“Responde-me
quando clamo, ó Deus da minha justiça...” (Sl.4.1)
Parece ousadia, mas é confiança na
graça de Deus que justifica o pecador. Davi conhecia sua natureza frágil e
pecadora (Sl.103.14), mas a Palavra do Senhor já havia revelado que a graça de Deus
superabunda sobre todas as fraquezas humanas, pois Adão e Eva foram tratados
com graça e misericórdia no dia em que transgrediram a Lei do Senhor. A
história de Israel está repleta de manifestações da graça superabundante de
Deus que sempre se revelou disposto a perdoar aqueles que se achegam
humildemente e salvar o povo que Ele mesmo escolheu para nele glorificar Seu
Santo Nome. Portanto, Davi estava atento à Palavra do Senhor, de forma que sua
confiança nas promessas divinas fazia-o se achegar à presença do Senhor, pois
sabia que encontraria em Deus um abrigo seguro contra todo mal.
Davi viveu muitas experiências
angustiosas, mas, também, intervenções graciosas de Deus, por meio das quais
foi amparado diversas vezes em meio à tribulação. Suas difíceis experiências,
acompanhadas pela Revelação divina, o ajudaram a ver que Deus está presente em
todo tempo, tanto na angústia quanto na alegria daqueles que Ele ama, pois o
Senhor “distingue para si o piedoso”
(Sl.4.3). Desta forma, Davi se sentia firme em Deus e disposto a desbravar as
intempéries da vida por amor ao Senhor, pois nem mesmo todas as perseguições
que o mundo lhe trouxesse o fariam desistir de andar na presença de Deus, pois
o Senhor era seu sustento. Davi experimentou o ódio de Satanás e do mundo
contra os filhos de Deus, mas não desistiu de continuar lutando pelo Senhor da
glória, pois encontrava em Deus força e abrigo, firmeza e alegria, graça e paz.
Portanto, a principal arma de Davi, contra os inimigos, era a confiança em Deus
(Sl.4.4-5), sabendo que o Senhor o defenderia, pois julga os homens com justiça
e ama os que esperam nEle.
Por que, então, Davi foi tão
angustiado? Por que, após ter sido ungido pelo profeta Samuel, sua vida foi
transtornada? A resposta está no plano da redenção. Satanás perseguiu o povo de
Deus por toda a história redentora, desde Adão e Eva, tentando impedir que o
prometido Salvador pisasse a cabeça da serpente (Gn.3.15). Os evangelhos e o
livro de Apocalipse revelam as muitas investidas de Satanás para impedir o cumprimento
da salvação. Davi havia sido escolhido não só para ser o rei de Israel, mas,
também, o pai do Salvador. Matá-lo seria um meio de impedir que Deus cumprisse
sua promessa. Por isso, Davi teve uma vida tão atribulada. Mas, além disso,
seus clamores tipificavam o sofrimento de Cristo. Por meio dos Salmos
davídicos, podemos ouvir o clamor e confiança de Jesus em face às perseguições
de seus inimigos, pois diversos dos Salmos de Davi ecoam nos evangelhos pela
boca de Cristo (Sl.6.8; 8.2; 22.1; 31.5; 41.9; 109.25; 110.1 etc.). O
sofrimento de Davi e a perseguição injusta que sofreu de muitos do povo de
Israel prefiguraram o sofrimento de Jesus, perseguido, maltratado, traído e
morto pelo seu próprio povo.
Portanto, os salmos de Davi falam
ao nosso coração amplamente. Por meio deles, somos lembrados das promessas do
Senhor e exortados a conhecê-las, sabendo que o Espírito de Deus traz paz, em
plena guerra, por meio de nossa confiança nas promessas que Deus nos deu
(Fp.4.6-7), pois o Senhor é poderoso para dar “mais alegria” ao nosso coração do que a alegria que o mundo tem, “quando lhe há fartura de cereal e de vinho”
(Sl.4.7). Além disso, devemos, também, estar atentos ao que Deus tem feito em
nossa vida, a fim de que agradeçamos ao Senhor e testemunhemos de seu amor e
graça derramados sobre os que o buscam de todo seu coração. Por meio dos
salmos, ouvimos a voz de Cristo clamando em nosso lugar, pois Ele sofreu para
nos salvar. Seu clamor nos lembra de que Jesus já pagou o preço de nossa
redenção, a fim de que vivamos em esperança, pois Ele venceu e voltará para
buscar todos os que confiam nEle.
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