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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Não há preceito cultural na Escritura!

me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus” (Cl.1.25)

Não há preceito cultural na Escritura! Tem sido comum o equivocado pronunciamento que a igreja não pratica certas ordenanças da Bíblia, porque eram culturais, não sendo, portanto, necessárias para os dias de hoje. O problema de tal afirmação é a falta de critérios dados pela própria Escritura, a fim de que alguém possa atribuir a qualquer texto o caráter cultural, dando margem para que pessoas mal-intencionadas transformem a Palavra de Deus numa colcha de retalhos.

O texto mais usado para dizer que há certos elementos culturais na Escritura é 1 Coríntios 11.2-16. No entanto, a razão da igreja não usar véu hoje é porque Paulo não está defendendo o uso do véu, mas, sim, o uso do cabelo longo por parte da mulher, conforme ele mesmo explica no final do texto: “Pois o cabelo foi dado em lugar do véu” (1Co.11.15); e se foi dado em lugar do véu, nenhum malabarismo com o texto pode dizer que Paulo não quis dizer o que disse. Uma vez que a Escritura não invalida, posteriormente, a palavra do apóstolo, o texto é direcionado para todas as gerações e a mulher deve, sim, usar cabelo longo como símbolo de submissão ao masculino, que é a temática principal desse texto.

Ao dizer que um texto é cultural, a hermenêutica bíblica torna-se subjetiva e vaga, pois se despe de critérios dados pela própria Escritura para que possamos interpretá-la corretamente. Dizer que um texto é cultural é o mesmo que afirmar: - Eu acho que tal ordenança não vale mais para nossos dias, porque foi dada para pessoas de outra geração com práticas culturais diferentes. Um grande problema disso é que toda a Escritura foi revelada para pessoas de outras gerações com culturas completamente diferentes da nossa no que diz respeito à boa parte de nossos hábitos. Deveríamos, então, invalidar toda a Escritura, por causa disso?

Somente a Escritura pode nos revelar o que tem ou não duração permanente. Quando algo ordenado pelo Antigo Testamento deixa de ser praticado pela igreja é porque o Novo Testamento revela o fim de tal preceito. Isso não acontece porque algo era cultural, mas porque determinados mandamentos tinham seu cumprimento nos dias do Novo Testamento, alcançando, portanto, seu fim, como ocorreu com a ordenação relacionada aos alimentos (cf. Lv.11; Dt.14.3-20 //At.10.9-16). Por causa disso, Paulo apresenta-se como “despenseiro dos mistérios de Deus” (1Co.4.1), escolhido “para dar pleno cumprimento à palavra de Deus: o mistério que estivera oculto dos séculos” (Cl.1.25-26).

Isso ocorre, porque a Escritura nos revela que determinadas ordenanças eram proféticas ou tipológicas e tinham, portanto, um fim planejado. É o caso da Páscoa judaica (Ex.12) que deixou de ser praticada pelos discípulos de Jesus, porque Cristo lhes revelara que tal festa tinha como propósito apontar para Sua morte substitutiva. O texto não era cultural, mas tipológico e, tendo cumprido seu papel, deixa de ter uso, pois aquele para quem ele apontava já chegou. Quem decide isso não é o intérprete de cada geração, mas a própria Escritura que no Novo Testamento nos revela o propósito e cumprimento das profecias e tipologias do Antigo Testamento.

Não podemos, ainda, confundir texto prescritivo com texto narrativo da Escritura, pois este último não pretende trazer ordenanças, mas contar fatos. Um exemplo disso é a conhecida “festa do amor” que ocorria em ocasião à Ceia do Senhor (1Co.11.17-22). Essa festa não é ordenada por Paulo, apenas parcialmente contada. Todavia, em seguida, o apóstolo lembra a ordenança de Jesus acerca da instituição da Ceia (1Co.11.23-30) e esta, sim, deve ser praticada. Nos Evangelhos e em Atos dos Apóstolos, também, encontraremos a realização de muitos milagres feitos por Jesus e pelos apóstolos. A igreja de hoje não deve sentir-se obrigada a presenciar aquelas mesmas manifestações sobrenaturais em seu meio como se fossem ordenanças. O texto sagrado nos conta o que aconteceu; não está ordenando que façamos igual. Em Atos dos Apóstolos, um dos lugares usados para a prática da oração era o Templo judaico; e as Sinagogas costumavam ser utilizadas para a pregação do Evangelho (At.2.46; At.13). Contudo, a igreja não está obrigada a fazer uso de tais lugares, porque eles não foram dados por ordenança, apenas revelados por narrativa. Portanto, mesmo que o Novo Testamento conte uma prática da igreja, não estará, necessariamente, ordenando que esta prática seja seguida. Devemos, então, diferenciar ordenanças de narrativas e deixar que a Escritura defina o que tem valor permanente e o que teve seu propósito cumprido.


É importante lembrar, ainda, que além de errada a afirmação de que algum texto da Escritura é cultural, tal postura diante dos textos sagrados abre portas para que qualquer pessoa afirme que a Bíblia é um livro ultrapassado inadequado para nossos dias. A Palavra de Deus, então, passa a ser julgada pelos homens com critérios completamente subjetivos sujeita a tornar-se totalmente obsoleta. A igreja foi posta por coluna e baluarte da Verdade (1Tm.3.15) e deve, portanto, zelar pela Escritura, tendo cuidado para interpretá-la corretamente, a partir dos critérios que a própria Escritura revela para a igreja.

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