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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Divididos pela vaidade

Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste.” (Mt.6.1)

Lembro-me de ter assistido, em jornal nacional, uma matéria que apontava para o aumento da vaidade nas grandes cidades. O quadro abordava mais especificamente a vaidade masculina, pois esta ganhou um crescimento significativo, que não era comum, e um número maior de homens passou a agir como metrossexual, ou seja, como “moderno narcisista das grandes cidades, que gasta tempo e somas consideráveis de dinheiro com a aparência e seu estilo de vida” (definição do dicionário).
Contudo, a vaidade está em alta não apenas na estética. Bilionários aparecem em revistas e jornais como benfeitores de grandes valores. Eles são elogiados, aplaudidos e tratados com destaque por causa das grandes doações que fazem para entidades não governamentais que trabalham com necessidades humanas. Ao ouvir tais matérias, é quase impossível não lembrar as palavras do Senhor Jesus: “Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.” (Mt.6.2)
Mas, ainda tenho visto outro instrumento para o envaidecimento pessoal: a busca pelo saber. Ouvi, certa feita, um pastor dizer no púlpito que lia 100 livros ao ano. Não havia qualquer necessidade de se dizer aquilo, mas seu coração vaidoso queria ser aplaudido, e, então, com aparência de piedade, buscou glória daqueles que estavam presentes. Vivemos a cultura da vaidade, tanto física quanto intelectual. As pessoas querem mostrar algo para as outras: status, beleza, currículo, capacidades, eloquência etc. Atitudes assim, nos lembram das palavras de Jesus: “quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa” (Mt.6.5). Essa tentação adentrou as portas da igreja, se mostrando mais perigosa ainda ao se trajar com aparência de piedade.
O envaidecimento é uma tentação para todos. Os personagens bíblicos também corriam esse risco. Contudo, ao ver seu ministério se esvair naturalmente, pois já havia cumprido seu papel, preparando o povo para receber o Messias prometido, João Batista não se preocupou com sua imagem. No cárcere, preso por ordem de Herodes, João Batista não estava preocupado com sua fama, mas com o cumprimento das promessas messiânicas feitas pelos profetas do Antigo Testamento (Mt.11.2-3). Seus discípulos deveriam seguir o verdadeiro mestre, Jesus, pois o propósito do ministério confiado a João Batista era apontar para Cristo (Jo.1.36-37).
Outro personagem que poderia ter caído na tentação da vaidade foi Paulo. Ele possuía diversos privilégios que recebera como herança de seus pais e outros que adquirira durante seus longos anos de estudo (Fp.3.4-6). No entanto, Paulo não se vangloriava neles, “jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós, nem de outros” (1Ts.2.6). Seu propósito era glorificar a Deus, anunciando o evangelho, pois tanto sabia que havia sido chamado com este propósito quanto tinha em seu coração o pleno amor pelo Senhor e Salvador de sua vida. Os dons que possuía e o amplo conhecimento da academia não eram usados para envaidecimento, por isso rejeitava elogios de homens e dispensava demonstrações de eloquência com aparência de piedade. Aos coríntios, Paulo diz que esteve entre eles “anunciando-vos o testemunho de Deus, não [...] com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” (1Co.2.1-2). Quando reuniu os presbíteros de Éfeso, o apóstolo deixou claro que não estava preocupado com o curso de sua vida, nem com sua imagem, pois em nada considerava “a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At.20.24).
Por que você doa esmolas? Por que almeja o doutorado? Por que filma seus sermões? Por que realiza determinados eventos? Por que escreve livros? Por que fala bonito nos sermões? Escrevendo aos Filipenses, Paulo nos mostra que até as melhores obras podem esconder más motivações dos corações. Algumas pessoas estavam pregando o evangelho por “inveja e porfia”, pois queriam chamar a atenção para si (Fp.1.15). Portanto, é importante que você pergunte a si mesmo: Por que eu quero realizar tais coisas?
Um amigo me abordou falando sobre a carência de líderes cristãos, nos dias atuais, que façam diferença como fizeram os reformadores. Porém, diferente do que parece, o problema não está apenas na falta de conhecimento das Escrituras, por parte de alguns. Um dos grandes problemas que as igrejas reformadas têm sofrido é a aderência ao exclusivismo que privilegia a liderança local. A vaidade dos líderes os cegou, e eles têm estado muito ocupados com a busca pelo próprio crescimento, esquecendo do crescimento do Reino de Deus. Por essa razão, vimos, em 2013, uma grande queima de fogos, promovida por uma igreja local, que desperdiçou dinheiro que poderia ter sido investido em tantas coisas proveitosas. Pregadores vaidosos não pregam em qualquer igreja, não se envolvem com qualquer obra, não se unem aos companheiros de ministério.
As igrejas estão cheias, pois os líderes atraem as multidões para si, mas o Reino de Deus não parece estar crescendo em igual proporção, pois aqueles que se tornam membros nas igrejas locais não demonstram alegria em Deus, amor pela obra e desejo de viver para a glória do Senhor, pois eles seguem apenas seus líderes, indo para onde eles vão. Portanto, um dos fatores que está contribuindo para a defasagem do cristianismo atual é a vaidade de seus líderes. Por causa deles, a igreja está dividida. Não há interesse em ver o Reino crescer, mas a própria imagem. Por isso, investem no próprio ministério, mas não investem no Reino.
Vi de perto esse fenômeno quando jovens da federação de mocidades procuraram agregar os jovens de outra igreja local, mas foram rejeitados pelos próprios líderes locais. Eles querem levar adiante ministério exclusivos, separando os próprios membros do convívio com as demais igrejas. Vi o individualismo vaidoso quando propagamos, entre diversas igrejas, a obra sócio-educacional-evangelística da igreja local a qual pastoreio, mas fomos ignorados. Mesmo possuindo uma escola cristã, com um sistema completamente cristão (Sistema Mackenzie de Ensino), relevante para a grande João Pessoa, não houve qualquer interesse dos demais em auxiliar o trabalho realizado pela igreja. Mas, se colocássemos o nome dos líderes no topo do prédio, será que eles ajudariam?
Talvez o problema pareça ser de “foro íntimo” apenas, mas o envaidecimento da liderança cristã enfraqueceu o cristianismo, pois o dividiu criando diversos ministérios solos. Não deixe que a vaidade cegue seu coração. A sociedade carece de uma igreja unida, forte, que trabalha para glorificar a Deus, servindo com amor e determinação, pregando o evangelho transformador, sem relativismo, sem pluralismo, sem liberalismo, sem vaidade. Para que isto aconteça, os cristãos precisam buscar o conhecimento de Deus e a prática dele, não para envaidecimento pessoal, mas para apontar Cristo ao mundo. Portanto, não faça algo para alimentar sua vaidade e status perante os homens. Faça escolhas para glorificar Cristo em sua vida, mesmo que você não seja visto por isso.

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