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sábado, 7 de maio de 2016

Autocomiseração e traumas


 tudo posso naquele que me fortalece” (Fp.4.13)


A vida é marcada por muitas lutas, desafios e tribulações. Portanto, precisamos ser fortes para enfrentar o mundo que jaz no maligno (1Jo.5.19), um mundo amaldiçoado por Deus (Gn.5.29). E alguns desses problemas podem ter dimensões bem grandes, capazes de deixar profundas marcas que não serão esquecidas durante muito tempo. Quando isso acontece, dizemos que a pessoa ficou traumatizada. Algo deixou uma marca tão profunda nela que é difícil esquecer. Você já passou por algum evento ruim em sua vida, que tenha deixado marcas profundas?


Você já leu a história de José? Ela vai do capítulo 37 ao 50 de Gênesis. (Gn.37-50). Na verdade, é a história de como Deus preservou a família de Jacó em meio à grande fome que assolou a terra nos dias do patriarca. Nesse texto, o penúltimo filho de Jacó, chamado José, percorre uma longa e difícil jornada traumatizante. Todavia, o final da história nos revela que José louvou a Deus ao entender que o Senhor tinha grandes e bons planos com tudo o que acontecera em sua vida.


O texto começa mostrando o sentimento de inveja que havia nos irmãos de José. E com o tempo o problema cresce a tal ponto que eles planejam a morte de José. Convencidos de que matar o irmão não seria uma boa ideia, os irmãos o vendem como escravo para uma caravana de mercadores midianitas (Gn.37.28). A jornada traumatizante de José começa em Dotã, onde seus irmãos apascentavam o rebanho do pai (Gn.37.17). Foi lá que os irmãos o maltrataram e depois o lançaram em uma cisterna sem água (Gn.37.23-24). Aquele dia ficou na memória de José por muitos anos, gravado no nome de seus dois filhos: Manassés (da raiz “esquecer”) e Efraim (frutífero), que nasceram no Egito (Gn.41.51-52).


A caravana de mercadores midianitas vendeu José para um oficial de Faraó: Potifar (Gn.37.36) que logo fez bom proveito do trabalho de José (Gn.39.1-6). Portanto, aquele que viveu em um lar próspero, a casa de Jacó (Gn.33.11), estava trabalhando como escravo em terra estranha. A situação torna-se ainda pior quando José é injustamente acusado de tentar coabitar com a esposa de Potifar (Gn.39.7-20). Por essa causa, José é lançado ao cárcere egípcio, onde passou mais de dois anos (Gn.40.15; 41.1). 


Foram longos e difíceis os anos de José no Egito (Gn.37.2//41.46,51). Ele tinha muitas razões para ficar revoltado e traumatizado. Contudo, seu proceder durante todo esse tempo foi temente e fiel a Deus, sem reclamar ou culpar o Senhor por todo sofrimento injusto que passara. Em seu posterior encontro com os irmãos, José demonstrou maturidade espiritual, compreendendo que Deus estava em todo tempo no controle de tudo, tanto dos momentos ruins quanto bons (Gn.45.5,8). Desta forma, José glorificou a Deus perante seus familiares e diante de toda a nação do Egito (Gn.50.19-21).


A psicologização da sociedade a tornou frágil e traumatizada. Um exemplo disso pode ser encontrado no exagerado combate ao Bullying. Conforme os “especialistas”, as crianças podem ficar traumatizadas se forem chamadas de gordas, magras, baixas, altas, brancas, pretas, burras, inteligentes demais, hábeis, desengonçadas etc. Fundamentados na mesma ideologia, o governo criou cotas para quase tudo; e, querendo igualar os homens, terminou por confirmar as diferenças, mostrando para todos que certos grupos precisam ser tratados como “especiais”. Desta forma, estão criando uma geração de autocomiseração e traumas. As pessoas sentem compaixão delas mesmas e enchem as salas dos psicólogos, traumatizadas com tudo e com nada. Isso demonstra que a presente geração está doente, melindrosa e egocêntrica.


O evangelho é o remédio contra a fragilização da sociedade. Pessoas fracas não são capazes de encarar os problemas, pensando na glória de Deus; pessoas fracas acham que Deus só está com elas quando tudo está bem; pessoas fracas abandonam a igreja quando aparece o primeiro problema; pessoas fracas não estão prontas para sofrer por Jesus e morrer por Ele, quando for necessário. As pessoas não precisam de cotas para vencer, elas precisam confiar no Senhor, a fim de que lutem bravamente contra as intempéries da vida (Sl.23.4). O Evangelho mostra o Cristo que sofreu tanto os males provenientes dos homens quanto a ira do Deus Todo-Poderoso, mas venceu. Para isso, teve que viver entre pecadores maus; suportar as afrontas de seus inimigos; sofrer humilhações, angústias, dores e açoites; ser entregue por um dos discípulos que o acompanhou três anos; e, por uma multidão que, depois de ter recebido seus milagres, pedira a Pilatos para que o crucificasse (Lc.23.18-24). E mesmo encravado numa cruz, Jesus olhou para as multidões e disse ao Pai: “perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc.23.34).


A alegria do Senhor é vossa força” (Ne.8.10), disse Neemias e Esdras, fortalecendo o coração do povo para que seguisse em frente, sem chorar as angústias do passado. Autocomiseração enfraquece o coração do soldado que precisa estar forte para a guerra, mas o Espírito do Senhor fortalece nossas mãos para a batalha (Sl.144.1; Ef.6.11-18). Paulo não era melhor do que eu ou você, mas, na força do Senhor (Ef.6.10), venceu inumeráveis lutas, conforme nos conta sua imensa lista de tribulações sofridas por Cristo (2Co.11.23-27), sem traumas, sem murmurações, sem autocomiseração. Você não precisa que alguém massageie seu ego para tirar traumas. Você precisa de Cristo, para não deixar que angústias da vida se tornem traumatizantes. Profissionais dirão o que você quer ouvir, para que você se sinta bem. No entanto, Cristo dirá para você, por meio da Escritura, o que precisa ouvir, para que você deixe de amar mais a si mesmo do que a Deus, pois somente assim você estará pronto para glorificar o Senhor, “quer pela vida, quer pela morte” (Fp.1.20).

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