“quando
os teus juízos reinam na terra, os moradores do mundo aprendem justiça”
(Is.26.9)
Após uma guerra sangrenta, a nação que
conseguiu resistir até o fim é tida por vencedora, mesmo que seu exército tenha
sido quase todo dizimado. Ficam apenas alguns sobreviventes que voltarão para
casa levando a bandeira da vitória em suas mãos, mas estes darão à nação a
alegria da vitória. Os mortos serão chorados, mas a nação receberá seus
valentes vivos como heróis de guerra que venceram a batalha por todo o povo. É
assim que se vêem os horizontes de glória ou obscuridade da história humana.
A idade média é situada entre o século V e XV
da era cristã. É um período de aproximadamente mil anos, que viu o reinado do
cristianismo nascer, se desenvolver e se deteriorar na cúpula de sua
instituição. Para o mundo, foi um período de trevas, pois o cristianismo
conseguiu dominar sobre o paganismo idólatra e imoral dos povos romanos, gregos
e bárbaros. Para muitos evangélicos é um período de trevas, basicamente por
causa da associação com o Catolicismo Romano vigente que nasce e se desenvolve
neste período, quando erros foram cometidos pela liderança político-religiosa.
Mas, como Deus vê este período?
É bem verdade, que vários pecados foram
cometidos por alguns grupos tidos por cristãos, assim como hoje temos supostas
igrejas como: “Igreja Universal do Reino de Deus”, “Internacional da Graça”,
“Igreja Mundial do Poder de Deus” etc. Contudo, parece-nos que o olhar
protestante para o medieval tem perdido o foco. A história registra incidentes
lastimáveis vistos em pontos locais, atraindo os olhos da platéia para detalhes
de um grande cenário. E quando se olha para detalhes de um grande cenário, se
perde o propósito para o qual foi construído.
A glória do cristianismo medieval não está em
suas pequenas histórias locais, mas no seu todo. É desta forma que o Antigo
Testamento deve ser lido. Se fosse detalhada a vida de cada cidadão de Israel
nos diversos períodos de glória da nação, não haveria nenhum momento de
esplendor para o povo de Deus. No entanto, a glória do povo escolhido do Senhor
é narrada com triunfo. O livro de Hebreus nos conta os feitos heróicos daqueles
que venceram pela fé o mundo, mas se detalharmos a vida desses homens não
veríamos tanta beleza assim.
O reinado de Salomão foi o período de maior
glória da nação. Seu reinado foi próspero, seu domínio foi extenso e seu
governante considerado o mais sábio de todos os homens sobre a terra. Segundo a
promessa de Deus a Davi, o reinado de Salomão foi um tipo do Reinado Messiânico.
No entanto, se detalharmos o período do reinado de Salomão, veremos os muitos
pecados cometidos pelo líder e pelo povo, tirando assim a beleza do todo. Se
fizermos isto, perderemos o foco da história que é de glória e não derrota. Os
pecados têm seu valor, pois revelam que nenhum reinado neste mundo, por mais
sábio que seja, será perfeito até que Jesus, o Rei dos reis traga seu Reino em
plenitude e poder.
Como deveríamos, então, olhar para o período
medieval? Da mesma forma que devemos olhar para as glórias de Israel! Um olhar
de cima, numa visão panorâmica que revela a glória de seu todo, como numa
batalha não se conta o número de mortos, mas a vitória nas mãos do restante que
voltou para casa.
O cristianismo medieval foi glorioso, pois
triunfou sobre o paganismo mundial. O politeísmo de quase todas as principais
nações foi vencido e substituído pela adoração a um único Deus. A promiscuidade
dos povos pagãos foi substituída pelos valores éticos-morais do cristianismo. A
repugnante prática homossexual foi abolida e a poligamia sobreposta pela
monogamia cristã. Perceba que um olhar panorâmico da história
medieval nos proporciona uma visão da glória deste período tão perseguido por
todos.
Quando a reforma protestante chega, o
cristianismo medieval está desgastado, mas muitos de seus ensinos Bíblicos
perduravam ainda no coração de fiéis. Por isso a reforma aconteceu. Se não
houvesse homens com os ensinos medievais da Palavra de Deus no coração, não
haveria o avivamento do cristianismo. Neste período, “os moradores do mundo aprenderam justiça” (Is.26.9b) e o
cristianismo triunfou sobre o paganismo.
Desta forma, a reforma protestante é o
avivamento do cristianismo medieval que precisava renovar suas forças para o
período de trevas que se seguiria, pois paralelamente à reforma, ocorreu a
volta do mundo pagão ao paganismo Greco-romano que teve início no renascentismo
e iluminismo Europeus, seguidos por outros movimentos de caráter humanístico. O
homem voltou a ser a medida de todas as coisas e com isso, o mundo declarou a
morte de Deus, abandonou as Escrituras como regra de fé e prática e o retornou
à promiscuidade, implantada pouco a pouco até nossos dias.
Dentro desta óptica, a era cristã está
próxima de seu fim, e nossos dias maus cumprem seu propósito dentro das
profecias divinas. Se assim o for, o cristão teve seus dias de glória no
medieval, quando Cristo reinou por mil anos por meio do cristianismo. Mas, este
olhar só é possível se ampliarmos a visão da história, com o objetivo de vermos
o descortinar do grande projeto de Deus, nos desvencilhando, assim, da visão
individualista ocidental que olha tanto para si mesma que não consegue ver o
mundo ao seu redor.
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