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sexta-feira, 7 de abril de 2017

Dignos de seus corruptos

Pelo que o direito se retirou, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas praças, e a retidão não pode entrar.” (Is.59.14)

O Brasil fez fama no mundo todo por causa do elevado nível de corrupção, tema de tese no exterior. Geralmente, essa corrupção é associada à política nacional, ao planalto central, à esfera política formal do país. Por isso, de vez em quando, irmãos pedem orações pelos nossos governantes e pelo nosso país, a fim de que o Senhor mude nossa realidade política. Diversas sugestões são dadas na tentativa de indicar a origem da corrupção brasileira que vem assolando o país por quinhentos anos. No propósito de acabarem com esse ciclo vicioso, diversas igrejas têm realizado campanhas nacionais de oração contra a corrupção. E, desejoso de que “vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm.2.2), também tenho orado bastante rogando a misericórdia do Senhor, tanto em orações individuais quanto em reuniões de oração junto à igreja.

Todavia, tenho pensado no fato de que nossos políticos são a exata expressão da moral brasileira. Ou seja, o povo brasileiro merece os políticos que tem. O número daqueles que poderiam protestar essa afirmação é tão diminuto que se torna insignificante diante do tamanho da nação. Então, por que Deus mudaria nossa realidade política corrompida se o brasileiro age como corrupto em seu dia a dia? Não seriam os políticos brasileiros uma expressão do juízo divino sobre a nação que Deus “entregou a uma disposição mental reprovável” (Rm.1.28) e nesse abandono recebe o devido castigo em suas próprias atitudes? A vida eclesiástica serve de termômetro disso, pois se aqueles que deveriam ser sal da terra e luz do mundo estão corrompidos, o que deveríamos esperar do mundo ao redor?

Vi e ouvi, no decurso de meus anos de ministério pastoral, a corrupção dentro da esfera eclesiástica. Vi desvio de dinheiro e caixa dois dentro do ambiente eclesiástico; vi uso indevido de autoridade em benefício próprio; vi briga política por cargos em concílios de diversas instâncias; vi presidentes usarem o cargo para beneficiarem tanto a si mesmos quanto a própria igreja, privilegiando seus interesses em detrimento de outros; vi pastores não apoiarem ideias e projetos de colegas de ministério por causa de interesses em privilégios políticos. Ouvi sobre projetos aprovados por favoritismo; ouvi sobre pastores que tentaram prejudicar colegas de ministério por interesse no campo do outro; ouvi sobre a tentativa de “puxar o tapete do outro”; ouvi sobre líderes que administram sem importar-se com os outros; ouvi mentiras semelhantes às que ouvimos no planalto central; ouvi e vi favoritismo familiar e muitas promessas que não foram cumpridas, semelhante ao que acontece no mais espúrio ambiente político de nosso país.

Não é coincidência que praticamente toda pessoa que entra no ambiente político nacional termina corrompida fazendo parte do mesmo sistema de corrupção presente a séculos na política brasileira. Não há nenhum mistério. Ninguém “enterrou uma cabeça de bode no planalto central”. Não deve haver superstições ou misticismos sobre o assunto. O fato é que toda pessoa que entra na esfera política da nação é um brasileiro, ou seja, tem uma veia corrupta, pois foi educado dentro de um país extremamente corrupto. Jesus afirmou que “cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas” (Lc.6.44). Como poderíamos ter bons e honestos políticos em um país onde a corrupção faz parte da cultura popular?

Observemos o ambiente em que as crianças são formadas. A corrupção começa em casa quando pai ou mãe esconde algo um do outro e ensinam a criança a fazer o mesmo. Na escola a criança encontra uma cultura da injustiça chamada de “fila” ou “cola”, tantas vezes alimentada pelos próprios pais que estão mais interessados na prosperidade financeira dos filhos do que com a educação moral deles. Na rua, pais subornam guardas de trânsito para não serem multados; parentes tentam conseguir facilidades e benefícios do governo junto ao INSS, mentindo o estado da saúde; pais tentam conseguir isenção de taxas (ENEM, por exemplo) mentindo sobre a situação financeira da família; votos são vendidos por muito ou pouco; e, o famoso “jeitinho brasileiro” é solução para todos os problemas mais complicados. Assim os filhos crescem vendo a corrupção, potencializando, assim, a natureza pecadora já corrompida desde o nascimento (Sl.51.5). Consequentemente, cada criança torna-se um jovem e adulto tão corrupto quanto os demais.


Portanto, me questiono: Por que Deus iria abençoar um país em que o povo é corrupto, até mesmo na esfera eclesiástica? Jesus disse que “se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens” (Mt.5.13). A corrupção de nosso país não está dentro do planalto, mas no coração do povo e, por isso, o povo é digno de seus corruptos. Portanto, precisamos redirecionar nossa oração: Senhor, muda o coração desse povo! Nossos políticos são a perfeita caricatura do povo brasileiro, nitidamente corrupto em seu dia a dia. Por que, então, Deus nos ajudaria? Não precisamos de novos políticos, precisamos de um novo povo brasileiro. Deus tenha misericórdia de nós!

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