“Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de
Deus como uma criança de maneira alguma entrará nele.” (Lc.18.17)
Ainda que pecadora desde sua concepção, a
criança transmite uma beleza singela: a natural fragilidade que a torna
plenamente dependente dos pais. A indefesa criança passará vários anos aos
cuidados de seus pais, sem qualquer possibilidade de cuidar de si mesma.
Alimento, higiene, proteção, educação, disciplina e amor deverão ser
administrados à criança, desde a mais tenra idade, para que ela cresça sadia e
se torne um adulto saudável física, moral e espiritualmente; e possa um dia
cuidar de outra pequena vida que será confiada às suas mãos.
Em determinado momento, após Jesus contar uma
parábola sobre a perseverança na oração, algumas crianças foram,
espontaneamente, ao Seu encontro para o tocar. À vista da espontaneidade delas,
a despeito da proibição dos discípulos, Cristo ensina às multidões sobre a
necessidade do homem se entregar a Deus de todo o coração como aquelas crianças
que estavam ao seu redor (Lc.18.17). A singeleza da fragilidade daquelas crianças,
vistas com certa indiferença pelos discípulos, se tornou um maravilhoso exemplo
de como deve ser nosso relacionamento com Deus.
Despertado, então, pelas belas Palavras de
Jesus, passo a observar minha filha desejando minha presença nos diversos
momentos de sua vida, como se o pai fosse uma peça chave para sua alegria.
Olho-a demonstrar a necessidade de minha companhia com rogos ternos e sedentos
do amor paterno. Vejo sua carência de direção para acertar o caminho por onde
deve andar, mesmo quando se nega a receber orientação. Contemplo sua
fragilidade pedindo proteção contra a própria inclinação para o mal, diante das
tentações de um mundo traiçoeiro. Então, me lembro que não sou diferente, pois
do mesmo pó fui formado e em minha carne habita o mesmo pecado. Assim, me vejo
nela, precisando do Criador, Senhor e Deus de minha pequena e frágil vida.
Diante da glória de Deus, me sinto uma
criança, um filho carente do Pai que guia seus filhos “pelas veredas da justiça por amor do seu nome” (Sl.23.3). Perante a grandeza de Deus,
percebo minha pequenez que realça a plena necessidade da graça e poder daquele
que me fez à Sua imagem, para manifestar em minha pequena vida a grandeza de
suas obras. Defronte a santidade do Senhor, é exposto todo meu pecado e, então,
me sinto despido ante seus olhos sem poder esconder minhas transgressões. Por
isso, corro para Cristo, a fim de me cobrir com seu manto de justiça e encobrir
todas as minhas iniqüidades por meio do sangue do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo.1.29).
Sem Cristo, não sei por que, ou para que
existo. Sem Jesus, não sei viver e me sinto vazio, como se nada pudesse
preencher o vácuo dentro de meu coração. Sem o amado da minha alma, sou “como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” (1Co.13.1), “não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Ef.2.12). Sem o Verbo de
Deus, que tudo criou para Sua glória, eu seria como uma criança abandonada, sem
pai nem mãe, “sem lenço e sem documento”, entregue à sorte de uma vida perdida
no pecado.
Sem Cristo, a vida se torna uma mera nuvem
passageira sem direção, sem propósito, vagando na imensidão do firmamento,
levada de um lado para o outro sem destino certo. Sem Jesus, a boca se abre,
mas nela não se acha Palavra alguma que mostre ao perdido o caminho da
salvação, que conforte o aflito com a esperança da vida eterna, que alimente o
faminto com as Palavras do Senhor. As mãos se levantam sem propósito para lutar
e sem razão para trabalhar, afinal a mera sobrevivência não dá significado aos
esforços da vida.
Por esta razão, me entrego como criança aos
braços do Pai, para que Ele me conduza com Seu terno amor. Não quero minha
liberdade mortal, antes quero estar preso à graça divina e por meio dela ter a
esperança da vida eterna. Desejo ser como criança, que se entrega aos braços do
Pai para viver por Ele e para Ele, a despeito daqueles que procuram me impedir.
Escolho a dependência eterna daquele que me fez para Sua glória, pois Ele me
fará “ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua
destra, delícias perpetuamente”
(Sl.16.11). Não ambiciono chegar à maior idade, na ilusão da independência de
Deus. Almejo ser eternamente Sua criança, caminhando sempre ao ladoSeu. Quero
ser apenas uma eterna criança na presença do Senhor, crescendo todos os dias no
conhecimento de Deus, para o Seu louvor, mas nunca ousando sair de seus ternos
braços de amor.
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