo o tempo (Rt.4.13-22). Nada
aconteceu por acaso, nem as angústias passadas nem as alegrias presentes. Desta
forma, em Rute, Deus revela sua superabundante graça sobre os gentios,
preanunciando a entrada deles no povo de Deus, e lembra ao seu povo que o
Senhor é o único refúgio e esperança para Israel.
O projeto redentor de Deus é maior que nosso mundo privado!
Para entendermos melhor a vida cristã é preciso encaixá-la dentro da moldura da
redenção. Ao emoldurar nossa vida dentro da redenção divina, entendemos melhor que
os sofrimentos, as escolhas, as alegrias, as frustrações, a capacitação de cada
cristão e cada passo de nossa vida possuem valor eterno, cumprindo papel importante
dentro da redenção. Semelhante a Rute, não teremos respostas para todas as
circunstâncias de nossa vida. Assim como ela não fazia ideia que a tragédia em
Moabe seria o início para uma nova vida em Belém, também não sabemos por quais
caminhos o Senhor nos conduzirá, mas sempre teremos a certeza de que tudo será para a glória do Senhor.
Portanto, faça com que a vontade de Deus seja seu maior
desejo. É provável que você já tenha se perguntado muitas vezes: Será que Deus
não quer minha felicidade? Por que Deus não atende ao clamor de meu coração? Tenha
certeza de que o Senhor quer sua felicidade, e Ele conhece bem seu coração.
Porém, é preciso que seu coração tenha prazer no Senhor, agradando-se de sua Santa
e Perfeita vontade (Sl.37.4). Pergunte-se: Por que desejo estas coisas? Talvez
você esteja colocando a criatura no lugar do Criador, fazendo Deus de gênio da
lâmpada mágica. O casamento é prazeroso ao homem e à mulher, e o verdadeiro
amor conjugal é uma das mais encantadoras experiências da vida. Contudo, o
propósito do casamento não finda com a satisfação mútua dos cônjuges. Por meio
do casamento, Deus deve ser glorificado no reconhecimento diário de sua graça e
presença, no testemunho de seu tão grande amor, na propagação da Palavra do
Senhor, geração após geração. Pergunte-se, então: Qual meu propósito para o
casamento? Quando estiver certo de que seu propósito é manifestar a glória de
Deus aqui na terra, então peça a Deus um cônjuge, para que, juntos, possam
viver a história da redenção.
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