“Não confieis em príncipes, nem nos filhos
dos homens, em quem não há salvação. Sai-lhes o espírito, e eles tornam ao pó;
nesse mesmo dia, perecem todos os seus desígnios. Bem-aventurado aquele que tem
o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no SENHOR, seu Deus, que
fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e mantém para sempre a sua
fidelidade.” (Sl.146.3-6)
Ele
acordou às 06 horas da manhã, e o céu estava fechado com negras nuvens que
regavam fortemente a terra. Seguindo o solitário rito diário, toma um banho
frio e come um pão amanteigado acompanhado com uma xícara de café. Debaixo de
um guarda-chuva ele sai de casa pisando cuidadosamente sobre o chão molhado. No
tempo previsto, o ônibus chega já carregado com muitos trabalhadores e
estudantes daquele dia. Por causa da chuva, as janelas são mantidas fechadas e
o ar fica denso e quente dentro do ônibus que leva meia hora para chegar ao
destino. Enquanto isso, em pé, em meio ao ônibus, ideias vagas preenchem a
mente ainda cansada da noite mal dormida. Durante o dia, os funcionários da
empresa são lembrados que a crise econômica do país também afetou o
estabelecimento, trazendo riscos para seus trabalhadores. A possibilidade de
ser demitido fica em suspense, preocupando o coração, pois o sustento de sua
família depende daquele emprego. À tardezinha, cansado de mais um dia de
trabalho, ele volta para casa, molhado, preocupado e triste. No coração, a
sensação de que a vida se esvai por entre os dedos, pois não consegue
conduzi-la conforme sua vontade. Insegurança, medo e incertezas o fazem sentir
que a vida está fora de controle, tirando de seu coração qualquer vestígio de
paz que pudesse ter. Em meio a um suspiro, pensa em como a vida poderia ser
melhor se fosse rico, se tivesse segurança e controle sobre sua vida.
Apesar
de ser uma estória, a narrativa acima descreve o dia a dia de muitas pessoas. Nem
sempre os dias são chuvosos nem muito menos melancólicos. Um grande número
possui carro, e trafega com certo conforto nas idas e vindas do trabalho. Mas,
no coração se encontra o mesmo sentimento; na mente, os mesmos anseios; e, nas
mãos, o mesmo esforço por alcançar estabilidade, certeza do amanhã, controle da
vida. A sensação de não ter controle sobre a vida tira o sossego do coração de
muitos homens e mulheres. Por esta razão, a busca por estabilidade está entre
os principais anseios do coração do homem contemporâneo preocupado com o
futuro. Cursinhos repletos de alunos e concursos com milhares de inscritos dão
largada à corrida por uma vida segura e tranquila, supostamente proporcionada
por um emprego público. Desta forma, o governo assume o papel divino da providência
e, como sumo benfeitor, promete garantir o “pão nosso de cada dia” para todos
os filhos da pátria. Dinheiro certo no bolso, boa casa, carro e poupança para
socorro à necessidade não prevista parecem trazer ao coração uma sensação de
paz e segurança: a falsa ideia de que tudo está sob controle.
Nos evangelhos, também encontramos pessoas preocupadas com a segurança do amanhã. Certo
dia, um homem vai ao encontro de Jesus e pede que o mestre intervenha na
divisão dos bens que os pais haviam deixado para ele e seu irmão (Lc.12.13-21).
Apesar de haver leis sobre a divisão de uma herança (Dt.21.15-17), parece que
os bens não haviam sido repartidos de forma justa, suscitando uma briga
familiar pelos bens deixados pelos pais. Jesus vê a falta de amor e a avareza
por traz da busca por uma divisão justa, e repreende o homem que o havia
procurado. As preocupações daquele homem eram semelhantes aos cuidados de nossa
geração. Durante seu curto ministério, Jesus se deparou com diversas multidões
preocupadas com o futuro, buscando no dinheiro a certeza do amanhã seguro,
procurando alguém que pudesse dar-lhes garantia do pão diário (Jo.6.1-71). Diante
do pedido daquele homem, Jesus conta, aos presentes, uma parábola para
adverti-los a não colocarem o coração sobre o dinheiro, “porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele
possui” (Lc.12.15).
Na
parábola contada por Jesus, um homem enriquece e decide viver o restante de
seus dias usufruindo das riquezas que conseguiu (Lc.12.16-20). Os muitos bens
que o homem alcançou trouxeram ao coração dele a falsa ideia de segurança,
controle sobre a vida, afinal ele poderia ter o que quisesse. Por causa do
muito dinheiro, ele pensava não precisar se preocupar com nada mais, pois tinha
tudo o que era necessário para uma longa vida de prosperidade e conforto,
cogitava consigo mesmo. Desta forma, o dinheiro se tornou o deus do coração do
homem rico, sua fortaleza. A segurança da vida foi depositada sobre o ouro e a
prata, e deles passaria a viver todos os seus dias. A parábola retrata a realidade dos dias de Cristo, pois, semelhante ao homem
contemporâneo, a geração de Jesus pensava que felizes eram os ricos, pois
podiam fazer tudo o que quisessem. O filme “À procura da felicidade” é um
perfeito retrato da busca do homem pela segurança financeira. Nele, o
personagem principal decide lutar para conseguir um emprego estável,
ingressando num estágio oferecido por uma corretora de ações, pois lá, pensava
ele, estavam pessoas felizes, pessoas que poderiam ter tudo o que quisessem.
Mas,
ao contrário do que acontece no filme, o fim do homem rico, da parábola contada
por Jesus, é a morte prematura. A parábola contada por Jesus termina com uma
pergunta feita por Deus: “Louco, esta
noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?”
(Lc.12.20). O dinheiro daquele homem não poderia garantir-lhe a longevidade, e
a falsa ideia de controle da vida acabaria com sua morte iminente. Com isto,
Jesus mostrou que nem o propósito da vida do homem é alcançar riquezas nem estas são porto seguro para que o homem deposite nelas a sua confiança. Ao
contrario do que as multidões pensavam, Jesus estava presente entre os homens
para conduzi-los a Deus, fonte de toda felicidade e vida, não para trazer
prosperidade material para elas. Em toda a parábola, Deus é o centro da vida para
o qual o homem rico deveria viver e, também, em quem deveria confiar, pois a
segurança da vida não se encontra nas mãos do homem, nem nos bens que possui,
mas na graça de Deus que “aos seus amados
dá o sustento enquanto dormem”
(Sl.127.2). A falsa ideia de controle da vida levou o homem rico à morte, assim
como conduziu Adão e Eva à queda, pois pensavam que seriam semelhantes ao Criador,
autônomos, capazes de ser deuses de si mesmos, sustentando a própria vida sem
Deus (Gn.3.5-6).
Deus
está no controle de tudo! Apesar da escassez de pão, da chuva lá fora, das
dificuldades diárias, das incertezas quanto ao amanhã, do contexto crítico do
mundo e de você não ter qualquer controle da vida, Deus está no controle de
tudo. É esta certeza que traz paz ao coração do cristão. Paulo advertiu aos
filipenses que não andassem “ansiosos de
coisa alguma” (Fp.4.6). A única coisa que deveriam fazer era confiar em
Deus, colocando as necessidades diante do Senhor “pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp.4.6). A plena
confiança em Deus, mesmo diante das incertezas da vida, traria paz ao coração
dos cristãos de Filipos, certos de que Deus estava no controle de tudo. Desta
forma, “a paz de Deus, que excede todo
entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.”
(Fp.4.7).
A
tranquilidade cristã não está no emprego estável, na poupança gorda, na
prosperidade dos bens. O cristão descansa nos braços de Deus, pois Ele prometeu
cuidar de nós (Sl.37). Por essa razão, os jovens não precisam ter tudo antes de
casar, mas o necessário para começar uma vida responsável em família; nem os
adultos devem ficar apreensivos quanto à aposentadoria. Por isso, as
tribulações são instrumentos para a edificação conduzindo, pela Palavra do
Senhor, à perseverança, experiência e esperança (Rm.5.3-5). Porque Deus está no
controle, o cristão é confortado com a certeza de que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles
que são chamados segundo o seu propósito” (Rm.8.28). Sabedor disso, José
olhou para a traição de seus irmãos e à dura jornada que foi obrigado a trilhar
no Egito como instrumentos de Deus para a preservação da vida (Gn.45.5), e
nisso glorificou a Deus, descansando nas mãos do Senhor.
Tudo
está sob controle, porque Deus é Senhor de tudo. Você nunca terá controle sobre
sua vida, nem mesmo nos melhores dias dela. Saúde, prosperidade e conquistas
diversas não devem criar em você a falsa ideia de controle sobre a própria
vida. Após contar a parábola sobre o homem rico (Lc.12.13-21), Jesus adverte a
multidão para que “não andeis ansiosos
pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao
que haveis de vestir.” (Lc.12.22). Deus cuida de seus filhos com graça e
amor para que se preocupem apenas em servi-lo fielmente. Portanto, coloque sua
vida nas mãos do Senhor de onde ela jamais deverá sair, pois Deus é porto
seguro, “refúgio e fortaleza, socorro bem
presente nas tribulações” (Sl.46.1). Somente assim, você conseguirá ser
feliz em toda e qualquer situação, e, à semelhança dos apóstolos, louvará a
Deus mesmo em meio a cadeias (At.16.25), pois Ele será sua fonte de alegria,
sua segurança. Desta forma, verás que a paz de Deus estará em teu coração não
apenas quando tudo estiver bem, mas em todo tempo, porque seu coração estará
sob os cuidados do Senhor.
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