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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Como olhar para os problemas

Vós, na verdade, intentaste o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida.” (Gn.50.20)

Por causa do pecado no mundo, os problemas se tornaram parte natural da vida. Após a transgressão da Lei do Senhor (Gn.3.6-7), não somente Adão e Eva receberam castigos, mas a criação foi sujeita à desarmonia, passando a produzir “cardos e abrolhos” (Gn.3.16-19). O paraíso foi tirado de Adão e Eva, e, com o pecado, a morte entrou no mundo, junto a todos os problemas que hoje sofremos. Mas, como bem sabemos, Cristo veio ao mundo para restaurar o que se perdeu, e, como diz a canção, Jesus “morreu a nossa morte pra vivermos sua vida”. Contudo, o projeto restaurador de Cristo ainda não foi concluído, os problemas ainda estão presentes no mundo, e mesmo que a justiça de Deus já tenha sido satisfeita (Rm.5.1), o cristão ainda está sujeito a todo tipo de problema (Jo.16.33), pois o mundo onde vivemos ainda “jaz no maligno” (1Jo.5.19).

A Escritura Sagrada narra parte da vida de diversos personagens e todos eles passaram por problemas, afinal problemas são parte natural da vida por causa do pecado. A lista de “heróis da fé” do livro de Hebreus (Hb.11), demonstra isso com excelência. Mas, a razão do autor de Hebreus destacar os personagens de sua lista não está no tamanho dos problemas deles, pois na história humana muitas pessoas passaram por problemas semelhantes e até piores. A causa do destaque de todos aqueles personagens bíblicos se encontra na forma como eles olharam para os problemas e o modo como lidaram com cada dificuldade, cumprindo importante papel dentro da história redentora. Eles olhavam a vida de uma forma diferente daquele que encontramos no mundo, pois seus olhos estavam fitos no Deus de Israel (Hb.12.2). Por isso, deixaram importantes marcas na história da redenção, como nos diz Hebreus 11.32-40:

E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas,  33 os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões,  34 extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros.  35 Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição;  36 outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões.  37 Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados  38 (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.  39 Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa,  40 por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados. (Hb.11.32-40)

Já que os problemas são parte natural deste mundo, como devemos olhar para eles? As pessoas, em geral, olham de forma diferente para os problemas da vida: umas superdimensionam os problemas e se afundam num poço de amargura por causa das angústias da vida; outras se aborrecem extremamente por causa das tribulações e murmuram contra Deus, contra todos e contra tudo. Algumas pessoas mais desbravadoras olham para os problemas como obstáculos a serem transpostos e seguem em frente procurando vencer os desafios, orgulhosas consigo mesmas pelas vitórias alcançadas sem o auxílio de ninguém; outras “deixam a vida levar”, seguindo o curso do rio sem preocupação com nada, quer sejam conduzidas ao que é bom ou ao que é mau. Nenhuma dessas formas de olhar para os problemas é adequada, por causa da ausência do Senhor na vida daquele que passa pela tribulação. Sem Deus, o olhar do homem para a vida é sempre embaçado, desfocado e distorcido, sem compreender a causa e o propósito da vida humana, pois eles só existem no Criador. Para o homem sem Deus, o mundo é obra do acaso, e a vida é tudo o que lhe resta. Portanto, sem Cristo, o homem não consegue ver a manifestação da glória de Deus que se revela naqueles que esperam no Senhor, em meio aos problemas da vida.

Como Deus quer que olhemos para os problemas da vida? As Escrituras possuem diversas narrativas que nos mostram problemas, grandes ou pequenos, como instrumentos para a satisfação da vontade de Deus e bem-estar de seu povo. A igreja deve olhar para os problemas como meios e não fins, tendo Deus como Soberano sobre todas as circunstâncias da vida. Por esta razão, Paulo diz aos cristãos de Roma que a “tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.” (Rm.5.3-4). Portanto, a igreja deve pedir sabedoria ao Senhor para lidar com os problemas, não tendo medo das tribulações, pois sofrimentos formam o ambiente no qual Deus trabalha nosso caráter, fortalece nosso coração, amadurece nossa espiritualidade, firma nossa fé e atrai nossos olhos para Cristo, a fim de que tenhamos somente nEle toda nossa alegria e esperança.

A queda do homem é um desses problemas, pois sem ela jamais veríamos a glória do Cristo que morreu e ressuscitou, mostrando seu tão grande amor para nos dar vida eterna (Rm.5.8; Ap.5.5-14). Mas, não desejamos tratar desse assunto no momento, uma vez que ele requer uma dedicação exclusiva. Ainda em Gênesis, nos deparamos com uma longa e árdua história sobre a vida de José. Ele foi vendido para os midianitas por causa da inveja dos irmãos (37.27-28) e preso injustamente no Egito por causa da mulher de Potifar (Gn.39.7-20). Além disso, Judá sofreu a perda de seus filhos e mulher (Gn.38), e uma grande fome assolou o mundo, alcançando Jacó e toda sua casa (Gn.42.1-2). Todos esses eventos problemáticos formaram o cenário para a manifestação da salvação de Deus e o cumprimento da profecia dada para Abraão: “tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos” (Gn.15.13). Ao fim de toda aquela jornada, Deus revelou por meio de Jacó que o Messias seria descendente de Judá e Rei sobre toda a terra (Gn.49.8-12). O Senhor, também, se mostrou poderoso para garantir o cumprimento de sua promessa redentora (Gn.3.15), mesmo em meio às maiores adversidades. Em Êxodo, o sofrimento dos filhos de Israel, escravizados e maltratados pelos egípcios, formou o ambiente no qual Deus manifestou suas maravilhas, se revelando como o redentor de seu povo (Ex.2.23-25). A grande tribulação do povo foi instrumento para a revelação tipológica da gloriosa e poderosa salvação de Deus, subjugando os inimigos de Israel (Ex.6.1).

Mais adiante, encontramos o lindo romance entre Rute e Boaz, bisavós de Davi (Rt.4.13-22). Mas, antes que tudo ficasse lindo, ocorreu uma grande tragédia na família de Noemi, quando estava na terra de Moabe (Rt.1.1-5). Em meio ao sofrimento, Rute pôde mostrar sua fé no Deus de Israel, e o Senhor revelou que mesmo em meio ao caos, semelhante aos dias de Juízes, quando “cada um fazia o que achava mais reto” (Jz.21.25), Ele é poderoso para preservar seu povo e dispensar graça na vida daqueles que esperam nEle. No livro de Samuel, o sofrimento de Ana foi o instrumento para que Deus trouxesse ao mundo um grande profeta, Samuel. Deus ouviu a oração de Ana e a tornou fértil. Mas, antes disso, por causa da angústia Ana prometeu ao Senhor a consagração completa de seu filho para serviço exclusivo ao Senhor (1Sm.1.1-28). Nos dias da igreja do Novo Testamento, a perseguição advinda aos cristãos foi instrumento para a proclamação do Evangelho ao mundo (At.8.1-8), fazendo com que a Palavra do Senhor chegasse aos gentios. Ao serem perseguidos, os cristãos se espalharam pelas cidades e regiões vizinhas e, aonde iam, pregavam a Palavra de Deus (At.8.4). Por esta razão, os gregos ouviram o Evangelho, e uma grande e importante igreja surgiu em Antioquia (At.11.19-26). Há muitas outras histórias para serem citadas, mas seriam necessários muitos livros, a fim de discorrer sobre cada narrativa que nos conta como os problemas foram instrumentos para a revelação do amor, misericórdia, justiça, graça e glória de Deus.

Nossa geração tem trazido uma série de problemas ideológicos para a igreja, criando sensacionalismos em tudo que aparentemente possa ser usado para denegrir a imagem do cristianismo, pois é uma geração inimiga de Cristo. Mas, os problemas presentes estão proporcionando um cenário favorável para que a igreja glorifique a Deus, dando respostas aos sofismas e contradições criados pelos “doutos” deste século. Por essa razão, glorifico a Deus ao ver jovens dispostos a combater o bom combate do Senhor, lutando com zelo para defender a igreja, anunciando a Verdade. Os problemas surgiram como dores de parto para que a igreja de nossa geração trouxesse à luz grandes apologistas. Se não houvesse problema não haveria a necessidade de resposta; e com tudo aparentemente bem, muitos se acomodam numa vida infrutífera. Agora, diante da necessidade de se lutar, a igreja deve pedir sabedoria para que cumpra sua missão por meio da pregação fiel da Palavra de Deus.

Também não podemos deixar de citar os muitos problemas na área da saúde, da política, da economia e da educação que temos vivenciado em nossos dias. A complexidade da vida social dos dias atuais trouxe consigo muitos problemas igualmente complexos, exigindo, da igreja, sabedoria para lidar com todos eles. Não é possível sabermos qual o propósito específico do Senhor para tudo o que tem acontecido em nossos dias, mas temos a certeza que Deus faz todas as coisas para cumprir seus eternos propósitos, de acordo com sua vontade que é boa, agradável e perfeita (Rm.12.2). E mesmo que a igreja não saiba exatamente o que Deus está operando, ela precisa confiar no Senhor, lembrando de suas promessas que nos dizem: “eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt.28.20) e: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente” (Rm.11.36).

Como, então, olhar para os problemas? Como ambientes no meio dos quais Deus opera sua vontade em nós e revela sua graça e poder para nós. É nesse contexto que devemos compreender as palavras do apóstolo Paulo: “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm.8.28). Guardando tal promessa, o coração do Cristão se enche de quietude, demonstrando sua plena confiança em Deus, Senhor de tudo, pois “a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp.4.7). Portanto, entregue suas ansiedades ao Senhor (Fp.4.6) e descanse nEle, sabendo que “o mais Ele fará” (Sl.37.5). Na escassez de alimento, a Escritura nos conduz a Cristo, nosso pão do céu (Jo.6.35); e, na falta de água, o Espírito do Senhor vem saciar-nos a sede de Deus (Jo.4.10). Nas perdas de quem amamos, somos consolados pela esperança da vida eterna, pois todos vivem diante do Criador (1Ts.4.13-18); e, nas angústias da vida, somos desafiados a depositar nossa felicidade em Deus, fonte de toda alegria. Portanto, levante o rosto, olhe para Cristo e prossiga fazendo a obra do Senhor, sem deixar que os problemas da vida atrapalhem sua jornada com Cristo e para Cristo. E, se a tribulação lhe parecer grande demais, clame ao Senhor pelo socorro (Sl.121.2), pois ainda que andemos “pelo vale da sombra da morte” não deveremos temer mal nenhum, porque Tu, ó Senhor, estás conosco (Sl.23.4); e manifestará sua graça e poder em sua igreja.

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